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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – NA TRILHA DO PERCURSO METODOLÓGICO E DELINEAMENTO DO OBJETO DA PESQUISA.

1.3 Caracterização do objeto da pesquisa e caminhos metodológicos

1.3.1 Localização e caracterização da área de estudo

O Estado de Minas Gerais possui 12 mesorregiões estabelecidas pelo IBGE (2010a): Noroeste de Minas, Norte de Minas, Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Central Mineira, Metropolitana de Belo Horizonte, Vale do Rio Doce, Oeste de Minas, Sul e Sudoeste de Minas, Campos das Vertentes e Zona da Mata.

A Mesorregião do Noroeste de Minas é formada pela Microrregião Unaí, dividida em nove municípios (Arinos, Bonfinópolis de Minas, Buritis, Cabeceira Grande, Dom Bosco, Formoso, Natalândia, Unaí e Uruana de Minas) e Microrregião Paracatu (figura 3), dividida em dez municípios (Brasilândia de Minas, Guarda-Mor, João Pinheiro, Lagamar, Lagoa Grande, Paracatu, Presidente Olegário, São Gonçalo do Abaeté, Varjão de Minas e Vazante). Nesta última encontra-se o município de Paracatu (figura 3), distante 196 km de Brasília e 422 km da capital mineira, Belo Horizonte (IBGE, 2011a).

Essa mesorregião tem como características geográficas: área da unidade territorial [2010] de 8.229,592 km², de 8.229,595 km² [2016], altitude 696 m. O clima é tropical com estação seca (Classificação climática de Köppen-Geiger: Aw) e fuso horário UTC-3 (América/São Paulo). (IBGE, 2011a; 2018a).

O município é drenado pelo rio Paracatu, pertencendo à bacia do São Francisco, cortado por duas rodovias: a MG-188 e a BR-040.

Figura 3 – Localização de Paracatu em Minas Gerais.

Conforme o último Censo demográfico de 2010, é composto por 84.718 habitantes, dos quais 73.722 são moradores da área urbana e 10.946 da área rural, com densidade populacional de 10,29 hab./km² e área territorial constituída, predominantemente, pelo bioma típico do cerrado. (IBGE, 2011a).

O município tem uma população estimada [2017] em 92.386 pessoas com um aumento em relação ao censo de 2010 em torno de 7.668 habitantes, o que equivale a 9,06% percentual de crescimento. (IBGE,2018a).

Para analisar os dados demográficos de Paracatu, a escolha foi pela representação gráfica de pirâmide etária. Segundo Almeida (2005) o formato piramidal, o qual classifica o nome do gráfico pirâmide etária, aparece quando há mais população jovem do que adulta e idosa, formando uma estrutura de pirâmide, com a base mais larga que se estreita até chegar ao topo, mostrando que o número de população entre adultos e idosos diminui em comparação ao número de jovens.

Os tipos principais de pirâmides populacionais são classificados em pirâmide jovem, pirâmide adulta, pirâmide rejuvenescida e pirâmide envelhecida conforme a idade predominante da população.

Pena (2018a, n.p.) descreve a tipologia das principais pirâmides com a respectiva classificação a saber:

Pirâmide Jovem: possui uma base mais larga, em virtude dos altos índices de natalidade e um topo muito estreito, em função da alta mortalidade e da baixa natalidade em tempos anteriores. Esse tipo de pirâmide é visto com mais frequência em países subdesenvolvidos. Pirâmide Adulta: possui uma base também larga, porém com uma taxa de natalidade menor em face da população infantil e jovem. A pirâmide brasileira é um exemplo de pirâmide adulta. Pirâmide Rejuvenescida: apresenta um relativo aumento do número de jovens em relação a um período anterior, em função do aumento da fecundidade, geralmente em países desenvolvidos que estimulam a natalidade. Pirâmide Envelhecida: a população adulta é predominante e a base bem reduzida, apresentando uma quantidade de idosos significativamente maior em comparação às demais pirâmides. Esse tipo de pirâmide é mais comum em países desenvolvidos.

A representação gráfica foi construída com base nos dados do censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com a distribuição da população de Paracatu por sexo e segundo os grupos de idade. A pirâmide etária de Paracatu, apresentada no gráfico 1, mostra

que 50,28% (42.595 pessoas) são do sexo feminino e 49,12% (42.107 pessoas) do sexo masculino.

