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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO E NORMATIVO

CAPÍTULO 1. A CORRUPÇÃO

1.5 Medidas de prevenção e combate à corrupção

De acordo com Cunha et al. (2011), não existem países imunes à corrupção e qualquer entidade é passível de ser corrompida. Combater a corrupção não é tarefa fácil e exige muita perseverança e vontade. Nos últimos tempos, o combate à corrupção tem constado da agenda política de vários países e tem havido sucessivos apelos dos variados setores políticos, judiciais e, sobretudo, da sociedade em geral. A diminuição da corrupção no mundo é uma questão fundamental, tanto para fortalecer as instituições democráticas, quanto para viabilizar o crescimento económico dos países (OECI – CPLP, 2011).

Para Doig (2012), a prevenção da corrupção é uma função da gestão, pelo que, ao longo do tempo, com a responsabilidade de proporcionar serviços eficientes, eficazes e económicos, os gestores do setor público têm a responsabilidade de introduzir medidas que promovam a integridade das suas organizações. Por outras palavras, a prevenção pode ter, a longo prazo, benefícios, tanto para o desenvolvimento do país, como também para a relação do estado com os seus cidadãos.

A transparência é umas das principais diretrizes a serem adotadas pela administração pública para a construção de um ambiente de integridade, na medida em que oferece meios para que a sociedade contribua na adoção de medidas corretas na condução da gestão pública. Trata-se também de uma ação preventiva à corrupção, pois, quando os agentes públicos têm consciência de que estão a ser vigiados e que a aplicação do dinheiro público está a ser controlada, tendem, naturalmente, a ser mais cuidadosos com a correção e legalidade de seus atos (OECI – CPLP, 2011).

Face ao exposto, Cunha et al. (2011) aludem que, num quadro de prevenção geral, importa enfatizar o papel da sociedade, sendo premente investir numa formação alargada e transversal, bem como promover o conhecimento do fenómeno da corrupção, em especial, os seus malefícios. É, assim, fundamental que a sociedade participe ativamente na luta contra a corrupção, controlando os gastos públicos, monitorizando,

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permanentemente, as ações governamentais e exigindo a otimização dos recursos públicos. Nesta linha de pensamento, Lima (2010) assevera que numa perspetiva de curto prazo, os cidadãos só deixarão de pensar que os corruptos se mantêm impunes no dia em que houver condenações, isto é, no dia em que houver resultados efetivos. Todavia, numa perspetiva de médio prazo, é preciso fazer algo em termos de educação, para incutir aos jovens os valores de uma sociedade civilizada, a ética, a integridade, a responsabilidade, o respeito pela lei, pelos direitos dos outros, o amor ao trabalho, a pontualidade, o esforço pela poupança e o desejo de superação. Nesta linha de pensamento, o Guião de Boas Práticas para a Prevenção e Combate à Corrupção na Administração Pública (OECI – CPLP, 2011) menciona que a luta contra a corrupção exige uma mudança cultural e de comportamento de cada cidadão, porque uma sociedade só se modifica, quando os indivíduos que a compõem se modificam.

Face ao exposto, ainda de acordo com o OECI – CPLP (2011), no intuito de combater eficaz e permanentemente a corrupção, os estados e as organizações internacionais têm vindo a desenvolver programas, planos, atividades, tratados e convenções. Entre essas medidas de combate à corrupção, são de assinalar as seguintes:

1. Articulação internacional para prevenção e combate à corrupção, incluindo o

acompanhamento de acordos e convenções internacionais contra a corrupção;

2. Adoção de boas práticas de transparência e visibilidade dos processos públicos; 3. Mapeamento preventivo de riscos à corrupção;

4. Promoção da integridade no setor privado, que visa fomentar a adoção de práticas de

ética e integridade, a partir do entendimento de que os municípios podem contribuir para o combate à corrupção, posicionando-se afirmativamente pela prevenção e pelo combate desse mal;

5. Promoção de estudos e pesquisas sobre a corrupção;

6. Sensibilização dos cidadãos para exercer o controlo social da gestão pública;

7. Criação, em cada país, de uma unidade independente que coordene as ações de

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8. Fortalecimento dos controlos internos.

Por outro lado, o combate à corrupção exige estratégias de prevenção da corrupção e de promoção da integridade pública/administrativa relativamente às administrações públicas de cada país.

Ainda que não haja uma estratégia de combate à corrupção ideal para todos os casos, todos os organismos da administração pública, servidores públicos e entidades públicas ou privadas devem (OECI – CPLP, 2011 e GRIEC, 2007):

1. Criar e avaliar planos de gestão de riscos de corrupção; 2. Desburocratizar os métodos de gestão ultrapassados; 3. Melhorar os SCI;

4. Promover, regularmente, auditorias. Aliás, Otalor e Eiya (2013) afirmam que a

auditoria é um dos mecanismos fundamentais para a luta contra a corrupção;

5. Assegurar que os servidores estão conscientes dos seus deveres e proibições, no que

se refere à obrigatoriedade de denunciar de situações corruptas, promover uma cultura de legalidade, clareza e transparência nos procedimentos públicos, procurar a transparência da gestão e propiciar o acesso público e oportuno a informações públicas, corretas e completas.

