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CAPÍTULO 2 – PANORAMA SOBRE OS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS

2.5. Obsolescência

A obsolescência programada consiste na vida curta de um produto, o qual intencionalmente foi projetado para funcionar por um período reduzido. Deste modo, a obsolescência tem a finalidade de levar o consumidor a adquirir produtos pelo desejo do novo, da marca e do significado social; não há uma necessidade de funcionalidade, nem se reflete sobre questões ambientais (GONÇALVES, 2011; MAGERA, 2013).

O ciclo de vida desse tipo de equipamento está cada vez mais curto, dada à rápida evolução tecnológica das últimas décadas, o que acaba por acelerar o processo de obsolescência desses equipamentos. Com isso, o uso, o tratamento e a destinação dos Resíduos de Equipamento Eletroeletrônicos (REEE) tornam-se uma preocupação mundial. Metas de longo prazo, estabelecidas anteriormente para a gestão de resíduos domésticos, parecem não ser suficientes para a gestão de resíduos tecnológicos, em função do seu aumento em quantidade e variedade, bem como da pouca disseminação de técnicas de tratamento desses resíduos eficientes e de custo aceitável para a maioria dos países (XAVIER; CARVALHO, 2014, p. 5).

A obsolescência programada integrou um fenômeno industrial e mercadológico que surgiu na década de 1930, quando alguns países, principalmente os EUA, registraram um alto índice de desemprego, devido à depressão econômica de 1929. O conceito da obsolescência programada surgiu em 1932 pelo investigador imobiliário Bernard London, o qual acreditava que os produtos deveriam ter seu ciclo de vida interrompido, para que os consumidores retornassem às compras, gerando maior procura e consequentemente mais emprego. Contudo, somente nos anos 50 a ideia da obsolescência programada foi resgatada. O consumidor foi despertado através dos meios de comunicação, novos designs e novas funções nos produtos. Assim, o desejo de ter o novo, o moderno, o produto que a sociedade tem é conhecido como obsolescência percebida, esta se estabelece através da alteração do formato, cor ou recursos de um equipamento de modo que o modelo anterior torne-se obsoleto (ALADEOJEBI, 2013; GONÇALVES, 2011; MAGERA, 2013; SLADE, 2007).

55 De acordo com Aladeojebi (2013) há três tipos de obsolescências consideradas físicas: a que limita o design de vida funcional, na qual os fabricantes projetam os produtos para funcionarem em um período definido de tempo; design para reparo limitado, que possuem itens difíceis de reparar ou com altos preços, o que conduz o consumidor a substituí-los; e estética de design, que leva a uma satisfação abreviada até novos modelos surgirem. Para o autor a obsolescência técnica ou tecnológica é a denominação dada a obsolescência que contempla os produtos tecnológicos, nos quais alcançam o consumidor através do design de aprimoramento, com mais funções e com uma regularidade na elaboração de modelos novos.

O consumo de bens de uma sociedade apresenta relação com seus valores. Godecke, Naime e Figueiredo (2012) afirmam que os resíduos sólidos produzidos pela população, não está relacionado somente ao nível de riqueza, mas os valores e hábitos de vida são fatores que determinam o grau de disposição ao consumo. Nesse contexto Gonçalves (2011) discorre,

Mas podemos nos perguntar: por que é tão importante ter um padrão de vida como o dos países ricos? Será que nossa qualidade de vida está realmente associada às conquistas materiais? Se você pensar bem, nós é que somos consumidos pelo consumo. Somos atropelados desde o modo como os produtos são produzidos, divulgados, consumidos, descartados, sem mesmo nos darmos conta do seu custo social e ambiental (GONÇALVES, 2011, p. 9).

A mídia é uma forte influenciadora ao consumo, a qual promove a ideia da necessidade de obtenção. Magera (2013) aponta que a publicidade é uma ferramenta usada para atrair novos consumidores e garantir os antigos sempre comprando, assim as campanhas possuem a finalidade de criar novas identidades para os produtos e consumidores. Todavia, não se abordada questões sobre a produção ou destinação do lixo, ou seja, o que for considerado descarte deve ser direcionado ao aterro. Gonçalves (2011) destaca:

[...] é necessário que haja uma mudança nas campanhas publicitárias de muitos produtos, que privilegiam a ideia de um consumo privado, individualizado, e com isso nos levam a comprar sem levar em conta os impactos sociais e ambientais que a produção, o consumo e descarte daquele produto provocam na natureza, na sociedade e, mesmo na saúde dos consumidores (GONÇALVES, 2011, p. 11).

