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A análise dos esfregaços foi feita no Laboratório de Patologia Experimental da PUCPR, por meio de microscopia de luz, onde foi utilizado um microscópio binocular5 adaptado com ocular WH 10X-H/22 e objetivas PLAN 4X/0,10, 10X/0,25, 20X/0,40 e 40X/0,65.

Previamente à leitura, as lâminas tiveram seus números de identificação cobertos, para a realização de um estudo duplo-cego, evitando desta maneira tendenciosidade do avaliador ao realizar a leitura dos grupos de citologia. Todas as lâminas foram analisadas qualitativamente e quantitativamente. Para a análise qualitativa procedeu-se a técnica de varredura em toda a extensão da lâmina, onde se observaram a presença de muco, células inflamatórias, hemácias, debris, artefatos, a sobreposição celular e as características morfológicas das células epiteliais presentes. Na avaliação quantitativa selecionaram-se 2 campos citológicos aleatoriamente, sendo a imagem capturada em uma ampliação de 200 vezes, por uma câmera de vídeo6 acoplada ao microscópio e a contagem das células foi realizada através de um sistema de análise de imagens7. Os dados obtidos foram registrados em fichas individuais (Apêndice 3).

Todos os esfregaços foram analisados pelo autor da pesquisa, sendo que houve um treinamento e uma calibração prévia quanto o reconhecimento da

5 Olympus® BX50, Japan. 6 Sony CCD Íris®. Metodologia

presença ou ausência das alterações celulares, bem como em relação à identificação e quantificação das células epiteliais. Além disso, havia constante supervisão de um patologista mais experiente.

4.5.1. Avaliação do material citológico:

Foram utilizados os critérios de malignidade descritos e preconizados por SILVA (1997) e ROMANINI (1999):

• Alterações celulares: pleomorfismo nuclear ou formas bizarras, pleomorfismo celular, anisocitose, anisocariose, aumento do volume celular e alterações displásicas;

• Alterações nucleares: aumento do tamanho do núcleo, aumento na proporção núcleo-citoplasma, hipercromasia nuclear, presença de grumos e cordões grosseiros de cromatina, nucléolos aumentados em tamanho e/ou múltiplos, multinucleação celular com presença de nucléolos atípicos e mitoses atípicas.

Quanto à presença ou ausência de alterações morfológicas (nucleares e citoplasmáticas), os esfregaços foram classificados de acordo com os critérios de Papanicolau, citados por SILVA (1997); ROMANINI (1999); ROCHA (2000):

• Classe 0: material insuficiente ou inadequado para análise; • Classe I: células com padrão morfológico normal;

• Classe II: células com características de benignidade e presença de alterações inflamatórias (mudança na relação núcleo-citoplasma, multinucleação e presença de halos perinucleares);

• Classe III: alterações displásicas discretas, apresentando algumas características de malignidade;

• Classe IV: fortemente suspeitos de malignidade, com maior número de células anormais que na classe anterior. Existiam células da camada basal e parabasal redondas ou ovais, com o núcleo em posição central, além de aparecer células com núcleos volumosos e citoplasma reduzido;

• Classe V: alterações celulares compatíveis com neoplasias malignas, como presença de núcleo hipercromático, acentuado pleomorfismo nuclear, espaços

7 Image Pro-Plus® versão 4.5 for Windows, Media Cybernetics, Silver Spring, MD USA. Metodologia

vazios e grânulos grosseiros de cromatina. As células podiam apresentar mitoses atípicas, pleomorfismo celular e evidente alteração na proporção núcleo-citoplasma, em favor do núcleo.

Para responder a questão se a citologia confirmou ou não o resultado histológico e clínico (Apêndice 3), foram utilizados os seguintes parâmetros:

• Para os grupos 1 e 3 (experimentais), confirmaram o diagnóstico quando os esfregaços eram classificados nas classes IV e V;

• Para o grupo 2 confirmou-se o diagnóstico clínico quando os esfregaços eram classificados nas classes I e II.

A análise quantitativa foi realizada através da contagem de células epiteliais classificadas de acordo com a sua morfologia e reação tintorial em: células superficiais ceratinizadas anucleadas; células superficiais nucleadas; células intermediárias; células da camada parabasal e da camada espinhosa imatura (SUGERMAN e SAVAGE, 1996; SILVA, 1997; ROCHA, 2000).

