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Limitações para o desenvolvimento da vigilância nas Unidades

4.3 SIGNIFICADOS SOBRE O TRABALHO NA VIGILÂNCIA: AS

4.3.8 Limitações para o desenvolvimento da vigilância nas Unidades

A insuficiente qualificação profissional foi apontada por diversos trabalhadores como uma das maiores dificuldades para o desenvolvimento e ampliação das ações de vigilância, o que se agrava com a complexidade deste campo em que os profissionais dificilmente têm domínio de todas as suas esferas (GerA36; GerB66; GerF10; MedE8).

De modo geral, os pontos de estrangulamento citados foram: a falta de capacitação em serviço para integrar a vigilância e a assistência, viabilizando o monitoramento e a avaliação das ações; além da falta de domínio de conhecimento sobre o território de atuação da UBS.

“(....) Eles também não tem uma visão, é... sólida, do que é esse trabalho que eles tão fazendo, eles tão fazendo” (GerB48).

A gerente avalia, em sua unidade de atuação, que os profissionais ainda encontram-se no momento de compreender os seus papéis perante a estratégia de Saúde da Família. Por isso, pensa em discutir inicialmente, questões de vigilância epidemiológica e, posteriormente, a sistematização da vigilância ampliada permeando todo o serviço através da informação (GerB52).

Problematiza-se ainda, o perfil, de parte dos profissionais que, em geral, é distanciado do campo da Saúde Pública, dado o enfoque da formação, “hospitalocêntrica”. Tal situação ocorre principalmente, em relação aos auxiliares de enfermagem. Destaca-se, também, a alta rotatividade do quadro de trabalhadores alocados em UBS (GerB36; GerF8).

A falta de transporte na UBS, para a realização de visitas domiciliárias, e de outros elementos que configurariam uma estrutura apropriada à vigilância como, também foram identificados com situações que prejudicam o objetivo final das ações (GerF23; EnfD12; Enf20).

“(....) ainda muito artesanal (....) não ter uma vigilância montada, né, (....) tinha que ter um corpo maior na unidade (....)” (GerF23).

O reduzido espaço físico e quadro profissional, nas unidades, de igual forma limitam a ampliação e informatização das ações, conduzindo à fragmentação da informação e ao desencontro da comunicação entre os profissionais. Além disso, a falta de tempo para se utilizar os dados produzidos através do SIAB (mortalidade, internação, violência contra a mulher, tempo de amamentação, etc), bem como a insuficiência de estratégias e tecnologias em vigilância para se otimizar o uso dos espaços na UBS e na comunidade, além da forma como se utilizam os dados de forma fragmentada, foram percebidos como lacunas importantes para a ampliação da vigilância (GerB49,50; GerE26,31; MedE9; EnfF20).

Outra queixa freqüente entre os trabalhadores foi a “burocracia”, materializada pela necessidade de preenchimento de grande quantidade de impressos e de informações nas fichas de notificação compulsória. Em decorrência, foram citados os seguintes problemas: resistência por parte dos trabalhadores, para o preenchimento das fichas de investigação epidemiológica; a subnotificação de casos e a perda de informações epidemiológicas (GerB49,50; GerE31; MedE9; EnfF20).

A fragmentação das ações é apontada, mesmo em relação aos programas que, tradicionalmente, possuem ligação com a área da vigilância, como o SIS Pré-Natal, uma vez que este é realizado em espaços físicos separados e por pessoas diferentes que não dialogam. Houve referência, também, de que o SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica, produz muitos dados (mortalidade, internação, violência contra a mulher, tempo de amamentação, etc), mas a UBS ainda não consegue utilizá-los devido à divisão de tarefas entre os trabalhadores (GerB51,51).

A falta de sistematização de informações sobre algumas modalidades de práticas que fogem às ações tradicionais, como terapêuticas alternativas e práticas corporais, foi mencionada por um gerente como limitante para a avaliação e o planejamento das intervenções sobre as doenças crônicas não

transmissíveis (GerB61).

Outra dificuldade apontada foi a grande demanda de trabalho na UBS, cuja pressão gerada sobre a equipe, faz com que a mesma não tenha disposição e tranqüilidade desejadas para associar as questões individuais às coletivas (GerC39).

A necessidade de um profissional responsável pela integração da comunicação com as ações de vigilância na unidade, aliada à carência de gerenciamento específico e de eleição de prioridades, foram identificadas como outros limitantes que, no entanto, se estivessem presentes fariam diferença positiva na vigilância (GerG18; EnfF6).

Avaliou-se que a vigilância na UBS não alcança a prevenção à saúde, pois se detém ao tratamento dos danos individuais, em detrimento das ações coletivas. De acordo com os entrevistados, tal fato decorre da falta de definição do papel de cada trabalhador, de seu número insuficiente, bem como à falta de integração entre a equipe, além da infra-estrutura precária, especialmente em termos de equipamentos de informática e, à não participação da comunidade (GerD8,18; GerE58).

Apontou-se ainda, a dificuldade para se incorporar e se adaptar às novas rotinas dos serviços de referência em vigilância epidemiológica, bem como referir pacientes com doenças infecto-contagiosas (GerE26).

A falta de conhecimento, de maneira geral, entre os usuários dos serviços de saúde, a respeito da função e relevância das ações de vigilância, culmina na não participação da comunidade para a reivindicação da realização de ações nesse âmbito, com a devida qualidade (GerG19).

“(...) nunca ninguém reclamou de nada da vigilância, porque ninguém nem sabe que deve ser feita né, ninguém nem cobra” (GerG19).

Destaca-se que uma gerente apontou que, no caso de usuários que eram representantes da população junto ao Conselho Gestor, buscavam se identificar como representantes governamentais e que a atuação dos Conselheiros reflete interesses pessoais, o que se constitui como problema

para a participação dos usuários nas questões de vigilância (GerG31). A dificuldade na participação crítica da população, junto ao Conselho Gestor, também está relacionada à falta de preparo e conhecimento, por parte dos conselheiros de saúde e usuários dos serviços, sobre o histórico e os princípios do SUS (GerG32).

“(....) E o pessoal tem que entender o que é o SUS, da onde surgiu isso? Da onde que vem? A Constituição, a Lei do SUS, a população tem que entender no mínimo isso né” (GerG32).

4.3.9 Potencialidades no desenvolvimento da vigilância nas Unidades