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II. Enquadramento Teórico

3. S-D Logic

O Service-Dominant Logic, ou a Lógica Dominante do Serviço, é considerado como um modelo de troca centrado no serviço. Essa troca pode ser realizada em forma de meios “intangíveis, competências, dinâmicas, processos de troca e relacionamentos e recursos operantes”. (Vargo e Lusch, 2004: 4)

Esta nova lógica dominante, de acordo com os mesmos autores, veio contrariar a ideia de que o marketing se foca no output tangível, cujo foco estava retratado apenas em actividades directas, realizadas através de transacções estáticas ou discretas. Com esta nova perspectiva, existirá uma troca de relacionamentos realizada de forma dinâmica, que envolve processos de desempenho e troca de competências e/ou serviços, nos quais o valor é co-criado pelo consumidor/utilizador.

A perspectiva do S-D Logic defende que todas as trocas são baseadas em serviço, e que “quando os bens estão envolvidos, estes são ferramentas de entrega e aplicação de recursos”. (Vargo e Lusch. 2006: 43)

De acordo com Vargo e Lusch (2008), o S-D Logic passou por diversas alterações, relativamente às suas premissas originais, sendo estas devidamente alteradas e explicadas quanto à razão da sua modificação, como pode ser analisado na tabela seguinte.

Pre missas originais Pre missas modificadas ou novas pre missas Fundame ntação

1.

A aplicação de competências especializadas e de conhecimento

são a unidade fundamental de mudança

O Se rviço é a base fundamental da mudança.

A aplicação de recursos operantes (conhecimento e competências), "serviço" definido em S-D Logic, é a base para toda a mudança. O serviço é a mudança do serviço.

2. A mudança indirecta dita a

unidade fundamental de mudança.

A mudança indirecta dita a base fundamental de mudança.

Porque o serviço é providenciado através de uma complexa combinação de bens, dinheiro e instituições, a base da mudança do serviço não é sempre

aparente.

3.

Os bens são o mecanismo de distribuição para a provisão de

serviço.

Os bens são o mecanismo de distribuição para a provisão de

serviço.

Os bens (duráveis ou não duráveis) recebem o seu valor através do uso -

o serviço que eles providenciam.

4.

O conhecimento é a base fundamental da vantagem

competitiva.

Os re cursos ope rante s são a base fundamental da vantagem

competitiva.

A capacidade comparativa para causar a mudança desejada conduz à

competição.

5. Todas as economias são

economias de serviço.

Todas as economias são economias de serviço.

O serviço está apenas agora a tornar- se mais aparente com o crescimento da especialização e do outsourcing .

6. O cliente é sempre um co-

produtor.

O cliente é sempre um co-

criador de valor.

Implica que a criação de valor seja interaccional.

7. A empresa apenas pode fazer

preposições de valor.

A empresa não pode e ntre gar

valor, mas pode oferecer

proposições de valor.

As empresas podem oferecer os seus recursos aplicados para a criação de

valor e colaborativamente (interactivamente), criam valor seguindo a aceitação de proposições

de valor, mas não podem criar ou entregar valor independente.

8. Uma visão centrada no serviço é

orientada e ligada ao cliente.

Uma visão centrada no serviço é

ine re nte me nte orientada e

ligada ao cliente

Porque o serviço é definido em termos de beneficio determinado co-

criado pelo cliente, é inerentemente orientado e ligado ao cliente.

9.

As organizações existem para integrar e transformar competências microespecializadas

em serviços complexos que são exigidos no mercado.

Todos os actore s e conómicos e sociais são inte gradore s de

re cursos.

Implica o contexto de criação de valor é rede da rede (integradores de

recursos)

10.

O valor é se mpre unicame nte e fe nome name nte de te rminado pe lo

be ne ficiário.

O valor é ideossincrático, experiencial, contextual e de

significado forte.

Tabela 2 – S-D Logic: Premissas originais, alterações e respectivas fundamentações.

Fonte: Vargo e Lusch (2008)

3.1. Valor em transacção e valor em uso

As ópticas, tradicional e emergente, do Marketing defendem diferentes formas de determinação e significado do valor. Na lógica tradicional centrada em bens, segundo Vargo e Lusch (2004: 7), “o valor é determinado pelo produtor e é incorporado no recurso operado, definido em termos de valor de transacção”. Por outro lado, numa lógica

dominante centrada no serviço, e dependendo do contexto onde esse valor se realiza “o valor é percebido e determinado pelo consumidor, na base do valor de uso. O valor resulta da aplicação de recursos operantes, por vezes transmitidos através de recursos operados”.

