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2 DESIGN TEÓRICO DA PESQUISA

3.5 Método de Análise dos Dados

“A análise dos dados consiste no exame, na categorização, na tabulação, no teste ou nas evidências recombinadas de outra forma, para tirar conclusões baseadas empiricamente” (YIN, 2010, p. 154). Esta etapa da pesquisa se apresenta como uma atividade de interpretação e correlações.

A compreensão dos dados de uma pesquisa qualitativa não tem como objetivo contar opiniões ou pessoas, é um processo que envolve, principalmente, a interpretação por parte dos pesquisadores, caminhando para além do que é descrito e analisado, assim “seu foco é principalmente a exploração do conjunto de opiniões e representações sociais sobre o tema que pretende investigar” (GOMES, 2015, p. 79). A interpretação dos dados tem por finalidade buscar sentidos, explicações das falas e das ações para a compreensão do objeto de pesquisa.

Nesse sentido, utilizamos nesta pesquisa a proposta da Análise Textual Discursiva (ATD), de Moraes e Galiazzi (2016), para analisar e tecer interpretações e compreensões acerca do nosso objeto de pesquisa, que se refere aos elementos que corroboram para a efetivação da relação museu-escola.

A Análise Textual Discursiva constitui-se, segundo Moraes e Galiazzi (2016) como [...] uma metodologia de análise de informações de natureza qualitativa com a finalidade de produzir novas compreensões sobre os fenômenos e discursos. Insere-se entre os extremos da análise de conteúdo e a análise do discurso, representando, diferentemente destas, um movimento interpretativo de caráter hermenêutico (MORAES; GALIAZZI, 2016, p. 13, grifo nosso).

A ATD também é considerada um ciclo, no qual existem três momentos (Figura 23): a desconstrução, a emergência e a comunicação (MORAES; GALIAZZI, 2016), que serão detalhados a seguir. Esses momentos estão interligados e culminam para uma auto- organização que, inicialmente, parece estar desorganizada, pois exige a desmontagem dos textos, sua posterior organização com a emergência de novos sentidos atribuídos pelo pesquisador e a comunicação dessas interpretações por meio dos metatextos.

Figura 23 - Ciclo da Análise Textual Discursiva

Fonte: Adaptado de MORAES; GALIAZZI, 2016, p. 63.

Nesse processo de análise dos dados, a desmontagem dos textos ou a unitarização é o movimento inicial da análise e consiste em fazer um recorte do corpus de pesquisa em textos menores, em que possam ser formadas as unidades de análise para posterior categorização. O corpus de pesquisa é definido como “um conjunto de documentos” (MORAES; GALIAZZI, 2016, p. 38), produções textuais, que representam as informações da pesquisa.

No contexto específico desse trabalho, o corpus da pesquisa foram os textos dos artigos, teses, dissertações e capítulos de livros que tratam da relação museu-escola e as transcrições das falas dos professores entrevistados.

Em relação à formação das unidades de análise, ou de significados, o objetivo é a “elaboração de textos descritivos e interpretativos” (MORAES; GALIAZZI, 2016, p. 72) que apresentem a compreensão do pesquisador sobre o objeto de estudo. As unidades de análise devem se relacionar com os objetivos da pesquisa.

O segundo momento da ATD é a categorização. Esse processo consiste em estabelecer relações entre os elementos das unidades de análise em contextos mais definidos e formar categorias, isto é, agrupar os elementos semelhantes. A partir das categorias serão elaborados textos descritivos e interpretativos. Assim como na construção das unidades de análise, as categorias também devem estar relacionadas aos objetivos da investigação e envolvem o retorno constante ao corpus de pesquisa (MORAES; GALIAZZI, 2016).

[...] categorização é um processo de criação, ordenamento, organização e síntese. Constitui, ao mesmo tempo, processo de construção de compreensão dos fenômenos investigados, aliada à comunicação dessa compreensão por meio de uma estrutura de categorias (MORAES; GALIAZZI, 2016, p.100).

Sobre a definição de categoria, Moraes e Galiazzi (2006) indicam que “cada categoria representa um conceito dentro de uma rede de conceitos que pretende expressar novas compreensões” (MORAES; GALIAZZI, 2006, p. 125). Assim, as categorias da nossa pesquisa são: I) Experiências com Museus, II) Concepções sobre Museus, III) Expectativas em relação aos Museus, IV) Motivações em relação aos Museus.

As categorias podem ser elaboradas a priori, ou seja, são construídas antes da coleta dos dados, baseadas nas teorias que orientam a pesquisa, e são de natureza objetiva e dedutiva, ou são categorias denominadas emergentes, o que significa dizer que são elaboradas a partir da coleta e análise dos dados oriundos da própria pesquisa e apresentam, como características, ser indutivas e mais subjetivas (MORAES; GALIAZZI, 2016).

A partir da leitura flutuante do corpus de pesquisa, nesse trabalho, utilizou-se de categorias a priori, pois sua elaboração foi proveniente dos próprios conceitos que formaram a questão de pesquisa. Assim, representam as experiências, concepções, expectativas e motivações de professores de Ciências sobre a relação com os museus de ciências.

