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4 O LIVRO COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO

4.1 BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DA HISTÓRIA DO LIVRO

4.1.2 O livro eletrônico

possui consenso e carece de estudos e reflexões teóricas que possam sustentar uma definição, no caso específico, uma definição para alcance científico.

4.1.2 O livro eletrônico  

É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.

José Saramago  

Os meios informáticos e a Internet trouxeram novas possibilidades de publicações. Alguns entusiastas pela tecnologia, baseados na ideia de que a grande rede mundial de computadores em conjunto com softwares ou repositórios de documentos, poderiam sistematicamente reunir textos produzidos em ambiente digital ou digitalizados e disponibilizá-los com acesso mais dinâmico e aberto para todas as pessoas que quisessem acessá-los a qualquer tempo.

Esta perspectiva traz em seu bojo a ideia de “uma grande biblioteca universal”, e os textos digitalizados e criados em ambientes digitais como os e-books ou livros eletrônicos seriam uma evolução do livro tradicional. Para se ter uma ideia da rapidez da evolução dos suportes de informação, Robert Darnton, professor de História da Universidade americana de Carl H. Pforzheimer e diretor da Biblioteca da Universidade de Harvard e especialista em História do Livro apresenta esta evolução,

 

(...) a velocidade das mudanças é de tirar o fôlego: da escrita ao códice foram 4300 anos; do códice aos tipos móveis, 1150 anos; dos tipos móveis à Internet, 524 anos; da internet aos buscadores, dezessete anos; dos buscadores ao algoritmo de relevância do Google, sete anos; e quem pode imaginar o que está por vir no futuro próximo? (DARNTON, 2009, p.41).  

O Dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia define livro eletrônico assim: “o que foi convertido ao formato digital, ou originalmente produzido neste formato, para ser lido em computador ou dispositivo especial destinado a esse fim; livro digital, livro interativo, livro multimídia”.

Com base em Darnton (2009) e Procópio (2010) tentou-se demonstrar um comparativo de vantagens e desvantagens da passagem do livro impresso para o livro eletrônico.

Quadro 5 Vantagens e desvantagens do livro eletrônico

VANTAGENS DESVANTAGENS

Reunião de todos os livros em uma biblioteca

digital universal Perda de sensação do livro físico Disponibilização de livros para qualquer pessoa

em qualquer lugar do mundo Possível fechamento de livrarias e bibliotecas Ausência de livros esgotados Diminuição de contato humano Disponibilização de livros raros em formato

eletrônico Desemprego no mercado editorial

Fonte: Elaboração própria com base em Darnton (2009) e Procópio (2010)

   

É inegável, no mundo atual, a importância das tecnologias de informação para o desenvolvimento de técnicas para acesso ao conhecimento. Entretanto, a abordagem de que uma tecnologia suplantará a outra – e, neste caso, que o e-book substituiria o livro impresso tradicional conhecido desde a Idade Moderna – parece não ser tão simples conforme Robert Darnton,

A capacidade de resistência do códice à moda antiga ilustra um princípio geral da história da comunicação: uma mídia não toma o lugar da outra, ao menos ao curto prazo. A publicação de manuscritos floresceu por muito tempo depois da invenção da prensa móvel por Gutenberg; os jornais não acabaram com o livro impresso; a televisão não destruiu o rádio; a internet não fez os telespectadores abandonarem as suas tevês (DARNTON, 2009, p. 14).

 

Neste sentido, Guzmán expôs,  

É claro que o livro impresso é insubstituível e a futurologia não pode, neste momento, definir a data de seu desaparecimento. Também está claro que o livro e a publicação eletrônica já coexistem, e apesar da enorme resistência dos envolvidos, é hora de pensar seriamente em adotar os dois tipos, especialmente quando a publicação eletrônica tem demonstrado o seu potencial em âmbitos específicos, por exemplo, o acadêmico (GUZMÁN, 2007, p.29, tradução nossa).

 

Procópio (2010) apresenta três elementos na composição de um livro eletrônico: software para visualização e leitura dos textos, hardware ou dispositivo físico portátil e o conteúdo, que seria o mais importante por ser o livro propriamente a ser lido. Todos interdependentes para o funcionamento do livro eletrônico, que poderiam dificultar o acesso à leitura, diferentemente do livro tradicional.

A ideia de criação de livros eletrônicos não é recente. Nesta direção havia a ideia de que os livros eletrônicos substituiriam os livros impressos. Sobre isto, Darnton apresenta-nos,

Ouvimos essa profecia ser repetida desde que o primeiro e-book, uma monstruosidade deselegante conhecida como Memex, foi projetado em 1945. A esta altura o livro convencional já foi declarado morto tantas vezes que muitos de nós deixaram de se preocupar com o risco de estantes vazias (DARNTON, 2009, 87).

 

Na abordagem de Procópio (2010), os livros em formato eletrônico trariam uma possibilidade de democratização e acesso à informação no caso brasileiro. Porém, seria necessário na visão do autor, democratizar em primeira instância o acesso à Internet e as tecnologias de acesso ao livro eletrônico.

Esta iniciativa, contudo poderia não dar certo se considerarmos o esforço da empresa Google em digitalizar todos os livros produzidos e que estão disponíveis nas bibliotecas mais importantes e conhecidas universalmente. Desta forma, para ter acesso aos conteúdos dos livros seria necessário pagar uma quantia à empresa que deteria o monopólio das obras que estariam digitalizadas. Duas características marcam este empreendimento, de um lado a ideia utópica da biblioteca universal; e de outro, o perigo do acesso à informação sob o controle de uma empresa privada (DANRTON, 2009).

Uma outra questão bastante delicada no que diz respeito ao livros eletrônicos são os direitos do autor. Embora algumas editoras que trabalhem com o livro eletrônico estejam se preocupando com isto, alguns autores ainda possuem receio quanto às garantias de que o recolhimento dos direitos no meio digital trarão menos prejuízos aos autores do que no meio impresso. Desta maneira, surgem questões jurídicas conhecidas como Digital Rights Management, ou gestão de direitos digitais. Estes direitos seriam assegurados aos autores quando da publicação de suas obras. O tema vem sendo bastante discutido e as editoras tem garantido os mesmos direitos de propriedade do livro impresso (PROCÓPIO, 2010).

Esta complexa discussão que envolve autores, leitores, editoras, distribuidoras, leitores e até programadores de softwares e empresas de tecnologia encontra-se em aberto. Parece que não será resolvida de forma imediata. Pelo contrário, há de ser considerada a convivência de livros impressos ou tradicionais como tratam alguns autores com os livros em formato eletrônico. Assim, ainda cabe aos leitores escolherem o que lhe é mais apropriado. Considerando isto, os livros eletrônicos fazem parte de mais uma possibilidade para leitura.

       

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