• Nenhum resultado encontrado

3 DIÁLOGOS ENTRE AS NARRATIVAS: EM BUSCA DAS IDENTIDADES CULTURAIS DE SANTA RITA DE CÁSSIA

3.2 ANÁLISE DO CORPUS

3.2.3 Terceiro grupo

N1: Então, ela ficou com os dois filhos. É Pedro Fernando e [não lembra o nome do segundo]. Aí ela foi e pediu a Jesus que não queria ter os filhos

dela com nome de assassinos. Sim, aí, ela escondeu isso dos filhos.

Escondeu para não dizer que ele tinha sido assassinado. Escondeu, escondeu até um dia que alguém contou. Aí, uma pessoa chegou e contou para os filhos. Eles foram crescendo e foram ficando violentos, querendo vingar a morte do pai. Ia se vingar. Então, ela pediu a Jesus que levasse seus filhos,

para não tê-los com nomes de assassinos. Então, deu uma epidemia muito

N2: Os filhos dela queriam vingar a morte do pai e ela preferiu pedir, na

intercessão, que tirasse os filhos do que vê-los assassinos (grifo nosso).

N4: No entanto, fruto do seu casamento ficaram dois (2) filhos que juraram vingança tão logo se tornassem adultos e ainda melhor, tão logo se encontrassem com o desafeto. Santa Rita como demonstrava desde os seus doze anos, vocação para servir a Cristo pediu a Deus através dos seus devotos Santo Agostinho, eu não me lembro dos dois, mas Santo

Agostinho é um dos santos bem difundidos na cultura religiosa da Itália,

que se fosse para ver seus filhos com as mãos manchadas de sangue que

Deus os levasse. Ignorado pela medicina eles contraíram uma doença e Deus

os levou (grifo nosso).

N5: Os filhos dela queriam vingança, queriam vingar a morte do pai. Aí, ela

pediu a Deus que protegesse, que os dois filhos dela não fizessem tal coisa. Queria que os filhos continuassem... Como o poder de Deus é

grande. Mas, sabe quem é que conta essa história todinha bem melhor

que eu? É na igreja, as meninas lá sabem. Porque eu estou contando o que minha mãe contava, minha avó, meu avô. Depois, que os filhos dela

morreram, ela foi para convento. [...] Acho que ela queria ser freira, né? Isso são os mais velhos é quem contavam essas conversas. Não sei. Essas conversas que eu estou contando aqui para você é mãe quem dizia (grifo nosso).

N6: Aí, os filhos eram pequenos e juraram vingança, num sabe? Ela não

queria que os filhos se vingassem. Aí, ela pediu que queria mais antes que Jesus levasse os filhos que ver os filhos com as mãos ensanguentadas. Morreram e ela ficou sozinha (grifo nosso).

N8: O que eu achei interessante na história é que os filhos dele queriam punir a morte do pai, entendeu? Incentivaram os filhos. Mas ela, com muita

oração, pediu a Jesus que se era de vê-los manchados pelo pecado de matar os inimigos do pai, queria antes vê-los mortos. E eles morreram

antes, eles não chegaram a se vingar, morreram logo. Depois que o marido morreu, que os filhos morreram, então, o desejo veio de novo, de ser

religiosa (grifo nosso).

N9: Mas tinham dois filhos. Um filho já grande, já chegando à adolescência. Um tio deles, dos meninos, irmão do que morreu sempre ficava orientando para os filhos se vingarem. Ele, o tio, sabia quem era os camaradas, mas ela orando a Deus, pedindo ao Cristo que não queria ver os filhos com as

mãos manchadas de sangue. Aí, os meninos faleceram, um após o

outro (grifo nosso).

Nas narrativas que compõem esse terceiro grupo, recorrendo à leitura hagiográfica de Cuomo (2009), é evidenciado que, após a morte de Paulo Fernando por assassinato, Rita de Cássia sabe quem são os assassinos do marido, mas, mesmo assim, ela perdoa seus inimigos.

