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4 A NECESSIDADE DO STATUS DE MILITAR PARA A PROSSEGUIBILIDADE

4.6 LOCAL DO CUMPRIMENTO DA PENA DO CIVIL CONDENADO PELA

O artigo 2º da Lei de Execução Penal é clara ao afirmar que ampara os presos provisórios ou condenados pela Justiça Militar para que cumpram suas penas em instalações carcerárias comuns.

Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal.

Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária. (BRASIL, 1984).

O Código Penal Militar reforça a ideia no seu escopo:

Art. 62 - O civil cumpre a pena aplicada pela Justiça Militar, em estabelecimento prisional civil, ficando ele sujeito ao regime conforme a

legislação penal comum, de cujos benefícios e concessões, também, poderá gozar. (BRASIL, 1969)

Sendo assim, não há qualquer problema legal que impeça o civil, preso pela Justiça Militar, de cumprir suas penas em prisões destinadas aos criminosos da Justiça comum.

Por fim, verificamos que a necessidade de ostentar o status de militar durante todo o transcurso judicial da ação penal do desertor é assunto que diverge opiniões em diferentes tribunais superiores. Entretanto há de se levar em consideração a diferença entre condição de procedibilidade e prosseguibilidade e o princípio da legalidade, nos termos em que não há previsão legal de extinção do processo por falta da condição de militar da ativa. O que existe é a previsão de condicionar a instauração do processo penal a essa qualidade, ou seja, existe a condição de procedibilidade, sendo que sua reinclusão às fileiras castrenses depende de sua higidez física para o serviço militar. A falta do status de militar nada deve impedir o andamento do processo crime, por não ser condição de prosseguibilidade da instrução penal de deserção.

5 CONCLUSÃO

A partir da análise histórica do direito militar, de fundamental importância para a política expansionista dos povos da antiguidade, foi conhecida sua especificidade, que repousa na objetividade jurídica de proteger os princípios constitucionais militares: hierarquia e disciplina. Ainda, tomou-se conhecimento dos crimes propriamente militares, que exigem a previsão exclusiva do tipo penal no Código Penal Militar e que o agente ostente a condição de militar para a consumação do delito.

Então, pôde-se compreender a importância do crime de deserção no ordenamento jurídico castrense, com a finalidade de proteção do dever e do serviço militar. O referido delito possui características peculiares, tal qual a prescrição, e atos administrativos que são essenciais para a formalização da infração, como a correta contagem do prazo de graça de 8 (oito) dias e o preciso preenchimento do termo de deserção.

Foi esclarecido que, enquanto a condição de procedibilidade estabelece critérios específicos que devem ser preenchidos para o recebimento da denúncia por parte do juiz, a condição de prosseguibilidade trata de pressupostos que devem permanecer durante toda a duração do processo, sob o risco de fazê-lo ser extinto.

A falta de previsão legal, protegida pela luz do princípio da legalidade, e a diferença explícita entre a condição de procedibilidade e prosseguibilidade, são os fundamentos jurídicos que deixam cristalino o entendimento de que a superveniência da condição de civil do agente que responde pelo crime em nada afeta o andamento do processo, tampouco obsta o seu cumprimento, caso condenado à reclusão.

Isso posto, foi verificado que não é necessário que o desertor permaneça com o status de militar após o recebimento da denúncia para a continuidade da ação penal, ou seja, ser militar da ativa não é condição de prosseguibilidade da ação penal de deserção.

Por fim, cabe destacar que o equivocado pensamento da necessidade de o desertor possuir a qualidade militar durante a instrução penal gera, na maior parte dos casos, uma afronta à disciplina e valores militares, pilares das instituições militares, uma vez que o agente fica obrigado a continuar na corporação militar

quando já demonstrou, ao completar 8 (oito) dias de ausência, injustificados, o seu interesse de não mais cumprir o serviço militar a que está submetido.

É certo, portanto, que a praça sem estabilidade, excluída pelo crime de deserção, não necessita ostentar a condição de militar durante todo o processo de deserção, mas somente para o recebimento da denúncia. O entendimento diverso acerca de tal crime, qual seja, da obrigatoriedade de o sujeito ativo possuir o status de militar durante toda a ação penal, se constitui em gasto aos cofres públicos e até mesmo em certo constrangimento àquele que não se adaptou aos pilares da hierarquia e da disciplina, em prejuízo às organizações militares e à sociedade, que fica à mercê de alguém que continua a ter acesso ao armamento e a toda a logística militar.

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