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3.1 Acordos ambientais internacionais e o viés político da agenda climática

3.1.1 Linha do tempo da cooperação internacional em prol do meio ambiente

Da necessidade de encarar os problemas gerados pelas mudanças climáticas surgem os acordos internacionais, que são documentos elaborados conjuntamente entre um certo número de Estados, no qual cada membro analisa sua parcela de culpa na emissão de GEEs e se compromete a implementar no cotidiano do país medidas que visam mitigá-la.

Analisando a linha do tempo dos acordos internacionais se percebe que a preocupação do cenário internacional com o meio ambiente possui aproximadamente cinquenta anos, pois em 1972 aconteceu a Conferência de Estocolmo, na qual foram estabelecidos 26 princípios de proteção ao meio ambiente e 109 recomendações de ação. Reunindo, na ocasião, 113 países, incluindo o Brasil. (QUADROS, 2017)

Anos depois, em 1979, ocorreu a Primeira Conferência Mundial do Clima, realizada pela Organização Meteorológica Mundial. Com a presença de 53 países e 24 organizações internacionais, teve como objetivo proporcionar, balizando-se em

estudos dos impactos climáticos, um debate geral sobre questões ambientais referentes à agricultura, recursos hídricos, energia, biologia e economia. Em seguida, no ano de 1988, conforme já mencionado anteriormente, houve criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC). Em 1990, o primeiro relatório do IPCC resultou na Segunda Conferência Mundial do Clima. (QUADROS, 2017)

Marco histórico, em 1992 aconteceu a ECO 92, pontapé inicial da criação de um tratado internacional vinculativo sobre o meio ambiente, a qual teve sede no Rio de Janeiro. A partir deste evento foi formulada a Agenda-21 propondo meios para atingir desenvolvimento ecológico sustentável. Reuniram-se 172 líderes de Estado e dentre os assuntos discutidos, os de maior destaque foram o clima, a água, transporte alternativo, turismo ecológico e reciclagem. (MENEGHETTI, 2018)

Durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Rio 92, representantes de 179 países consolidaram uma agenda global para minimizar os problemas ambientais mundiais. Crescia a ideia do desenvolvimento sustentável, buscando um modelo de crescimento econômico e social aliado à preservação ambiental e ao equilíbrio climático em todo o planeta. Nesse cenário, foi elaborada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Foram definidos compromissos e obrigações para todos os países (denominados Partes da Convenção), para garantir o cumprimento desses compromissos é necessário os recursos financeiros para custear as despesas. (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, n.d.)

No ano de 1944, depois de ter o início da sua implementação discutido na ECO 92, entrou em vigor a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobrea a Mudança do Clima (UNFCCC, sigla original em inglês).

O próximo grande movimento internacional em relação à pauta climática se deu em torno do Protocolo de Quioto, em 1997, ano de sua assinatura. O Protocolo foi o primeiro documento firmado exclusivamente para estabelecer metas ligadas à diminuição da emissão de GEEs. Nele os países industrializados se comprometeram a reduzir no primeiro período de vigência (2008 a 2012) a emissão de GEEs em 5,2%, tendo como referencial a emissão do ano de 1990. (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2015)

O acordo perdeu a força com o tempo em virtude da impossibilidade de alguns países signatários de colocar em prática as medidas propostas no documento. O portal Observatório do Clima destaca que “o caso mais emblemático é dos Estados Unidos, que mesmo representando cerca de 25% do total das emissões globais, saíram do acordo em 2001, gerando um dos principais entraves à eficácia do acordo.”. (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2015)

Após o Protocolo de Quioto, o principal acordo firmado internacionalmente foi o Acordo de Paris. Por este segmento, segue a análise deste acordo.

3.1.2 O Acordo de Paris

O Acordo de Paris de 2015, representou o primeiro acordo de caráter efetivamente global que diz respeito às mudanças climáticas e impõe medidas a serem cumpridas pelos países signatários. Para tanto, contou com a participação de representantes dos 195 países Parte da UNFCCC.

A íntegra do documento do acordo em português possui 29 artigos ao longo de 13 páginas e expõe no seu preâmbulo diretrizes importantes observadas na elaboração de suas disposições, tais como o reconhecimento da necessidade de basear as ações futuras no melhor conhecimento científico disponível e a consideração das particularidades de cada país parte no que tange ao desenvolvimento interno e da capacidade tecnológica e financeira de cada ente.

