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A humanidade e a terra: a contribuição antrópica na degradação do meio ambiente, geração de energia e a resposta do direito

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Academic year: 2021

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GRANDE DO SUL

VÍTOR KINALSKI DE SOUZA

A HUMANIDADE E A TERRA: A CONTRIBUIÇÃO ANTRÓPICA NA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE, GERAÇÃO DE ENERGIA E A RESPOSTA

DO DIREITO

Ijuí (RS) 2019

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VÍTOR KINALSKI DE SOUZA

A HUMANIDADE E A TERRA: A CONTRIBUIÇÃO ANTRÓPICA NA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE, GERAÇÃO DE ENERGIA E A RESPOSTA

DO DIREITO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Daniel Rubens Cenci

Ijuí (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, em especial à Marina, Sônia e Ciro, pelo amor e apoio incondicional durante toda a minha trajetória, dedico também à Emília por partilhar da vida, aos amigos por me situarem no mundo e a todas às professoras e professores que tornaram possível que eu concluísse o curso de Direito na UNIJUÍ.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, com carinho, a todos os membros da minha família, em especial meus pais Sônia e Valtencir, meus avós Olyra e José, minha namorada Emília, meus tios Alvina e Francisco, bem como todos os meus primos que sempre depositaram em mim a mais sincera confiança.

Agradeço, imensamente, a minha irmã Marina e o meu cunhado Diogo por serem criadores dos dois maiores amores que já senti na vida: meus sobrinhos Laura e Bruno.

Agradecimento especial e carregado de respeito ao meu orientador Dr. Daniel Rubens Cenci, o qual, além de ter me orientado na escrita desta monografia, foi também meu primeiro orientador na Iniciação Científica, sendo assim o responsável por despertar meu lado pesquisador e facilitar a escolha do meu futuro trajeto como profissional.

Por fim, estendo meus agradecimentos a todos os professores que foram imprescindíveis para minha conquista acadêmica, em especial os professores da EFA e UNIJUÍ, além de todos os colegas e amigos que tornaram, ao longo da minha vida, toda jornada mais gratificante.

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“Cuando luchamos por el medio ambiente, tenemos que recordar que el primer elemento del medio ambiente se llama felicidad humana.”. José “Pepe” Mujica

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso consiste em estudo sobre o aquecimento global e as atividades históricas e modernas que contribuem para o aumento da temperatura média do planeta. As ações da humanidade ao longo da história servem, neste trabalho, como pano de fundo da análise das emissões de gases geradores do efeito estufa pelas atividades industriais da contemporaneidade. Aborda, também, a questão política e diplomática responsável por avanços e atrasos na cooperação global em busca de um desenvolvimento sustentável a nível mundial, tendo como base acordos ambientais internacionais, em especial o Acordo de Paris. Por fim, cita a proteção ambiental trazida pela Constituição Federal de 1988 e o mecanismo legal previsto no ordenamento jurídico brasileiro para que um cidadão possa buscar o cancelamento de ações que venham a prejudicar o meio ambiente. Para tanto, utiliza o método exploratório com base e documentos internacionais, legislação e doutrina referente ao tema, desenvolvendo análise crítica para a compreensão do tema e alcance dos objetivos finais, dentre eles entender o aquecimento global, a política da mudança climática e os impactos sociais e econômicos do aumento da temperatura.

Palavras-Chave: Acordo de Paris. Aquecimento Global. Consumo energético. Direito ambiental. Refugiados Ambientais.

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The present study of graduation conclusion consists in study about global warming and historical and modern activities that contribute to the rise of the planet’s average temperature. The mankind’s actions throughout history are, on this conclusion graduation work, the background of the analysis of the greenhouse gases’ emission by industrial activities from nowadays. Also approaches the politic and diplomatic subject responsible for advances and delays of the global cooperation after a worldwide sustainable development, based on environmental agreements, particularly the Paris Agreement. In the end, talks about the environmental protection brought by the Brazilian Federal Constitution of 1988 and the legal mechanism fixed in the Brazilian legal order which allows any citizen to go after the cancelling of harmful actions to the environment. Therefore, uses the exploratory method based on international documents, law and doctrine relative to the theme, developing critical analysis to understand the theme and reaching the final goals of understanding the global warming, the politics of climate change and the social and economic impacts of the rise of the temperature.

Keywords: Paris Agreement. Global Warming. Energetic Consumption. Environmental Law, Ambiental Refugees.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 EVOLUÇÃO DA VIDA EM SOCIEDADE E A RELAÇÃO DOS HUMANOS COM A NATUREZA AO LONGO DA HSTÓRIA ... 11

1.1 A Revolução Industrial e a invenção de novos meios de produção ... 17

1.2 Modelo contemporâneo de produção capitalista ... 20

2 AQUECIMENTO GLOBAL E SEUS EFEITOS ... 22

2.1 Dados científicos e causas de aceleração do aumento da temperatura média do planeta Terra ... 22

2.2 Refugiados Ambientais ... 30

2.2.1 O acidente nuclear em Chernobyl ... 33

2.2.2 A lama de Mariana ... 35

2.2.3 O ciclone Idai ... 36

2.3 A influência do aquecimento global na economia ... 37

3 A RESPOSTA DO DIREITO ... 41

3.1 Acordos ambientais internacionais e o viés político da agenda climática .. 41

3.1.1 Linha do tempo da cooperação internacional em prol do meio ambiente 43 3.1.2 O Acordo de Paris ... 45

3.2 A tutela ambiental a partir da Constituição Federal de 1988 ... 52

3.2.1 A Ação Popular ... 53

CONCLUSÃO ... 55

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa visa explorar dados históricos acerca da evolução humana por meio das práticas de produção de subsistência, dos processos mercantis e industriais, bem como analisa o desenvolvimento dos meios de geração de energia necessários para suprir a demanda produtiva da sociedade de cada era. Após, as informações colhidas traçarão paralelo com os impactos da degradação ambiental oriunda de ações antrópicas e seus efeitos socioambientais, em especial com a questão das mudanças climáticas, analisando as causas, os efeitos e meios de reduzir o aquecimento global.

Tal estudo se apresenta relevante e desafiador, em virtude de que a humanidade dispõe, por ora, de apenas um planeta para usufruir como habitat. No entanto, os caminhos traçados pelas sociedades, desde a pré-história até o presente, estão resultando na devastação dos recursos naturais sem que haja percepção social dos impactos no meio ambiente, os quais repercutem na própria vida humana e demandam mudança comportamental no sentido de frear os danos ambientais e garantir melhor qualidade no ambiente e na vida dos seres humanos.

O entendimento da sucessão cronológica de fatos que culminaram na sociedade atual deve ser compreendido e considerado como uma única cadeia de acontecimentos, ou seja, apesar de certas eras possuírem traços característicos e marcantes, a história é uma só, devendo a ligação de um momento histórico com o outro ser percebida, analisada e entendida, mesmo que brevemente.

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Neste sentido, o primeiro capítulo consiste em um breve relato da linha do tempo da humanidade. Iniciando com a análise do modo de vida de cada sociedade e como estes se alteraram ao longo das grandes descobertas e revoluções. Perpassa a época Revolução Industrial, concentrando a discussão em torno da criação de novos meios de geração de energia e de produção em massa, culminando na análise dos impactos que toda a trajetória abordada no presente estudo gerou nos dias atuais, abordando o modelo contemporâneo de produção sob a ótica do sistema econômico capitalista.

O segundo capítulo trata exclusivamente da questão ambiental que envolve as mudanças climáticas no planeta. Inicialmente, apresenta dados científicos coletados por organizações internacionais e órgãos oficiais. Após, introduz debate relacionado aos efeitos negativos do aquecimento global na sociedade comum (ao tratar da questão dos refugiados ambientais), na economia (ao abordar o desequilíbrio causado pelas mudanças climáticas nas relações de produção e consumo entre diferentes países) e, no que couber, relaciona a questão ambiental às práticas políticas de governos atuais.

O terceiro capítulo, o qual finaliza a presente monografia, consiste na análise jurídica do fenômeno do aquecimento global e das medidas diplomáticas adotadas para combater o problema. Para isso, é traçado histórico da cooperação internacional no sentido de celebrar acordos internacionais que tenham como objetivo a manutenção das condições naturais do planeta e a implementação de metas para que o mundo globalizado se desenvolva de maneira ecologicamente sustentável, bem como os entraves políticos e econômicos que retardam o alcance de um consenso global.