4.6. Análise Estatística

Os dados coletados foram tabulados no programa Microsoft Excel 20028 e submetidos aos seguintes testes estatísticos: Teste do Qui-quadrado (χ2), Análise de Variância (ANOVA) e Teste de Tukey-Kramer.

O Teste do Qui-quadrado, a um nível de probabilidade de 5% (p≤0,05), foi aplicada nas variáveis categóricas para verificar a independência das mesmas. Já a Análise de Variância (ANOVA) foi aplicada quando havia variáveis contínuas, e tinha como objetivo comparar se existia diferença estatística entre as médias das variáveis analisadas em função de três ou mais grupos. Após ser acusada diferença estatística pelo Teste de Variância (ANOVA), utilizou-se o Teste de Tukey-Kramer para detectar quais grupos diferiam entre si, portanto este é um teste de comparações múltiplas.

8 Microsoft Office XP® Shortcut Bar 2002. Metodologia

A população deste estudo consistiu de dezenove indivíduos portadores de carcinoma na região bucal, sendo dezoito (94,7%) do sexo masculino e apenas um (5,3%) do sexo feminino. A idade variou de 23 até 78 anos, sendo que 75% dos indivíduos tinham mais de 60 anos e a média de idade foi de 60,4 anos.

Dos pacientes avaliados, 17 (89,5%) eram fumantes e 12 (63,2%) etilistas, sendo que todos os etilistas também eram fumantes. Além disso, um paciente era portador do vírus HIV e um indivíduo apresentou recidiva de carcinoma epidermóide em uma área previamente tratada por radioterapia.

As 20 lesões analisadas representaram os seguintes tipos de carcinomas: dezessete (85%) epidermóide, dois (10%) verrucoso e um (5%) basocelular. Quanto à localização destas lesões houve uma maior prevalênica no assoalho bucal, representando 25% dos casos (Tabela 1).

TABELA 1 - LOCALIZAÇÃO DAS NEOPLASIAS MALIGNAS ANALISADAS - CURITIBA 2003

LOCALIZAÇÃO n %

Assoalho de boca 5 25%

Mucosa jugal 4 20%

Palato e rebordo alveolar superior 3 15%

Rebordo alveolar inferior e área retromolar 2 10% Bucofaringe (palato mole, pilares amigdalianos) 2 10%

Borda lateral da língua 2 10%

Lábio superior 1 5%

Lábio inferior 1 5%

TOTAL 20 100%

FONTE: Dados da pesquisa.

Ao todo foram analisadas 102 lâminas assim distribuídas:

• Grupo 1 (experimental): 40 lâminas de citologia em base-líquida com a coleta realizada no local da lesão;

• Grupo 2 (controle): 28 lâminas de citologia em base-líquida com material coletado em área contralateral clinicamente sadia. O menor número de lâminas nesse grupo ocorreu porque três pacientes (menos 6 lâminas) tiveram material coletado apenas por citologia em base líquida no local da lesão

(estudo piloto) sendo que foram posteriormente incluídos na amostra, um paciente (menos 2 lâminas) apresentava duas lesões e dois pacientes (menos 4 lâminas) não tiveram amostras coletadas do tecido sadio por causa de mudanças no projeto de pesquisa, que inicialmente propunha a coleta para o grupo controle em indivíduos saudáveis;

• Grupo 3: 34 lâminas de citologia convencional com material retirado da área alterada. O número menor de lâminas nesse grupo deve-se ao fato de que três pacientes (menos 6 lâminas) participaram apenas do projeto piloto, cuja coleta havia sido realizada no local da lesão através da citologia em base líquida.

Em relação às técnicas citológicas empregadas a citologia em base líquida confirmou o diagnóstico histopatológico e clínico, de benignidade ou malignidade, em 73,5%. Enquanto que a citologia convencional confirmou apenas 44,1% dos casos (Tabela 2).

TABELA 2 - COMPARAÇÃO ENTRE OS ACHADOS HISTOLÓGICOS E CLÍNICOS E OS ACHADOS CITOLÓGICOS - CURITIBA 2003

CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA CITOLOGIA CONVENCIONAL DIAGNÓSTICO N % n % CONFIRMADO 50 73,5 15 44,1 NÃO CONFIRMADO 18 26,5 19 55,9 TOTAL 68 100 34 100

FONTE: Dados da pesquisa.