Além de reconhecer como prioridade fundamental garantir que todos possuam acesso seguro à alimentação e que a fome seja erradicada, o Acordo de Paris expõe claramente que a preocupação com o meio ambiente é, acima de tudo, uma preocupação com a humanidade, como evidencia o excerto que segue:

a mudança do clima é uma preocupação comum da humanidade, as Partes deverão, ao adotar medidas para enfrentar a mudança do clima, respeitar, promover e considerar suas respectivas obrigações em matéria de direitos humanos, direito à saúde, direitos dos povos indígenas, comunidades locais, migrantes, crianças, pessoas com deficiência e pessoas em situação de vulnerabilidade e o direito ao desenvolvimento, bem como a igualdade de

gênero, o empoderamento das mulheres e a equidade intergeracional (2015, p. 1)

Os objetivos gerais do acordo estão elencados no artigo 2º, os quais são: :

(a) Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, e envidar esforços para limitar esse aumento da temperatura a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, reconhecendo que isso reduziria significativamente os riscos e os impactos da mudança do clima; (b) Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos negativos da mudança do clima e promover a resiliência à mudança do clima e um desenvolvimento de baixa emissão de gases de efeito estufa, de uma maneira que não ameace a produção de alimentos; e (c) Tornar os fluxos financeiros compatíveis com uma trajetória rumo a um desenvolvimento de baixa emissão de gases de efeito estufa e resiliente à mudança do clima.

O princípio da isonomia rege a elaboração do Acordo de Paris, desta maneira, países em situações desiguais possuem objetivos e metas desiguais, sendo os mais desenvolvidos responsáveis por tomar a dianteira e assumir medidas de maior impacto no meio ambiente e na economia. De outra banda, os países em desenvolvimento têm a prerrogativa de se comprometerem a partir da capacidade que possuem de mudar o panorama atual do estilo de vida nacional. Por estarem em crescimento, destes não são cobradas mudanças abruptas na indústria ou nas características sociais, mas a preocupação com a emissão de GEEs deve ser incluída e observada no processo de desenvolvimento da nação de maneira gradual e constante.

Cada Estado integrante do acordo se responsabilizou por apresentar um documento denominado Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (INDC, sigla em inglês). Após aprovação interna do documento e entrega deste às Nações Unidas, as contribuições deixam de ser pretendidas e tornam-se compromisso oficial. Neste sentido:

Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil concluiu, em 12 de setembro de 2016, o processo de ratificação do Acordo de Paris. No dia 21 de setembro, o instrumento foi entregue às Nações Unidas. Com isso, as metas brasileiras deixaram de ser pretendidas e tornaram-se compromissos oficiais. Agora, portanto, a sigla perdeu a letra “i” (do inglês, intended) e passou a ser chamada apenas de NDC. (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, n.d.)

O Brasil, ao prestar o compromisso de cumprir com o acordo, vinculou-se às metas de reduzir a emissão de GEEs em 37% até 2025 e 43% até 2030, tendo como referencial a quantidade emitida no ano de 2005. O compromisso do Brasil equivale a reduzir estimativamente 66% da emissão de GEEs por unidade do PIB em 2025 e 75% em 2030. (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, n.d.).

Quanto ao aspecto econômico, necessário para viabilizar a implantação das medidas do acordo, foi determinado que os Estados envolvidos ficam obrigados a investir a quantia anual de 100 bilhões de dólares em medidas que busquem combater a mudança climática. Viés importante é a possibilidade de financiamento cooperativo entre países subdesenvolvidos, ou em desenvolvimento, aumentando o núcleo de financiadores. (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, n.d)

O financiamento entre os países em desenvolvimento faz parte da Cooperação Sul-Sul que, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU, 2019), “é uma ferramenta usada por Estados, organizações internacionais, acadêmicos, sociedade civil e setor privado para colaborar e compartilhar conhecimento, habilidades e iniciativas de sucesso em áreas específicas, como desenvolvimento agrícola, direitos humanos, urbanização, saúde, mudança climática, etc.”.

A Cooperação Sul-Sul é oriunda do Plano de Ação de Buenos Aires para Promoção e Implementação de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (BAPA), de 18 de setembro de 1978. Na ocasião foi adotado por 138 países integrantes do quadro da ONU. A importância de tal plano reside no fato de que na história recente os países do hemisfério sul são responsáveis por mais da metade do crescimento mundial, logo, protagonistas em potencial do futuro. Acredita- se que, por meio da Cooperação Sul-Sul, pode-se alcançar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. (ONU, 2019)

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é medida da ONU responsável por determinar, na Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável que ocorreu no Rio de Janeiro em 2012, dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os ODS são a sucessão dos

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), propostos no início do milênio, os quais eram apenas oito.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são ambiciosos e a meta para o cumprimento é 31 de dezembro de 2030. Sendo a questão da mudança climática o problema de maior urgência requerendo a atenção da humanidade, não poderia ser diferente o fato de todos os dezessete objetivos terem ligação estreita com as mudanças climáticas, principalmente os ligados à distribuição de renda, recursos naturais, bem-estar e saneamento básico. Ademais, compreende avanços sociais importantes que foram ganhando força nos debates mundiais da última década.

