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4 A A VALIAÇÃO DA P ARTICIPAÇÃO B RASILEIRA NA P ROMOÇÃO

4.1 A S T ENDÊNCIAS DAS I DEIAS DE I NSERÇÃO DA D IPLOMACIA

4.1.3 A MÉRICA DO S UL

A estratégia de delimitar a América do Sul, como zona de influência brasileira, traduziu-se em termos práticos no ano 2000 quando ocorreu a primeira reunião da história entre presidentes sul-americanos. Ou seja, se existe a intenção de espraiar a inserção brasileira pelo continente, a mesma seria este recente projeto da diplomacia brasileira.

De fato, este projeto tem vínculos com delimitações de cunho geopolítico (BURGES, 2008, GRATIUS, 2007). O Brasil não poderia patrocinar uma ideia de América Latina, já que, haveria de competir com uma hipotética rivalidade mexicana, tendo em vista que este país possui gabaritos necessários (como uma avantajada população, território e riquezas), e não interferiria na América Central e no Caribe, pois esta região possui uma substancial ingerência norte-americana. Logo, um projeto de América do Sul, seria mais factível para os planos brasileiros como uma plataforma de manobra geopolítica.

A ideia de América do Sul poderia auxiliar na formação de um arco de proteção para o Brasil no continente. A concepção desta área tenderia a afastar a influência norte-americana na região (SPEKTOR, 2010; 2011). Curiosamente, os Estados Unidos esperam que o Brasil assuma uma postura mais afirmativa frente às instabilidades regionais (ECONOMIST, 2005). Além disto, o ativismo brasileiro em delimitar a região por intermédio de OI regionais faria parte dos seus esforços para auxiliar na promoção da estabilidade regional, e ainda, afastar

hipotéticos competidores regionais por este papel, a exemplo da Venezuela de Hugo Chávez e seu projeto da ALBA.

O Brasil não delimitou esta área somente pelo fomento de OI, mas também por invocar o principio da Democracia. Para Cervo (2002) a concepção brasileira de democracia assenta-se em um preceito Kantiano da Paz Democrática. Este termo enfatiza o pacifismo, desarmamento e a cooperação. Percebe-se que estes elementos fazem parte da práxis da diplomacia brasileira, pois nas OI fomentadas pelo Brasil é presente a normativa da Cláusula Democrática. Nas PDN, EDN e LBDN vislumbra-se as prerrogativas de solucionar os litígios entre os países do continente pela mediação e não utilização do poder militar. Estas concepções reforçam a ideia de autonomia para o Brasil e também para os países do continente preservar suas soberanias, e ainda servem como um escudo para refratar uma hipotética intervenção extracontinental (já que, hipoteticamente uma democracia extracontinental não interviria numa da América do Sul), em virtude de instabilidades geradas a partir de conflitos interestatais ou mesmo, atentados internos contra a ordem democrática.

Para Mathias Spektor, por mais que o Brasil tenha iniciado um novo olhar que configure um maior interesse para a região no pós Guerra Fria, se for comparado a sua inserção no período militar, que era quase inexistente, o mesmo ainda estamparia um pensamento de política externa regional que “is dominated by the continuing Power of national ideology of autonomy, self-help, and suspicious about neighbour´s intentions” (2010, p. 203). Outrossim, o país não se engaja para solucionar as instabilidades de seus vizinhos, mesmo que o Brasil seja o a nação que mais gaste em armamentos militares, em termos absolutos, e possua a maior Forças Armadas do continente.

O pensamento das elites do Brasil não vai ao encontro com os preceitos, universalmente conhecidos, exigidos para se iniciar um processo de integração regional, especialmente na área de Defesa e Segurança Internacional, quando se invoca a prerrogativa de Comunidade de Segurança. Mas vale lembrar que, nos documentos oficiais, o Brasil não pontua os países da América do Sul como ameaça direta como pode ser verificado em suas PDN de 1996 e 2005, EDN de 2008 e LBDN de 2012.

Entretanto as tendências da diplomacia brasileira descritas até então neste capítulo, corroboram com o entendimento de que os vizinhos poderiam, em algumas situações, representar ameaças aos empreendimentos brasileiros nos países da SAA, por mais que isto fique claro somente de maneira tácita. Obviamente, se as desconfianças

persistem entre os membros fica muito custoso admitir a possibilidade de se formar uma Comunidade de Segurança na América do Sul (SEBBEN, 2009).

Por outro lado, no plano discursivo, o Brasil persiste em enxergar o surgimento de uma Comunidade de Segurança na América do Sul:

Na América do Sul, delineia-se uma clara tendência de cooperação em matéria de defesa. Essa tendência tem sido constantemente reforçada desde a criação da União de Nações Sul- Americanas (UNASUL) e, especialmente, de seu Conselho de Defesa (CDS). Vê-se surgir na América do Sul uma comunidade de segurança, motivada pelo fato de os países vizinhos compartilharem experiências históricas comuns, desafios de desenvolvimento semelhantes e regimes democráticos, que facilitam a compreensão recíproca e propiciam uma acomodação pacífica dos diversos interesses nacionais (LBDN, 2012, p. 29).

Uma Comunidade de Segurança seria o compartilhamento de valores comuns entre nações que compõe esta comunidade. Nela são estimulados dispositivos que impulsionem a confiança mútua e a identidade coletiva. Sendo assim, isto representa que o grau de ameaça ou desconfiança entre seus membros seja praticamente inexistente, o que de fato não vai ao encontro com o entendimento das elites brasileiras que ainda percebem os vizinhos como ameaças. A cooperação em matéria de Defesa, de modo isolado, como descrito no LBDN, não seria o suficiente para a formação de tal comunidade. Diante disso, seria preciso que as elites e as populações em geral em questão, tenham em mente a ausência de desconfianças entre os membros. Para Adler e Barnet uma comunidade de segurança seria, baseada nos ensinamentos de Karl Deustch “… defined as a group of people that had become integrated to the point that there is a real assurance that the members of that community will not fight each other physically, but will settle their disputes in some other way” (1998, p. 6).

Portanto, enquanto houver a suspeição das elites e até mesmo de sua população64 acerca de uma identidade em relação aos países sul-

64 Tullo Vigevani et. al. ilustram este aspecto em relação à população brasileira: “No caso brasileiro, as dificuldades da integração não podem ser atribuídas

americanos, haverá grandes dificuldades em dar execução a uma integração do continente partindo de uma abordagem brasileira. Adicionalmente, não existem somente desconfianças pelo lado brasileiro, mas também a existência de alguns polos de rivalidades estatais, como entre Venezuela e Colômbia e Venezuela e Guiana, por exemplo.

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