Ainda no que diz respeito aos acordos internacionais, faz análise aprofundada do Acordo de Paris e seus desdobramentos políticos, bem como as polêmicas que o envolvem. Por fim, apresenta as formas que o ordenamento jurídico brasileiro elegeu para efetivar a proteção do meio ambiente, analisando os preceitos constitucionais, leis e jurisprudências, além de explicar o mecanismo da Ação Popular na luta por direitos ambientais.

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Para tanto, faz uso dos materiais disponíveis em meio multimídia na rede mundial de computadores; livros; artigos e periódicos; legislações nacionais e internacionais; acordos internacionais; documentos de organizações internacionais e órgãos oficiais; documentários; dados estatísticos, científicos e reportagens jornalísticas. Tendo como objetivo final a compreensão da contribuição antrópica na degradação do próprio habitat, que ocorre muito em busca de auferir vantagem econômica e uma oferta estável de suprimentos necessários para a vida cotidiana, atrelando as causas aos efeitos colaterais destas ações no meio ambiente.

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1 EVOLUÇÃO DA VIDA EM SOCIEDADE E A RELAÇÃO DOS HUMANOS COM A NATUREZA AO LONGO DA HSTÓRIA

A relação do homem com o meio ambiente e a relação do homem com seus semelhantes formam uma única cadeia de acontecimentos, não sendo possível separá-las, afinal, as relações interpessoais ocorrem em algum lugar, influenciadas por este local e gerando impactos sociais. Já os impactos sociais culminam em mudanças no espaço físico, que, por sua vez, produz alterações no meio social e assim sucessivamente durante toda a linha do tempo humana.

O início das relações “humanidade-terra” é concomitante ao primeiro passo humano na Terra. Acredita-se que o planeta tenha surgido há 4,56 bilhões de anos e a humanidade há aproximadamente 3,5 milhões de anos. Em comparação, vislumbra-se que a existência da humanidade ocupa, até então, um período muito curto da história do mundo. Porém, apenas nesse pequeno recorte de tempo em que ambos coexistem, o ritmo acelerado da degradação do meio ambiente pela atividade humana já os coloca em risco. (BRAICK; MOTTA, 2007, p.27)

O escritor uruguaio Eduardo Galeano faz, no prefácio da 11ª reimpressão de sua obra intitulada “As veias abertas da América Latina”, uma síntese precisa do processo de degradação do planeta por meio de atividades humanas que visam a obtenção de vantagem econômica, que, para tanto, envolve exploração de povos sobre outros e sistemas econômicos fundados na desigualdade do poder de barganha das diferentes estratificações sociais, traço que, infelizmente, segundo o autor, se mantém desde o lançamento da obra em 1971 até os dias de hoje, que segue:

Essa triste rotina dos séculos começou com o ouro e a prata e seguiu, com o açúcar, o tabaco, o guano, o salitre, o cobre, o estanho, a borracha, o cacau, a banana, o café, o petróleo. O que nos legaram esses esplendores? Nem herança nem bonança. Jardins transformados em desertos, campos abandonados, montanhas esburacadas, águas estagnadas, longas caravanas de infelizes condenados à morte precoce e palácios vazios onde deambulam os fantasmas. (2017, p.5)

Os fins alcançados com práticas destrutivas ao meio ambiente vêm se repetindo no decorrer do tempo. De acordo com Yuval Noah Harari em “Sapiens: Uma

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breve história da humanidade” (2012, p. 11), ocorreram três revoluções de grande influência no curso da história, sendo elas: a Revolução Cognitiva; a Revolução Agrícola e a Revolução Científica. Acerca da cadeia cronológica de fatos que compõem a linha do tempo da humanidade, além das revoluções elencadas por Harari, alguns pontos se destacam, os quais serão abordados em seguida.

O surgimento das primeiras formas de vida na Terra foi possibilitado pela reunião de condições favoráveis à vida oferecidas pela natureza. Ato contínuo, a evolução das espécies, que deu origem ao que hoje se entende como espécie humana, também dependeu da concomitância de uma série de fatores naturais. A evolução e a sobrevivência dos seres humanos se mantiveram, por toda história, intimamente relacionadas à natureza e aos recursos naturais disponíveis, bem como pelo agrupamento de vários indivíduos. A vida em conjunto dos primeiros seres humanos do planeta constituiu fenômeno que deu origem à vida em sociedade e ao que hoje se entende por Estado.

Para Harari (2012, p. 45), a reunião de um grande número de seres humanos iniciou-se com a Revolução Cognitiva, momento no qual a evolução da cognição e dos meios de comunicação tornou a convivência possível em grupos de até 150 pessoas, estabelecendo, talvez, o marco zero da vida em sociedade. Isso em se tratando da espécie homo sapiens (espécie do ser humano da atualidade) que obteve vantagem na seleção natural na medida em que “abriu mão” da força física para evoluir cognitivamente.

enquanto os padrões de comportamento dos humanos arcaicos permaneceram inalterados por dezenas de milhares de anos, os sapiens conseguem transformar suas estruturas sociais, a natureza e suas relações interpessoais, suas atividades econômicas e uma série de outros comportamentos no intervalo de uma ou duas décadas. (HARARI, 2012, p. 43)

No tocante ao surgimento do Estado, duas teorias buscam explicar a concentração de humanos no mesmo ambiente, de maneira organizada e regulamentada por normas gerais de comportamento. As teorias são a contratualista e a naturalista. Nesta, Aristóteles, defende que o homem se agrupa por instinto, por necessidade natural, que é elementar do ser humano a vida em sociedade, “o homem é por natureza um animal social”.

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A cidade, enfim, é uma comunidade completa, formada a partir de várias aldeias e que, por assim dizer, atinge o máximo de auto-suficiência. Formada a princípio para preservar a vida, a cidade subsiste para assegurar a vida boa. É por isso que toda a cidade existe por natureza, se as comunidades primeiras assim o foram. A cidade é o fim destas, e a natureza de uma coisa é o seu fim, já que, sempre que o processo de génese de uma coisa se encontre completo, é a isso que chamamos a sua natureza, seja de um homem, de um cavalo, ou de uma casa. Além disso, a causa final, o fim de uma coisa, é o seu melhor bem, e a auto-suficiência é, simultaneamente, um fim e o melhor dos bens. Estas considerações evidenciam que uma cidade é uma daquelas coisas que existem por natureza e que o homem é, por natureza, um ser vivo político. (ARISTÓTELES, 1998, p. 53)

Por outro lado, foi desenvolvida hipótese de que a sociedade é fruto de um pacto social, da celebração de um contrato, da necessidade de se distanciar do estado natural dos seres humanos. O principal pensador do modelo contratualista é o inglês Thomas Hobbes. Segundo o inglês, o homem no seu estado de natureza é selvagem e violento, “o lobo do próprio homem”. Logo, a fim de garantir sua segurança e buscar uma vida mais feliz, precisa transferir parte de sua liberdade de agir a um poder soberano que pode, através da força a ele atribuída, garantir uma vida segura. Na concepção de Hobbes, o homem para viver em sociedade necessita de um contrato, pois entende que, se livre e controlado apenas pelos instintos, tende a se autodestruir.

Desta forma, o autor aduz que a humanidade concebeu a ideia de Estado por motivos de segurança. O Estado retirou do homem a necessidade de garantir sua conservação pelos próprios meios, uma vez que normatizou punições para atos que contrariassem as regras gerais e tomou para si o poder de aplicá-las. No modelo contratualista pode-se definir a essência do Estado como uma pessoa, instituída por pactos e atos de uma coletividade que tem a autorização para assegurar a paz e a defesa comum, por meio do uso da força de todos, da maneira que lhe convir. Sendo o Estado um meio de afastar o homem do seu estado de natureza. (HOBBES, 2012, p. 136)

Atualmente a teoria mais aceita é a naturalista, no entanto, a discussão acercas das razões pelas quais os seres humanos passaram a viver em conjunto não afetam o curso da história, pelo menos não no ponto de vista pragmático da pura sobrevivência e, neste aspecto, os desafios impostos aos primeiros grupos sociais foram diversos.