O segundo aspecto que compõe esse grupo é o fato de mesmo Paulo Fernando tendo sido um esposo violento para com Rita de Cássia, os dois filhos queriam vingar a morte de seu pai. Isso significa dizer que o sentimento filial superou todo o sofrimento vivido pela mãe.

O que parece contraditório é o fato de uma mãe desejar a morte dos filhos como podemos ver nas seguintes narrativas: N1: “[...] pediu a Jesus que não queria ter os filhos dela com nome de assassinos. [...] escondeu isso dos filhos. [...] Então, ela pediu a Jesus que levasse seus filhos, para não tê-los com nomes de assassinos [...]”./ N2: “[...] ela preferiu pedir, na intercessão, que tirasse os filhos do que vê-los assassinos”./ N4: “[...] se fosse para ver seus filhos com as mãos manchadas de sangue que Deus os levasse”./ N5: “[...] pediu a Deus que protegesse, que os dois filhos dela não fizessem tal coisa. Queria que os filhos continuassem... [...] Mas, sabe quem é que conta essa história todinha bem melhor que eu? É na igreja, as meninas lá sabem. Porque eu estou contando o que minha mãe contava, minha avó, meu avô”./ N6: “Aí, os filhos eram pequenos e juraram vingança, num sabe? Ela não queria que os filhos se vingassem. Aí, ela pediu que queria mais antes que Jesus levasse os filhos que ver os filhos com as mãos ensanguentadas. Morreram e ela ficou sozinha (grifo nosso).”/ N8: “[...] Mas ela, com muita oração, pediu a Jesus que se era de vê-los manchados pelo pecado de matar os inimigos do pai, queria antes vê-los mortos. [...] o desejo veio de novo, de ser religiosa”./ N9: “[...] pedindo ao Cristo que não queria ver os filhos com as mãos manchadas de sangue [...]”.

Conforme N1, Rita de Cássia pede proteção a Jesus para que seus filhos não sejam assassinos. Consequentemente, apesar de ser mãe e mãe não desejar ver seus filhos mortos em nome da ética e da moral, ela desejou a morte dos filhos. Cita-se o nome de Jesus como estratégia de intercessão84, a fim de resolver aquela situação conflituosa.

Para efeito de contextualização, muitas imagens divulgadas de Santa Rita de Cássia, inclusive a estátua colossal, localizada no Alto de Santa Rita, em Santa Cruz, representa a afeição que tinha pela imagem de Cristo, uma vez que na mão direita a imagem está segurando um crucifixo (ver Figura 15).

Em N2, não se esclarece quem intercederá para solucionar o problema. Entretanto, em N4 isso fica evidente: “Santo Agostinho, eu não me lembro dos dois, mas Santo Agostinho é um dos santos bem difundidos na cultura religiosa da Itália”. Em N5, fica explícita que a intercessão será feita por Deus: “Aí, ela pediu a Deus que protegesse, que os dois filhos dela não fizessem tal coisa. Queria que os filhos continuassem...”.

Diante de N5 (“queria que os filhos continuassem...”), podemos inferir para o não dito no que se refere aos filhos continuarem ético-moralmente intactos no que diz respeito à idoneidade, à justiça, enfim, à boa reputação tanto para a família quanto para os meninos.

Sobre o não dito, e, nesse caso, marcado pelos três pontos, sendo reincidente para esse sujeito em outros agrupamentos, é desenvolvido o mínimo de verbalização – como o diálogo das falas internas – combinando palavras como também formas morfológicas ou sintáticas, sons e entonações que não estão explícitas ao interlocutor (BAKHTIN, 2009).

Portanto, encontramos, nas sete narrativas analisadas acima, exemplos de busca de mulher e mãe que até sacrifica os filhos em vista da salvação, buscando compromissos éticos e morais. Assim, a identidade cultural de Rita de Cássia construída nos discursos é a de mulher em conflito.