6. Agir com isenção, zelo e em conformidade com a lei, as regras deontológicas

inerentes às suas funções;

7. Não tirar partido da sua posição para servir interesses individuais;

8. Promover uma cultura organizacional que impeça a corrupção, especialmente

através da adoção de códigos de conduta com responsabilização ética de todos os colaboradores;

9. Diligenciar a formação dos seus colaboradores, nomeadamente no que se refere à

identificação e denúncia de situações de corrupção e desenvolvimento de práticas e sistemas de gestão que incentivem e promovam as relações de confiança;

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11. Assegurar que todas as receitas e despesas sejam devidamente documentadas; 12. Prestar às autoridades públicas a colaboração necessária, através da

disponibilização atempada de informação que seja solicitada nos termos da lei;

13. Participar às autoridades competentes qualquer prática suspeita de figurar um ato de

corrupção.

Face ao exposto, será urgente diligenciar a transparência, permitindo o acesso, por parte dos cidadãos, a informações sobre a gestão pública, desde que não sejam consideradas, nos termos legais, confidenciais. Como resultado, sugere-se a conceção de um portal da transparência do estado que disponibilize informações precisas, oportunas e plenas sobre os recursos públicos gastos ao longo de todo o procedimento de realização das atividades governamentais (Khan, 2006, Costa & Santos, 2006, Salifu, 2008 e OECI– CPLP, 2011).

Terá sido, talvez, pela emergência destas explicações teóricas, que, inclusivamente, deixam transparecer algumas reservas e receios quanto à manutenção dos próprios sistemas políticos democráticos, que os estados ocidentais se terão visto confrontados com a necessidade de criar mecanismos de reação e de defesa face ao problema. Deu-se, assim, início a um processo de instituição de diversos tratados de carácter internacional, tendentes à criação de mecanismos mais eficazes para o controlo e o combate ao problema das práticas de corrupção (Maia, 2011).

Portugal tem, também, elaborados vários diplomas legais sobre esta temática, com especial realce para o CP que tipifica vários crimes de corrupção e infrações conexas bem como as respetivas sanções. No âmbito do direito processual penal, além das normas gerais previstas no Código de Processo Penal sobre os meios de prova, meios de obtenção de prova e realização do inquérito, existe também legislação avulsa especificamente aplicada no combate ao crime de corrupção. Em legislação avulsa o combate à corrupção é feito, entre outros, nos seguintes diplomas (ver figura n.º1):

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O estado português para além dos diplomas legais emitidos para prevenir e reprimir o fenómeno de corrupção, criou, em 2008, o Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC), que se destina a desenvolver atividades de âmbito nacional, no domínio da prevenção da corrupção. Portugal tem, também, aderido, aos vários instrumentos jurídicos internacionais, designadamente a Convenção Relativa à Luta Contra a Corrupção em que estejam envolvidos funcionários das Comunidades Europeias ou dos Estados- Membros da União Europeia, a Convenção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) contra a corrupção de agentes públicos estrangeiros nas transações comerciais internacionais, ambas de 1997, a Convenção Penal Contra a Corrupção do Conselho da Europa, de 1999, bem como a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, de 2003 (GRIEC, 2007).

No campo internacional, trabalho desenvolvido pelas Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC) divide-se em cinco áreas temáticas inter-relacionadas: o crime organizado e o tráfico; a corrupção; a reforma da justiça penal; a saúde e meios de subsistência e a prevenção do terrorismo. Em setembro de 2011, este organismo lançou o portal TRACK (Toolsand Resources for Anti-Corruption Knowledge), que inclui matérias jurídicas e não jurídicas relativas à luta contra a corrupção e à recuperação de ativos. Este portal permitirá aos estados membros da ONU, à comunidade anticorrupção e ao público em geral aceder a toda esta informação numa localização centralizada. Ainda no âmbito internacional, o Parlamento Europeu integra uma comissão parlamentar especial para a criminalidade organizada, a corrupção e o branqueamento de capitais, criada em março de 2012, na sequência da adoção, em 25 de outubro de 2011, da resolução do Parlamento Europeu sobre a criminalidade organizada. O grupo de estado contra a corrupção, foi criado em 1999 pelo Conselho da Europa para monitorizar o cumprimento pelos estados das normas anticorrupção do Conselho da Europa.

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1.6 Plano de Gestão de Riscos de Corrupção e Infrações Conexas (PGRCIC) nos