• Nenhum resultado encontrado

A Álgebra tem em sua origem a tendência à generalização e abstração, características importantes que fazem dessa ciência o grande elo entre os diversos campos da matemática, inclusive a lógica (FIORENTINI; MIGUEL; MIORIM, 1993, p. 83).

O desconhecimento da importância da álgebra tem contribuído para que seus elementos conceituais, bem como a sua linguagem, sejam pouco explorados nos diversos contextos da educação básica no Brasil, fato que torna pouco importante, para alguns, o uso desse campo da matemática na compreensão do

pensamento matemático e na resolução de problemas, razão pela qual possa se intensificar a rejeição à matemática nesse segmento da educação brasileira.

Estudos revelam que o trabalho com a álgebra vem ocorrendo de forma automatizada sem qualquer significação social e lógica, ou seja, completamente dissociada dos contextos (FIORENTINI; MIGUEL; MIORIM, 1992, p. 40). Nesse sentido, o ensino da álgebra vem acontecendo de forma superficial, não contribuindo para que os objetivos desse campo da matemática possam ser compreendidos em seu sentido mais amplo, ou seja, a possibilidade de dar suporte aos demais campos do conhecimento matemático.

Convém registrar que a base conceitual da álgebra vai muito além das incógnitas, dos famosos x e y. Para Fiorentini, Miguel e Miorim (1993, p.78), o objeto de estudo dessa ciência ultrapassa “o domínio exclusivo do estudo das equações e das operações clássicas sobre quantidades generalizadas, discretas ou contínuas. Assim sendo, o desconhecimento de questões conceituais e postulacionais vem contribuir para que haja equívocos na interpretação do verdadeiro sentido e objetivos desse campo da matemática.

Outro ponto importante a ser considerado é que a álgebra possui uma linguagem universal. Ela evoluiu a partir de contribuições de culturas diversas, a exemplo, a egípcia, a babilônica, a grega, a chinesa, a hindu, a arábica, e a européia, o que permitiu uma linguagem concisa de maior amplitude, condição necessária e suficiente para transitar entre todos os campos da matemática (FIORENTINI; MIGUEL; MIORIM, 1993, p.79).

Na realidade, a álgebra, que nos últimos tempos ficou muito bem delineada entre álgebra clássica ou elementar14 e álgebra moderna ou abstrata15, passou por grandes debates ao longo dos tempos, tendo a sua linguagem, no seu processo de evolução, passado por três momentos importantes: a fase retórica ou verbal onde

14

A álgebra clássica, álgebra antiga ou álgebra elementar trata do estudo das equações e métodos de resolvê-las.

15

A álgebra moderna ou abstrata estuda as operações arbitrariamente definidas sobre objetos abstratos, estruturas matemáticas não necessariamente interpretáveis em termos quantitativos, tais como grupos, anéis, corpos, etc. (FIORENTINI; MIGUEL; MIORIM, 1993, p.78).

não se fazia o uso de símbolos para representar o pensamento algébrico16, uma vez que este era representado integralmente na linguagem corrente; a fase sincopada em que se utilizava uma forma mais abreviada e concisa onde se usavam palavras e símbolos; e a fase simbólica, momento em que o pensamento algébrico passa a ser representado somente através de símbolos (FIORENTINI; MIGUEL; MIORIM, 1993, p.79 e 80).

Apesar do avanço considerável que teve a linguagem algébrica nos seus aspectos exteriores, para Fiorentini, Miguel e Miorim (1993, p.80), foi a “significação atribuída aos símbolos”, o grande passo que aproximou linguagem e pensamento algébrico, possibilitando um maior grau de concisão dessa linguagem, o que contribuiu para o avanço da álgebra desde a resolução de problemas elementares até se chegar ao cálculo infinitesimal.

Falando mais especificamente da álgebra clássica ou elementar, é importante perceber que qualquer problema que possa ser solucionado através dos números, certamente pode ser relacionado a partir de equações. Tal questão fica bem evidente na linguagem cotidiana pela incorporação do verbo “equacionar”, pois, é simples compreender que equacionar um problema é construir uma provável igualdade através da qual se torna possível resolvê-lo (GARBI, 2009, p.01).

As equações algébricas17, ao menos do ponto de vista prático, talvez, representem a parte mais importante da matemática. Em seus aspectos mais elementares, elas estão presentes nas diversas situações do cotidiano, o que vem a confirmar o papel das referidas equações na resolução de problemas.

Cabe salientar, portanto, que as formas mais simples de equações algébricas aparecem quase que naturalmente nos argumentos de pensadores matemáticos antigos, o que se confirma a partir do momento em que o homem

16

Pensamento algébrico:forma de percepção e compreensão das representações e generalizações das ideias matemáticas abstratas.

17

De acordo com Garbi (2009, p.4), equações algébricas são aquelas em que a incógnita aparece apenas submetida às chamadas operações algébricas: soma (adição), subtração, multiplicação, divisão, potenciação inteira (embora a potenciação inteira seja um caso particular de multiplicação de n fatores iguais, ela está sendo deixada em destaque por questão de clareza) e radiciação.

começou a calcular, contar rebanhos, trocar produtos, contabilizar impostos, como também nas construções das primeiras obras de engenharia (GARBI, 2009, p.5).

A possibilidade de relacionar contextos à álgebra permite criar um ambiente propício à aprendizagem matemática de uma forma significativa, (BORRALHO; CABRITA; PALHARES; VALE, 2007, p.5.). Vale ressaltar que a linguagem algébrica tem especificidades tanto da linguagem aritmética quanto da linguagem natural (KLÜSENER, 1998, p.190). Nessa direção, os conhecimentos prévios adquiridos pelo sujeito podem servir como estratégias para a compreensão da linguagem algébrica pela linguagem natural, contribuindo para que se perceba que matemática não é apenas manipulação de símbolos que obedecem a regras, mas que, acima de tudo, pode contribuir na compreensão e construção de padrões18 (KLÜSENER, 1998, p.183).

Há situações em que a álgebra está muito relacionada à generalização da aritmética na intenção de buscar padrões numéricos. É importante ter clareza de que a busca por padrões numéricos é apenas uma das diferentes perspectivas que a álgebra proporciona. A possibilidade de criar padrões diversos de generalização faz desse campo da matemática uma poderosa estratégia de resolução de problemas, talvez, pelo fato de poder relacionar a linguagem algébrica a diferentes contextos da vida real (BORRALHO; CABRITA; PALHARES; VALE, 2007, p.5). Assim, fica evidente a riqueza e a importância da álgebra no desenvolvimento da matemática e áreas afins, bem como a utilidade na construção de estratégias de resolução de problemas matemáticos.