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A Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais ou ainda Role Checklist, foi criada e empiricamente testada por Frances Oakley e colaboradores (OAKLEY et al., 1986) com a finalidade de obter informações a respeito da percepção do indivíduo quanto á participação em papéis ocupacionais ao longo da vida, sobre o grau de importância atribuído a cada papel e, de forma complementar, conhecer a capacidade de uma pessoa em manter o equilíbrio entre os papéis (OAKLEY et al., 1986; CORDEIRO, 2005; KIELHOFNER, 2008).

O instrumento, de origem americana, consiste em um inventário escrito, divididos em duas partes, que exige aproximadamente 15 minutos para ser aplicado (CORDEIRO, 2005). O seu uso é adequado para adolescentes, adultos e idosos (OAKLEY et al., 1986; VAUSE- EARLAND, 1991; COLÓN; HAERTLEIN, 2002; CORDEIRO, 2005; KIELHOFNER, 2008).

A Parte I do instrumento avalia os papéis ocupacionais através do tempo passado, presente e futuro. Os indivíduos são instruídos a verificar nas colunas de tempo os papéis que já desempenharam, desempenham atualmente e/ou planejam desempenhar no futuro. Assim, podem assinalar mais de uma coluna para cada papel ocupacional (CORDEIRO, 2005; CORDEIRO, 2007).

Na versão original, a definição do esquema de tempo foi delimitada da seguinte forma (OAKLEY et al., 1986):

- passado: se refere ao período de tempo até sete dias atrás;

- presente: se refere não somente a hoje, mas também inclui os sete dias passados;

Embora haja a sugestão dessa divisão, é possível definir outros esquemas de tempo a depender dos objetivos do terapeuta ou pesquisador (CORDEIRO, 2007).

A Parte II identifica o grau de importância atribuída a cada papel, entre as opções nenhuma importância, alguma importância ou muita importância (OAKLEY et al., 1986; COLÓN; HAERTLEIN, 2002; CORDEIRO, 2005; KIELHOFNER, 2008).

O instrumento, conforme apresentado em material produzido por Cordeiro (2007), além da Parte I e II, é composto por uma folha para preenchimento dos dados de identificação do individuo e por outra denominada “Sumário”. O sumário condensa os dados da Parte I e II e exibe um campo de comentários destinado à análise do aplicador acerca dos resultados obtidos com o instrumento.

Os 10 papéis da Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais foram originalmente obtidos após análise da literatura em psicologia social, sociologia e terapia ocupacional (OAKLEY et al., 1986; COLÓN; HAERTLEIN, 2002). São descritos de forma simples, breve e padronizada, divididos em: estudante, trabalhador, voluntário, cuidador, serviço doméstico, amigo, membro de família, religioso, passatempo / amador e participante em organizações (OAKLEY et al., 1986; CORDEIRO, 2005; KIELHOFNER, 2008).

Em relação à validação do instrumento original em língua inglesa, os autores contaram com uma amostra de 124 adultos saudáveis de 18 a 79 anos, com média de idade de 33,5 anos. A concordância entre os papéis ocupacionais variou de 86 a 89% na Parte I e obteve média de 79% na Parte II. Em relação aos valores de Kappa, o estudo alcançou concordância moderada à quase perfeita na maioria dos resultados da Parte I e II (OAKLEY et al., 1986).

Após a publicação do estudo, a Lista foi traduzida para diversas línguas (COLÓN; HAERTLEIN, 2002; CORDEIRO, 2005; KIELHOFNER, 2008) e utilizada em muitos estudos em terapia ocupacional, tais como: relação dos papéis ocupacionais com a satisfação de vida em idosos (ELLIOTT; BARRIS, 1987; WATSON; AGER, 1991), papéis e estilos de vida das pessoas com transtornos obsessivo-compulsivo (BAVARO, 1991), a relação do número, freqüência, significado e preferência do papel com a satisfação de vida em adultos (BRÄNHOLM; FUGL-MEYER, 1992), mudanças nos papéis ocupacionais de adultos após traumatismo crânio-encefálico (HALLETT et al., 1994), comparação entre os papéis de pessoas da comunidade comparadas com pacientes (DICKERSON; OAKLEY, 1995), percepções de papéis de mães de crianças pequenas (CROWE et al;, 1997) , os efeitos sobre os papéis de cuidadores de portadores de traumatismo crânio-encefálico (FROSCH et al., 1997), bem-estar e papéis ocupacionais entre mulheres de meia-idade (HAKANSSON et al.,

2005), uso do tempo e os papéis ocupacionais na velhice (MCKENNA; BROOME; LIDDLE, 2007), dentre outros (COLÓN; HAERTLEIN, 2002; CORDEIRO, 2005).

Até o presente momento, a literatura aponta a validação do instrumento em três outros idiomas: francês, espanhol e português.

A versão francesa foi validada no Canadá. A amostra foi constituída por 19 indivíduos bilíngües portadores de esquizofrenia como diagnóstico primário, que se encontravam clinicamente estáveis. O estudo alcançou resultados compatíveis com o estudo norte-americano, exceto na Parte II, cuja concordância foi razoável no coeficiente de kappa (HACHEY; BOYER; MERCIER, 2001).

Colón e Haertlein (2002) utilizaram uma amostra de 14 estudantes universitários bilíngües, nos Estados Unidos, para validar a versão espanhola. Os participantes tinham idades ente 18 e 35 anos, com média de 22,4 ± 16,5 anos. O estudo obteve coeficientes de kappa igual a 0,907 (concordância quase perfeita) para a Parte I e 0,798 (concordância substancial) para a Parte II.

No Brasil, a tradução, adaptação transcultural e validação da Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais foram realizadas pela terapeuta ocupacional Júnia Cordeiro, em 2005, durante o mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP (CORDEIRO, 2005; CORDEIRO et al., 2007).

O estudo brasileiro foi pioneiro em termos de validação do instrumento dentro do próprio país de origem da língua estudada e, além disso, contou com uma amostra maior do que os estudos da versão francesa e espanhola (CORDEIRO, 2005). A amostra envolveu 25 pacientes portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), com idade entre 40 e 89 anos (média de 65,7 ± 9,3 anos), sendo que a maioria foi composta por homens (64%), casados (64%), escolaridade de 4 a 8 anos incompletos de estudo (44%) e indivíduos inativos (68%). Quanto aos resultados, o percentual de concordância entre os papéis ocupacionais demonstrou resultados comparáveis aos obtidos pelo estudo norte-americano, com variação de 84 a 91% na Parte I e média de concordância de 75% na Parte II, demonstrando concordância moderada a quase perfeita na maioria dos resultados (CORDEIRO, 2005; CORDEIRO et al., 2007).

Cordeiro (2005) afirma que, apesar de o instrumento ter sido validado para pacientes portadores de DPOC, em virtude da independência da concordância com as variáveis controladas, a versão brasileira pode ser considerada válida para a população em geral.

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