Quanto à distribuição por faixa etária e gênero, vista no gráfico 1, os dados revelam um predomínio expressivo da faixa etária de 31 a 64 anos, com aproximadamente 37% da população do município, sendo compostos por 19% de mulheres e 18% de homens. Na segunda posição, a faixa etária de 18 a 30 anos tem proporção equilibrada entre homens e mulheres (com aproximadamente 12,5% para cada) e, em terceiro lugar a faixa etária de 0 a 10 anos tem distribuição semelhante entre os gêneros (9,8% de mulheres contra 9,2% de homens).

Os achados referentes à pirâmide etária do município de Paracatu encontram ressonância com as características da Pirâmide Adulta, por ser típica de países com situação econômica em desenvolvimento com tendências de mudanças transitórias em suas pirâmides, as quais apresentam um aumento da população jovem em direção à adulta, gerando a essa faixa etária um aumento nos próximos anos. (ALMEIDA,2005).

Gráfico 1 – Paracatu: distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade (censo

2010).

A verificação das pirâmides etárias oportuniza a análise da situação econômica, qualidade e expectativa de vida de um país, um estado, uma região e um município. Além do mais, na perspectiva da pirâmide etária e tendo como premissa que o Brasil tem se apresentado no cenário mundial como um país em desenvolvimento, o qual possui uma faixa de transição entre jovens e adultos mais ampliada, demonstra um crescimento menor da qualidade e da expectativa de vida, que tende a evoluir após um tempo, se o mesmo mantiver o crescimento. Isso corrobora o resultado da pirâmide etária de Paracatu, o qual reflete boa parte da realidade brasileira.

Alguns indicadores socioeconômicos como Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e Produto Interno Bruto (PIB) revelam para Paracatu, segundo levantamento do IBGE, os seguintes resultados: IDHM [2010] de 0,744, considerado elevado, PIB [2010] R$ 2.126.292.000 mil, PIB per capita[2010] de R$ 24.884,05, PIB per capita [2015] de R$31.289,84. Ainda, total de receitas realizadas [2008] de R$ 103.538 mil e total das despesas realizadas [2008] de R$ 97.963 mil (IBGE, 2011a; 2018b)2.

Para planejamento e organização das políticas públicas de saúde, um dos indicadores utilizados para definir recursos financeiros e ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, é de composição multifacetária de riscos, qual seja, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), cujos indicadores esperança de vida ou mortalidade infantil expressam aspectos de vulnerabilidade social. Nesse caso, o baixo IDH constituirá um dos fatores de vulnerabilidade social e indicará investimentos socioeconômicos e políticos para a sua reversão.

A criação do IDH teve como propósito oferecer um contraponto a outro indicador, o PIB - per capita, que considera apenas a expressão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano. Na atualidade, o IDH é constituído por três pilares: saúde (uma vida longa e saudável, medida pela expectativa de vida); educação (acesso ao conhecimento, medido por média de anos de educação de adultos e a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar) e renda (padrão de vida medido pela renda nacional bruta per capita). (PNUD, 2015).

2 O uso dos indicadores socioeconômicos de diferentes anos deu-se pelo fato de não encontrar na busca dos dados

Além do mais, no bojo das atividades econômicas, o município de Paracatu, conta com 824 empresas diferentes entre estabelecimentos comerciais e de serviços. Destas, 151 foram classificadas como prestadoras de serviços (comerciais de atacado e varejo, pessoais, automotivos, de lazer, educacionais, jurídicos e/ou de saúde); 37 como de atividade econômica qualificada como pertencentes ao setor primário (agricultura, pecuária, forestação e/ou mineração) e 259 empresas como pertencentes ao comércio atacadista e/ou varejista de produtos alimentícios, bebidas e fumo; deartigos de usos pessoal e doméstico e de reparos de objetos pessoais e domésticos (MBI, 2018). Em relação aos dados de trabalho e rendimento, o salário médio mensal [2015] era de 2.7 salários mínimos, com a proporção de pessoas ocupadas em relação à população geral de 23,4%e,considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, concentravam-se 35.8% da população.

Em termos de infraestrutura e condições sanitárias, a cidade de Paracatu apresenta os percentuais de 79.3% de domicílios com esgotamento sanitário[2010] adequado, 20% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização[2010] e 28.3% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização[2010] adequada, com a presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio. (IBGE, 2011a).

