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Livre convencimento motivado e persuasão racional do juiz

1.2. Dos princípios constitucionais garantidores da liberdade

1.2.3. Livre convencimento motivado e persuasão racional do juiz

Emerge de forma cristalina no sistema jurídico pátrio que o direito exige dos julgadores a motivação das decisões prolatadas, sob pena de evidente cerceamento de defesa e nulidade da decisão.

Assim, todas as vezes que o Estado-Juiz decidir, principalmente questões de máxima importância como aquelas que tocam às liberdades individuais, deverá esmerar- se em fundamentar o édito, ex vi do artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal.60

efetivação, como visto, que o procedimento em que este se materializa observe, rigorosamente, todas as formalidades em lei prescritas, para o perfeito atingimento de sua finalidade solucionadora de conflito de interesses socialmente relevantes, quais sejam o punitivo e o de liberdade”. Especificamente em questões acerca da liberdade de um cidadão, esse mesmo autor ainda pondera que: (...) “inadmissível afigura-se a privação da liberdade sem a ‘garantia’ consubstanciada num ‘processo’ desenvolvido na forma que a lei estabelece, lei essa dotada de todas as garantias do processo legislativo”. Direitos e garantias

individuais no processo penal brasileir., 2ª ed., São Paulo: RT, 2004., p. 83.

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Sobre o assunto, assim já decidiu o Supremo Tribunal Federal: HABEAS CORPUS. Direito Penal Militar. Exacerbação da pena-base e aplicação de causa de aumento de pena. Fundamentação. Ocorrência. Necessidade de reexame dos elementos de fato. Inviabilidade. Nulidade. Inexistência. I. A fundamentação das decisões do Poder Judiciário, consoante o inc. IX do art. 93 da Constituição Federal, é condição absoluta de sua validade, consistindo na definição suficiente dos fatos e do direito que a sustentam, de modo a

Diante do texto constitucional, como anota Antonio Scarance Fernandes, “não há dúvida que a existência de motivação abrange todas as decisões relevantes do processo, definitivas ou interlocutórias, principalmente quando estas afetem direitos individuais”.61

Ainda sobre a necessidade de fundamentação, analisando o fato social que inspirou o constituinte, pronuncia-se, com a autoridade que o tem distinguido, Alexandre de Moraes:

“O princípio de que os julgamentos devem ser motivados está hoje firmemente estabelecido (...) Surge aos olhos dos homens do nosso tempo uma garantia contra as decisões arbitrárias e, mais ainda, talvez como uma garantia de que as decisões serão maduramente refletidas e conforme ao direito (...)”.62

Desconsiderar o dever de motivar as decisões judiciais, portanto, muito mais do que negar um direito àquele que está submetido ao processo, é desrespeitar luta infinda da sociedade,63 submetendo-a a tempos obscuros, afeiçoando o processo às surreais

evidenciar a hipótese de incidência da norma e os efeitos dela resultantes. (...) (STF – 2ª T. - HC 90045 / RJ – rel. Min. Joaquim Barbosa – j. 10/02/2009 – Dje-053 em 19/03/2009).

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Processo penal constitucional. 3ª ed., São Paulo: RT, 2003, p. 130.

62 Constituição do Brasil interpretada. p.1352

63 A esse respeito, Ada Pelegrini Grinover, Antonio Carlos de Araújo Cintra e Cândido Rangel

Dinamarco pontuam que: “Outro importante princípio, voltado como o da publicidade ao controle popular sobre o exercício da função jurisdicional, é o da necessária motivação das decisões judiciária. Na linha de pensamento tradicional a motivação das decisões judiciais era vista como garantia das partes, com vistas à possibilidade de sua impugnação para efeito de reforma. Era só por isso que as leis processuais comumente asseguravam a necessidade de motivação (CPP, art. 381; CPC, art. 165 c.c. 458; CLT, art. 832).

novelas de Franz Kafka, algo inconcebível para o Estado Democrático de Direito.

1.2.3.1. O dever do juiz fardado em motivar suas decisões

A única decisão admitida sem necessidade de fundamentação é a dos jurados no Tribunal do Júri.

No caso dos juízes militares, o dever legal de motivar suas decisões decorre de força constitucional, haja vista que são eles integrantes do Poder Judiciário (CF, arts. 92, inciso VI, 122, inciso II, e 125) e, nessa condição, têm a obrigação de motivar todas as suas decisões, ex vi do artigo 93, inciso IX, da Carta Magna.

A ilustrar o quanto aqui exposto vale a citação de Ronaldo João Roth:

“Importante consignar que a decisão do colegiado é formada, então, da decisão proferida pelo voto dos juízes individualmente, de tal sorte que o cômputo daqueles é que formará a decisão do colegiado. Entendo, assim, que cada um dos votos do colegiado deve obedecer ao madamento constitucional da motivação para ser válido”.64

Demais disso, conforme prevê o artigo 400 do Código de Processo Penal Militar, os juízes militares têm o dever legal de firmar compromisso no sentido de apreciar com imparcialidade e atenção os fatos que lhes forem submetidos e julgá-los de acordo com a lei e a prova dos autos, o que reforça a necessidade de fundamentar suas decisões..

Mais modernamente, foi sendo salientada a função política da motivação das decisões judiciais, cujos destinatários não são apenas as partes e o juiz competente para julgar eventual recurso, mas quisquis de populo, com a finalidade de aferir-se em concreto a imparcialidade do juiz e a legalidade e justiça das decisões”. Teoria geral do processo., p. 68-69.

64 O juiz militar e o dever de motivar sua decisão. In Revista da Associação dos Magistrados

das Justiças Militares Estaduais – AMAJME, ano IV, n.º 19, setembro/outubro de 1999, p. 34-34.

Embora o Conselho de Justiça, assim como o Tribunal do Júri, seja órgão colegiado de primeira instância, necessita aquele que seus componentes motivem seus votos, até para permitir ao juiz togado que redija a sentença (artigo 438, § 2º, do Código de Processo Penal Militar), vedado o acompanhamento sem qualquer justificativa da posição do Juiz-Auditor ou do Juiz de Direito, o que lamentavelmente comum.

Livre convencimento não se confunde com livre arbítrio.

Sorteado para fazer parte do Conselho de Justiça, Permanente ou Especial, o militar passará a desempenhar função em que evidentemente não cabe a leviandade e, menos ainda, se deixar arrastar pelo cômodo acompanhamento do juiz togado que antes se manifestou. Conta com parcela da jurisdição em suas mãos e tem a obrigação de compor a decisão colegiada com suas impressões e convicções publicamente tão logo encerrem as partes os debates.

Isto porque, além de não caber mais na atual ordem constitucional o julgamento em sessão secreta a que fazia alusão o artigo 434 do Código de Processo Penal Militar, devem os juízes militares, após o voto do magistrado togado, se pronunciarem perante as partes e o público que eventualmente assista o julgamento sobre as questões de fato e de direito debatidas, ex vi do artigo 435, sob pena de, constatada em ata a letargia de um dos julgadores, ficar o caso passível de anulação por não se ter observado formalidade essencial do ato, incidindo a inteligência do artigo 500, inciso IV, do mesmo codex.

Portanto, indiscutível e irrefragável o dever de o juiz militar em fundamentar suas decisões.

2. Justiça Militar