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4 O LIVRO COMO OBJETO DE INVESTIGAÇÃO

4.3 OS LIVROS NA ARQUIVOLOGIA BRASILEIRA

É precípuo para a Arquivologia assim como para todos os campos do conhecimento, conforme exposto no capítulo dois desta pesquisa, a necessidade de produzir conhecimento e comunica-lo através dos canais da comunicação científica. A Arquivologia está inserida entre as áreas das Ciências Sociais Aplicadas, o que nos sugere, de acordo com Meadows (1999), Velho (1997) e Mueller (2005), que os produtores de conhecimento arquivístico utilizam com mais frequência o livro como canal de comunicação e difusão de suas ideias. Diante dos textos de diversos autores analisados no decorrer desta pesquisa, podemos apontar que no Brasil, são raros os estudos que descrevam a situação da bibliografia da Arquivologia.

Em 1995, Jardim abordou que era escassa a literatura da Arquivologia brasileira. Outra questão exposta pelo autor demonstrou que parte da literatura arquivística no Brasil, até inicio dos anos 1980, era resultado de experiências das metodologias dos trabalhos feitos pelo

Arquivo Nacional. Contudo, ao final deste período foram reduzidas estas publicações (JARDIM, 1995).

Segundo Jardim, “A publicação dos manuais de PAES (1986) e BELLOTTO (1991) veio contribuir para a redução das lacunas existentes quanto a este tipo de literatura no Brasil” (1995, p.79).

Ao analisar esforços internacionais que tinham por finalidade arrolar o que seria uma bibliografia analítica de literatura arquivística internacional, Maria Odila Fonseca abordou o que foi chamado de “tradição manualística e suas limitações”, nos livros “A formação do arquivista no Brasil” de 1999, organizado por José Maria Jardim e pela própria Fonseca, e “Arquivologia e ciência da informação”, de 2005. Ela aponta que a partir da década de 1980, sob o pensamento do arquivista alemão Eckart Franz houve mudanças revolucionárias na formação profissional em Arquivologia, entre essas mudanças está o que foi chamado por Franz “de nova onda de manuais”.

 

É fascinante ver que os clássicos da literatura arquivística, o Manual holandês, de Muller, Feith e Fruin, os trabalhos básicos de Casanova Jenkinson, Schellenberg, que continuavam a ser reimpressos desde os anos de 1960, foram ultimamente superados por uma onda de novos manuais e textos em diversas línguas, que dão uma visão atualizada da teoria e da prática arquivísticas. Como exemplos devem ser citados “Arquivos no Século XXI”, de Couture, no Canadá (1982/83), o novo manual italiano de Carucci e Lodolini (1983/84), os textos franceses de Hildesheimer, F. Durand-Evrad e C. Durand (1984/85), o “Gestão de Informações Arquivísticas”, Cook (1986), e os manuais que foram e estão sendo publicados pelas Associações Americana, Australiana e Holandesa (desde 19986/87), e, mais recentemente, o novo manual espanhol de A. Herrera, Arquivística Geral (1989) (FRANZ apud FONSECA, 1999, p.182).

 

Após análise no que diz respeito à literatura internacional e as preocupações do Conselho Internacional de Arquivos para compilarem os manuais e livros-texto para o ensino e pesquisa em Arquivologia, Fonseca faz uma reflexão sobre a situação da bibliografia arquivística no Brasil. A autora é enfática ao afirmar que por senso comum havia a afirmação de que não se escrevia no Brasil sobre Arquivologia. Fonseca expôs algumas características da área no Brasil no que diz respeito a estes problemas à época: (i) pouca produção de conhecimento em Arquivologia; (ii) inexistência de debate científico pela falta de leitura.

Costa (2007), por seu turno, publicou um artigo onde foram identificadas 77 obras referentes ao campo arquivístico no Brasil. O universo empírico de Costa (2007) abrangia os livros publicados no Brasil a partir de três critérios: (i) todas as obras terem mais de 48 páginas; (ii) terem sido publicadas, editadas e traduzidas no Brasil; (iii) terem sido publicadas

no Brasil tendo como marco inicial a tradução do “Manual dos Holandeses”, em 1960 pelo Arquivo Nacional até 2006.

Além dos critérios apresentados acima, Costa (2007) utilizou critérios para a classificação dos livros como livros de Arquivologia que foram: Título, Conteúdo e Autor. Os títulos deveriam conter as palavras arquivo, arquivologia, arquivística e suas derivações. O conteúdo dos livros deveria ser próprio da disciplina Arquivologia tendo como temas: avaliação, classificação, arranjo, descrição, teoria arquivística, terminologia arquivística, tecnologia aplicada aos arquivos, administração de arquivos, formação profissional de arquivistas e conservação aplicada aos acervos arquivísticos. E por último o autor deveria ter formação em Arquivologia ou áreas afins como Ciência da Informação, Biblioteconomia, Conservação, História.

Foi observado também o vínculo institucional, pois uma parcela considerável de autores estavam vinculados à universidade ou instituições arquivísticas públicas e não eram arquivistas como também não eram formados nas áreas afins.

Outro aspecto metodológico utilizado por Costa (2007) foi a separação dos 77 livros encontrados entre manualísticos e não-manualísticos.

Porém, dos 77 (100%) livros enumerados listados por Costa, 2 ( 2,5%) não eram propriamente da área de Arquivologia – “Os Arquivos Imperfeitos”, de Fausto Colombo; e, “Mal de Arquivo: uma impressão freudiana”, de Jacques Derrida.

Dos 77 (100%) livros, 51 (66,2) foram classificados como manuais, o que demonstra maior representatividade deste tipo de publicação em Arquivologia no Brasil. Os livros considerados como não-manuais foram 20 (26%). Deste universo de 20 (26%) livros, 4 (5,1%) foram identificados como dicionários de terminologia arquivística, 6 (7,7%) livros inicialmente foram dissertações, teses ou pesquisa de pós-doutorado.

Assim, Costa (2007) concluiu o seu trabalho analisando que publicação criteriosa e de forma sistemática de teses de doutorado e de dissertações de mestrado e até mesmo monografias de cursos de graduação, poderia diminuir a lacuna de produção de conhecimento, desde que fosse observada a relevância para a área e a qualidade dos trabalhos produzidos para serem então publicados.

Desta maneira, o que pode ter renovado o conhecimento produzido em Arquivologia no Brasil foram as publicações de teses e dissertações que se tornaram livros no caso brasileiro. Portanto, no próximo capítulo serão analisados alguns aspectos comuns aos seis livros objeto de estudo desta pesquisa.

5 PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO ARQUIVÍSTICO NO BRASIL: TESES E

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