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A biodiversidade do ecossistema terrestre fez com que diferentes povos de diferentes épocas em diferentes regiões do globo se adaptassem de maneiras distintas e desenvolvessem hábitos singulares. Dependendo do meio em que habitam para a manutenção e perpetuação da espécie. Além de buscar constantemente a capacidade de controlar o ambiente à sua volta para suprir necessidades específicas, habilidade esta que foi aprimorada com o passar dos séculos.

No período Paleolítico (2,7 milhões de anos até 10.000 a. C.), os precursores da raça humana que se vê na contemporaneidade compunham pequenas sociedades de caçadores e coletores, dependendo diretamente da fauna e da flora do local em que habitavam para garantir a sobrevivência. Pelo fato de os recursos naturais disponíveis serem finitos em cada região, os grupos pré-históricos eram nômades, ou seja, não possuíam habitação fixa. Assim que se esgotavam os meios de subsistência de uma localidade, estes grupos buscavam seus sustentos alhures. (BRAICK; MOTTA, 2007, p. 28)

O estilo de vida baseado na caça e na coleta foi interrompido no decorrer do período neolítico. Há cerca de 10 mil anos, com o advento da segunda Revolução citada por Harari: a Revolução Agrícola. O homem passou a, basicamente, exercer a função que até então era tida como divina: controlar o funcionamento do espaço físico do planeta. Ao domesticar animais para ter acesso à carne sem o grande gasto de energia necessário na caça e criar plantações, o nomadismo deixou de ser providência necessária para garantir a sobrevivência do grupo, pois os recursos passaram a ser produzidos localmente e não mais encontrados ao acaso. Explica Harari:

A transição para a agricultura começou por volta de 9500-8500 a. C. no interior montanhoso do sudeste da Turquia, no oeste do Irã e no Levante. Começou devagar em uma área geográfica restrita. Trigo e bodes foram domesticados por volta de 9000 a.C.; ervilhas e lentilhas, em torno de 8000 a.C.; oliveiras, cerca de 5000 a.C.; cavalos, por volta de 4000 a.C.; e videiras, em 3500 a.C. Alguns animais e sementes, como camelos e castanhas-de-caju, foram domesticados ainda mais tarde, mas em 3500 a.C. a principal onda de domesticação havia chegado ao fim. (2012, p.87)

Demonstrando o impacto da Revolução ocorrida em tempos longínquos nos dias atuais, complementa o autor:

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Mesmo hoje, com toda a nossa tecnologia avançada, mais de 90% das calorias que alimentam a humanidade vêm do punhado de plantas que nossos ancestrais domesticaram entre 9500 e 3500 a.C. – trigo, arroz, milho, batata, painço e cevada. Nenhuma planta ou animal importante foi domesticado nos últimos 2 mil anos. Se nossa mente é a dos caçadores-coletores, nossa culinária é a dos antigos agricultores. (HARARI, 2012, p. 88) A manipulação da natureza influenciou diretamente as formas de consumo da humanidade. Conforme o homem passou a controlar o meio em que vivia, cultivando nas áreas que tinha à disposição apenas as plantas que lhe fossem úteis e criando animais que lhe servissem os propósitos alimentícios, o ecossistema começou a se afastar do natural, passando a ser cada vez mais artificial.

Neste momento o domínio dos recursos naturais tornou possível a produção de excedentes, que por sua vez, passaram a ser moeda de troca. Não apenas a produção agrícola excedente, mas aqueles que não produziam passaram a se tornar especialistas em outros serviços e por meio da prestação desses serviços obtinham acesso a alimentos, serviços e produtos que eram especialidade de outro indivíduo. A troca realizada por diferentes produtores especializados em mercadorias distintas foi denominada “escambo”.

O escambo, na prática, seria, por exemplo, um produtor de tomates necessita uma camiseta nova, logo, oferecerá o seu excedente em tomates para o indivíduo que fabrica camisetas. No entanto, essa prática passou a gerar problemas, pois o valor de cada mercadoria ofertada dependia diretamente da demanda. Ou seja, o valor que o produtor de tomates dá aos seus tomates pode divergir do valor que aquele que fabrica camisetas atribui às camisetas produzidas.

Uma economia baseada em favores e obrigações não funciona quando grandes números de estranhos tentam cooperar. Uma coisa é fornecer assistência gratuita para uma irmã ou um vizinho; outra bem diferente é cuidar de estranhos que podem nunca retribuir o favor. É possível recorrer ao escambo, mas ele só é eficiente quando se troca uma gama limitada de produtos. Não serve para formar a base de uma economia complexa. (HARARI, 2012, p. 183)

Uma solução encontrada por diferentes sociedades foi a criação de um valor uniforme, algo que serve de referencial para medir o preço de todos os produtos comercializados, dando origem ao dinheiro. Neste sentido, pode-se concordar com as

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palavras de V.G. Childe (1983, apud MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 70), que definiu a Revolução Agrícola Neolítica como sendo “a primeira revolução que transformou a economia humana”. (HARARI, 2012, p. 183)

Acredita-se que o excedente de alimentos foi um dos fatores responsáveis pela oferta de melhores condições de subsistência, o que teria resultado em crescimento populacional exponencial. Com o aumento das populações ao redor das plantações, começaram a surgir cidades.

As cidades são espaços construídos por humanos, variando as médias de área e de número de habitantes ao longo da história. Elas foram o fator principal para que os seres humanos se distanciassem cada vez mais da natureza, produzindo localmente todos os produtos que visavam consumir, diminuindo a influência do meio natural no estilo de vida das sociedades. (BRAICK; MOTTA, 2007, p. 33)

A ascensão de cidades e reinos e o aprimoramento da infraestrutura de transporte proporcionaram novas oportunidades de especialização. Cidades densamente povoadas ofereciam empregos em tempo integral não só para sapateiros e médicos profissionais como também para carpinteiros [...] (HARARI, 2012, p. 183)

As cidades, graças à grande oferta de empregos e infraestrutura, passaram a apresentar população muito superior à encontrada nas zonas rurais. Logo, se a humanidade for autora de alguma grande invenção ou presenciar um grande acontecimento social, a maior probabilidade é de que estes ocorrerão em uma cidade. O que, de fato, aconteceu.

Um dos principais marcos da Revolução Científica – terceira revolução citada por Harari – teve a cidade como palco, marco este, denominado Revolução Industrial. Na visão do autor, a Revolução Científica não está ligada ao conhecimento, mas sim à ignorância, pois a motivação maior para o desenvolvimento da pesquisa científica foi o reconhecimento de que os seres humanos não detinham as respostas para as questões mais importantes, gerando angústia em relação à própria falta de sabedoria e investimento em pesquisas.

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Ainda acerca da Revolução Industrial, há que se explicar sucintamente no que consistiu a Revolução Científica. O principal fator é a crença da humanidade na evolução da ciência e das pesquisas como meio para alcançar progressos sociais. O meio para atingir o objetivo final seria a colaboração entre ciência, política e economia. Os recursos destinados à ciência viriam das instituições políticas e econômicas. A retribuição da ciência seria a descoberta de novos recursos, dos quais alguns poderiam ser novamente destinados à pesquisa científica. (HARARI, 2012, p. 261).

1.1 A Revolução Industrial e a invenção de novos meios de produção

A Revolução Industrial, conforme Argemiro J. Brum (2011, p.31), ocorreu em três fases. A primeira teve a Inglaterra como expoente, influenciando também alguns países europeus como Itália, Alemanha e França. Teve início na metade final do século 18 e se manteve no decorrer do século subsequente. Este estágio da Revolução Industrial é caracterizado pelo progresso tecnológico, pela abundância de matéria-prima mineral básica e de recursos econômicos oriundos da extração de ouro e prata da América do Sul.

Ao longo do período colonial, a América do Sul teve um importante papel no financiamento de mudanças sociais na Europa. A extração de materiais do solo responsável por devastar ecossistemas inteiros foi o que atraiu os povos invasores chegados da Europa a se estabelecerem no continente sul-americano.

