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Características dos armazéns, tais como localização, perfil (tipo, grãos armazenáveis, desempenho de seus equipamentos - movimentação, secagem, aeração, entre outros aspectos técnicos) e condições operacionais em que se encontram, também são fatores que devem ser minuciosamente avaliados em uma análise acerca da suficiência da capacidade instalada dos armazéns e/ou da necessidade, ou conveniência, de investimentos, tanto na expansão da capacidade estática, como também, em paralelo ou alternativamente, em melhorias e adequações das instalações existentes, incrementando, desta forma, o índice de rotação destes armazéns.

No tocante à localização e adequação dos armazéns instalados no país, pode-se observar que, em função das necessidades e demandas atuais, diversas ineficiências surgem no sistema existente: subutilização, excesso de oferta em determinadas regiões enquanto o inverso (carência) ocorre em outras27 e existência de armazéns inadequados à produção local28.

Tais requisitos (localização e tipo) constituem, a princípio, “problemas históricos”, uma vez que, “em alguns estados, a rede ainda comporta construções antigas por conta da herança

da lavoura cafeeira, como no Estado de São Paulo; a localização nem sempre acompanha a migração da agricultura” (NOGUEIRA Jr. e TSUNECHIRO, 2005b, p. 1).

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Gallimore (1981) nota que, nos EUA, os Estados localizados mais distantes dos principais mercados domésticos e portos de exportação são os que possuem a maior relação capacidade de armazenamento nas fazendas pela produção. Entende-se que tal disposição represente a maior sensibilidade à sazonalidade dos fretes, cuja oscilação afetaria com mais intensidade as localidades mais distantes dos pontos finais.

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Por exemplo, utilização de armazéns convencionais para estocagem de granéis, gerando perdas, deterioração e degradação dos grãos armazenados, bem como maiores custos operacionais.

Já Deckers (2006, p. 2) entende que “não se pode afirmar que o problema de carência

de armazéns no Brasil está resolvido. A expansão da capacidade nacional não se fez de forma uniforme e o déficit de armazenagem ainda existe em determinadas regiões. Os dados indicam que no Norte e Nordeste o volume de armazéns não é suficiente para a colheita, enquanto no Sudeste sobram armazéns. (...). A região Centro-Oeste apresenta uma peculiaridade que se destaca com mais intensidade das demais regiões. Em que pese a capacidade estática desta região ser superior a respectiva produção, a carência de armazéns em várias microrregiões e a elevada capacidade estática das empresas que recebem basicamente soja geram a falta de espaços localizados para o recebimento de outros produtos. (...) Também, não se pode deixar de levar em consideração que nem sempre a modalidade de armazenamento disponível em determinado local é compatível com a sua necessidade”.

Nesse contexto, o trabalho de Rocha (2008) é bastante ilustrativo da problemática, uma vez que mesmo dentro de uma região (MT) que apresente déficit de armazenagem (6,43 milhões de toneladas29, ou 36% da produção, em 2003), pode haver microrregiões com armazéns ociosos (Primavera do Leste, 254 mil toneladas de capacidade excedente, Cuiabá, 166 mil toneladas, Rondonópolis, 113 mil toneladas e Tangará da Serra – 66 mil toneladas), significando inclusive que, considerando somente as microrregiões onde há carência de armazenagem, o déficit total é maior que aquele calculado para o Estado (6,43 milhões de toneladas).

Já Nogueira Jr. e Tsunechiro (2005a), para avaliar a ociosidade dos armazéns brasileiros, elaboraram o indicador que considera a relação produção/capacidade estática e a capacidade dinâmica (índice de rotação adotado igual a 1,5), onde um número acima de 1 indicaria que a demanda supera a capacidade dinâmica, e abaixo de 1 apontaria ociosidade. Os resultados obtidos mostram carência no país como um todo e, principalmente, revelam uma má distribuição de armazéns, havendo deficiências em determinados locais e excesso de capacidade em outros.

Estado (Prod./ Capest ) / Cap. Dinâmica

Paraná 1,15

São Paulo 1,69

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Rio Grande do Sul 0,80

Mato Grosso 0,93

Goiás 0,77

Minas Gerais 1,56

Mato Grosso do Sul 1,14

Santa Catarina 1,50 Bahia 1,57 Maranhão 2,81 Ceará 2,80 Pernambuco 1,80 Alagoas 3,89 Pará 3,58 Rio de Janeiro 3,31 Tocantins 0,61 Espírito Santo 0,70 Piauí 3,25 Rondônia 2,39

Rio Grande do Norte 3,65

Distrito Federal 0,90 Sergipe 12,44 Paraíba 3,57 Roraima 5,78 Amazonas 5,13 Acre 2,57 Amapá 4,24 BRASIL 1,14

Tabela 2.4 – Relação produção/capacidade estática pela capacidade dinâmica dos armazéns Fonte: Nogueira Jr. e Tsunechiro (2005a) - adaptado. Base: 2003.

Ressalta-se que os resultados acima não consideram o tipo de armazém e o perfil da produção, pois caso a análise seja desagregada em armazéns convencionais e a granéis, bem como a respectiva demanda existente, os desequilíbrios encontrados são maiores (NOGUEIRA JR. e TSUNECHIRO, 2005a).

