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4. RESULTADOS E ANÁLISES

4.4 Motivações em Relação aos Museus

4.4.1 Motivação Extrínseca para Visitar Museus

Ao considerar que as motivações extrínsecas se relacionam à satisfação de uma expectativa, em resposta a algo externo à tarefa ou atividade, pudemos identificar as seguintes motivações extrínsecas dos professores para visitar os museus de ciências, que estavam expressas nos livros, artigos, dissertações e teses analisados:

1) premiar os alunos em função de sucesso em atividade escolar, recompensa (KISIEL, 2005; BORTOLETTO-RELA, 2017);

2) propiciar mudança de ambiente e de rotina (KISIEL, 2005);

3) ver experimentos especiais que não tem no colégio (GUISASOLA; MORENTIN, 2010); 4) satisfazer as expectativas da escola (KISIEL, 2005);

6) atender a uma solicitação dos alunos (CARVALHO, 2016);

7) participar de atividades socioculturais (VIEIRA; BIANCONI; DIAS 2005);

8) atender a uma exposição específica, de alguma organização/empresa que elabora exposições para os museus, e pela qualidade da exposição (DELICADO; GAGO; CORTEZ, 2013);

9) divulgar a exposição (DELICADO; GAGO; CORTEZ, 2013);

10) desenvolver um projeto da escola ou por ser iniciativa de outro professor (SOARES, 2010; REIS, 2005);

11) preencher o tempo e ter condição disponível (ALMEIDA, 1997);

12) receber o convite de outra pessoa, sendo essa pertencente ao contexto escolar (diretores, coordenadores, supervisores), ou que não está diretamente relacionada ao âmbito escolar (REIS, 2005);

13) esclarecer algum tema específico (REIS, 2005);

14) experimentar os módulos do museu e participar de experimentos científicos (GUISASOLA; MORENTIN, 2010);

15) despertar e estimular o interesse e a motivação por ciências, pelas aulas e outras áreas de estudo (ALMEIDA, 1997; WOLINSKI; AIRES; GIOPPO; GUIMARÃES, 2011; BORTOLETTO-RELA, 2017; VARELA, 2009; KISIEL, 2005; SILVA, 2012);

16) aliar teoria e prática, dando aos alunos a oportunidade de observar experimentos, atividades práticas, que estão relacionados aos conceitos estudados teoricamente na escola (MARANDINO, 2001; KISIEL, 2005; SILVA, 2012; BORTOLETTO-RELA, 2017; WOLINSKI; AIRES; GIOPPO; GUIMARÃES, 2011);

17) desenvolver atitudes positivas face ao ambiente (VARELA, 2009);

18) utilizar a visita como complemento, reforço, ampliação, aprimoramento e aprofundamento do conteúdo e dos conhecimentos desenvolvidos em sala de aula (ALMEIDA, 1997; SILVA, 2012; DELICADO; GAGO; CORTEZ, 2013; BORTOLETTO- RELA, 2017);

19) proporcionar aos alunos a ampliação do universo cultural (ALMEIDA, 1997; FALCÃO, 2009; BORTOLETTO-RELA, 2017; CARVALHO, 2016);

20) aprender conteúdos (VARELA, 2009);

21) apresentar e aprender conteúdos interdisciplinares (VIEIRA; BIANCONI; DIAS, 2005; FALCÃO, 2009);

22) facilitar experiências pessoais e sociais em um contexto científico que promova aprendizagem e atitudes positivas em relação à ciência (GUISASOLA; MORENTIN, 2010);

23) contextualizar as aulas (SILVA, 2012);

24) desenvolver conteúdos programáticos inacessíveis no espaço escolar (BORTOLETTO- RELA, 2017);

25) motivar e/ou problematizar para o início de um novo conteúdo curricular (BORTOLETTO-RELA, 2017);

26) difundir a cultura científica (DELICADO; GAGO; CORTEZ, 2013); 27) oportunizar experiências de aprendizagem (KISIEL, 2005);

28) interagir com o cotidiano dos estudantes (FALCÃO, 2009);

29) complementar por meio das experiências os conceitos e teorias estudadas em classe (ALMEIDA, 1997; GUISASOLA; MORENTIN, 2010);

30) apresentar aos alunos outras formas de aprender (SILVA, 2012);

31) pesquisa, praticidade, conteúdo diferencial para o processo de ensino (WOLINSKI; AIRES; GIOPPO; GUIMARÃES, 2011);

32) adquirir e ampliar o conhecimento científico (BORTOLETTO-RELA, 2017); 33) promover a aprendizagem ao longo da vida (KISEIL, 2005);

34) preparar as visitas dos alunos e apropriar-se pedagogicamente do museu para diversificar o trabalho em sala de aula (REIS, 2005; SILVA, 2012);

35) enriquecer o conhecimento dos alunos com as práticas, as vivências e as explicações (SILVA, 2012);

36) despertar maior curiosidade para o lado científico (COELHO; BREDA; BROTTO, 2016); e, por fim,

37) motivar para posterior abordagem de diferentes conteúdos programáticos (QUEIROZ; GOUVÊA; FRANCO, 2003).

Os discursos dos professores entrevistados, evidenciam motivações extrínsecas semelhantes às encontradas na literatura. A exemplo das falas a seguir.