Em troca de algumas vantagens para seus vinhos no mercado inglês, Portugal abria seu próprio mercado e o de suas colônias às manufaturas britânicas. Por causa do desnível de desenvolvimento industrial já então existente, a medida implicava para as manufaturas locais uma condenação à ruína. Não era com o vinho que seriam pagos os tecidos ingleses, mas com ouro, o ouro do Brasil [...] Inglaterra e Holanda, campeãs do contrabando do ouro e de escravos, que amealharam grandes fortunas no tráfico ilegal de carne negra, por meios ilícitos apossaram-se, segundo se estima, de mais da metade do metal que correspondia ao imposto do “quinto real” que, no Brasil, era recebido pela coroa portuguesa. (GALEANO, 2010, p.83)

Tendo à disposição a infraestrutura exigida para implementar um novo meio de manufaturar produtos, na primeira fase da Revolução Industrial foi introduzido o uso

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de máquinas de diferentes funções que, dispostas em linha num mesmo espaço físico, tornavam possível a produção em massa de bens de consumo, mitigando a necessidade pela mão de obra humana, decretando a falência de artesãos - os quais se tornaram trabalhadores assalariados nas funções em que ainda se fazia necessária a presença humana.

Em resumo, o ciclo da produção industrial que deu origem ao modelo atual de fábricas e indústrias consistia no acúmulo de capital que era revertido em novos equipamentos que aumentavam o lucro, catalisando o acúmulo de capital.

Para que o acúmulo de capital fosse cada vez maior, a balança que possuía de um lado o custo da produção e do outro o lucro gerado pela exploração dos meios de produção deveria pender sempre para o segundo lado citado. Assim, o custo atribuído ao trabalho era ínfimo e o valor dado à mercadoria final era elevado. Para o sociólogo alemão Karl Marx (1818-1883), este fenômeno se chama mais-valia.

A mais valia é um conceito da sociologia criado pelo alemão Karl Marx (1818-1883) no século XIX, o qual está relacionado com a força de trabalho, o tempo de realização e o lucro obtido. Trata-se de um conceito da economia política marxista em que o valor do trabalho e o salário recebido pelo trabalhador denota uma desigualdade. Ou seja, o esforço do trabalhador não é convertido em valores monetários reais, o que desvaloriza seu trabalho. Em outros termos, a mais valia significa a diferença entre o valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador. É, portanto, a base de exploração do sistema capitalista sobre o trabalhador. Note que, muitas vezes, o termo é utilizado com sinônimo de “lucro”. O lucro do sistema capitalista é gerado pela relação existente entre a mais-valia e o capital variável, ou seja, os salários dos trabalhadores. (BEZERRA, 2018)

Outro aspecto de suma importância na Revolução Industrial inglesa foi a utilização do vapor para a geração de energia necessária para abastecer as máquinas usadas nas fábricas. Para obter vapor, usava-se carvão como combustível.

A energia gerada pelo vapor era capaz de oferecer ao processo de produção rapidez e volume não oferecidos pela tração animal ou forças naturais do vento e da água e, além do maquinário do interior das indústrias, o segmento do transporte também foi revolucionado pelos motores à vapor, pois possibilitou a criação de navios e trens, ambos velozes para os padrões da época e com grande capacidade logística. (BRUM, 2011, p. 32)

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A segunda fase da Revolução Industrial teve seu marco inicial próximo ao término do século 19 e começo do século 20. Os maiores impactos desta fase foram sentidos nos setores do transporte, da geração de energia e da comunicação. No primeiro, a invenção de motores de explosão foi a tecnologia que deu origem ao automóvel e ao avião. No segundo, foram adicionadas às energias já utilizadas da época o petróleo e a eletricidade. Por fim, os meios de comunicação foram revolucionados com a invenção do rádio e do telefone. Na segunda fase iniciou-se a hegemonia dos Estados Unidos da América, que se mantém até o tempo presente.

A terceira fase - mais recente-, teve início após a Segunda Guerra Mundial no ano de 1945. Embora o uso de armas nucleares tenha gerado a impressão de que a protagonista das mudanças futuras seria a energia nuclear, outra invenção tomou o posto de maior importância no cenário mundial: a informática.

No ano de 1969, nos Estados Unidos, tendo à mão a ferramenta do computador, foi desenvolvida a rede mundial de computadores (Internet, na época Arpanet) com a função de conectar laboratórios de pesquisa. Atualmente, a internet é meio que viabiliza a comunicação imediata entre pessoas e o acesso a dados sociais, científicos, econômicos e tantos outros, disponibilizados de qualquer lugar do mundo. (SILVA, 2001)

O uso da informática representa desde sua invenção até a atualidade um grande salto no desenvolvimento das sociedades. A utilização de computadores é, talvez, a característica que mais marca o fim do século 20 e todo o século 21 até o momento. Não apenas a rapidez na transmissão de informações e do processo de automação que torna o computador uma ferramenta marcante na história da humanidade, mas também a capacidade de armazenar a informação de maneira segura e ocupando um espaço físico cada vez menor, como se conclui da comparação do primeiro computador aos microchips da atualidade.

Desenvolvido a pedido do exército dos EUA para seu laboratório de pesquisa balística, o ENIAC era um monstrengo de 30 toneladas de peso que ocupava uma área de 180 m² de área construída. Sua produção custou nada menos do que US$ 500 mil na época, o que hoje representaria aproximadamente US$ 6 milhões e a máquina contava com um hardware com 70 mil resístores

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e 18 mil válvulas de vácuo que em funcionamento consumiam vorazmente 200 mil watts de energia. (MORENO, 2008)

Por outro lado, os microchips atuais são tão pequenos que podem ser implantados dentro do corpo humano ou de outros seres vivos para exercer funções distintas previamente programadas a depender do fim desejado. Em entrevista prestada à BBC, Bem Libberton, doutor em microbiologia do laboratório sueco MAX IV, disse que “cada vez mais pessoas na Suécia implantam o chip RFID na mão e o usam para abrir portas e até fazer pagamentos”. (BLASCO, 2018)

1.2 Modelo contemporâneo de produção capitalista

Richard Heinberg (2003), no contexto social estadunidense, comparou a energia gerada por um ser humano em contraponto à gerada pelo combustível que alimenta as mais diversas máquinas usadas no dia-a-dia, chegando à conclusão de que o cidadão médio, para manter seu estilo de vida, usa por meio de combustíveis a energia produzida pelo equivalente a cento e cinquenta seres humanos.

No Brasil o setor que mais consome energia é o industrial (33% do consumo nacional), seguido do setor de transportes (32,4% do consumo nacional). Representando parcelas menores do consumo há o próprio setor energético (10,3% do consumo nacional), o setor de serviços e a agropecuária (4,9% e 4% do consumo nacional respectivamente). (ESTURBA; JUNIOR, 2018)

Apesar de o maior consumo de energia não ser oriundo de atividades individuais, com o passar do tempo e o avanço tecnológico é natural que o número de seres humanos necessários para produzir a energia utilizada diariamente por cada indivíduo tenha aumentado. De 2003 aos dias atuais os eletrônicos e eletrodomésticos foram amplamente difundidos e democratizados, principalmente quanto ao uso de celulares. Pesquisa divulgada pelo IBGE no ano de 2018 apontou que no Brasil, em um ano, o número de pessoas conectadas à internet teve aumento de 10 milhões. No ano de 2017 o número de “internautas” era de 126,4 milhões, sendo que no ano anterior era de 116,1 milhões. Esta parcela representa 69,8% da população do país. (SILVEIRA, 2018)

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Todavia, o setor industrial brasileiro é, em comparação a outros países industrializados, menos maléfico ao meio ambiente, conforme expõem Talita Esturba e Mauricio Francisco Henrique Júnior (2018):

Apesar do consumo elevado, o setor industrial brasileiro conta com uma grande vantagem comparativa em relação aos demais países industrializados, que reside no fato de empregar grandes quantidades de energia de origem renovável, como o bagaço de cana, o licor negro (da produção de celulose) e outras biomassas, que alcançam juntos mais de 40% do consumo total de energia do setor, segundo a EPE. Afora isso, a energia elétrica, que representa 20% do consumo total da indústria, é 75% provida por fontes de energia renovável (hidráulica, biomassa e eólica).