De acordo com a Fundação João Pinheiro-FJP (2011a), foi elaborado o Plano Bi Decenal de Desenvolvimento Sustentável para o Município de Paracatu, nomeado Paracatu 2030, que se trata de um instrumento criado para orientar o crescimento municipal em bases sustentáveis do ponto de vista econômico, ambiental, social e institucional, ao longo de duas décadas.

Para o recorte do objeto de pesquisa, a opção foi pela microescala, demonstrada na figura 1, mencionado na página 33, que se refere aos bairros que foram escolhidos inicialmente: Alto da Colina, Bela Vista II, Amoreiras II e Esplanada, que são contíguos à zona de lavra da mineradora, bairros esses que compõem a periferia urbana de Paracatu.

De acordo com o levantamento realizado pelo município (PARACATU, 2017) sob a responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Planejamento, foi definida a Unidade Espacial de Planejamento (UEP/URB) que demonstra que os 04 bairros, Alto da Colina, Bela Vista II, Amoreiras II e Esplanada, contíguos a área de lavra da empresa mineradora, estão localizados na URB 1, cuja delimitação não necessariamente coincide com aquela do IBGE (2010c) relativo a setores censitários como visto na figura 4.

Figura 4 – Paracatu (MG): área da lavra, UEP-URB1, bairros da amostragem e bairros adjacentes.

A seleção da escala para realização da coleta de dados primários e a opção pelos bairros (microescala) apresentada no item 1.2 por entendermos que a proximidade da área física de operação do empreendimento minerário, e por conseguinte, dos efeitos decorrentes de suas atividades, assim como as características próprias de bairros periféricos que em geral têm escassez no acesso aos equipamentos sociais e serviços públicos, levou à definição com maior clareza do universo da pesquisa e delimitou melhor a abrangência do objeto de estudo.

Castro (1995) compartilha da ideia de que a escolha da escala corresponde a uma opção metodológica do sujeito pesquisador para recortar/delimitar o espaço. Ademais, a intencionalidade do sujeito-pesquisador decorre da escolha do que seja pertinente e pela determinação de uma escala segundo a definição do recorte espacial.

Conforme mostra a figura 4, os bairros Alto da Colina e Bela Vista II, com a população total de, respectivamente, 838 e 646 pessoas residentes, têm delimitação coincidente com o setor censitário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

No entanto, os bairros Amoreiras II, Esplanada e Nossa Senhora Aparecida pertencem a mais de um setor censitário cada bairro e o total de 1.302, 996 e 1.456 habitantes, respectivamente, representa a somatória do número de diferentes setores censitários de pertença como aponta a figura 4.

Os equipamentos sociais e serviços públicos existentes nos bairros Alto da Colina e Bela Vista II disponíveis para os seus moradores, assim como os equipamentos e serviços ofertados fora dos limites do bairro e/ou do setor censitário, ou melhor dizendo, de bairros adjacentes, apresentados na figura 5, mostra a espacialização dos equipamentos sociais e serviços públicos ofertados e as formas de acesso dentro e fora dos limites dos dois bairros citados.

Quanto aos serviços que compõem os estabelecimentos educacionais públicos apontados na figura 5, identificados na Unidade Espacial de Planejamento Urbano – UEP- URB1, localizada no bairro Alto da Colina está a Escola Municipal Gidalte Maria dos Santos, que oferece as etapas de ensino Infantil e fundamental. No bairro Bela Vista II está a Escola Municipal PEM Lúcia Cruz Gonçalves que, por sua vez, oferece as etapas de ensino infantil – pré-escola e está localizada no bairro Bela Vista I. A população estudantil do bairro Bela Vista II tem a opção de deslocar-se para a Escola Municipal Coraci Meirelles Oliveira no bairro Amoreiras II.

Figura 5 – Paracatu (MG): equipamentos sociais e serviços públicos nos bairros da amostragem e circunvizinhos.

Observa-se na figura 5 que o acesso dos moradores de ambos os bairros aos serviços educacionais públicos de ensino médio requer deslocamento para a Escola Estadual Virgílio de Melo Franco e Escola Estadual Afonso Arinos, localizadas fora dos limites dos bairros acima citados.

O acesso à creche pública para as crianças dos bairros da amostragem, implica em deslocamento até a Creche Municipal Domingos de Oliveira que fica no bairro Amoreiras II.