Sabe porquê? É engraçado, porque... Vem até da fala dos meninos “Não tia! Quem gosta de passado é museu” e... eu tento ensiná-los que no museu

é um campo da Ciência, onde tudo movimenta, onde tudo é... Vai abrir

portas para você desenvolver pesquisa. Ali são resultados de pesquisa, ideias para pesquisa, é um campo muito promissor para você associar o

que está ensinando na sala de aula. Eu acho muito importante. (Bertha

Lutz)

Eu acho que complementa a sua aula [...] (Bertha Lutz)

Mas, eu sempre utilizo o Museu como forma de recurso pedagógico[...] (Rosalind Franklin)

Diante das motivações apresentadas acima é possível perceber que os professores se utilizam de diversas justificativas para visitar os museus de ciências com seus alunos. Muitas dessas motivações demonstram um interesse do professor em atender as expectativas das escolas e/ou dos alunos. Em geral, estão relacionadas a oferecer vivências que não podem ter nas escolas, por falta de tempo ou de material pedagógico, assim como pelo contexto pessoal e social em que estão inseridos.

As motivações extrínsecas estão relacionadas, principalmente, à tentativa de estimular o interesse dos alunos para os estudos dos assuntos científicos, à aproximação do conteúdo com as exposições, à possibilidade de aprendizagem por meio da visita e à consolidação dos conteúdos.

Tais justificativas didático-pedagógicas dos professores para visitar os museus com seus alunos também estão relacionadas aos objetivos e metas de aprendizagem identificadas como importantes para esses professores.

Como observam Jacobucci, Nogueira-Ferreira e Santana (2013), os alunos podem ter interesse no museu e em seus objetos, o que não significa dizer que ocorrerá a melhoria da aprendizagem sobre determinado tema.

Para os professores participantes da pesquisa, os motivos que justificam uma visita ao museu são de ordem profissional e relacionados aos alunos. As falas das professoras Bertha Lutz e Rosalind Franklin apresentadas acima são justificativas sustentadas por aspectos didático-pedagógicos.

Para as professoras, a visita ao museu de ciências é um recurso pedagógico que complementa os conteúdos que são ensinados nas escolas. Por outro lado, a professora Bertha Lutz também investe nas visitas como forma de tentar mudar paradigmas e concepções dos alunos que contribuem para a não visitação desses espaços, pois os alunos têm formados sobre esses espaços e os consideram como “chatos”, além de não possuírem informação de como utilizá-los e o que eles oferecem.

O fato da professora Bertha Lutz também estar diretamente envolvida com pesquisas nas áreas específicas das Ciências e da Educação, dá a ela possibilidades de ter perspectivas diferentes daquelas geralmente apresentadas por docentes que estão estritamente ligados ao ensino. Perceber o museu como um local de pesquisa, que gera novos conhecimentos e amplia as possibilidades de ensino associadas à pesquisa (ensino com pesquisa), é uma concepção e ação que poucos professores conseguem realizar no dia a dia da educação básica. Essa é uma característica desejável a todos os professores que atuam em qualquer nível da

educação, não só aos docentes universitários.

O ensino com pesquisa traz vantagens, tais como, colocar o aluno ativo no processo de ensino-aprendizagem, despertar o interesse do estudante pela matéria e interagir com outras pessoas envolvidas no processo de construção do conhecimento (NERI, 2020).

Sobre o aspecto de unir teoria e prática, várias pesquisas apontam que, no momento da visita e após as visitas aos museus de ciências, essa relação entre os conteúdos estudados anteriormente em sala de aula e o contexto do museu não são explorados pelo professor. Isto torna a visita uma atividade pontual no contexto escolar (GUISASOLA; MORENTIN, 2010; BOSSLER; NASCIMENTO, 2013; REIS, 2015). Esse fato pode ser um indicativo de que o próprio professor não consegue fazer essa aproximação entre o conhecimento científico e o cotidiano.

Porém, no viés educacional, teoria e prática são indissociáveis e, quando se trata das visitas aos museus, a teoria é “alimentada” pela prática, assim como a prática é alimentada pela teoria. A forma como essa relação acontece nos museus é diferente da que ocorre, por exemplo, no ambiente escolar.

No contexto museal, fatores como o tempo de visitação, a organização das exposições, os interesses do público e suas vivências anteriores influenciam nessa apropriação da prática e da teoria. Como a experiência museal é única para cada sujeito, talvez essa relação não seja tão nítida para quem está de fora ou ela pode se manifestar tempos após a visita.

As pesquisas têm demonstrado que as recompensas externas são potentes motivadores, desde que sejam usadas em certas circunstâncias, para estimular ou inibir determinados comportamentos e atitudes (BROPHY, 1998 apud RUIZ, 2005).

Chiavenato (1999) também argumenta que é necessário que as instituições tenham um sistema de recompensas como forma de motivar as pessoas no trabalho. No entanto, apenas as recompensas não seriam o suficiente para manter a motivação, seria necessário também reconhecer os profissionais pelo que eles fazem, reconhecer a própria pessoa. As recompensas atuariam para incentivar as pessoas a continuar o trabalho e satisfazer suas necessidades individuais.

Ainda sobre esse aspecto, Sant’Ana-Loos e Loos-Sant’Ana (2013), indicam que as interações sociais e as experiências renovam as motivações dos sujeitos. Concebem também, que as interações regulam a afetividade, e essa contribui para determinar as experiências. Essas experiências são imbuídas de emoções que demarcam o comportamento.

Nesse sentido, interpretamos que as motivações para visitar o Museu devem partir do próprio professor, orientadas por sua identificação pessoal e profissional com os museus de ciências. Na próxima seção, apresentamos as motivações intrínsecas dos professores para visitar os museus de ciências.