A produção e o consumo aumentaram substancialmente desde o ano 1500 até os dias atuais, assim como o número de seres humanos habitando o planeta. Em 1500 a Terra era povoada por cerca de 500 milhões de pessoas, hoje já são 7 bilhões. Um número tão elevado de seres humanos significa números elevados de produção e de consumo. A produção mundial de 250 bilhões de dólares anuais do ano de 1500 não chega nem perto dos atuais 60 trilhões de dólares. Quanto ao consumo de energia, em 1500 a humanidade consumia diariamente 13 trilhões de calorias de energia, em média. Já a humanidade contemporânea consome estimativamente 1,5 quatrilhão de calorias diárias. (HARARI, 2012, p. 257)

O modelo capitalista exige produção em larga escala aliada ao menor custo possível. A geração de energia não foge à regra. Para suprir a demanda atual da humanidade a geração de energia precisa aumentar a sua capacidade dia após dia, no entanto, muitas vezes os recursos que deveriam prestar a segurança ao processo de geração de energia são negligenciados, o que pode gerar catástrofes ambientais sem precedentes. Ou, são adotados meios de geração de energia altamente agressivos ao meio ambiente pela única razão de serem abundantes e baratos.

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2 AQUECIMENTO GLOBAL E SEUS EFEITOS

Para adentrar o assunto da mudança climática é necessário saber distinguir dois conceitos básicos: clima e tempo. Neste sentido, explica Davi Gasparini Fernandes Cunha:

É importante compreender a diferença básica entre clima e tempo. Clima pode ser entendido como um conjunto de elementos estudados através de registros meteorológicos ao longo de muitos anos, enquanto que o conceito o tempo pode ser visto como a experiência atual, momentânea, ou seja, que expressa as condições atmosféricas observadas em um determinado instante na atmosfera. (2007)

Ao tratar de questões como o aquecimento global, o parâmetro são as mudanças da temperatura relevantes do ponto mais amplo, não apenas pequenas particularidades que possam ocorrer esporadicamente. Para que se determine o clima de determinada região os dados analisados dizem respeito às chuvas, à umidade, à pressão atmosférica, à nebulosidade, aos ventos, entre outros. Estudando os diferentes climas do planeta Terra, é possível determinar qual é a temperatura média terrestre, a qual serve de ponto de referência para discutir assuntos como o aquecimento global. (MIRANDA; SOUZA, 2014)

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2.1 Dados científicos e causas de aceleração do aumento da temperatura média do planeta Terra

O aquecimento global, conforme expõe Anthony Giddens no livro “A política da mudança climática” (2009), tem sua origem no efeito estufa, que consiste no processo natural realizado pelo planeta Terra para absorver parte da energia vinda do Sol em forma de calor. Os estudos acerca deste efeito foram iniciados pelo cientista francês Jean-Baptiste Joseph Fourier. Para tanto, Fourier calculou a quantidade de energia oriunda do Sol em forma de radiação infravermelha, após, mediu em que proporção a Terra irradia a energia percebida.

Desta maneira, desenvolveu a hipótese de que se o planeta não conservasse parte da energia proveniente do Sol, congelaria. Sendo a hipótese de congelamento

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adversa à realidade, concluiu que parcela do calor oriundo do Sol se mantinha na atmosfera terrestre. Desenvolvendo a pesquisa, descobriu que o dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera age como as paredes de uma estufa, mantendo parte da energia solar em forma de calor e, assim, cria condições para que haja vida de forma equilibrada e dando origem ao termo efeito estufa.

Em virtude dos avanços científicos relacionados aos estudos do clima, há atualmente uma quantidade muito superior de dados em comparação às décadas passadas, fator que facilita a apuração do impacto das mais diversas atividades humanas e dos fenômenos naturais no aumento da temperatura média do planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas– Intergovernamental Panel on Climate Change -, foi criado em 1988 e é, atualmente, referência nos estudos das variações do clima no planeta (IPCC, n.d.).

O processo natural pelo qual ocorre o efeito estufa não geraria preocupações se as ações humanas não funcionassem como catalisador deste efeito, gerando um aquecimento exacerbado e que exerce influência negativa sobre o ecossistema terrestre de maneira geral. Conforme explica a organização WWF-Brasil:

O problema não é o fenômeno natural, mas o agravamento dele. Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa (GEEs), esta camada tem ficado cada vez mais espessa, retendo mais calor na Terra, aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global. (n.d.) Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA), praticamente todas as atividades humanas de todos os setores da economia contribuem com a emissão de GEEs, havendo quatro gases principais e duas famílias de gases, todos regulados pelo protocolo de Quioto. Os gases são: o dióxido de carbono (CO2), o gás metano (CH4), o óxido nitroso (N20) e o hexafluoreto de enxofre (SF6). As duas famílias são: os hidrofluorcarbonos (HFCs) e os perfluocarbonos (PFCs).

O dióxido de carbono é o GEE de maior abundância e é majoritariamente emitido na atmosfera através da queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural). Há de se destacar dois combustíveis fósseis de grande impacto no estilo de vida pós Revolução Industrial, que são o carvão e o petróleo. Este GEE é usado

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como referencial para analisar a contribuição ao aquecimento global dos outros gases. (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, n.d.)

O carvão representou a ascensão da indústria no modelo que se apresenta hoje em dia, reduzindo consideravelmente a necessidade do emprego de força humana na produção em massa. O carvão é, atualmente, o principal meio de combustível da China, país hegemônico na atividade industrial internacional. (GIDDENS, 2009)

Já o petróleo, além de ser matéria-prima de uma vasta variedade de combustíveis automotivos, é também ingredientes de fertilizantes, tintas, borrachas, plástico e outros produtos consumidos diariamente em todo o globo.

O petróleo movimenta grandes quantidades de capital, fato que dificulta o questionamento da dependência do mercado acerca deste, no entanto, a variação do preço do barril de petróleo pode gerar crises na economia mundial. Neste contexto, Jeremy Rifkin (2013) apontou que o preço do barril de petróleo atingiu em julho de 2008 o preço de US$ 187, seu pico.

O gás metano (CH4) possui poder de aquecimento global 21 vezes maior do que o dióxido de carbono (CO2). É produzido por meio da decomposição da matéria orgânica, pela pecuária na criação de gado e pela agricultura no cultivo do arroz.

O documentário Meat the truth – Uma verdade mais que inconveniente (2007) mostra que apesar de a opinião popular sugerir que a maior causa do aquecimento global é a emissão de GEEs pelos meios de transporte, na realidade a maior porcentagem de emissão vem da pecuária. Esta representa 18%, enquanto aqueles representam 13% das emissões.

Isto se dá em razão da geração de gases quando da digestão dos animais ruminantes, tais como vacas e ovelhas.

Pela nova contabilidade, constata-se que bois e vacas respondem sozinhos por quase um quarto da emissão de gases- estufa no planeta. Ou seja: estão em pé de igualdade com os outros dois vilões mais célebres: o setor de

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transportes (carros, navios, aviões) e de energia (as termelétricas). No Brasil, então, nem se fala. Existem mais bois no Brasil do que brasileiros: são 212 milhões de cabeças de gado [...] Entre os rebanhos comerciais de fato, o Brasil é o líder, com mais cabeças que o segundo e o terceiro colocado juntos (China e EUA), e quatro vezes mais que a Argentina, a quarta colocada. Agora, se contabilizarmos o metano que sai dos nossos pastos mais o

CO2 que sai das nossas florestas queimadas para virar pasto, temos um dado

alarmante: o de que metade dos gases-estufa produzidos em território nacional vem da criação de gado. (VERSIGNASSI; MONTEIRO, 2018) O professor Dave Reay, da University of Edinburgh, em relação à emissão de metano oriunda da dieta de ruminantes expôs que discutir a dieta de bovinos não possui o apelo que turbinas eólicas e painéis solares, mas é tão vital quando à questão do uso de energias limpas nas discussões acerca da mudança climática. Ademais, complementou no sentido de que na medida em que a dieta dos seres humanos passa a compreender uma maior quantidade de carne e laticínios, o prejuízo ambiental também aumenta. (AGENCE FRANCE-PRESS, 2017)

O Brasil, no entanto, depende economicamente do setor agropecuário. O aumento do PIB brasileiro no ano de 2017 se deu em virtude do crescimento de 13% do setor agropecuário. Mas a pecuária se encontra no grupo de atividades mais responsáveis pela emissão de GEEs no Brasil. Por sorte, há soluções para que se diminua a emissão de gases poluentes sem que o crescimento do setor agropecuário seja afetado negativamente:

a pecuária, se bem manejada, pode deixar de emitir e passar a sequestrar carbono, invertendo a lógica de atividade altamente emissora. Tecnologias como a integração de lavoura, pecuária e floresta (iLPF), Sistemas Agroflorestais (SAFs), plantio direto, fixação biológica de nitrogênio (a partir do plantio de leguminosas e outras plantas que fixam o nitrogênio no solo, substituindo a adubação e poupando até US$ 3 bilhões ao ano), florestas plantadas e tratamento de dejetos animais são algumas oportunidades de fazer com que a atividade contribua intensamente para a sustentabilidade do país. A carne de baixo carbono pode levar à conquista de novos mercados e gerar maiores rendimentos econômicos. (WRI Brasil, 2018)

Os demais GEEs são: o óxido nitroso (N2O), resultante do tratamento de dejetos animais, utilização de fertilizantes, e outros processos industriais, seu poder de aquecimento global é 310 vezes maior do que o CO2; o hexafluoreto de enxofre (SF6), usado em grande parte como isolante térmico e condutor de calor, possui poder de aquecimento global 23.900 vezes maior do que o CO2.