Os objetivos na íntegra, destacados os expressamente ligados o meio ambiente, são:

01 - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; 02 - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável; 03 - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; 04 - Assegurar a educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; 05 - Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; 06 - Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos; 07 - Assegurar a todos o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia; 08 - Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos; 09 - Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; 10 - Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles; Tornar as cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; 11 - Tornar as cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; 12 - Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis; 13 - Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e os seus impactos; 14 - Conservar e usar sustentavelmente os oceanos, mares e os recursos marinhos, para o desenvolvimento sustentável; 15 - Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra, e deter a perda da biodiversidade; 16 - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis; 17 - Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. (ONU, n.d., p. 7, grifo nosso) No entanto, desde que foram determinados os objetivos do século, a situação política do Brasil fez com que o cuidado ao meio ambiente fosse descartado da agenda governamental. Assumiu a Presidência da República o ex-militar Jair

Bolsonaro no primeiro dia de janeiro de 2019, eleito no segundo turno das eleições presidenciais de outubro de 2018 com 55,13% dos votos. Cem dias após a posse, no dia 09 de abril de 2019, o Greenpeace Brasil publicou artigo intitulado “Governo Bolsonaro: 100 dias de retrocessos ambientais”.

Para a organização, os pontos de destaque dizem respeito à ausência de plano para frear o desmatamento da Amazônia, a desmotivação para regulamentar o uso de agrotóxicos e, assim, favorecer o agronegócio (comandado por grupo de empresários com forte representação no Congresso Nacional), o desprezo pela demarcação das terras de coletivos indígenas (cedendo ao Ministério da Agricultura – inimigos históricos da proteção da fauna e da flora natural – a incumbência de demarcar a área reservada) e a visível intenção de enfraquecer e, se possível, mesmo que de forma velada, encerrar as atividades do Ministério do Meio Ambiente, ponto que será discutido de forma mais precisa.

O primeiro ataque presidencial foi lançado logo no segundo dia da legislatura, ocasião em que foram publicados Decretos Presidenciais que transferiam as pautas do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, encerrando as atividades daquele setor. Contudo, as providências obtiveram concordância por parte do recém nomeado ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o qual, conforme publicado pelo jornal El país, “é alvo de ação de improbidade administrativa, acusado de manipular mapas de manejo ambiental do Rio Tietê” enquanto ocupava o cargo de secretário particular e, posteriormente, cargo no Ministério do Meio Ambiente de São Paulo. O ministro também é conhecido por, nas eleições de 2018 sugerir o uso de munição de fuzil contra a esquerda e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). (JUCÁ, 2018)

Com o surgimento de fortes críticas ao modelo adotado pelo novo governo brasileiro partidas de setores exportadores e ambientalistas, o presidente optou por recuar na medida que extinguia o Ministério do Meio Ambiente, no entanto, não deixou de prejudicar o funcionamento do ministério de maneira velada. A principal consequência internacional é a perda de força diplomática do Brasil como Estado nas questões ambientais mundiais.

Assim como Donald Trump na presidência dos Estados Unidos da América, a ideologia Jair Bolsonaro vai de encontro à ciência e ao posicionamento do próprio país nas políticas anteriores de combate ao aquecimento global, no entanto, o brasileiro ignora a diferença de que o Brasil não detém, nem aproximadamente, a hegemonia estadunidense que garante o comércio interno e oferece segurança para que o Chefe de Estado se posicione contrariamente aos demais países e mesmo assim consiga resistir a um possível efeito colateral negativo que, tendo em vista o modelo capitalista do mercado internacional, tende a ser de caráter econômico.

O atual rumo das políticas ambientais pode jogar por terra décadas de esforços no combate ao desmatamento, colocar em risco a saúde da população e trazer um incalculável prejuízo econômico e de imagem ao país. Cada vez mais, consumidores do mundo inteiro rejeitam produtos manchados com a destruição ambiental. Recentemente, o governo francês anunciou que irá bloquear a importação de produtos agropecuários e florestais que contribuam com o desmatamento da Amazônia. (GREENPEACE BRASIL, 2019)