Percebe-se que a geração de lixo eletrônico cresce com o desenvolvimento de inovações tecnológicas como celulares, tablets, computadores e televisores, visto que, os usuários desses equipamentos buscam frequentemente obter versões mais modernas. Nesse contexto, torna-se desejável instigar os alunos à reflexão do consumo consciente. Segundo Brum e Hillig (2010),

56 Os jovens e as crianças formam o grupo social mais vulnerável diante da influência da mídia, a pouca experiência e os estudos incompletos, facilitam o desmedido consumo de produtos, muitas vezes, completamente supérfluos. Com isso, faz-se necessário trabalhar algumas formas estratégicas de conscientização da juventude, para o desenvolvimento do senso crítico e a busca de um estilo de vida mais saudável para todo planeta (BRUM; HILLIG, 2010, p. 120).

Nesse aspecto Gonçalves (2011) destaca que o consumo consciente é aquele que visa uma sociedade mais equilibrada, como menos desperdício, menos lixo, que economiza os recursos naturais e faz do consumo uma ação refletida, de incentivo ou protesto. A autora apresenta sete tipos existentes de consumo, os quais são apresentados no Quadro 9.

Quadro 9: Apresentação e descrição dos tipos de consumo

Tipo de Consumo Descrição

Consumo alienado

Tem a mídia e a publicidade como influência. Utiliza os produtos para promover a identidade ou situações que as pessoas gostariam de usufruir ou ser.

Consumo compulsório

Trata-se de um consumo que visa impelir as pessoas a satisfazerem suas necessidades por falta de opção ou dinheiro. Neste último caso, os consumidores buscam sempre o mais barato sem refletir sobre a qualidade ou marca do produto.

Consumo para o bem viver

Esse público não se deixa levar pela publicidade e tem recursos para escolher o que deseja comprar. Optam por produtos e serviços a fim de realizar seu bem viver, todavia não refletem sobre os impactos socioambientais do consumo.

Consumo solidário

É praticado visando não somente o bem estar pessoal, mas do bem viver coletivo. Trata-se de um consumo que prefere serviços e produtos da economia solidária ao invés de usufruir de produtos de empresas que exploram os trabalhadores e o meio ambiente.

Consumo crítico

Apresenta como lógica que cada ato de consumo promove um gesto de proporções planetárias. Consiste em escolher o que há de ser consumido pautando-se não somente no preço ou status social, mas também pelo processo produtivo e o comportamento das empresas sobre uma perspectiva ética, econômica e solidária.

Consumo verde

O consumidor busca uma melhor qualidade no preço, contudo prefere produtos que não agridam o meio ambiente nas etapas de produção, distribuição, consumo e descarte final. Vale salientar que diversos produtos podem ser verdes sem serem sustentáveis.

Consumo sustentável

Não se trata apenas de um consumo e sim de uma situação social geral. Envolvem ações coletivas, mudanças políticas, avanços tecnológicos, econômicos e instrucionais. Objetiva mudança de hábitos do consumo e da produção visando a sustentabilidade.

Fonte: Gonçalves (2011).

Ante o exposto, trabalhar o consumo na educação possibilita uma visão reflexiva sobre as diversas influências externas que contribuem para a adesão de produtos, como também

57 pode proporcionar uma discussão quanto aos valores socioeconômicos e as implicações ambientais decorrentes do consumo desenfreado. Para Bazzo (2018) a sociedade precisa ser questionada e remodelada, pois o consumo excessivo que é gerado pelas necessidades supérfluas custará ao meio ambiente à sociedade. Assim, é imprescindível iniciar um processo de conscientização sobre os valores necessários à sequência da vida, sabendo que este é o desenvolvimento que realmente interessa.

Por conseguinte, diante de uma lei brasileira que está aquém do ideal para os REE e que repercute em informações incertas sobre a gestão e o descarte desses resíduos; necessita- se de uma política pública que não se exima da função legislativa, no que se refere à elaboração de leis consistente e claras a respeito desses resíduos. Para tanto, é desejável que se considere a realidade dos estados e dos municípios quanto a aspectos ambientais, sociais, econômicos e empresariais. Mediante isto, será possível requerer o cumprimento de exigências, pré-estabelecidas e consentidas, através da fiscalização legítima realizada pelas entidades governamentais e pela sociedade.

A omissão da problemática dos REE à população, leva ao alienamento dos direitos e deveres cabíveis aos cidadãos. Isto é, a responsabilidade das entidades em gerir os resíduos é passada à população, esta armazena os REE em suas residências ou descartam de modo incorreto devido desconhecerem a destinação adequada para esses resíduos; como também não sabem qual sua função nesse ciclo. As consequências ambientais e à saúde relacionadas aos REE são questões de interesse público e por isso precisam ser divulgadas. O cidadão bem instruído será capaz de questionar e exigir posicionamento dos setores responsáveis.

Nesse cenário, introduzir na escola uma problemática global que é discutida a nível nacional e percebida a nível local, pode auxiliar na formação de cidadãos participativos. Através de uma educação que questiona a realidade, torna-se possível provocar inquietações para um olhar com novos significados. Assim, o conhecimento das ciências atrelado ao desenvolvimento de habilidades sociais pode subsidiar mudanças de postura, como defendido pela abordagem CTS. É essa perspectiva que esta pesquisa considera.

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