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Capítulo 1 Ensino de Ciências e a História e Filosofia da Ciência

1.4. Limites de Uso da História da Ciência

Baseando-se em relatórios das décadas de 1970 e 1980 da Associação Britânica para o Ensino da Ciência, Matthews (1995) afirma que um dos problemas enfrentados para a reaproximação é o despreparo dos professores para ensinar ciências usando uma abordagem contextualizada historicamente. Ou seja, os cursos de formação de professores não estavam preparando-os adequadamente para atuarem dessa maneira. Tornava-se necessário melhorar a qualificação do docente, por intermédio de cursos que envolvessem a abordagem HFS, e também privilegia-se esse tipo de abordagem nas grades curriculares dos cursos universitários.

Nos EUA, no período pós Segunda Guerra Mundial, a História da Ciência passou a ter um espaço de destaque nas disciplinas de ciência voltadas a estudantes da graduação de outros cursos. Segundo Matthews (1995), nos EUA, um marco importante para a inserção de HFS no Ensino de Ciências foram os livros com estudos de caso James B. Conant, presidente da Universidade de Harvard, que foi considerado um dos maiores defensores do uso da História da Ciência no Ensino de Ciências, cuja abordagem do estudo de caso era largamente difundida.

Segundo Freire Jr (2003), Conant entendia essa inserção da História da Ciência como uma forma de generalização da formação científica, ou seja, uma educação científica para todos.

Em 1946, ainda sob os efeitos das aplicações militares do conhecimento científico na Segunda Guerra Mundial, James Conant, Presidente da Universidade de Harvard, defendeu uma reforma na educação norte-americana de modo que algo da formação científica fosse generalizada ao conjunto da sociedade. Conforme Conant, essa generalização não deveria visar difundir mais conhecimentos científicos, ainda que isso pudesse ser um subproduto, mas sim

funcionamento da ciência. Para Conant, a abordagem adequada para tal objetivo seria a abordagem histórica, vez que a abordagem estritamente lógica não facilitaria a aproximação entre a ciência e a audiência de não cientistas (p.73).

A obra de Conant (1957), Estudo de Casos de Harvard sobre História nas ciências experimentais, em dois volumes, tomou-se o livro-texto de muitos cursos. Essa associação Conant-Harvard prolongou-se por toda a década de 80, com a nomeação de James Rutherford como diretor do programa do Projeto 2061 da Associação Americana para o Progresso da Ciência (MATTHEWS 1995). Segundo Matthews (1995):

O projeto de física de Harvard, que em seu auge atingiu 15% dos alunos de 1º e 2º graus nos Estados Unidos, foi o currículo escolar de ciências fundamentado em princípios históricos e preocupado com as dimensões cultural e filosófica da ciência mais amplamente utilizado. Seu sucesso em evitar a evasão dos estudantes, atrair mulheres para os cursos de ciências, desenvolver a habilidade do raciocínio crítico e elevar a média de acertos alcançada em avaliações forneceu evidências suficientes para os que, hoje, advogam a favor da HFS (p.171).

Tradicionalmente, os cursos de Física, assim como os livros didáticos, privilegiam uma formação com enfoque empirista-indutivista, como discutimos anteriormente. O conhecimento é visto como induzido das observações neutras, sem qualquer influência teórica ou subjetiva e, dessa forma, capaz de assegurar a verdade absoluta às afirmações científicas. Nosso pressuposto básico, defendido na literatura, é que essas visões de natureza da ciência, sustentadas pelos professores de Física, acabam resultando em práticas docentes inadequadas (MASSONI; MOREIRA; OSTERMANN, 2007). É justamente a História da Ciência que pode auxiliar a solucionar esse problema, possibilitando a reaproximação da ciência com a filosofia da ciência contemporânea.

Martins (2006) acredita que os professores brasileiros já perceberam a importância da utilização da História da Ciência no Ensino de Ciências em todos os níveis. Nos últimos anos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Médio passaram a enfatizar a relevância da História da Ciência como abordagem para o Ensino de Ciências. Esse tipo de ênfase está, gradualmente, ganhando espaço na sala de aula de ciências, especialmente no Ensino Médio. No entanto, ainda existem grandes barreiras para que História

da Ciência desempenhe efetivamente o papel que deve exercer no Ensino de Ciências. As três principais são: (1) carência de professores com a formação adequada para trabalhar com abordagem histórica; (2) falta de material didático adequado a esse tipo de abordagem; e (3) equívocos a respeito da própria natureza da História da Ciência e seu uso na educação (SIEGEL apud MARTINS, 2006).

Para Martins (2006) a carência de professores com a formação adequada, para trabalhar com abordagem histórica em aulas de ciências, será resolvida no Brasil com o passar do tempo, tal como está ocorrendo em outros países. Esse autor (MARTINS, 2006) sugere que, em nosso país, para terminar com esse problema, existe necessidade de mais cursos de pós-graduação em História da Ciência. Além disso, o intercâmbio com centros de pesquisa do exterior, a criação de novos grupos de pesquisa, de departamentos e centros de pesquisa, podem ajudar a sanar, pelo menos parcialmente, a falta de profissionais especializados na área de História da Ciência (MARTINS, 2006).

A falta de material didático, ou seja, de textos adequados sobre História da Ciência, a serem utilizados na abordagem histórica do Ensino de Ciências, é apontada por Martins (2006) como uma questão já resolvida. Para esse autor, há livros sobre História da Ciência disponíveis, no entanto, falta qualidade nesses materiais.

Não é que não existam livros em português sobre história das ciências – existem muitos, podem ser encontrados em livrarias e até em bancas de jornais. De tempos em tempos alguma editora lança uma coleção de biografias de “gênios da ciência”, e há muitos livros populares a respeito de história das ciências. As enciclopédias e até os livros didáticos trazem também muitas informações. E na Internet é possível também encontrar muito material sobre história das ciências. Então, o que está faltando? Ou já existe material suficiente para ser utilizado na educação? O problema não é a quantidade, é a qualidade. Assim como existem os professores improvisados de história da ciência, que não têm formação adequada, há os escritores improvisados de história da ciência. São pessoas sem um treino na área, que se baseiam em obras não especializadas (livros escritos por outros autores improvisados), juntam com informações que obtiveram em jornais, enciclopédias e na Internet, misturam tudo no liquidificador (ou no computador) e servem ao leitor desavisado (MARTINS, 2006, p. 28).

empecilho para o Ensino de Ciências. Empecilhos esses que Martins (2006) acredita poder surgir devido a alguns problemas, tais: (a) redução da história a nomes, datas e anedotas; (b) concepções problemáticas do método científico; e (c) uso de argumentos autoritários.