NOTA: χ2 = 8,482; GL = 1; p = 0,0036.

O teste do Qui-quadrado revelou que a citologia em base líquida teve maior concordância com a hipótese de diagnóstico do que a citologia esfoliativa convencional, com um nível de significância para p ≤ 0,05.

Ao relacionar as classes histológicas com a técnica citológica empregada, observou-se uma diferença estatística significativa para p≤0,05 (χ2 = 22,0179; GL = 5; p = 0,0005). Os resultados apontaram que quinze (44,1%) esfregaços preparados por meio da citologia esfoliativa convencional foram classificados como classe 0, enquanto dez (14,7%) esfregaços classe 0 foram obtidos com o uso da citologia em base líquida (Tabela 3).

A análise das lâminas do grupo 1 mostrou maior número de esfregaços classificados nas classes IV e V, indicando malignidade (Tabela 3). Enquanto que nas lâminas do grupo 3 houve um predomínio de classe 0, ou seja, esfregaços inadequados para análise. Já as classes citológicas I e II, que indicam ausência de malignidade, estavam presente em maior número no grupo 2 (grupo controle), como era esperado. Estes resultados apresentaram diferença estatística significativa para p≤ 0,05, quando aplicou-se o Teste do Qui-quadrado.

TABELA 3 - COMPARAÇÃO DAS TÉCNICAS CITOLÓGICAS EMPREGADAS SEGUNDO AS CLASSES DE PAPANICOLAOU - CURITIBA 2003

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

CLASSE n % n % N % 0 8 20,0 2 7,1 15 44,1 I 0 0,0 16 57,2 0 0,0 II 0 0,0 9 32,1 0 0,0 III 5 12,5 1 3,6 4 11,8 IV 8 20,0 0 0,0 6 17,6 V 19 47,5 0 0,0 9 26,5 TOTAL 40 100 28 100 34 100

FONTE: Dados da pesquisa.

NOTA: χ2 = 96,953; GL = 10; p = 0,0000.

As oito lâminas que foram classificadas como insatisfatórias (classe 0) do grupo 1 (Tabela 3) apresentaram grande quantidade de células lisadas e poucas células epiteliais íntegras. Estes achados foram condizentes com áreas de necrose (Figura 7). As duas lâminas classe 0 do grupo 2, ocorreram porque uma das lâminas exibiu pouquíssimas células epiteliais da camada intermediária e basal (Figura 8), enquanto que a outra possuía grande quantidade de células lisadas e agrupadas. Já no grupo 3, dez lâminas tinham escassez de células o

que dificultou a interpretação e avaliação da lâmina. Além disso, três lâminas do grupo 3, possuíam muita sobreposição celular (Figuras 9 e 10) e em duas lâminas muitas células epiteliais superficiais e pouquíssimas da camada intermediária ou basal eram observadas, o que tornava a lâmina inapropriada para análise.

FIGURA 7 - CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA APRESENTANDO-SE COM POUCAS CÉLULAS EPITELIAIS INTEGRAS E GRANDE QUANTIDADE DE MATERIAL LISADO (Papanicolaou, 100X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

FIGURA 8 - PREDOMÍNIO DE CÉLULAS SUPERFICIAIS CERATINIZADAS PRESENTES EM LÂMINAS PREPARADAS PELA CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA (Papanicolaou, 100X)

FIGURA 9 - CITOLOGIA ESFOLIATIVA CONVENCIONAL EXIBINDO GRANDE CONCENTRAÇÃO DE CÉLULAS INFLAMATÓRIAS (Papanicolaou, 40X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

FIGURA 10 - CITOLOGIA ESFOLIATIVA CONVENCIONAL MOSTRANDO HEMÁCIAS EM GRANDE QUANTIDADE (Papanicolaou, 40X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

Ao se comparar o grupo 1 e o grupo 3 (Tabela 3) pode-se verificar uma redução em 54,6% no número de lâminas insatisfatórias para análise (Classe 0), mostrando um melhor desempenho da citologia em base líquida.