Em relação à disponibilidade de serviços públicos de saúde como mostra a figura 5, observa-se que inexiste nos dois bairros pesquisados serviços de atenção primária à saúde e, por isso, o acesso da população residente se dá pelo deslocamento até os bairros Amoreiras II, à Unidade Básica de Saúde-UBS, Amoreiras I, ao Programa de Saúde da Família-PSF Amoreiras, e ao Programa de Saúde da Família-PSF Bela Vista I todos fora dos limites dos bairros Alto da Colina e Bela Vista II. Para as necessidades de saúde hospitalar, inclusive urgência e emergência, o deslocamento se dá até o Hospital Municipal de Paracatu.

Os serviços públicos sociais existentes, como visto na figura 5, são o Centro de Referência de Assistência Social-CRAS Bela Vista, localizado no bairro Bela Vista I, que atende os moradores dos bairros Bela Vista II e Alto da Colina, o Banco de Alimentos Municipal, e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social que estão fora dos limites de ambos os bairros. Quanto ao serviço público afeto à segurança, têm-se a Delegacia de Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal comumente localizados fora dos limites dos bairros citados e da UEP-URB1.

Na figura 5, quanto aos equipamentos sociais existentes no bairro Alto da Colina, destaca-se para a prática de esportes, uma quadra poliesportiva. Já no bairro Bela Vista II é necessário acessar a quadra poliesportiva localizada no bairro Bela Vista. Outros equipamentos sociais como praças e templos religiosos, localizam-se fora dos limites dos respectivos bairros, como a Igreja Presbiteriana de Paracatu, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Metodista em Paracatu, Igreja Matriz de Paracatu e as praças que se encontram fora dos bairros contíguos à área de lavra, assim como, da UEP-URB1.

Observam-se vazios assistenciais em termos de serviços públicos ofertados nos limites dos bairros da amostragem, assim como, escassez de equipamentos sociais como indicados na figura 5.

Mapa 1 – Paracatu (MG): localização e área de atuação da Kinross Brasil Mineração S. A.

explora ouro no Chile, Estados Unidos, Canadá, Gana, Mauritânia e Rússia. No Brasil, no Estado de Minas Gerais, no município de Paracatu as instalações da Kinross Brasil Mineração S/A encontra-se nos limites de bairros contíguos e da área urbana de Paracatu, compreende áreas de lavra, industrial e de rejeitos.

As instalações da Kinross Brasil Mineração S/A, em Paracatu, vista no mapa 1, compreende uma mina (área da lavra), denominada de Morro do Ouro, que se estende por 6,5 quilômetros quadrados; uma usina de beneficiamento (área industrial), cuja extensão é de 0,61 quilômetros quadrados; e locais para disposição de rejeitos minerais (áreas de rejeitos), barragens Eustáquio e Santo Antônio, que ocupam 17,72 quilômetros quadrados (KINROSS, 2017).

De acordo com Amado (2019) o grupo canadense Kinross Gold Corporation atua em pesquisa e desenvolvimento mineral, mineração, beneficiamento e comercialização de ouro. No Brasil, é responsável por 22% da produção nacional. No mundo, encontra-se presente também no Chile, Estados Unidos, Canadá, Gana, Mauritânia e Rússia. A mina Morro do Ouro tem vida útil esperada até 2032 e começou a ser explorada em 1987.

Destaca-se que a Kinross Brasil Mineração, pertence ao grupo Kinross Gold

Corporation, empresa multinacional fundada em 1993 em Toronto, no Canadá. Ela atua nas

áreas de extrativismo mineral, mineração, beneficiamento e comercialização de ouro (KINROSS, 2017), conforme mencionado anteriormente. Obviamente o negócio multinacional se insere no Brasil, numa perspectiva de atuação de megaempreendimento estrangeiro dentro da política neoliberalista vigente no país.

Ressalta-se que a produção em 2018 foi considerada recorde, atingindo o montante de 14,7 toneladas de ouro. (AMADO, 2019). Porém, é preciso considerar uma outra vertente: para além da questão econômica, a atividade minerária apresenta uma série de impactos no município, assim como de riscos e perigos para a população residente em Paracatu, principalmente os grupos populacionais localizados próximos à empresa, como pode ser visualizado no mapa 1.