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Cabe ressaltar, inicialmente, que quando os sujeitos foram indagados a respeito do termo vigilância, na grande maioria das vezes, expressavam o entendimento sobre vigilância epidemiológica. A pergunta sobre o significado da vigilância fez suscitar, ainda, impressões que, por um lado, remetem a ações opressoras, à coerção, ao controle, ao ato de vigiar, “policiar, prevenir, tomar conta, estar atento, cuidar, conseguir encerrar casos novos”. Houve referência de que o termo é ultrapassado, porém sem maior detalhamento (EnfB21, GerE71, GerG27).

Um outro conjunto de significados aponta para o acompanhamento e controle de situações no território (GerF28).

Da análise dos depoimentos, verificou-se a emergência de três grupos de significados sobre vigilância que foram classificados para fins deste estudo, como: “vigilância epidemiológica clássica”, “vigilância ampliada” e “Vigilância à Saúde”, sendo esta última baseada na proposição de Teixeira, Paim e Vilasbôas (1998), cujos resultados são apresentados dessa forma para facilitar a compreensão do objeto de estudo. É importante lembrar que, quando questionados sobre “vigilância à saúde”, os entrevistados associaram o termo, em seus depoimentos, à “vigilância ampliada” e à “vigilância à saúde”.

4.2.1 Significados que se referem à Vigilância Epidemiológica

Essa vertente inclui o recebimento de notificações de doenças de notificação compulsória, realizar visita domiciliária, entrar em contato com o serviço de saúde, estabelecer medidas terapêuticas, sanitárias, até a possibilidade de se estender o cuidado a outras medidas relacionadas à melhoria das condições de saúde (GerC2, EnfD15, EnfF25).

É a vigilância que tem início na UBS, a partir do atendimento de pacientes com doenças de notificação compulsória e está orientada a conter a disseminação de tais doenças. Implica em estar vigilante e diminuir o número de casos (EnfD13; MedE1, 11).

“(....) o cuidar do ambiente, o cuidar para que ela não venha a ter nenhum problema de saúde, ou se ela já tiver, você precisa impedir o mais rápido possível” (EnfB22).

Destaca-se a menção de entrevistados de que, ao se tentar operacionalizar ações de vigilância que tivessem orientação para uma perspectiva mais ampla, isto poderia conduzir à perda da especificidade das ações e ao não alcance de ações concretas no atendimento às necessidades dos pacientes (MedE26, 34).

4.2.2 Significados que se referem à “Vigilância Ampliada”

As ações de vigilância que se referem a esse termo estão associadas à assistência, integrando a informação em saúde, com coleta sistemática de dados, registro no prontuário, atenção e monitoramento de determinadas situações. São exemplos: o preenchimento do Sistema de Informação Ambulatorial (SIAB); a discussão sobre os dados de fichas de notificação compulsória e do SIAB, em equipe; o monitoramento da amamentação, da vacinação, do SIS-Prénatal e de situações em que ocorre internação (GerA21,22; GerC23; GerE16,27; EnfAB28; GerE70).

Essa vertente se relaciona à captação e controle precoce de doenças e situações de vulnerabilidade, priorizando a saúde, no sentido do cuidado e da prevenção (GerC23; GerE16, 27; EnfAB28; GerE70).

“(....) vigilância tem essa idéia, de, é um olho, alguma coisa, à distância, acompanhando, (....) o que acontece, então a minha idéia de vigilância é essa, esse estado de estar preparado pras coisas antes de acontecerem, claro, especificamente com algumas situações pra você poder intervir em questões, vamos dizer, de saúde... e vigilância tem tudo a ver com preparar pra intervir em situações especiais, controlar situações especiais, pra modificar a situação de saúde, de vigilância à saúde de uma população” (GerA45).

“(....) tem um olhar pelo patrimônio (...) avisando (....) esses comportamentos podem gerar isso eu penso antes da doença (....)”( GerE69).

Vigilância é um “cuidar do outro” (GerE70).

“Ser vigilante o tempo todo, não pode escapar nada... a saúde, né, é tudo, né, a vigilância” (EnfAB28).

4.2.3 Significados que se referem à Vigilância à Saúde

De modo geral, quando os gerentes e trabalhadores da saúde referem-se a ações de vigilância à saúde, parece verificar-se que esta inclui questões relativas à vigilância epidemiológica e sanitária, ampliando-se para ações de cunho individual e coletivo, além de utilizar-se de dados de saúde, que apóiam o planejamento em saúde, visando o cuidado (EnfC9,6; GerC8; GerC48).

“(....) uma forma de pensar a organização do cuidado (....) noção mais ampliada de vigilância, não restrita a epidemiológico e sanitária, mas à preocupação com o acompanhamento continuado dos problemas de saúde de uma dada população(....)” (GerC8).

“(....) é uma definição bastante genérica, por isso que eu digo que ela pode se traduzir em medidas (....) mais tradicionais da Saúde Pública, né, envolvidas na vigilância epidemiológica, em outros tipos de ações e atividades, mas também que há uma certa idéia condutora, ... de uma forma de organizar o trabalho, em que o encontro individual deve ser uma oportunidade de se pensar a saúde no coletivo e as coisas devem estar ligadas. Quer dizer, a ação sobre o indivíduo deve remeter a uma ação sobre a coletividade... a ação sobre a coletividade deve entrar nesse .... talvez “teja” genérico demais, mas eu acho que é, que é um pouco nesse nível que deveria ser” (GerC48).

“(....) eu acho que uma certa idéia de vigilância à saúde é, ... ela norteia toda a organização do serviço, né” (GerC13). Outro aspecto destacado é a importância de se transcender a doença, de conhecer o território e identificar os principais problemas que nele incidem, para a prevenção e o planejamento das ações de saúde (GerF29, EnfC18). Ao considerar, entre as ações de vigilância, o monitoramento, levando em conta o modo e a qualidade de vida da população para promover a saúde, remete-se à idéia da intersetorialidade (GerG26). Além

disso, a operacionalização da vigilância à saúde deve ser baseada em projetos de trabalho, a partir de informações levantadas sobre riscos e problemas da região (GerG28).

“(....) trabalhar com o conceito de vigilância, seria trabalhar a vigilância na região do Butantã, junto com a Subprefeitura, junto com a Secretaria de Obras e Educação não é?” (GerG29).

Considera-se ainda, a necessidade de interlocução entre os profissionais de saúde e a comunidade, a fim de se conhecer a dinâmica de vida e de saúde-doença da população, criando estratégias para a melhoria das condições de vida e saúde, com a participação dos sujeitos e não a partir do “desejo” da instituição. Para tanto, o trabalho requer a conformação em equipe, abarcando as necessidades culturais, políticas, educacionais e de acesso (EnfC20, EnfC21).

“(....) você tem que tá muito bem sintonizado com a população pra poder traçar esse trabalho” ( EnfC21).

4.3 Significados sobre o Trabalho na Vigilância: as ações de