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Ademais, os perfluocarbonos (PFCs), utilizados também como gases refrigerantes e aplicados em outras funções, possui poder de aquecimento global que varia entre 6.500 e 9.200 vezes o do CO2.

Por fim, há os hidrofluorcarbonos (HFCs) que vieram substituir o uso dos clorofluorcarbonos (CFCs), estes possuem poder de aquecimento global que varia de 140 a 11.700 vezes o do CO2. O uso dos CFCs foi muito comum em diversas produções industriais desde sua primeira sintetização no ano de 1928, nos Estados Unidos. Em seguida, seu uso foi extremamente difundido no mercado de produção dado seu baixo custo e grade versatilidade, fato que persistiu até a década de 1970, quando o geofísico inglês Joe Farman comprovou o prejuízo gerado pelos CFCs na camada de ozônio. (SUPERINTERESSANTE, 2012)

A pesquisa de Farman foi desenvolvida na Antártida – local mais afetado pelo uso de CFCs -, nela constatou-se um “buraco” na camada de ozônio com área de 30 milhões de quilômetros quadrados. Após a divulgação dos resultados, houve banimento do uso de CFCs ratificado em 1987 com grande contribuição da Convenção de Viena de 1985, dando origem ao documento denominado Protocolo de Montreal sobre substâncias que Destroem a Camada de Ozônio. Por meio do Decreto nº 99.280, de 06 de junho de 1990 o Brasil aderiu ao mencionado Protocolo. (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, n.d.)

O tratado tem por objetivo a preservação da Camada de Ozônio, o que se faz importante em virtude de a concentração de Ozônio (O3) concentrado entre as altitudes de 20 e 35 km constitui uma espécie de filtro, atuando na diminuição da incidência de raios ultravioleta oriundos do Sol. Em não havendo Camada de Ozônio ou havendo, porém gravemente danificada, os danos ambientais não atingiriam somente os seres humanos, mas também demais seres vivos que compõem o ecossistema terrestre. Não sendo a Camada de Ozônio capaz de filtrar os raios ultravioleta, estes gerariam graves consequências nas vidas que habitam a Terra, como expõe a associação WWF Brasil:

Os seres humanos não são os únicos atingidos pelos raios ultravioleta. Todos as formas de vida, inclusive plantas, podem ser debilitadas. Acredita-se que níveis mais altos da radiação podem diminuir a produção agrícola, o que

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reduziria a oferta de alimentos. A vida marinha também está seriamente ameaçada, especialmente o plâncton (plantas e animais microscópicos) que vive na superfície do mar. Esses organismos minúsculos estão na base da cadeia alimentar marinha e absorvem mais da metade das emissões de dióxido de carbono (CO2) do planeta. (s.d)

Ao analisar as atividades antrópicas que contribuem para o aumento da temperatura média do planeta, percebe-se que o maior obstáculo é a priorização do lucro em detrimento da proteção ambiental. As práticas econômicas se sobrepõem ao interesse coletivo com frequência cotidiana, favorecendo alguns poucos que acumulam grande quantia de capital por meio de atividades econômicas danosas ao meio ambiente em todas as partes do mundo, apesar de estes também serem atingidos pelas consequências futuras da degradação do planeta.

Mas como alterar a mentalidade daqueles com poder e influência para mudar o modelo econômico vigente? Para responder este questionamento, Giddens (2009) criou o conceito da “convergência econômica”, que propõe vantagens econômicas para aqueles que busquem inovar no sentido de aliar a redução da emissão com as táticas de mercado. Ou seja, evitar que empresas sejam prejudicadas na competição que é o mercado, se tentarem incorporar na suas filosofias, métodos que não contribuem com o aquecimento do planeta.

A implementação de políticas de convergência econômica teria grande impacto nos processos industriais vigentes, visto que o modelo capitalista de produção leva única e exclusivamente em consideração o custo da produção.

O cálculo deste custo compreende o preço da energia utilizada (combustíveis fósseis, força da água, energia nuclear, etc.), da mão-de-obra (humano ou da manutenção das máquinas), dos encargos trabalhistas devidos aos empregados, dos impostos cobrados pelo Estado em que estiver localizada a produção e de outros aspectos administrativos particulares de cada ramo. Logo, se de alguma forma as nações soberanas regularem no território nacional de maneira independente ou se celebrarem acordos internacionais que, quando entrarem em vigor no território nacional, ofereçam incentivos econômicos para as indústrias que adotarem meios de produção menos lesivos ao meio ambiente, é possível que haja redução de danos ambientais em grande escala.

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Outro aspecto importante da convergência econômica é que para surtirem os efeitos de privilégios econômicos, estes devem ser sentidos também pelos consumidores na vida cotidiana no consumo de produtos necessários diariamente ou que forem, por questões culturais, consumidos com certa regularidade, o que varia de uma sociedade para outra.

Ou seja, para o consumidor final, a escolha por produtos que sejam menos lesivos ao meio ambiente deve dar retorno financeiro positivo, sendo acessados facilmente e apresentarem descontos no preço. Este viés pode ser explorado através de uma relação de mutualismo entre empresa privada e consumidor final, gerando bons resultados para ambos. Cumpre salientar que, em se tratando de mercadorias produzidas em grande escala, pequenas mudanças no processo de produção e no consumo final geram grandes resultados quando analisados em perspectiva, sendo válidas reduções de emissão de GEEs, de uso de produtos extraídos do solo, de geração de lixo, entre outros.

No Brasil, por exemplo, é possível observar a ocorrência deste fenômeno no ramo das cervejas. De acordo com pesquisa realizada pela empresa alemã Bath-Haas Group, o Brasil ocupa a 17ª posição do ranking mundial de consumo anual médio de cerveja (62 litros por habitante), logo, verifica-se o aspecto cotidiano do consumo da bebida. O processo ocorreu da seguinte forma.

A Ambev, empresa dona das marcas de cerveja mais consumidas no Brasil, investiu no ano de 2014 em uma fábrica de vidros. A compra da fábrica foi no intuito de a própria empresa fazer as garrafas nas quais a bebida é comercializada, tornando aquela menos dependente de fornecedores externos e mais sustentável, pois as garrafas são retornáveis e podem ser utilizadas até 20 vezes antes de saírem de circulação. (VAZ, 2016)

Do outro lado da relação de consumo, o consumidor final, ao adquirir a bebida pela primeira vez, está pagando pelo liquido e pela garrafa, fato que não se repete caso este queira adquirir a bebida pela segunda vez, pois neste caso, retorna a garrafa ao estabelecimento e a bebida é vendida por um menor preço, pois a embalagem

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poderá ser reutilizada pela fornecedora. Gerando menos lixo e menos gastos, tanto na produção, quanto no consumo final.

A aplicação de taxas e preços diferenciados para as indústrias que produzem produtos sem agredir o meio ambiente, ou que ao menos reduza drasticamente a emissão de GEEs, possibilitaria a entrada de produtos ecológicos no mercado local e mundial com preço acessível. Assim, produtos ecológicos seriam capazes de se tornarem populares e alterarem a concepção atual de produção, na qual a redução de custos (de produção e de venda para o consumidor final) implica no aumento da agressão ambiental, seja por meio da produção ou dos materiais utilizados no produto.