A citologia em base líquida apresentou uma sensibilidade de 67,5% e uma especificidade de 89,3% (Tabela 3). Em contra partida, a citologia esfoliativa convencional exibiu uma sensibilidade de apenas 44,1% (Tabela 3). Logo, houve um ganho de sensibilidade de 53,0% quando se utilizou a citologia em base líquida no diagnóstico de carcinomas bucais.

Para a análise quantitativa das células (Tabela 4) presentes nos campos citológicos escolhidos aleatoriamente, algumas lâminas tiveram que ser excluídas: • Grupo 1: oito lâminas foram excluídas devido à grande quantidade de células lisadas e pouquíssimas células íntegras. Duas lâminas apresentaram poucas células epiteliais estando dispersas na lâmina, o que dificultou a contagem e classificação das células epiteliais nos campos selecionados. Porém as alterações celulares observadas eram marcantes o que permitiu a classificação dos esfregaços como maligno.

• Grupo 2: apenas uma lâmina foi excluída, porque o número de células era reduzido e muitas células encontravam-se lisadas, o que tornava difícil a mensuração nos campos selecionados.

• Grupo 3: dez lâminas foram excluídas por causa da escassez de células e três lâminas devido à grande quantidade de sobreposição celular, o que dificultou a correta classificação e contagem das células.

TABELA 4 - MÉDIA DE CÉLULAS SUPERFICIAIS ANUCLEADAS, NUCLEADAS, INTERMEDIÁRIAS, BASAIS E ATÍPICAS PRESENTES NOS CAMPOS CITOLÓGICOS - CURITIBA 2003

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 Valor

x n S X n s x n s p CSA 8,77 30 13,94 8,96 27 12,32 1,90 21 2,41 0,0627 CSN 26,83 30 24,39 36,56 27 30,03 35,43 21 24,77 0,3304 CI 22,03 30 16,21 60,85 27 52,46 7,76 21 11,47 0,0000* CB 0,70 30 1,24 1,93 27 2,32 0,48 21 2,18 0,0186* CA 8,17 30 24,03 0,04 27 0,19 0,52 21 1,03 0,0814 Total de Células 66,50 30 43,37 108,33 27 66,76 46,10 21 33,19 0,0001*

FONTE: Dados da pesquisa.

LEGENDA: CSA = célula superficial anucleada; CSN = célula superficial nucleada; CI = célula intermediária; CB = célula basal; CA = célula atípica.

Os resultados indicaram que a citologia em base líquida (grupos 1 e 2) proporcionou um ganho no número total de células presentes por campo avaliado em relação à citologia esfoliativa convencional (Tabela 4 e Gráfico 1). O número de células superficiais anucleadas, da camada intermediária (Figura 11) e da camada basal, foi maior nas lâminas preparadas através da citologia em base líquida do que pela citologia convencional (Tabela 4 e Gráfico 2).

GRÁFICO 1 - MÉDIA DO TOTAL DE CÉLULAS NOS DIFERENTES GRUPOS, CURITIBA 2003

66,5 108,33 46,1 0 20 40 60 80 100 120 DE LU LA S

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

GRUPOS FONTE: Dados da pesquisa.

GRÁFICO 2 - MÉDIA DE CÉLULAS SUPERFICIAIS ANUCLEADAS (CSA), NUCLEADAS (CSN), INTERMEDIÁRIAS (CI), BASAIS (CB) E ATÍPICAS (CA) PRESENTES NOS CAMPOS CITOLÓGICOS DOS DIFERENTES GRUPOS, CURITIBA 2003 8,77 8,96 1,9 26,83 36,56 35,43 22,03 60,85 7,76 0,71,930,48 8,17 0,04 0,52 0 10 20 30 40 50 60 70 QU A N T ID A D E CSA CSN CI CB CA TIPO CELULAR

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 FONTE: Dados da pesquisa.

FIGURA 11 - CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA EXIBINDO UMA FINA CAMADA DE CÉLULAS INTERMEDIÁRIAS (SETAS MENORES) E SUPERFICIAIS (SETAS MAIORES) (Papanicolaou, 200X)

Fonte: Fotomicrografia do autor.

