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O cristianismo não é monolítico em sua manifestação, e possui vários segmentos em sua estrutura de formulação teológico-doutrinária. Podemos alinhar três grandes vertentes desta manifestação de fé: o catolicismo romano, o ortodoxo oriental e o protestantismo em suas manifestações diversas.

38 Termo usado no contexto protestante para apontar a forma de condução do serviço de culto público,

A IEASP é uma igreja que se denomina evangélica, o que a coloca dentro deste universo protestante.39 Sua origem está, devido à pessoa de seu fundador pastor Ragi Khoury, ligada ao Sínodo Evangélico do Líbano e Síria, cuja vinculação é ao protestantismo de tradição presbiteriana, como se percebe do documento emitido por este sínodo ao credenciar o Rev. Ragi como seu representante junto aos falantes do árabe no Brasil.

Desta forma, a IEASP assume e adota uma postura teológica de tradição presbiteriana, recepcionando, como referencial confessional, a Confissão de Fé de Westminster40. O pastor Kalil mostrou-se esquivo em sua entrevista quanto à afirmação confessional da igreja, mas em conversas várias durante o período de preparo desta dissertação, afirmou ter a IEASP a Confissão de Fé de Westminster como seu referencial doutrinário. A admissão de tal Confissão a torna, em teoria, uma igreja de tendência calvinista, já que a referida confissão teve forte influência deste modo teológico de pensar e reflete, obviamente, os aspectos próprios e particulares desta linha teológica, inclusive com a doutrina da Soberania de Deus, Seus decretos e suas defluências.

No entanto, como ocorre em alguns setores do presbiterianismo no Brasil, existe certo distanciamento, ou tensão, entre esta posição confessional presbiteriana calvinista adotada e o discurso ( praxis) na apresentação da mensagem religiosa. Esta tensão se dá pelo fato de ser o discurso religioso (pregação) de caráter arminiano41, ou seja, com forte carga de responsabilidade do indivíduo na deliberação de sua salvação, sendo dele a responsabilidade de escolha de seu destino final e eterno, estando a ação de Deus condicionada à decisão do indivíduo. Minimiza-se, portanto, no discurso a contundência da confissão de fé adotada, embora esta seja assumida como expressão doutrinária, teológica e confessional da IEASP.

39 Evangélico e protestante, neste momento, são tomados como idênticos, como sendo herdeiros ou frutos

do movimento da Reforma Religiosa do Século XVI, que veio a ser conhecida como Reforma Protestante. Nota do autor.

40 “A Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo maior (1648) e o Catecismo menor (1647) foram

redigidos na Inglaterra, na Abadia de Westminster, por convocação do Parlamento. A assembléia funcionou de 1º/7/1643 a 22/2/1649. O objetivo primário era a revisão dos Trinta e nove artigos. Trabalharam no texto da confissão 121 teólogos e 30 leigos nomeados pelo Parlamento (20 da Casa dos Comuns e 10 da Casa dos Lordes), 8 representantes escoceses, 4 pastores e 4 presbíteros, os melhores e mais preclaros homens que possuía”.(MAIA. 2007, p 19).

41 Jacó Armínio (James Arminius - 1560-1609) fora aluno de Teodoro de Beza ( sucessor de Calvinmo

em Genebra), e rejeitou a doutrina da predestinação (eleição) conforme ensinada por Calvino e seus sucessores. ( MAIA. 2007, p 18).

Não se estabelece aqui qualquer forma ou modo de avaliação, crítica ou julgamento quanto à postura ou admissão desta ou daquela corrente teológica, nem se esta é certa ou errada. Apenas é feita a constatação, pela observação participante, deste fato da distinção entre a adoção teórica da teologia confessional calvinista e a prática do discurso de cunho arminiano na pregação.

7.1) Sacramentos:

A IEASP admite, como as igrejas protestantes de modo geral, apenas dois sacramentos, chamados também de ordenanças, que são: o Batismo e a Eucaristia ou Ceia do Senhor.

7.1.1) Batismo:

Podem ser destacados dois pontos peculiares a este sacramento no contexto da Igreja Árabe: a forma e os batizandos, ou seja, como se batiza e a quem se batiza.

Quanto à forma existe uma flexibilidade entre o modo aspersionista e o imersionista. É deixado ao arbítrio e vontade daquele que receberá o batismo. A decisão cabe, portanto, ao batizando e o pastor ministrará o modo escolhido pelo novel integrante da comunidade. A prevalência tem sido (atualmente) a imersão, que ocorre em templo de igrejas batistas ou em rio, já que não há batistério na IEASP, mesmo porque sua diretriz inicial era presbiteriana em todos os seus aspectos, incluindo a prática aspersionista de batismo.

Em relação àqueles que devem ser submetidos ao rito batismal, ressalta-se a necessidade de batismo aos egressos do catolicismo romano, catolicismo ortodoxo, religiões não cristãs e as ditas seitas cristãs como mórmons, testemunhas de Jeová e outras.

Verifica-se a quase inexistência da prática do pedobatismo, ou seja, do batismo infantil. Esta era prática adotada pela IEASP até 1999, quando então deixou-se de observar tal procedimento. Assim, para alguém ser submetido à cerimônia do batismo é necessário o exercício pessoal de fé e declaração disto formalmente perante a Igreja, com aceitação e declaração de adoção dos princípios da fé cristã evangélica ou protestante. Esta mudança, segundo informação do atual pastor Kalil Samara, foi admitida pelo pastor Ragi depois de refletir que a grande maioria daqueles que haviam sido por ele batizados na infância, não estava mais na igreja. A partir deste ano (1999) a

IEASP, praticamente, deixou de ministrar o batismo infantil, embora o pastor Kalil em sua entrevista afirme que se os pais são fiéis frequentadores e desejarem, ministrará o batismo à criança. Há, em meu modo de ver, influência para adoção desta postura, pelo fato de ter o atual pastor da igreja origem batista.

Mais uma vez pode ser percebido o aspecto de tensão entre a confessionalidade admitida; “Não só os que de fato professam a sua fé em Cristo e obediência a ele; mas também os filhos de pais crentes (ainda que só um deles o seja) devem ser batizados” (Confissão de Fé de Westminster, capítulo XVIII, IV) e a prática da igreja. É admissível, frente a estas realidades, que a identidade da igreja esteja sendo redefinida ou reconstruída, perdendo seu delineamento presbiteriano de governo e sua linha calvinista de doutrina e confessionalidade orientada pela referida Confissão.

Neste sentido a continuidade vai sendo quebrada e a ruptura se impõe. A descontinuidade de caráter étnico-cultural vai sendo assimilada, ao mesmo tempo que a descontinuidade de caráter teológico e doutrinário.

7.1.2) Eucaristia ou Ceia do Senhor:

Este rito ou cerimônia sacramental é realizado na IEASP, de modo similar ao praticado nas igrejas protestantes ou evangélicas. Sua realização ou ministração consta da entrega dos dois elementos materiais do rito, a saber, o pão e o vinho (ou suco de uva), e a distribuição é para aqueles que estejam formalmente ligados (não afastados da comunhão) às igrejas evangélicas das quais sejam membros. A Ceia do Senhor não é, portanto, restrita aos membros da IEASP, mas extensiva aos evangélicos de modo geral.

A celebração está incluída no culto regular dominical da igreja, ocorrendo todo o primeiro domingo de cada mês, salvo quando haja algum fator que possa determinar a mudança do dia estabelecido.