Seguindo a pauta “anti-ambientalista”, em maio de 2019, o presidente brasileiro efetuou corte na monta de R$ 187 milhões no orçamento destinado ao Ministério do Meio Ambiente, quantia que corresponde a 95% do orçamento anterior, restando disponíveis apenas R$ 500 mil anuais para a implementação das políticas ambientais. Fruto do decreto nº 9741, de 29 de março de 2019, os cortes, em detalhes, foram efetuados da seguinte forma: R$ 6,4 milhões do apoio de implementação à Política Nacional de Resíduos Sólidos (equivalente a 83% do orçamento anterior), R$ 24,8 milhões do Controle e Fiscalização Ambiental do IBAMA (equivalente a 24% do orçamento anterior), R$ 11,2 milhões das Iniciativas para Implementação da Política Nacional sobre Mudança do Clima (equivalente a 95% do orçamento anterior), R$ 45 milhões no Apoio à Criação, Gestão e Implementação das Unidades de Conservação Federais (equivalente a 26% do orçamento anterior) e R$ 5,4 milhões da Fiscalização Ambiental e Prevenção e Combate a Incêndios Florestais – ICMBio (equivalente a 20% orçamento anterior). (PINA, 2019)

Levando em consideração a quantidade elevada de retrocessos na pauta ambiental, as metas que o Brasil se propôs a cumprir no Acordo de Paris ficam cada vez menos tangíveis e mais distantes de serem alcançadas. Ademais, quando questionado acerca da participação do país no acordo supracitado, o ministro do Meio

Ambiente Ricardo Salles informou que “por ora, a participação do Brasil está mantida”, declaração que nada garante em relação ao futuro. (ESTADÃO CONTEÚDO, 2019)

Em entrevista ao jornal El País, Marcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace e conselheiro do Observatório do Clima, explicou o trâmite necessário para a retirada do Brasil do Acordo de Paris e alertou acerca das possíveis consequências de tal ação:

Para sair do Acordo, é preciso a aprovação do Congresso. Além disso, pelas regras da ONU, um país só pode romper com o Acordo depois de passados quatro anos da entrada em vigor, ou seja, em novembro do ano que vem. A saída definitiva ocorre depois de um ano da notificação, que seria novembro de 2020. [...] Os problemas de imagem e comerciais vão se agravar para o Brasil. Seria como se o Governo dissesse: eu estou dando as costas para qualquer ação em defesa do clima. Para a imagem do país é dizer que está contra o mundo. São 190 países, centenas de cientistas, milhares de estudos nos quais os acordos se baseiam. Sair dele é como o país dizer que não quer ajudar na solução e sim, fazer parte do problema. Isso pode ter um peso muito grande para a economia do Brasil. Inclusive quando Bolsonaro disse que sairia do Acordo de Paris, grandes exportadores do agronegócio se manifestaram contra, porque sabem o peso econômico que essa decisão pode ter. (ROSSI, 2018)

O momento em que os retrocessos estão guiando a agenda do governo Bolsonaro torna ainda mais preocupante a situação do Brasil no cenário internacional. O IPCC (2008) emitiu relatório no qual evidenciou que as consequências serão devastadoras ao planeta se a temperatura média terrestre alcançar o aumento de 2ºC em relação ao nível pré-industrial, inclusive gerando impactos que tornem a adaptação da vida humana impossível.

O apelo do IPCC foi no sentido de que os governos precisam dar a devida atenção aos dados científicos e prestarem o compromisso de cooperar para evitar a mudança climática que será catastrófica. Neste sentido o diretor executivo do WWF- Brasil, Mauricio Voivodic:

o relatório reforça a importância do Brasil intensificar a implementação de ações concretas que diminuam a emissão de gases de efeitos estufa – e não ir na contramão do Acordo de Paris, como tem feito de forma recorrente: “Há pouco mais de uma semana, deputados de Rondônia acabaram com mais de meio milhão de hectares de áreas protegidas na Amazônia. Isso é uma abertura para o desmatamento ilegal, perda de biodiversidade e um passo contrário ao que nos comprometemos nas Conferências de Clima. O Brasil é um dos principais atores nas negociações internacionais climáticas da ONU, e precisamos aumentar a ambição das nossas metas para garantir o limite de

1,5ºC ao invés de não cumprirmos aquelas que nós mesmos já estipulamos. (WWF, 2018, grifo nosso)

Cumpre salientar que o prazo estipulado para grandes mudanças ocorrerem em relação à mudança climática é o ano de 2030. Todavia, as emissões de GEEs atualmente aponta para uma projeção de aquecimento de 3,4ºC, fato que evidencia que, embora o IPCC tenha apontado para a necessidade de manter o aumento da temperatura em menos de 1,5ºC, até a meta de 2ºC parece otimista. (OBSERVATÓRIO DO CLIMA, 2019)

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