Mesquita et al. (2007, p. 19), avaliando o sistema de armazenagem brasileiro, concluíram, a partir das “taxas de ocupação”, “pela ineficiência e não efetividade do sistema de

Outro fenômeno que se sucede, decorrente da má localização dos armazéns, é o “passeio

dos grãos”: quando produtos são levados da região produtora para serem armazenados nos

centros consumidores (por falta de infraestrutura armazenadora próxima) e, posteriormente, voltam às regiões de origem para atender às necessidades locais na entressafra (PUZZI, 2000). Tal prática se configura em um contrassenso econômico, uma vez que os fretes tendem a encarecer no período da colheita30 e, portanto, tal movimentação enseja transporte do produto justamente na época que seu custo é mais elevado.

Acerca da seleção da local de implantação de um armazém, Ballou (1993) listou os seguintes fatores que devem ser levados em consideração31:

- Leis locais de zoneamento;

- Atitude da comunidade e do governo local com relação ao armazém; - Custo para desenvolver e conformar o terreno;

- Custos de construção;

- Disponibilidade e acesso a serviços de transporte; - Potencial para expansão;

- Disponibilidade, salários, ambiente e produtividade da mão de obra local; - Taxas relativas ao local e à operação do armazém;

- Segurança do local;

- Valor “promocional” do local;

- Taxas de seguro e disponibilidade de financiamento; - Congestionamento de tráfego nas redondezas do local.

Outro aspecto ao qual se deve dar atenção são as condições dos armazéns existentes, uma vez que situações precárias levam à subutilização, tanto em função de espaços não ocupados, como também de ineficiências geradas nas operações rotineiras, o que impacta os níveis de utilização do sistema de armazenagem como um todo, diminuindo sua produtividade e exigindo, então, uma maior capacidade estática instalada. Nesse contexto, DECKERS (2006, p. 12) observa que “a deficiência de fluxo na capacidade de processamento (pré-limpeza, secagem

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Ver item 2.8.2 – Variação Sazonal de Fretes Rodoviário.

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Ressalta-se que o autor tem o foco em empreendimentos industriais e comerciais e, portanto, nem todos os pontos destacados são aplicáveis no caso da produção agrícola.

e limpeza) e movimentação interna de produtos nas unidades armazenadoras, principalmente naquelas mais antigas, são fatores que também prejudicam o rápido escoamento da safra”.

Nogueira Jr. e Tsunechiro (2005a, p. 17) também alertam para o fato de que “a qualidade das unidades existentes e a sua adequação (granel x sacaria) ainda deixa a desejar, sobretudo nas regiões tradicionais, pela própria idade das instalações, dada a menor inversão de recursos em infra-estrutura, em contraponto àquelas com incorporação recente de novas áreas ao processo produtivo, onde predominam unidades para armazenagem a granel”.

Assim, os aspectos aqui considerados são determinantes, tanto na avaliação da armazenagem do país, quanto sob o ponto de vista de um investidor em armazéns próprios (produtor agrícola, tradings ou prestadores de serviços). Dessa forma, deve-se observar a adequação (tipo) e condições (fluxo de operações e estado físico, entre outros aspectos) dos armazéns existentes, principalmente, “nos programas de investimentos do Governo para o setor

armazenador” (DECKERS, 2006, p. 12), pois a capacidade dinâmica pode ser aumentada32

com:

(i) alteração do tipo dos armazéns ociosos; (ii) incremento na movimentação dos grãos

(transbordo, limpeza, secagem) e (iii) melhorias na manutenção.

Nessa linha, Deckers (2005, p. 42) também recomenda: “deve-se também levar em

consideração as localidades onde não existe déficit de espaço para armazenagem, mas inadequação da modalidade existente (armazéns convencionais) em face da demanda (produção granelizada). Portanto não é recomendável que se proponha a construção de novas unidades armazenadoras, baseando-se somente na correlação da capacidade estática e da produção agrícola, com alta probabilidade de superestimar a necessidade dessa medida”.

Pontes et al. (2009, p. 171) também concluíram que os problemas da armazenagem não se resumem à capacidade estática instalada: “As principais causas dos problemas de

armazenagem são as deficiências na sua rede de armazenamento, seja com relação à insuficiência da capacidade de estocagem ou em função da necessidade de adaptações e modernização das unidades”.

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Deckers (2005, p. 13) entende que é “necessário que o dimensionamento da situação de armazenagem contemple

Destarte, um produtor agrícola deve considerar a localização e o perfil da propriedade (o excesso ou carência de armazéns na região, a possibilidade se utilizar o armazém próprio para produtos de terceiros e a perspectiva de manter a produção, no longo prazo, de grão adequado ao tipo da instalação planejada), bem como cotejar alternativas de estocagem e escoamento , tais como investimentos em cotas de armazéns coletivos33 e/ou equipamentos de transportes (caminhões e carretas). Por fim, deve-se atentar também para a existência ou não de “carga de retorno34”, que pode ter implicações positivas ou negativas no custo de transporte (LIMA, 2006).