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Isabel Maria, reconhecida filha de Pedro I, por um documento particular, transformado poucos dias depois num ato oficial, foi aos cinco anos de idade arrancada dos braços maternos e enviada ao Colégio “Sacré Coeur”, de Paris, onde, segundo a vontade paterna, deveria ser freira, ao atingir a idade necessária. Morrendo D. Pedro prematuramente, pediu antes de expirar à sua esposa D. Amélia que protegesse a orfãzinha Isabel Maria. D. Pedro II enterneceu-se pela sorte da pequena e formosa irmã natural, que fora sua companheirinha de infância nos folguedos de São Cristóvão.

Em carta de Paris de 21 de Março de 1839, a ex-Imperatriz D. Amélia dizia ao enteado, imperador do Brasil, que resolvera retirar do “Sacré Coeur” a jovem Isabel, com a intenção de transferi-la para o “Instituto Real de Moças”, de Munique, fundado “ad instar” do de São Diniz, de França. E assim pondo de lado o desejo de D. Pedro I de fazer de Isabel uma freirinha, antes alvitrando o de casá-la muito bem na Alemanha, D. Amélia escrevia a D. Pedro II:

“Eu me interesso tanto por tua irmã Isabel que de nada me esqueço na contribuição de sua felicidade, não podendo também me esquecer do quanto era ela querida por teu pai”.

Em carta de 16 de Janeiro de 1841 D. Amélia dá notícias ao Imperador do Brasil da irmãzinha, dizendo-lhe:

“Continuo a receber excelentes notícias de Isabel, que está muito contente no Instituto de Munique, e a Madre desse estabelecimento de educação me escreveu contando que a tua irmã cresceu e ficou mais bonita. Se Deus quiser conseguirei arranjar-lhe na Alemanha um bom casamento, pois tanto eu como a Madre do Instituto não poupamos esforços para o arranjar. Entretanto, a herança que Isabel recebeu de teu pai não é muito

grande, e isso dificulta o casamento. Estou certa que tens a intenção de fazer à tua irmã um presente de núpcias, ou em diamantes ou em dinheiro. Será preferível mandares dinheiro e peço-te me comunicares qual a im- portância que mandarás de uma só vez. Tua irmã Maria da Glória, rainha de Portugal, dará tanto quanto tu deres, e as duas dádivas, reunidas à herança do teu pai, constituirão um dote apreciável que permitirão à Isabel Maria um excelente casamento e uma existência confortável”.

O Imperador do Brasil, em 12 de Agosto de 1841, respondeu à madrasta que daria à irmã, como presente de casamento, a quantia de 50.000 francos, ouro. A rainha de Portugal foi mais generosa: ofereceu o dote de 100.000, contribuindo a ex-imperatriz D. Amélia com 50.000. A fortuna de Isabel Maria, provinda da herança paterna e das dádivas que o pai lhe fizera em vida, montava 500.000 francos, mais ou menos.

“E a mãe, quanto lhe dera ?” pergunta o cronista Rangel.

Assim, reconhecida como filha pelo 1.° imperador do Brasil e como irmã do 2.o imperador; admiravelmente bela; educada nos dois melhores colégios da Europa (o “Sagrado Coração” de Paris, e o “Instituo Real”, de Munique), com a amizade de sua madrasta, a ex-imperatriz Amélia e a de seus irmãos, o imperador do Brasil D. Pedro II e D. Maria da Glória, rainha de Portugal; e ainda com um dote de cerca de meio milhão de francos, a linda Isabel Maria, Duquesa de Goiás, conseguiu o tão esperado e desejado “bom casamento”. E foi em carta de 23 de Outubro de 1842 que D. Amélia de Leutchenberg, duquesa de Bragança e ex-imperatriz do Brasil, comunicava ao seu enteado, D. Pedro II, o contrato de casamento de Isabel Maria, duquesa de Goiás, e pedia ao monarca brasileiro o alvará de licença para os esponsais, concluindo:

“Este casamento oferece todas as vantagens que eu podia desejar e as boas qualidades do noivo afiançam a felicidade de tua irmã”.

Com cerimônias principescas, no dia 17 de Abril de 1843, na corte do rei da Baviera, o fidalgo alemão Ernesto Fischler, conde de Treuberg, barão de Holzen, filho da princesa real de Hohenzollern Simarigen, grande dignitário da Ordem da Rosa, recebia como esposa a Isabel Maria, Duquesa de Goiás, filha legitimada de D. Pedro I, ex-imperador do Brasil e ex-rei de Portugal. Pedro I sonhara para a filhinha querida um convento e a viúva D. Amélia deu-lhe um marido e um castelo, e com tudo isso a felicidade do amor. Quem o diz é a própria Isabel Maria em carta de 14 de maio de 1867

dirigida a D. Pedro II, comunicando-lhe a morte do esposo, numa frase impregnada de angústia, de amor e de saudade:

- “Ah! meu irmão! Eu confesso que amei o meu inesquecível marido como poucas mulheres terão amado o companheiro de sua vida”.

Enquanto, lá na Europa, terna e meiga, Isabel Maria de Alcântara Brasileira, duquesa de Goiás, encontrara o amor no casamento com Ernesto Fishler, conde de Treuberg, em S. Paulo, sua irmã mais moça, Maria Isabel de Alcântara Brasileira, casada com o conde de Iguaçu, transformara o seu casamento em um verdadeiro inferno. Divorciada do marido, influenciaram- lhe a vida as intrigas amorosas que cercavam o destino de sua mãe Domitila de Castro, Marquesa de Santos. Desconceituada no meio social de sua província, irascível e voluntariosa, Maria Isabel gritava para a mãe, numa carta de desabafo colérico:

“Arre! que afinal o diabo do meu marido já foi para o inferno!” Era o contrabalanço da dor amorosa da irmã Isabel Maria que derramava junto ao peito do irmão Pedro II a queixa dolorida pela perda do esposo que tanto amara e tanto por ela fora amado.

Isabel Maria, a meiga e feliz condessa de Treuberg; Maria Isabel, a irascível e desventurada condessa de Iguaçu...

Ambas, filhas de Pedro I; ambas, filhas da Marquesa de Santos; ambas oriundas de um mesmo amor, e nascidas no mesmo ninho; ambas brasileiras, ambas ricas e ambas belas mulheres... Porém o destino as separou. E como? D. Pedro I, na despedida da amante, deu-lhe a filha mais moça e ficou com a primogênita, a quem quis dar um ambiente santo, entregando-a às freiras do “Sacré Coeur” de Paris. As freiras fizeram com que aquela criaturinha de 5 anos de idade o que um lapidário faz com o diamante: deu- lhe facetas. E as facetas brilharam à luz da felicidade matrimonial.

A outra, ficou com a mãe, porém a mãe fora uma infeliz esposa e no seu lar bruxuleara a luz fumarenta de amores de comborça. O fumo dessa luz denegriu o diamante da alma infantil da filha mais moça. E a filha mais moça perdeu-se no labirinto da desventura conjugal e viveu desventurada.

É porisso que a história nos mostra duas filhas da senhora Marquesa de santos com destinos desiguais: Isabel Maria, a mais velha, feliz condessa de Treuberg e Maria Isabel, a mais moça, desditosa condessa de Iguaçu.

Duas condessas irmãs, ambas lindas e ricas, e dois destinos tão diferentes!

É que o Mundo, esse grande caprichoso de todos os tempos, se apraz sempre em oferecer contrastes como esse.

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