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CAPÍTULO 2 – PANORAMA SOBRE OS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS

2.4. Logística Reversa

A PNRS dispõe sobre a necessidade de implementação da responsabilidade compartilhada no ciclo de vidas dos REE, agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes e lâmpadas. Para tanto, indica que os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes devem realizar e operacionalizar a logística reversa de forma independente do serviço público, mediante retorno dos produtos após o uso do consumidor. A lei sugere medidas como: implantar compra de produtos ou embalagens usadas; disponibilizar postos de entrega desses resíduos; e atuar em parcerias com cooperativas ou associações de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

No que tange ao consumidor, a lei indica que deverão efetuar a devolução desses resíduos, após o uso, aos comerciantes ou distribuidores dos produtos e das embalagens. Já os comerciantes e distribuidores deverão repassá-los aos fabricantes ou importadores dos respectivos produtos. Cabe a estes últimos destinar os resíduos de modo ambientalmente adequado de acordo com o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) ou plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos (BRASIL, 2012). Os participantes do sistema de logística reversa, exceto o consumidor, devem manter atualizadas informações completas sobre a realização das ações de sua responsabilidade, bem como disponibilizá-las aos órgãos municipais e outras autoridades. Todavia, como discutido anteriormente apenas um estado brasileiro possui leis de gestão dos REE.

52 A logística reversa surge como uma alternativa à geração de resíduos domésticos e eletrônicos, já que pode diminuir o uso dos recursos não renováveis (MAGERA, 2013). De acordo com Miguez (2010) de forma simples, a logística direta parte desde a compra de matéria-prima, armazenamento, movimentação na empresa, até o transporte ao cliente. Já a logística reversa é o processo no qual os produtos saem dos diversos clientes e chegam às empresas receptoras. Magera (2013) acentua ainda que a logística direta tem uma rota definida e um preço uniforme no mercado; já a reversa não possui uma rota precisa e muitas vezes os produtos inteiros acabam nos aterros. Salienta que os custos desta última dependem do volume comercializado, rastreabilidade, tipo de material e distância.

Sendo assim, a logística reversa é um conjunto de ações que visam à coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, a fim de reaproveitá-los em seus ciclos produtivos, ou destiná-los de modo ambientalmente adequado. Tal procedimento possibilita uma otimização dos produtos e integra valor socioambiental. As etapas da logística reversa são: descarte, recebimento, triagem, reciclagem e disposição final. Cada uma dessas fases geralmente é desenvolvida em diferentes organizações (BRASIL, 2013a).

A logística reversa é a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros (LEITE, 2003, p. 16).

O estabelecimento do sistema de logística reversa fortalece o mercado da reciclagem no Brasil e gera benefícios econômicos, sociais e ambientais. O Quadro 8 apresenta algumas vantagens deste sistema.

Quadro 8: Benefícios do Sistema de Logística Reversa

Sociais Econômicos Ambientais

- Geração de empregos formais - Fortalecimento das associações de catadores com

geração de oportunidades de prestação de serviços ao

sistema

- Promoção de uma maior conscientização da população

quanto às questões

- Maior retorno ao mercado de matérias-primas advindas da

reciclagem de REEE - Fortalecimento da indústria da

reciclagem pelo consequente aumento da demanda - Desenvolvimento de conhecimento e tecnologias relacionada a reciclagem de REEE - Diminuição de casos de descarte incorreto de REEE - Melhoria da qualidade dos serviços de reciclagem e consequente menor nível de

rejeitos nos aterros - Redução de gasto energético por conta de uso de reciclados (p.e.: o gasto de energia para reciclagem de alumínio é 95%

53 ambientais relacionadas aos

equipamentos eletroeletrônicos - Minimização de problemas

de saúde causados pelo manuseio incorreto de REEE

menor do que para sua produção primária)

Fonte: Brasil (2013a, p. 99).

Tendo em vista os REE, promover a logística reversa significa menos produção e menos resíduos perigosos. O reuso também indica uma diminuição na extração de matéria- prima, menor consumo de energia e menos poluição nas três fases do ciclo de vida, que de modo geral é a extração de matéria-prima, fabricação e descarte/reciclagem de produtos (MIGUEZ, 2010). O ciclo de vida de um produto consiste em sua história desde a concepção, definição, produção, operação e obsolescência. Nesse sentido, a logística reversa busca fechar o ciclo, já que promove a reciclagem do último estágio (obsolescência), retornando o produto ao mercado de matérias-primas recicladas (BRASIL, 2013a).

O sistema de logística reversa para EEE apresenta algumas particularidades, como: a adesão do usuário depende da facilidade do descarte dos equipamentos; os diferentes produtos sugerem sistemas de descarte diferenciados; e a confiabilidade do sistema no tratamento de equipamentos como computadores, telefones e tablets deve ser garantida ao consumidor, ou este evitará o descarte. Também se faz relevante a transferência da titularidade a partir de termos de doação, que garantam a legalidade de seu transporte (BRASIL, 2013a).

O grande desafio da logística reversa reside no custo associado à operacionalização do sistema em um país de extensão continental e com suas particulares complexidades logísticas. É sabido que qualquer sistema que seja estabelecido incorrerá em maiores dispêndios, ora tratados como custos quando apreciados sob a ótica puramente econômica, ora encarados com investimento necessário para um mundo sustentável. Um olhar mais atento e consciente a essa questão indica que o aparente aumento de custo não configura de fato um aumento, mas sim a antecipação de custos que incorreriam no futuro para remediar o impacto negativo ao meio-ambiente causado pelo descarte inadequado de resíduos (BRASIL, 2013a, p. 18).

Diante do aumento da velocidade de descarte, a logística reversa tornou-se um desafio. Como também, a descartabilidade dos produtos têm provocado um desequilíbrio, posto que faltam canais estruturados de distribuição reversa, o que agrava o problema da disposição final dos REE. Para Leite (2003) essa problemática pode ser visível à sociedade por meio de

54 lixões, locais abandonados, córregos ou rios, contudo a contaminação não ocorre somente visualmente.

Essa descartabilidade pode ser percebida na indústria de consumo dos EEE, porquanto há um padrão de competição estabelecido, no qual frequentemente são lançados novos produtos com diferentes designs, funcionalidades e tecnologias incrementadas. Tal prática encurta a vida útil média dos produtos (BRASIL, 2013a).