Ao se aplicar a Análise de Variância (ANOVA) verificou-se diferença estatisticamente significativa (p≤0,05), entre os grupos, em relação às células da camada intermediária, células da camada basal e o número total de células. O Teste de Tukey-Kramer foi utilizado para identificar onde ocorreu esta diferença estatística entre os grupos. Quanto ao número de células da camada intermediária, células da camada basal e o número total de células, a diferença estatística aconteceu entre a citologia em base líquida da área sadia em relação à citologia em base líquida e a citologia convencional na área da lesão (Gráfico 1 e 2); sendo que estas duas últimas não apresentaram diferenças estatísticas entre si (Apêndice 4).

Em relação à dispersão celular (Tabela 5) foi observada uma diferença estatisticamente significativa (p≤0,05), onde os grupos 1 e 2 exibiram células dispersas nos campos citológicos (Figura 12), ao passo que o grupo 3 apresentou células agrupadas (Figura 13).

TABELA 5 - DISPERSÃO CELULAR OBSERVADA NOS CAMPOS CITOLÓGICOS SEGUNDO OS GRUPOS ESTUDADOS - CURITIBA 2003

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

n % n % n %

Células em vários agrupamentos 1 2,9 1 3,5 14 58,3

Células levemente dispersas 3 8,8 5 17,9 3 12,5

Células dispersas 30 88,3 22 78,6 7 29,2

TOTAL 34 100 28 100 24 100

FONTE: Dados da pesquisa.

NOTA: χ2 = 36,984; GL = 4; p = 0,0000.

FIGURA 12 – CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA EXIBINDO CÉLULAS DISPERSAS (Papanicolaou 200X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

FIGURA 13 – CITOLOGIA ESFOLIATIVA CONVENCIONAL APRESENTANDO AGRUPAMENTO CELULAR (Papanicolaou, 100X)

Para a análise da dispersão celular (Tabela 5), 6 lâminas do grupo 1 e 10 lâminas do grupo 3, tiveram que ser excluídas devido à escassez de células epiteliais e a grande quantidade de material lisado, o que inviabilizou a análise desta variável.

As alterações celulares avaliadas nos campos citológicos estão dispostas na Tabela 6 e são representadas nos Gráficos 3 e 4. Houve diferença estatística significativa (p≤0,05) entre os grupos 1 e 3 e o grupo 2 nas seguintes variáveis: pleomorfismo nuclear e formas bizarras (Figura 14), anisocitose, anisocariose (Figura 15), alterações displásicas, pleomorfismo celular, aumento do tamanho nuclear (Figura 16), aumento na proporção núcleo-citoplasma, hipercromasia nuclear, grumos/cordões grosseiros de cromatina, nucléolos aumentados em tamanho (Figura 17), espessamento irregular da membrana nuclear, multinucleação celular e mitoses atípicas (Figura 18).

No entanto, as alterações referentes ao aumento do volume celular (Figura 18) e a presença de nucléolos múltiplos não apresentaram diferenças estatísticas entre os grupos (Tabela 7).

Vale ressaltar que o n do:

• Grupo 1 foi de 32 lâminas, pois oito lâminas foram excluídas por causa da escassez de células epiteliais (classe 0);

• Grupo 2 foi de 26 lâminas, pois uma teve que ser excluída por apresentar um pequeno número de células epiteliais o que dificultou a análise das características acima mencionadas;

• Grupo 3 foi de 21 lâminas, embora quinze lâminas fossem classificadas como classe 0, duas exibiram as alterações celulares acima mencionadas nas poucas células epiteliais presentes, logo foram incluídas no teste.

TABELA 6 - ALTERAÇÕES CELULARES OBSERVADAS NOS CAMPOS CITOLÓGICOS DOS DIFERENTES GRUPOS - CURITIBA 2003

ALTERAÇÕES CELULARES GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

Pleomorfismo nuclear e formas bizarras 27 2 17

Anisocitose 18 0 9

Anisocariose 19 1 10

Aumento do volume celular 7 7 6

Alterações displásicas 26 1 14

Pleomorfismo celular 19 2 5

Aumento do tamanho nuclear 28 14 21

Aumento na proporção núcleo:citoplasma 26 11 17

Hipercromasia nuclear 28 6 18

Grumos / cordões grosseiros de cromatina 21 3 13

Nucléolos aumentados 17 2 9

Nucléolos múltiplos 9 3 3

Espessamento irregular da membrana nuclear 21 3 15

Multinucleação celular 15 2 4

Mitoses atípicas 18 2 9

FONTE: Dados da pesquisa.

