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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E NORMATIVO

CAPÍTULO 2. SISTEMA DE CONTROLO INTERNO

2.6 Limitações do SCI

O CI, por mais adequado que seja, não dá uma garantia absoluta, havendo sempre possibilidade de falhar. Aliás, de acordo com Costa (2010), o facto de existir e ser atuante um bom SCI não significa que a entidade esteja completamente imune à ocorrência de erros, irregularidades e fraudes. Analogamente, Coopers e Lybrand (1997) afirmam que nem todos os controlos reduzem o risco de erros e irregularidades, na medida em que há certas limitações inerentes à confiança que pode ser depositada no SCI.

As deficiências do CI ocorrem, na perspetiva do IFAC (2010), quando um controlo é implementado ou executado de forma a não conseguir evitar-se, detetar, ou mesmo, corrigir atempadamente os erros nas demonstrações financeiras.

Tal como foi referido, o CI não proporciona uma garantia absoluta, dado que tal como afirma Costa (2010) existem fatores que podem restringir toda a orgânica do CI, tais como:

1. Desinteresse por parte da administração/gerência em manter um bom SCI. Tal

ocorre quando não há interesse em manter a confiança, integridade e veracidade da informação para não ter de cumprir com as suas obrigações;

2. Dimensão da entidade, a segregação de funções é mais difícil de atingir onde há

pouco pessoal, o que pode levar à acumulação de funções;

3. Relação custo/benefício, uma outra limitação ao nível do CI está relacionada com a

relação custo/benefício, na medida em que a implementação de um SCI obriga a gastos que vão aumentando em função da complexidade do mesmo. Por essa razão, é fundamental que haja uma avaliação dos benefícios que o SCI poderá proporcionar

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de modo a que os custos com a sua implementação não sejam superiores aos benefícios. (Russel 2009; e Marçal e Marques 2011). Sendo assim, é necessário verificar se o custo não é mais elevado do que o benefício que se espera obter dele. A estrutura do CI é definida pela gestão, tendo sempre como objetivo que o custo associado ao CI não exceda o benefício respetivo.

4. Existência de erros humanos, fraudes e conspirações podem decorrer

essencialmente, da falta de cuidado, distração, erros ou falha de capacidade de julgamento, falta de formação dos recursos humanos, pouca integridade moral ou falha na compreensão das instruções dadas pela entidade limitando a eficácia do CI. A alteração a nível de pessoal da administração, gestão e mesmo dos colaboradores pode levar a um mau funcionamento do CI, pelo facto de o desconhecerem, por não concordarem com os procedimentos adotados, entre outros fatores (DRA 410);

5. Incidência sobre transações pouco usuais, o SCI é desenhado e implementado

para dar resposta às transações correntes, incide normalmente sobre as operações de rotina, resultantes de sistemas, não abrangendo habitualmente as operações não rotineiras, pois é nas primeiras que se poderá obter maior ganho;

6. Utilização da informática dá a possibilidade de acesso direto a ficheiros e bases de

dados. Por conseguinte, o sistema informático é, cada vez mais, um meio de acesso fácil a informação confidencial, tornando necessário a adequação dos CI também nesta área;

7. Costume, cultura e sistema de governo das sociedades podem ser inibidores das

irregularidades da gestão, mas não impedem que estas não aconteçam, ou seja, as caraterísticas de um país, o seu povo a sua cultura e o seu governo poderão influenciar a dimensão das irregularidades na gestão das empresas, dos institutos e outros organismos. Por exemplo, a cultura e a sociedade de vários países da América Latina influenciam os hábitos da gestão. Como tal, não há uma tendência de rigor, exatidão, totalidade, accountability como, por exemplo, nos países anglo- saxónicos.

De acordo com Cavalheiros e Flores (2007), o CI não pode ser considerado como a salvação da organização, ou seja, não significa que a entidade terá sucesso ao possuir

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um bom controlo. Porém, é provável que tenhamos um caso de insucesso se não mantivermos os controlos adequados. Podemos identificar alguns riscos do SCI como:

1. Obsolescência do SCI – Mesmo um bom SCI deteriora-se sem melhorias

constantes, seja por alterações em legislações, seja por melhores práticas, evolução tecnológica, logo, o risco é sempre presente e o antídoto é a revisão periódica.

2. Crença em sistemas perfeitos – Não existe SCI isento de falhas, até porque a

manutenção dos sistemas é feita por pessoas e estas estão sujeitas a falhas.

3. Rotina – A ação rotineira das pessoas quanto aos controlos pode impedir que se

preste atenção em determinadas atividades que se afastam das melhores práticas, devido à fadiga, ao mau julgamento, à distração.

4. Má-fé - Os mais perfeitos controlos podem ser estudados, no sentido de encontrar

falhas por deliberação das pessoas que fazem parte ou supervisionam os controlos, para a satisfação de interesses pessoais.

5. Conluio – Duas ou mais pessoas, agindo deliberadamente para fraudar, é o maior

inimigo de qualquer SCI. O conluio pode envolver pessoas de dentro e de fora da organização, ou seja, internas e externas;

6. Custo/benefício dos controlos – O benefício advindo do controlo deve ser maior

que o custo do controlo, sob pena de o inviabilizar no ponto de vista económico. Para além destas limitações, existem algumas áreas difíceis de controlar, nomeadamente, os ativos, os inventários, as compras, as vendas, os meios líquidos financeiros e os registos administrativos (Marçal & Marques, 2011).

Podemos concluir que a implementação do SCI, não garante, por si só, a operacionalidade do mesmo, existem erros humanos, conspiração da corrupção e fraude, que agrupados são possivelmente a sua maior limitação. Assim sendo, por mais aprimorado que seja o SCI, a sua eficiência será sempre posta em causa, se em orientações de maior responsabilidade não estiverem pessoas habilitadas e moralmente incorruptíveis.

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