As categorias foram construídas para auxiliar nas análises do levantamento bibliográfico e das entrevistas dos professores de Ciências da Natureza, para investigar aspectos relacionados à efetiva aproximação dos professores com os museus de ciências.

Para evidenciar as situações de Experiências com Museus, elencamos duas subcategorias: a) Experiência Pessoal e b) Experiência Profissional.

Em relação as Concepções sobre Museus, foram formadas subcategorias que revelam conceitos sobre: a) Museus de Ciências e suas funções e, b) Visitas aos Museus.

Sobre às categorias de Expectativas foram elencadas, subcategorias que indicam: a) Expectativas sobre os Museus de Ciências e suas Funções e, b) Expectativas sobre as Visitas aos Museus.

No tocante às Motivações, as subcategorias foram as: a) Motivações Intrínsecas para visitar Museus e, b) Motivações Extrínsecas para visitar Museus.

A ATD é um movimento de análise recursivo (MORAES; GALIAZZI, 2016). Desse modo, esse constante ir e vir nos dados, permite uma nova construção do todo e, nessa (re)construção não há um limite preciso entre uma categoria e outra, como demonstrado no design teórico da pesquisa. Isso também atinge um dos objetivos da ATD que é a superação da fragmentação.

Para realizar a categorização, é necessário considerar a compreensão da linguagem que é utilizada pelos colaboradores da pesquisa, os sentidos atribuídos pelo pesquisador ao que é relatado pelos participantes da pesquisa, a objetividade e a subjetividade do que é

expresso nas categorias, o que também depende dos conhecimentos do próprio pesquisador e das teorias que orientam o trabalho e a relação das informações com o contexto em que foram produzidas, juntamente com os objetivos da pesquisa (MORAES; GALIAZZI, 2016), para que a questão de pesquisa possa ser respondida, mas também novas interpretações e perguntas possam surgir.

As categorias elaboradas devem seguir as cinco propriedades, segundo Moraes e Galiazzi (2016): a validade, a homogeneidade, a amplitude e precisão, a exaustividade e a exclusão mútua.

A validade das categorias será corroborada a partir das teorias que orientam a pesquisa. Nesse caso, as categorias podem ser elaboradas a partir de teorias a priori, ou ocorre a construção de teorias que se originam das categorias emergentes. A homogeneidade refere-se a estabelecer um único critério para a elaboração das categorias (MORAES; GALIAZZI, 2016).

A característica amplitude e precisão corresponde a categorias mais gerais ou mais específicas, dependendo de como as categorias foram formadas. As categorias a priori geralmente vão do contexto geral para o específico, enquanto as categorias emergentes seguem o caminho contrário, do específico para o geral (MORAES; GALIAZZI, 2016).

O critério da exaustividade diz respeito a incluir todo o material do corpus de pesquisa que seja pertinente ao trabalho, desse modo

a exaustividade também é delimitada pelo critério da saturação. Uma vez que a inclusão de novos materiais em categorias já construídas não trouxer mais novos elementos de compreensão, é improdutivo continuar a categorizar mais materiais (MORAES; GALIAZZI, 2016, p.107).

Por fim, a exclusão mútua, ou seja, cada elemento pertencer a uma única categoria. No entanto, esse critério é questionável pois não se pode garantir um único sentido às unidades de significado e as categorias geralmente não apresentam delimitações precisas (MORAES; GALIAZZI, 2016).

O terceiro momento da ATD é a captação do novo emergente, isto é, a construção de metatextos que expressam as interpretações e as compreensões alcançadas pelo pesquisador por meio do corpus de pesquisa. Nessa perspectiva, Moraes e Galiazzi (2016) definem que os metatextos

[...] são constituídos de descrição e interpretação, representando o conjunto, um modo de teorização sobre os fenômenos investigados. A qualidade dos textos resultantes das análises não depende apenas de sua validade e

confiabilidade, mas é, também, consequência do fato de o pesquisador assumir-se autor de seus argumentos (MORAES; GALIAZZI, 2016, p. 53- 54).

Diante do exposto acima, os discursos (as falas) dos professores, por meio das entrevistas, e os dados obtidos por meio do levantamento bibliográfico foram analisados segundo a metodologia descrita neste item e sintetizadas no Quadro 4.

Quadro 4 - Unidades de análise e Categorias utilizadas nas análises dos dados. Unidades de Análise Categorias Subcategorias

Experiências Experiências com Museus Experiência Pessoal Experiência Profissional

Concepções Concepções sobre Museus

Concepções sobre Museus de Ciências e suas Funções Concepções sobre Visitas aos

Museus

Expectativas Expectativas em Relação aos Museus

Expectativas sobre Museus de Ciências e suas Funções Expectativas sobre Visitas

aos Museus

Motivações Motivações em Relação aos Museus

Motivação Extrínseca para Visitar Museus Motivação Intrínseca para

Visitar Museus Fonte: A autora (2020)

Os resultados da nossa investigação e as respectivas análises estão apresentados na próxima seção.