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4 A A VALIAÇÃO DA P ARTICIPAÇÃO B RASILEIRA NA P ROMOÇÃO

4.2 A UNASUL E A E STABILIDADE DA SAA

A UNASUL não seria um organismo que se intenta consolidar como uma organização supranacional. O seu projeto baseia-se na coordenação e consulta das políticas de defesa dos estados sul- americanos, na convergência da CAN e MERCOSUL, com adição de Chile, Guiana e Suriname e pela integração física da IIRSA.

Na esfera de Defesa há o CDS que é o principal mecanismo de consulta entre os países do continente. Este conselho, diferentemente das ideias da ALBA impulsionada por Chávez, não pretende criar uma força armada sul-americana. Além disto, não pretende conformar uma capacidade de atuação conjunta, para dissipar ameaças a Segurança de seus membros e nem conformar uma política de defesa comum continental (MALAMUD RIKLES, 2010).

Para Sandra Borda o CDS apresenta-se como uma “miscelânea” de iniciativas “algunas de las quales sirven al interés general de todos lós países de la regíon y otras alôs objetivos trazados por Brasil como líder regional”(2011, p. 10). Em virtude disto, não há na instituição alguma prerrogativa inovadora para combater as novas ameaças, pois o Brasil não iria romper com os preceitos de sua tradição diplomática, haja vista o cariz dos mesmos nas subseções anteriores deste capítulo.

Para a esfera de Defesa, houve uma preposição significativa do CDS para estimular o aumento de medidas de confiança mútua entre os países do continente. Esta foi à cooperação para prover a transparência ao medir os gastos militares entre os países da região. Outra iniciativa foi à inauguração de um Centro de Estudos Estratégicos de Defesa sul- americano sediado em Buenos Aires.

Por mais que não exista um mecanismo direto para o combate das chamadas ameaças transnacionais, em agosto de 2009, o CDS aprovou a criação do Conselho Sul-Americano de Luta contra o Narcotráfico e o Estatuto do Conselho Sul-Americano sobre o Problema Mundial das Drogas, este último em 2010. Os países planejam cooperar em cinco linhas de ação (BORDA, 2011): o controle do ingresso, produção, comercialização e consumo de drogas na região; reduzir a demanda; reduzir o fornecimento de drogas; medidas de controle de lavagem de dinheiro e desenvolvimento sustentável. Entretanto, por

mais que a intenção seja louvável, há de se reconhecer que se torna complicado combater a cadeia do narcotráfico individualmente (ou seja, cada estado impõe as medidas unilateralmente em seu território).

O problema do narcotráfico deve exigir ações transnacionais para se dissuadir efetivamente as ameaças com estas características (HURRELL, 1998b). Há de se reconhecer que existem abissais assimetrias entre os estados na região; pois alguns países teriam capacidades diferenciadas em combater a cadeia do narcotráfico. Nestes casos, existem países que não conseguiriam: desempenhar efetivamente o papel de vigilância de fronteiras, efetivar policiamentos ostensivos, bem preparados e não predispostos à corrupção para lidar com o crime organizado, colocar em prática corpos de inteligência bem treinados e uma estruturara com aparato tecnológico condizente para desempenhar este papel de vigilância do espaço aéreo. Esta falta de capacidade se vincula aos problemas inerentes das instituições burocráticas das nações mais fragilizadas do ponto de vista econômico, como Paraguai e Bolívia. Nestas situações, em que algumas nações não possuem as capacidades de desenvolverem estas políticas por si só, haveria a necessidade de um país que pudesse equilibrar estas disparidades. Neste sentido, o Brasil não desempenha este papel.

No entanto, estes conselhos instaurados recentemente pelo CDS da UNASUL, resumem-se a cooperar em torno das atividades individuais dos países da região no combate ao narcotráfico e a grupos insurgentes, ou em outras palavras, não há ações transnacionais. Todavia os seus planos de ações são compelidos a respeitar estritamente as soberanias nacionais, a integridade e a inviolabilidade territorial, e a não intervenção nos assuntos internos dos países. Estas prerrogativas não são condizentes ao combate das novas ameaças.