3.2. Recursos operantes e recursos operados

Através dos recursos operantes e dos recursos operados, existe a distinção entre a lógica centrada nos bens e a lógica centrada nos serviços. Segundo Vargo e Lusch (2004), os bens e produtos finais são recursos operados, cuja importância é centrada na forma, local, tempo e posse. Por outro lado, os recursos operantes são transmitidos por esses bens, em forma de competências e conhecimento, sendo produtos intermediários que são usados por outros recursos operantes, nomeadamente clientes, em processos de criação de valor.

Os recursos operantes são, por vezes, “invisíveis e intangíveis, competências-chave ou processos organizacionais. São dinâmicos e infinitos e não estáticos e finitos, como acontece no caso dos recursos operados”. (Vargo e Lusch, 2004: 3) Desta forma, o que existe é uma troca de competências e de conhecimento ao longo do uso pelo cliente, ocorrendo ou não uma materialização num bem. De acordo com os mesmos autores, os recursos operantes produzem efeitos, permitindo que seja multiplicado o valor dos recursos naturais e que sejam criados recursos operantes adicionais.

3.3. Co-criação de valor

O valor e a criação de valor, segundo Vargo, Maglio e Akaka (2008), estão na base do serviço e são críticos na compreensão dos sistemas de serviço e na promoção da ciência que o envolve. Numa lógica dominante de serviço, o papel dos produtores e dos consumidores são se encontra distinto, o que enfatiza o valor como algo que é sempre co- criado, em interacções entre os provedores e os beneficiários do serviço, através da integração de recursos e aplicação de competências.

“O estudo dos sistemas de serviço enfatiza a colaboração e a adaptação na co-criação de valor, e estabelece um quadro balançado e interdependente para os sistemas de provisão de serviço recíproco”. (Vargo, Maglio e Akaka, 2008: 146)

Os mesmos autores defendem que o valor é co-criado através a interligação de esforços entre empresas, empregados, clientes, stakeholders, bem como de outras entidades, sendo esta interligação sempre determinada pelo cliente, ou pelo membro que irá beneficiar.

Os Service Systems, ou sistemas de serviço, de acordo com Vargo, Maglio e Akaka (2008), são configurações de criação de valor, implicando que esse valor seja criado de forma colaborativa e interactiva com outros sistemas. No entanto, e segundo os mesmos autores, as estruturas dinâmicas de rede podem ter capacidade de melhorar o estado dos sistemas, através da partilha, aplicação dos seus recursos, ou cooperação mútua, com vista à obtenção dos objectivos de ambos, tratando-se assim de um Open Service System, ou Sistema de Serviço Aberto.

Sandström et al. (2006), sugerem uma nova perspectiva para a total experiência de serviço, definindo dimensões que a influenciam e que a relacionam com o valor em uso. Para que sejam criadas condições para uma experiência de serviço, estes autores consideram que são necessários facilitadores físicos e técnicos, servindo para a criação das proposições de valor ao cliente: valor físico e valor emocional, sendo o último considerado importante também no valor de uso. No entanto, existe uma dependência relativamente ao carácter pessoal do cliente, formando-se os filtros individuais e situacionais, que se referem a tudo o que está relacionado com o utilizador individual e na situação em que este se encontra que possa afectar a sua experiência de serviço. A experiência de serviço consiste em pistas funcionais que indicam as partes do serviço que estão a funcionar como seria suposto, podendo ser essas pistas mecânicas, sensoriais do serviço, ou humanas, dependentes do comportamento e da aparência dos provedores de serviço. Desta forma, a soma das dimensões funcionais e emocionais ditam a experiência de serviço. “O valor em uso é a avaliação de uma experiência de serviço, isto é, o julgamento individual da soma total de toda a avaliação de resultados provenientes de experiências funcionais e emocionais.” (Vargo e Lusch, 2004) É o resultado da avaliação da experiência de serviço na sua totalidade, incluindo as dimensões funcionais e emocionais. A figura abaixo disposta caracteriza esta perspectiva.

Figura 6 – Relação existente entre a experiência de serviço e o valor em uso

Fonte: Sandström et al., (2006: 121)