TABELA 7 - VALORES ESTATÍSTICOS REFERENTES ÀS ALTERAÇÕES CELULARES OBSERVADAS NOS CAMPOS CITOLÓGICOS DOS DIFERENTES GRUPOS - CURITIBA 2003

ALTERAÇÕES CELULARES χ2 GL Valor de p

Pleomorfismo nuclear e formas bizarras 40,7523 2 0,0000

Anisocitose 21,1334 2 0,0002

Anisocariose 19,9084 2 0,0036

Aumento do volume celular 0,3536* 2 0,6990

Alterações displásicas 36,9265 2 0,0000

Pleomorfismo celular 18,4268 2 0,0001

Aumento do tamanho nuclear 17,3235 2 0,0001

Aumento na proporção núcleo:citoplasma 12,1554 2 0,0022

Hipercromasia nuclear 32,5325 2 0,0000

Grumos / cordões grosseiros de cromatina 19,4616 2 0,0000

Nucléolos aumentados 13,6279 2 0,0011

Nucléolos múltiplos 2,9766* 2 0,2257

Espessamento irregular da membrana nuclear 22,3577 2 0,0000

Multinucleação celular 12,1168 2 0,00234

Mitoses atípicas 15,0232 2 0,0005

FONTE: Dados da pesquisa.

GRÁFICO 3 - FREQÜÊNCIA DAS ALTERAÇÕES CELULARES OBSERVADAS NOS DIFERENTES GRUPOS AVALIADOS, CURITIBA 2003 56,3% 59,4% 81,3% 59,4% 0,0% 3,8% 3,8% 81,0% 42,9% 47,6% 23,8% 84,4% 21,9% 7,7% 26,9% 7,7% 28,6% 66,7% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% Pleomorfismo nuclear e formas bizarras

Anisocitose Anisocariose Aumento do volume celular Alterações displásicas Pleomorfismo celular ALTERAÇÕES CELULARES PO R C EN T A G E M

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

GRÁFICO 4 – FREQÜÊNCIA DAS ALTERAÇÕES NUCLEARES OBSERVADAS NOS DIFERENTES GRUPOS AVALIADOS, CURITIBA 2003 87,5% 81,3% 87,5% 65,6% 53,1% 28,1% 65,6% 46,9% 56,3% 42,3% 23,1% 11,5% 7,7% 11,5% 11,5% 7,7% 7,7% 100,0% 81,0% 85,7% 61,9% 42,9% 14,3% 71,4% 19,0% 42,9% 53,8% 0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0% 120,0% Aumento do tamanho nuclear Aumento na proporção núcleo:citoplasma Hipercromasia nuclear Grumos/cordões de cromatina Nucléolos aumentados

Nucléolos múltiplos Espessamento irregular da membrana nuclear Multinucleação celular Mitoses atípicas ALTERAÇÕES NUCLEARES PO R C E N TA G E M

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3

FIGURA 14 - CITOLOGIA ESFOLIATIVA CONVENCIONAL EXIBINDO CÉLULAS COM PLEOMORFISMO NUCLEAR EM MEIO AS CÉLULAS INFLAMATÓRIAS (Papanicolaou, 400X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

FIGURA 15 – CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA EXIBINDO ANISOCARIOSE NAS CÉLULAS NEOPLÁSICAS (Papanicolaou, 200X)

FIGURA 16 – CÉLULAS NEOPLASICAS APRESENTANDO AUMENTO DE TAMANHO NUCLEAR, IDENTIFICADAS NAS LÂMINAS DA CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA (Papanicolaou, 400X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

FIGURA 17 - CÉLULAS MALIGNAS EXIBINDO NUCLÉOLOS AUMENTADO EM TAMANHO, OBSERVADAS NAS LÂMINAS OBTIDAS POR CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA (Papanicolaou, 400X)

FIGURA 18 - CÉLULA MALIGNA EM DIVISÃO MITÓTICA ATÍPICA (SETA MAIOR) E AUMENTO DE VOLUME CELULAR (SETA MENOR) OBSERVADO EM LÂMINA CONFECCIONADA POR MEIO DE CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA (Papanicolaou, 400X)

FONTE: Fotomicrografia do autor.

