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Linguística Aplicada: uma área de pesquisa em linguagem

2 SANTA RITA DE CÁSSIA NA CIDADE DE SANTA CRUZ: PRÁTICAS CULTURAIS EM MOVIMENTO

2.2 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA

2.2.1 Linguística Aplicada: uma área de pesquisa em linguagem

A Linguística Aplicada (LA), sendo inicialmente uma disciplina voltada para o ensino- aprendizagem de línguas estrangeiras, tornou-se um campo de estudos muito mais amplo após seus 60 anos63 de existência.

Os estudos desenvolvidos nessa área, ao longo desses anos no Brasil, têm contemplado variados e complexos contextos de pesquisa que vão desde estratégias de aprendizagem de línguas estrangeiras a investigações sobre os princípios e parâmetros da Gramática Gerativa na interlíngua de aprendizes de língua estrangeira, incluindo investigações aplicadas sobre estudos de linguagem como prática social, como é o caso da identidade (MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2008, MENEZES; SILVA; GOMES, 2009).

Recentemente, essas pesquisas em LA têm se relacionado com teorias locais e procedimentos historicamente situados, que tentam responder a dados contextualizados, voltando-se para questões sociais, políticas e geográficas, com foco em um sujeito sócio- histórico, transglobal, fragmentado, com identidades múltiplas (MOITA LOPES, 2003, MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2008).

Para Oliveira (2009c), confirmando a argumentação anterior, hoje, podemos, indubitavelmente, dizer que a LA liberta-se cada dia mais do rótulo de ser apenas uma “área de aplicação de modelos teóricos da Linguística ao mesmo tempo que ultrapassa a ideia de que a produção do conhecimento nessa área limitar-se-ia a objetos que digam respeito ao processo de ensino-aprendizagem de línguas” (OLIVEIRA, 2009a, p. 3). Dessa forma, a LA tem expandido seus estudos para além do ensino de línguas, da sala de aula e da formação de professores e “pretende assumir como objeto de estudo privilegiado a linguagem verbal em uso em práticas sociais que se realizam em contextos institucionais demarcados, nas esferas públicas e privadas, em universos discursivos, os mais diversos” (OLIVEIRA, 2009c, p. 3-4).

63 Tomamos como referência a expansão da LA na segunda metade do século passado, mais precisamente a

partir de 1956, com a fundação da University of Edinburgh School of Applied Linguistics, uma iniciativa do Conselho Britânico, e do Center for Applied Linguistics, em 1957, com o apoio da Fundação Ford, em Washington (STREVENS, 1991 apud MENEZES; SILVA; GOMES, 2009). No Brasil, o campo de estudo é oficializado com a criação de linhas de pesquisa, programas de pós-graduação ou área de concentração em LA a partir de 1970.

Dentre as caraterísticas contemporâneas e as especificidades que favorecem a essa escolha metodológica, estão o enfoque transdisciplinar, sendo um mesmo objeto de estudo contemplado e envolvendo-se em diferentes áreas do conhecimento como Psicologia, Educação, História, Ciências Sociais, Ciências da Religião, Antropologia, entre outras, e a busca da compreensão das questões de linguagem que respondam, em parte, à sociedade contemporânea. Em razão disso, a metodologia adotada nesse campo tem sido vista ao mesmo tempo como problematizadora e dinâmica (MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2008), e os embasamentos teóricos utilizados pelo linguista aplicado vão depender das condições de relevância determinadas pelo problema a ser estudado e, portanto, vão subsidiar a análise e as possibilidades de intervenção.

Além de se envolver com os conhecimentos teóricos advindos de diversas áreas do conhecimento, para Moita Lopes (1996, p. 21), “a LA também formula seus próprios modelos teóricos, podendo colaborar com o avanço do conhecimento não somente dentro de seu campo de ação como também em outras áreas de pesquisa”. Na verdade, alguns linguistas aplicados defendem a posição de uma LA transgressora, indisciplinar (MOITA LOPES, 2008, 2009a); outros, antidisciplinar, transgressiva (PENNYCOOK, 2008); outros, ainda, de uma LA da desaprendizagem (FABRÍCIO, 2008). Isso nos permite dizer que essa área atravessa fronteiras no campo do conhecimento, produzindo outros modos de pensar, sem esquecer as questões de poder e de ética, e provendo outros modos de compreender o futuro “ao passo que também apresenta novas formas de politizar a vida social para além das histórias que nos contaram sobre quem somos” (MOITA LOPES, 2009a, p. 23).

Ainda para Moita Lopes (2004), uma abordagem teórica e metodológica híbrida não é privilégio somente da LA mas também de muitas outras áreas em que os pesquisadores contemplam a complexidade, a discursividade e a visão socioconstrucionista. Nessa mesma perspectiva, Signorini (1998) argumenta que há duas grandes vantagens quando se está diante de uma construção de um objeto múltiplo e complexo: as tradições teórico-metodológicas não só diversas e multifacetadas devem ser consideradas como também concorrentes tanto no campo epistemológico quanto institucional acadêmico.

A primeira e principal vantagem dessa condição, como cita a autora, é a exposição à multiplicidade de paradigmas ou modelos epistemológicos que constituem o universo científico contemporâneo, favorecendo uma participação mais significativa da LA. Exemplo disso são as relações entre as teorias de interpretação, produzidas em diferentes áreas e disciplinas, e os estudos aplicados sobre tradução, leitura/escrita e discurso. A segunda vantagem, favorecida pela multiplicidade, é o distanciamento do pesquisador em relação ao

universo de referência, contribuindo para a não reprodução, no âmbito específico da disciplina, “de uma certa ordem institucionalizada de posições, crenças e valores hierarquizados” (SIGNORINI, 1998, p. 97).

De forma análoga, Motta-Roth (2008, p. 45) argumenta, dentre outras possibilidades, que a LA preocupa-se com o modo como “o sujeito contemporâneo deseja, pode ou deve produzir significados a fim de atuar e interagir no meio social”. No entanto, responder a esse sujeito contemporâneo, globalizado, sem identidades marcadas, remete a estar inteirado ao mesmo tempo dos grandes avanços tecnológicos relacionados com sua vida, inclusive na presença dos acessos à internet64.

Por fim, corroboramos com a ideia de que a LA é um campo de investigação das Ciências Sociais (SEALEY; CARTER, 2004; MOITA LOPES, 2009b), centrando-se, primordialmente, no uso da linguagem dos participantes ou usuários da linguagem no contexto social (MOITA LOPES, 1996).