O aumento da interdependência, catalisado pelo processo de globalização, fez com que os Estados Nacionais pudessem aumentar as trocas de informações entre si, o que estimulou em alguns casos o aumento de medidas de confiança, não somente circunscritas à esfera militar e a emergência do fenômeno do regionalismo (HURREL, 1998). Na América do Sul, apesar de existirem rivalidades locais, manteve-se, no final do século XX, a consecução da santidade da soberania estatal (por meio da institucionalização da mesma no MERCOSUL e UNASUL) e da instauração de mecanismos de mediação de conflitos interestatais sul-americanos, sem a necessidade de ingerência extracontinental.

No entanto, os Estados Nacionais não são os únicos grupos armados do continente, e a mesma globalização que auxiliou de um lado

os estados, prejudica-os de outro, pois, estes grupos armados e o crime organizado beneficiam-se da mesma para intercambiar informações, armas, drogas e contrabando no desenvolvimento de suas atividades ilícitas. Além disso, por mais que o continente tenha adquirido prestígio por preservar as instituições democráticas, e por este motivo, não ser suscetível às intervenções extracontinentais para estabilizar este regime de governo, poderá sê-la novamente se não for capaz de barrar uma escalonada de instabilidades em virtude das novas ameaças, pois estas últimas poderão dar margem para futuras intervenções estadunidenses (BURGES, 2008).

Entretanto, há uma acalorada discussão de qual força deveria combater as novas ameaças: de um lado há as Forças Armada, e de outro as Forças Policiais, pois há o argumento de que as primeiras não foram adestradas para esta tarefa, já que forças armadas são treinadas, majoritariamente, para combater outras Forças Armadas e seu envolvimento direto com a sociedade civil, em tempos de combate, não é desejável. Na América do Sul há estados que empregam suas forças armadas para repelir o narcotráfico, mas existem outros que não o fazem. Mas, para lutar fora da jurisdição de um estado, quem o faz geralmente são as Forças Armadas. Neste quesito já não existe um consenso no continente, e dificilmente se enxergaria nesta região as forças armadas de diversos países combatendo esta ameaça conjuntamente (MEJÍA, 2011).

Para Burges, uma hipotética adequação para o problema, por mais que as diplomacias sul-americanas tenham cooperado para coordenar ações individuais sobre a matéria, seria a constituição de uma força policial ou um plano de ação para o continente, capitaneados pelo Brasil:

The clear suggestion in discussions about the new security threats such as narcotics, terrorism, and insurgency was that the most appropriate plan of action involved an enhancement of coordination and cooperation between the relevant national institutions. To this end Itamaraty and Brazilian Security Services concluded a raft of protocols and inserted promises for expanded cooperation in a stream of multilateral agreements, included the declarations of the two South American Summits. Overlooked in this flurry of diplomatic activity was the disparity of each country to contribute to the collective provision of regional security. The obvious solution would appear to have been the

formation of some sort of continental policing unit along the lines of something NATO or the MOMEP observer force, particularly one tasked with combating narcotics and insurgency movements. But such an undertaking would have required substantial level of trust between armed forces that remained wary of each other despite a cascading series of symbolic joint exercises and protocols that culminated in the 2002 declaration of South America as Zone of Peace. Moreover, it would have required Brazilian confidence in the security services of neighboring countries, something that my interviews with Itamaraty officials suggest was weak, at best (2008, p.155- 6).

A parir do exposto, observa-se que as medidas que são empregadas pelo CDS da UNASUL para combater as novas ameaças não são satisfatórias. Talvez, porque este conselho não tenha sido formalizado para esta tarefa, e mesmo as recentes iniciativas para abordar o problema do narcotráfico parecem não terem surtido efeito para desmobilizar esta cadeia que está espraiada por todo o continente sul-americano. Além disto, por mais que o CDS intente promover medidas que aumente a confiança entre as Forças Armadas sul- americanas, o grau que a mesma tem alcançado talvez não seja o suficiente, para se formalizar uma força de combate às novas ameaças com características transnacionais.

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