Embora o aquecimento descontrolado da temperatura do planeta já apresente resultados negativos - mesmo que não apocalípticos - e a sociedade os conheça, as massas populacionais não veem necessidade urgente de mudança nos hábitos correntes, nem de incluir a questão ambiental na pauta diária de luta social.

De acordo com Giddens (2009), falta de consideração aos riscos inerentes às mudanças climáticas tem a ver com o “desconto do futuro”. Os maiores danos causados pela alteração da temperatura estão situados no futuro, por isso geram menos preocupação para a sociedade em geral do que os problemas do presente

O Instituto Ipsos em conjunto com Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) realizou pesquisa no Brasil, concluindo que o aquecimento global é um assunto conhecido e que preocupa grande parte dos brasileiros. De acordo com os dados colhidos de mil pessoas entrevistadas em 70 regiões metropolitanas do país, 96% das pessoas pertencentes às classes A e B sabem dos riscos do aumento da temperatura do planeta, o número decresce conforme a classe econômica diminui, chegando a 84% na classe C e 69% nas classes D e E. Dos quais 72% acreditam que serão afetados pelo aquecimento global nos próximos anos.

Entretanto, apesar de demonstrarem conhecimento acerca do tema, a maioria dos entrevistados (58%) informou não adotar mudança de hábitos cotidianos para reduzir a emissão diária de GEEs. O restante, os quais alegam que no seu dia-a-dia apresentam cuidado e se mostram ativos na luta pela redução de danos ambientais

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22% separam o lixo que produzem, 13% exercem o direito de não consumir produtos que agridem a atmosfera, 5% consomem apenas produtos que não são embalados em materiais de difícil biodegradação e 2% dirigem veículos movidos a álcool.

O estudo de 2007 acima mencionado demonstra que a sociedade reconhece o problema do aquecimento global como real e, após mais de uma década, se espera que a porcentagem tenha aumentado, porém não possui motivação para ativamente lutar contra as suas causas. Preferindo uma recompensa imediata, como não abrir mão do transporte individual, consumir produtos que no seu processo de criação emitem GEEs, entre outros, mesmo que isso signifique a perda de uma recompensa futura, neste caso, o meio ambiente ecologicamente equilibrado.

2.2 Refugiados Ambientais

Ao longo da história é comum a busca humana por um local seguro para estabelecer-se. Diversos motivos acarretam na migração de povos à outras localidades. Quando esta migração ocorre por circunstâncias alheias à vontade do grupo, por razões diversas, tais como inexistência de segurança, carência de meios de subsistência, perseguições políticas ou religiosas, entre outras, o processo de migração é chamado de refúgio.

O refúgio ambiental (ou climático), é um fenômeno que passou a ser discutido, de certo modo, recentemente. No entanto, é comum à todas as eras da raça humana. Conforme explica Érica Pires Ramos (2011, p. 48):

No passado, eventos como a seca, inundações e catástrofes naturais (terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas), fome e epidemias eram percebidos como “fatalidade”, “castigo” ou “vingança divina”. Vale salientar que essa percepção do risco ainda está presente em algumas culturas, especialmente nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. No entanto, é preciso ressaltar que a percepção do risco vem se transformando, variando no tempo e no espaço e de acordo com escolhas políticas. Hoje, o risco é compreendido como resultado da ação e dos processos de decisão humana.

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Como visto, desde as primeiras anotações bíblicas há menções de grupos populacionais que foram forçados a deslocar-se em virtude de acontecimentos relacionados ao clima, cenário que se mantém na contemporaneidade.

Atualmente, embora a percepção no que concerne à origem dos fenômenos climáticos tenha evoluído conforme a ciência efetuou grandes progressos, os desastres naturais seguem os mesmos, porém, agravados por ações antrópicas que alteram o curso natural dos acontecimentos, aumentando de maneira aguda o número de refugiados ambientais. Contudo, o fluxo migratório de seres humanos em decorrência das mudanças climáticas não é analisado com a mesma atenção dispensada às alterações físicas do planeta.

Refugiados ambientais sempre existiram na história da humanidade, uma vez que condições ambientais adversas, a busca por alimentos e por um melhor padrão de vida fazem parte do instinto de sobrevivência dos seres vivos. Ocorre, porém, que as últimas décadas do século XX e este início do século XXI têm presenciado um aumento vertiginoso de migrações humanas motivadas por fatores ambientais, especialmente em razão da mudança e variabilidade climáticas abruptas. (CLARO, 2012, p. 34)

Neste sentido, em estudo denominado State of Enviromental Migration 2010, realizado conjuntamente pela Organização Internacional de Migrações (OIM) e pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e de Relações Internacionais (IDDRI), foi obtido o resultado de que no ano de 2008, 4,6 milhões de pessoas buscaram refúgio no território do próprio país devido às questões relacionadas a conflitos armados. Enquanto no mesmo período, 20 milhões de pessoas foram forçadas a realizar o mesmo processo de migração em virtude de catástrofes naturais. (FEBBRO, 2012)

Os desastres naturais que forçam determinados grupos populacionais a refugiarem-se não são, imprescindivelmente, abruptos e violentos. Processos que ocorrem gradativamente também podem tornar a vida insustentável em determinadas localidades, forçando o deslocamento e a busca de refúgio daqueles que as habitam. Dentre esses processos pode-se observar a desertificação de regiões inteiras, o aumento das marés, concentração de poluição do ar (smog, palavra de origem inglesa oriunda da junção dos termos smoke e fog – fumaça e neblina, respectivamente), entre outros.

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A desertificação de uma região é caracterizada, principalmente, pela extinção dos seus recursos hídricos. Sem água a respiração se torna um processo doloroso ao corpo humano devido à mínima ou nula umidade do ar, a agricultura padece com o solo seco e sem nutrientes e não há lugares para pescar ou captar água para pequenos rebanhos de gado ou outros animais. Assim, a escassez de alimentos assola os habitantes destes locais até que o refúgio em outra região se torne a última medida em busca da sobrevivência.

No Brasil, a região mais afetada historicamente pelo clima desértico e falta de recursos hídricos é a região Nordeste. Ilustrada pelo artista brasileiro Cândido Portinari na obra “Retirantes”, do ano de 1944, a movimentação do povo nordestino que foge da estiagem faz parte da história, da sociologia e da geografia do Brasil. Além disso, o constante aumento da temperatura média da Terra afeta primeiramente as regiões que possuem, naturalmente, climas caracterizados por temperaturas elevadas, como no caso do Nordeste brasileiro. Neste sentido Renata Kissya Calixta e Ricardo Ojima:

O Brasil é um país com fortes tendências a deslocamentos internos em decorrência da sua extensão territorial e, a região Nordeste surge neste cenário como a região de maior emigração do país. As histórias consecutivas de secas na região propiciaram os principais quadros de deslocamento interno do século XX, as consequências da falta de água acentuaram momentos assustadores na biografia semiárida, como a emigração, os crescentes casos de fome e sede e o crescimento dos índices de miséria na população nordestina. (2014, p. 6)

No outro lado do espectro, o excesso de água que envolve uma região ou a abastece de algum dos seus lados também gera dia após dia o aumento da preocupação daqueles que vivem ameaçados pelo risco de uma iminente inundação de seu território, principalmente os insulanos que habitam localidades de altitude quase zero.

Um exemplo é o caso das Ilhas Maldivas, um local de paisagens paradisíacas rodeado pelo Oceano Índico que está a apenas 1 metro de altitude, correndo o risco de um naufrágio iminente.

as Maldivas, e os diversos países ilhas representados pela AOSIS (Aliança dos Pequenos Estados Insulares), correm o perigo de desaparecerem em

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função do aquecimento global e do aumento do nível do mar. Foi a AOSIS que pressionou a COP-21, em dezembro de 2015, para colocar a meta do limite de 1,5º C. de aumento da temperatura no Acordo de Paris. Mas tudo indica que esta meta será ultrapassada e as Maldivas correm o risco de naufragar e desaparecer do mapa. Pela primeira vez, desde o início da série de medições que começou em 1880, houve um aumento de temperatura por seis anos seguidos, com recordes sucessivos nos últimos 3 anos. As temperaturas ficaram, acima da média do século XX, em 0,58º C em 2011, 0,62º C em 2012 e 0,67º C em 2013. Mas, mas nestes 3 anos, as temperaturas ficaram abaixo do que em 2010 que marcou 0,70º C acima da média do século XX. Nos anos seguintes, pela primeira vez a temperatura bate recordes seguidos, 2014 com 0,74º C, 2015 com 0,90º C e 2016 com 0,94º C. (ALVES, 2017)

A partir dos casos relatados, compreende-se que a mudança climática gera desequilíbrio na natureza e novos desastres ambientais passam a acontecer em áreas onde ainda não se faziam presentes, arrasando comunidades inteiras que, quando construídas, inexistia a preocupação com tais fenômenos. Caso recente, o ciclone Idai que atingiu alguns países do Sul da África, em 2019.

