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CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. O Lugar do Idoso

Para os idosos, o viver na comunidade ou em instituições implica dois estilos de vida bem diferentes. Viver na própria casa é sinónimo de independência. Esta exprime a sua integridade pessoal. A residência de longos anos de vida assume várias funções no quotidiano de qualquer pessoa. No caso concreto do idoso, verifica-se uma segurança objetiva contra a adversidade do meio ambiente e segurança subjetiva contra o medo. A residência é um local de intimidade e privacidade individual e familiar. É, pois, um lugar de identidade uma vez que a decoração, os móveis e o ambiente refletem a individualidade; um “poço” de lembranças, permitindo a continuidade entre o passado e o presente. Deve-se acrescentar que cada casa está inserida numa comunidade e se conjuga num ambiente de rotinas e conhecimentos, cuja rutura implica alterações nos estilos de vida. Esta mudança do local de habitação prejudica a funcionalidade

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nas atividades de vida diária, uma vez que exige uma readaptação num período em que as capacidades estão diminuídas e os vínculos demasiado acentuados.

No entanto, há exceções. A casa pode ser uma fonte de vulnerabilidade para o idoso. No caso em que se constata este facto, a possibilidade de realojamento é entendida como favorável. Alguns dos motivos que podem levar à institucionalização são a morte de um dos cônjuges, após uma queda ou uma doença e a localização da sua habitação. Qualquer um destes motivos precede quase sempre a institucionalização, apontando o lar de idosos como a opção mais viável.

Entende-se aqui como processo de institucionalização a saída de casa. Este processo pode ser longo ou curto e acarreta um conjunto de fases, que vai desde a decisão da institucionalização à escolha de um lar e verificação de condições de adaptação/integração daquela que será a nova residência. A decisão de institucionalização deve ser tomada de forma clara e tendo como principal objetivo o cuidado do idoso, garantindo-lhe a sua qualidade de vida (Sousa et al., 2004:129; 130).

Segundo o que Joana Guedes transmitiu no VI Congresso Português de Sociologia, Mundos Sociais: saberes e práticas, acerca dos “Desafios Identitários Associados ao internamento em

Lar”, na generalidade, consideramos a família o meio ideal para envelhecer, assim como é o lugar desejado para viver em todas as outras fases anteriores à velhice. Atribuímos à família, diz a autora, características de aconchego, segurança, identidade agradáveis e, mesmo quando os conflitos começam a surgir, é ali que devemos estar. A caraterística mais relevante da família contemporânea, no fim da vida, é o evidente entrecruzar de gerações, pessoas de diferentes idades relacionando-se e pensando na futura ou atual situação de velhice. No

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prestar estes cuidados. Este facto deve-se ao decréscimo da natalidade e ao aumento da população idosa. Acresce ainda que o aumento das mulheres com carreiras profissionais no trabalho alienado ou “por conta de outrem” implica uma menor disponibilidade para tomar a cargo cuidados prolongados. Como nos refere Duque (2012:122), “Hoje ninguém tem tempo”.

A perspetiva Durkheimiana, analisada por Leandro (2001), acerca da família considera que os laços de filiação se vão enfraquecendo na família contemporânea. Considera ainda que, com a passagem das relações patrimoniais às de trabalho e às de função, a relação intergeracional poderá ficar algo comprometida. A família, ao longo dos tempos, tem vindo a sofrer grandes mudanças ao nível da sua estrutura. Anteriormente era o espaço privilegiado de solidariedade intergeracional, dado o modelo de família alargada. Hoje, o seu espaço está cada vez mais reduzido a duas gerações, constituindo-se na maioria das vezes como famílias nucleares. Verifica-se que, no modelo de família alargada, esta garantia a proteção dos mais velhos até ao fim da sua vida; contrariamente, no modelo de família nuclear, as pessoas idosas encontram-se cada vez mais sós, a viver com os seus cônjuges ou em instituições. Dado este modelo assumir cada vez mais relevância na nossa sociedade, existe uma maior predominância de idosos nesta situação. Deste modo, constata-se que a família tem vindo a sofrer alterações ao longo do século XX, essencialmente a partir da segunda metade, demonstrando-se o respetivo impacto de forma mais negativa junto das pessoas idosas, ao nível da solidariedade familiar.

Considerando a importância da família no processo de crescimento de qualquer indivíduo, pode-se afirmar que a ausência dela representa grande perda para os idosos, como refere Fernandes (2004). Neste sentido, cabe aos membros da família entender essa pessoa no seu

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processo de vida, de transformações, conhecer as suas fragilidades, modificando a sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha a sua posição junto ao grupo familiar e à sociedade.

Na realidade, a família precisa de um período de adaptação para aceitar e administrar com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam um encargo para os filhos. Daí a importância do idoso concentrar esforços para, nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade evitando o mais possível o sentimento de dependência da família. O papel da família é importante em qualquer estádio de vida. É particularmente importante nos dois períodos polares: no período da infância e adolescência e na velhice.

O apoio familiar é fundamental para quem enfrenta a velhice, como também noutras faixas etárias. Barros (2002:197) refere: “se os mais novos devem encontrar na família o primeiro suporte psicossocial, com mais razão as pessoas idosas necessitam desta instituição fundamental para sua qualidade de vida”. As relações de proteção e apoio constituem uma importante dimensão das funções básicas da família que, de acordo com Collado (2003, cit. in Silva, 2006:45), “a proteção orienta-se inicialmente de pais para filhos, devendo variar de conteúdo e de intensidade, adaptando-se às necessidades evolutivas destes, para se transferir depois para os idosos e os que têm necessidades especiais”.

Na verdade, quem atua junto de estruturas de acolhimento de pessoas idosas, como foi o nosso caso, sabe como é difícil mobilizar as famílias para a participação no quotidiano do idoso, quer ele esteja no seu seio familiar, quer esteja institucionalizado.

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