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O Brasil, assim como o resto do mundo, não tem conseguido obter resultados expressivos através de programas de eficientização energética capazes de reduzir a crescente demanda por petróleo e derivados. Em 2010, o Brasil consumiu 2,6 milhão barris/dia de petróleo, cerca de 3%

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do total mundial, atingindo a 7ª posição entre os maiores consumidores de petróleo mundial (ANP, 2011). Os derivados energéticos representaram 53,8% das importações, um aumento de 100,2% em relação ao ano anterior. Do volume total de derivados produzidos no Brasil no ano de 2010, 39% (ou 9 milhões m³) corresponde a produção de óleo Diesel (ANP, 2011), utilizado principalmente no transporte de carga e nos ônibus. Nos últimos 15 anos, ao menos, têm sido notáveis o volume importado de óleo Diesel, contribuindo com 32,9% do volume total importado no ano de 2010 (ou 4,87 milhões m³), sendo os volumes importados de óleo Diesel maiores que os volumes dos outros principais derivados importados pelo Brasil, energéticos e não energéticos (ANP, 2011). O déficit com importação e exportação de petróleo e derivados, no ano de 2010, foi de US$ 13 bilhões (ANP, 2011).

O volume de petróleo produzido internamente é maior do que o consumo interno, entretanto, como a produção doméstica de petróleo não é suficiente para atender a demanda nacional, particularmente no caso do óleo Diesel, GLP e nafta petroquímica, têm sido necessárias importações desses produtos para atender a demanda interna. A necessidade de importação de petróleo do Brasil, mesmo a despeito de ser um exportador, vem do fato de que para otimizar as frações de certos derivados obtidos no processo de refino, tendo como objetivo principal minimizar a dependência externa do óleo Diesel, há necessidade de se fazer um “blending” com alguns tipos de petróleos e os volumes desse “mix" de origem nacional utilizados pelas refinarias brasileiras é inferior a demanda (RIBEIRO et al., 2003).

Em anos recentes, o volume das reservas brasileiras de petróleo sofreu um sensível acréscimo, fato decorrente do descobrimento de grandes volumes de petróleo recuperáveis no Pré-sal19. Com isso, as reservas provadas brasileiras chegaram a 14,2 bilhões de barris de petróleo, e situou o País na 15ª posição no ranking mundial de reservas (ANP, 2011). A relação

19 O termo Pré-sal refere-se a um conjunto de rochas localizadas nas porções marinhas de grande parte do litoral

brasileiro, com potencial para a geração e acúmulo de petróleo. A profundidade total dessas rochas, que é a distância entre a superfície do mar e os reservatórios de petróleo abaixo da camada de sal, pode chegar a mais de 7 mil metros. As maiores descobertas de petróleo, no Brasil, foram feitas recentemente pela Petrobras na camada Pré-sal localizada entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo, onde se encontrou grandes volumes de óleo leve (ou seja, capaz de gerar, durante o processo de refino, derivados de maior valor agregado e típicos para o atendimento da demanda nacional como, por exemplo, o óleo Diesel). Na Bacia de Santos, por exemplo, o óleo já identificado no pré-sal tem uma densidade de 28,5º API, baixa acidez e baixo teor de enxofre – características de um petróleo de alta qualidade e maior valor de mercado (PETROBRAS, 2010).

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reserva/produção (R/P) de petróleo passou de 18 anos em 2001 para 19 anos em 2010 (ANP, 2011).

Ressalta-se que os limites para o consumo de petróleo estão mais intimamente conectados a fatores econômicos, técnicos, logísticos, de infraestrutura e ambientais do que pela efetiva disponibilidade do citado combustível. Nesse sentido, os principais fatores limitantes para a expansão do consumo de petróleo no Brasil estão relacionados, principalmente, à expansão esperada do setor de transportes e ao desbalanceamento da matriz de transportes de carga. Segundo estimativas e projeções do 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários, o volume de óleo Diesel consumido somente pelos caminhões no ano de 2009 foi de 21.059 x 103 m3 (ou 63% do total), e projeta-se que o volume

consumido aumente para 34.390 x 103 m3 (ou 70% do total) em 2020 (MMA, 2011).

O Brasil aproxima-se de sua capacidade máxima de suprir o mercado com produtos de petróleo (poder-se-ia alcunhar esse contexto, de modo coloquial, como “gargalo”), principalmente em razão do crescimento do consumo de combustíveis chaves, tais como o óleo Diesel. Simultaneamente, o Brasil tem elevado sua produção de petróleo, mas seu parque de refino atual não está adaptado para processar cargas cada vez mais pesadas e ácidas, como é o caso de grande parte da atual produção nacional. Embora a produção de óleo Diesel resulte em excedente de outros derivados20, estes não acharão mercado que pague um preço competitivo, principalmente no caso da gasolina A, se uma produção em escala maior for introduzida. Deste modo, o País fica em situação de dependência de importações para atender o mercado interno.

Caso mantenha-se crescente a expansão da produção brasileira de óleo cru, futuramente, o País tende a deixar de ser um importador de derivados energéticos (como, por exemplo: Diesel, GLP e QAV) e não energéticos (tais como o coque e a nafta). Nesse contexto, não é totalmente

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A gasolina é um dos derivados mais exportados pelo país na última década. Nos anos de 2008 e 2009, a gasolina A foi responsável por cerca de 16% do total de derivados exportados, já no ano de 2010 foi responsável por 5,5%. Os outros derivados mais exportados pelo Brasil são: óleo combustível, óleo combustível marítimo e combustíveis para aeronaves (ANP, 2011). Convém observar que no ano de 2011, a gasolina foi o 3º derivado mais importado pelo Brasil, representando 7,2% do volume de derivados importados (ANP, 2012). A defasagem nos preços da gasolina no mercado interno e externo termina por dificultar a evolução na produção do etanol. Esse etanol internamente menos competitivo força uma importação maior de gasolina, que faz também com que o país exporte uma parcela considerável da sua produção de etanol.

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improvável que o Brasil torne-se, no médio ou longo prazo, um importante exportador mundial de petróleo, derivados e mesmo de produtos petroquímicos – mesmo a despeito de manter crescente seu padrão crescimento econômico (que acarreta em aumentos no consumo de petróleo). Cabe mencionar que de acordo com previsão do Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, estima-se crescimento do PIB brasileiro entre 3% a 5% ao ano, até 2020 (MME, 2011b).

Por outro lado, não é porque as reservas brasileiras de petróleo sofreram um elevado aumento, que medidas mitigatórias no consumo de derivados, principalmente no que concerne ao óleo Diesel, devam ser negligenciadas. O aumento dos investimentos em modais menos energo- intensivos, como as ferrovias, principalmente no transporte de cargas, somado a uma introdução mais rápida e ampla de tecnologias que tornem o setor de transportes mais eficiente energeticamente, concomitantemente a um aumento da utilização de biocombustíveis, são medidas fundamentais para mitigar o consumo de petróleo e derivados e suas inúmeras externalidade negativas (incluindo a perda de divisas), tornando o crescimento econômico brasileiro mais sustentável.

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