Cumpre salientar que a devastação ambiental de áreas urbanas não ocorre apenas quando alguma região é atingida por fenômenos naturais inéditos ou de intensidade nunca antes vista. A ação humana em processos de produção também pode resultar em danos irreparáveis. Ao decorrer da história são inúmeros casos em que negligência, irresponsabilidade, falta de consciência ambiental e má-sorte unidas causaram grandes desastres e culminaram no deslocamento involuntário de vastos grupos populacional e extinção dos recursos naturais e condições de habitação de largas regiões, como observou-se em Chernobyl na antiga União Soviética e, recentemente, na cidade mineira de Mariana, no Brasil

2.2.1 O acidente nuclear em Chernobyl

Em virtude do acidente na Usina Nuclear de Chernobyl, em abril de 1986, até o tempo presente a comunidade internacional e a sociedade em geral adentram qualquer assunto que envolva o termo “nuclear” com certa prudência. O maior acidente nuclear da história – como ficou conhecido o ocorrido em Chernobyl – ocorreu da seguinte forma:

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Em 25 de abril de 1986, uma manutenção de rotina estava agendada para acontecer no quarto reator da Central Nuclear de V.I. Lenin. Os engenheiros planejavam aproveitar a ocasião para testar se o reator ainda poderia ser resfriado caso a usina ficasse sem energia. Durante o teste, entretanto, os operadores infringiram protocolos de segurança e o reator ficou sobrecarregado. Apesar das tentativas para desligar totalmente o reator, outra sobrecarga provocou uma reação em cadeia de explosões em seu interior. Por fim, o núcleo do reator ficou exposto, lançando material radiativo para a atmosfera. (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019, grifo nosso)

A conduta humana restou evidenciada no descumprimento de medidas protocolares de segurança. O desastre resultou em lançamento de material radioativo sem precedentes, fato levou a União Soviética a evacuar a área em um raio de 30 km ao redor do reator danificado, desabrigando cerca de 335 mil pessoas no processo. De imediato houve 28 vítimas fatais do acidente e mais de 100 feridos. A previsão da época era de que 4 mil pessoas expostas a altos níveis de radiação e outras 5 mil pessoas expostas a níveis menos intensos poderiam vir a desenvolver câncer.

O prejuízo econômico e político acelerou o término da União Soviética e deu início à resistência global no tocante ao uso de energia nuclear. A análise dos dados colhidos ao longo do tempo leva à conclusão de que o incidente custou US$ 235 bilhões em danos, além da perda de 23% do território cultivável do que hoje é a Bielorrússia, país que gastou cerca de 22% do orçamento total com a usina de Chernobyl. (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019)

Hoje em dia, é possível a visitação em certas áreas afetadas pela radioatividade. Em 2019, a produtora de cinema HBO lançou minissérie que relata o acontecimento do acidente nuclear de Chernobyl e, segundo o diretor de uma empresa de turismo local, isso fez com que a ruína da cidade afetada pela explosão do reator recebesse aumento significativo na atividade turística.

Sergiy Ivanchuk, diretor da SoloEast tours, disse à Reuters que a empresa viu um aumento de 30% de turistas em visita à área em maio quando comparado com o mesmo mês do ano passado. As reservas para junho, julho e agosto aumentaram em aproximadamente 40% desde que a HBO exibiu a série, disse. Sua empresa oferece uma excursão especial a locais retratados no programa, inclusive o bunker onde autoridades locais decidiram a princípio não esvaziar o local após a explosão. Os visitantes de um dia embarcam em ônibus no centro de Kiev e percorrem 120 quilômetros até a área, onde podem ver os monumentos às vítimas e os vilarejos desertos e almoçar no único restaurante da cidade de Chernobyl. (REUTERS, 2019)

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Atualmente o reator encontra-se isolado dentro de estrutura de aço que foi construída no ano de 2016, estima-se que a descontaminação dure até o ano de 2065, devido ao período de meia-vida do material radioativo. (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019)

2.2.2 A lama de Mariana

O ano de 2015 ficou marcado na história recente do Brasil por ter sido cenário do maior desastre ambiental da história do país até então. No dia 5 de novembro a Barragem de Fundão, de propriedade da empresa Samarco Mineração (pertencente à Vale e a BHP Billiton) se rompeu. Os dados divulgados apontam que a causa principal foi a inobservância de falhas e rachaduras na barragem e que as medidas adotadas pela empresa para resolvê-las, sabidamente, não garantiriam a segurança da estrutura.

O rompimento deu vazão a 35 milhões de metros cúbicos de resíduos químicos usados no processo de mineração, em 40 minutos a lama tóxica já havia percorrido a distância de 10 km e atingido o distrito de Bento Rodrigues – área na qual ocorreu a maior destruição. (PAES, 2016)

A tragédia colocou 1.265 pessoas moradoras de 7 comunidades e subdistritos em situação de desabrigo, as quais foram forçadas a se alocar em moradias provisórias na região próxima. O número de mortos foi de 17 pessoas, 2 restam desaparecidas. (PAES, 2016)

Logo após o desastre, foram colocados em prática planos para minimizar os estragos e reparar os danos, como expõe o Ministério Público Federal (2018):

O plano de reparação dos danos inclui, por exemplo, a remoção de rejeitos, construção de barreiras para retenção de sedimentos, estabilização das margens dos rios, revegetação e melhoria do escoamento superficial em áreas atingidas da bacia. No entendimento do MPF, no entanto, essa ações precisam de uma participação efetiva dos atingidos, o que ainda não tem ocorrido. (grifo do autor)

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Conforme publicado por Cíntia Paes (2016) os danos econômicos e ambientais foram gigantes. O dano ecológico principal ocorreu na vazão dos dejetos para a bacia hidrográfica do Rio Doce, onde 80 espécies de animais buscavam habitação. Ademais, 1,5 mil hectares de vegetação foram soterrados pela lama tóxica. Já o prejuízo econômico é imensurável, no entanto, são conhecidos os valores bloqueados das contas da Samarco (R$ 300 milhões), de um dos acordos judiciais da empresa mencionada (R$ 1 bilhão) e das multas aplicadas (R$ 250 milhões).

Em 2019, o legado do desastre ainda afeta diretamente a vida na região atingida pela lama. A sede do distrito de Bento Rodrigues, por exemplo, ainda não foi construída. Primeiramente prevista para 2018, já foi alterada três vezes, estando atualmente prevista para o primeiro semestre de 2020. A área atingida segue inabitável, não foram reconstruídas nenhuma das mais de duzentas casas atingidas pelo desastre e mais de 800 famílias ainda não receberam a indenização devida pela empresa Samarco. (PARREIRAS, 2019).

2.2.3 O ciclone Idai

A tempestade denominada Ciclone Idai que devastou, principalmente, Moçambique, mas que também atingiu Zimbábue e Malauí, durou mais tempo e teve maior intensidade do que poderia ser considerado um ciclone ordinário. Como informou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o fenômeno é um alerta acerca do poder destruidor das mudanças climáticas. As consequências tiveram grande magnitude em Moçambique, restando, após a ocorrência, 1,85 milhão de pessoas em necessidade de ajuda humanitária. Já no Zimbábue e em Malauí o número de mortos atingiu ao menos 738 pessoas. (GLOBO; REUTERS, 2019)

Além de desalojar grande quantidade de pessoas, as enchentes causadas pelo grande volume de chuvas agravam o risco de epidemias de malária e cólera. A cólera é transmitida através das fezes na água ou nos alimentos que contêm contaminação de esgoto, ocorrendo surtos, geralmente, quando os serviços de saneamento básico deixam de funcionar corretamente. A Organização Mundial de Saúde (OMS) agiu no

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