Ao se aplicar o Teste do Qui-quadrado entre os grupos 1 e 3 (Apêndice 5), cujas as amostras eram de material coletado nas lesões, observou-se diferença estatística somente nas variáveis referentes ao pleomorfismo celular (χ2 = 6,4728

e GL = 1) e multinucleação celular (χ2 = 4,2693 e GL = 1); sendo estas características melhor visualizadas na citologia em base líquida do que na citologia convencional. As demais alterações celulares e nucleares avaliadas não apresentaram diferenças estatísticas entre os grupos 1 e 3.

Um achado casual encontrado em algumas lâminas preparadas pela tecnologia de base líquida, foi a presença de células enroladas, denominadas células “charutos”, as quais impediam a avaliação morfológica (Figura 19).

FIGURA 19 – CÉLULAS EPITELIAIS ENROLADAS (CHARUTOS) OBSERVADAS NA CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA (Papanicolaou, 100X).

FONTE: Fotomicrografia do autor.

Quanto à queixa de desconforto durante o procedimento de coleta, verificou-se que não houve diferença significativa (p≤0,05) entre as técnicas citológicas empregadas. Embora a citologia convencional, onde a coleta era realizada com espátula de madeira, 3 participantes (17,7%) tenham referido muito desconforto durante este procedimento (Tabela 8).

TABELA 8 - PERCEPÇÃO DE DESCONFORTO ENTRE OS DISPOSITIVOS DE COLETA DA CITOLOGIA EM BASE LÍQUIDA E DA CITOLOGIA CONVENCIONAL - CURITIBA 2003 GRUPO 1 GRUPO 3 n % n % Nenhum desconforto 6 80,0 10 58,8 Pouco desconforto 4 20,0 4 23,5 Muito desconforto 0 0,0 3 17,7 TOTAL 20 100,0 17 100,0

FONTE: Dados da pesquisa. NOTA: χ2 = 4,1687; GL = 2.

Os pacientes que compuseram a amostra deste estudo eram, principalmente, do sexo masculino (94,7%) e com mais de 60 anos de idade (75%). Estes possuíam como hábito o uso de tabaco (89,5%) e de álcool (63,2%), sendo estes fatores diretamente relacionados ao processo de carcinogênese bucal. O carcinoma epidermóide (85%) foi o que apresentou maior prevalência entre os tipos de carcinomas estudados. Esses dados estão de acordo com os achados da literatura (PARAJARA, 1999; ELIAS et al., 2002; SANDERSON e IRONSIDE, 2002; EPSTEIN et al., 2002 e MORAES CHAVES e CHERUBINI, 2003).

Outro fator que pode predispor o desenvolvimento de neoplasias malignas é a Síndrome da Imunodeficiência Humana, que com a progressão da doença há a possibilidade do aparecimento de lesões bucais, dentre elas os processos neoplásicos malignos como: sarcoma de Kaposi, linfomas não-Hodgkin e carcinomas (NEVILLE et al., 1998). Este quadro foi observado em um indivíduo da amostra, o qual tinha 23 anos e era HIV positivo, sendo portador de um carcinoma epidermóide.

As lesões examinadas estavam localizadas, principalmente, na região do assoalho bucal (25%) e mucosa jugal (20%), conforme apresentado na Tabela 1. Embora o câncer de lábio inferior, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer, seja relevante no Brasil por ser um país tropical (BRASIL, 2003d), apenas um indivíduo apresentou esta condição.

Pode-se observar, durante o procedimento de coleta que a maior parte dos casos diagnosticados se enquadravam em estágios avançados da doença, onde já se observava um aumento considerável de volume, ulceração e invasão tecidual. Este fato já tinha sido destacado por OGDEN et al. (1996a); KAUGARS et al. (1998) e SASSI et al. (2002), sendo que estes últimos autores afirmaram que 60% dos tumores são detectados e diagnosticados em estágios avançados, resultando num tratamento que nem sempre é favorável.

Conforme os fatos expostos anteriormente, a citologia poderia ser adotada como um método auxiliar na detecção de lesões cancerizáveis ou neoplasias malignas em estágios iniciais. Segundo ROMANINI (1999) a citopatologia poderia ser usada em campanhas de prevenção do câncer bucal como instrumento de

triagem, uma vez que é um procedimento facilmente realizável, rápido, de baixo custo, não invasivo e indolor.

No entanto, para obter os benefícios que esta técnica proporciona é

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