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3 A EPISTEMOLOGIA DO PENSAMENTO COMPLEXO

3.2 MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

O método de investigação epistemologicamente se constitui pelos seguintes elementos:

a) Método de produção e análise – Qual o processo utilizado para produzir conhecimento sobre algo ou sobre o objeto em análise?

No pensamento complexo, o método de produção e análise se forma pela dialógica entre o sujeito e o objeto num único contexto e se evidencia pelo pensamento reflexivo.

b) Objetivo do método – Se voltar para o tema com interesse, investigar a experiência, refletir, escrever, ser fiel ao sujeito e considerar o todo observado.

O objetivo do método, para o pensamento complexo, é que o sujeito parta de uma ideia ou seja forçado pela circunstância a elaborar abstrações cada vez mais sutis até chegar às características mais simples, elaborando as complexas relações. c) Relação entre pensamento e realidade – Como se estabelecem as relações entre a realidade e o pensamento e quem deve ser privilegiado na relação entre sujeito e objeto?

Para o pensamento complexo, nessa relação entre o objetivo e o subjetivo, o pensamento é o ponto inicial que pensa sobre o objeto, mas depois se volta para si com o que pensou sobre o objeto observado constituindo a realidade.

d) Relação entre essência e aparência dos fenômenos – Como o conjunto de atributos que caracteriza um fenômeno se defronta com suas condições ou circunstâncias?

No pensamento complexo, o conteúdo aparente corresponde à essência, a forma corresponde à aparência e ambos pertencem ao complexo fenômeno em que um não existe sem o outro, mas possuem diferenças na essência.

e) Relação entre sujeito e objeto – A relação entre sujeito e objeto deve suprimir a diferença e manter a identidade de ambos como garantia da imparcialidade, ou como manter a imparcialidade para a formação de uma unidade como garantia da validade orgânica e natural do conhecimento?

No pensamento complexo, sujeito e objeto observado se diferenciam, mas possuem uma relação intrínseca entre eles que é condicionada pela consciência que oferece e medeia o nível de reflexões.

f) Relação entre objetividade e subjetividade no trato do fenômeno – Como a realidade exterior capturada pela consciência se relaciona com a realidade psíquica sem comprometer a relação e nem privilegiar um ou outro?

No pensamento complexo, a realidade observada é apropriada pela subjetividade do pensamento para ser criticada como fenômeno ou confrontada com os dados do nível da consciência de realidade em análise.

3.3 COMO SE CONSTITUEM AS TÉCNICAS DE PESQUISA

As técnicas de pesquisa se constituem pelos seguintes elementos:

a) Principais tipos de estudo – Quais os principais tipos de estudo a que se recorre para a apreensão do objeto (histórico, comparativo, estudo de caso, outros)?

No pensamento complexo pode ser histórico; sócio-histórico; estudos críticos; estudos que incorporam ciência, filosofia, prática política; estudos etnográficos, fenomenológicos, sociológicos, arqueológicos, genealógicos, hermenêuticos.

b) Principais técnicas de coleta, tratamento e análise de dados – Quais as principais técnicas qualitativas (análise documental, entrevistas, grupo focal, história de vida, outras) ou quantitativas (estatística, frequência, análise de conteúdo, outras)? Para o pensamento complexo, as principais técnicas de coleta e tratamento de dados podem ser: documental, depoimentos e observação. A análise de dados pode ser interpretativa, qualitativa, quantitativa ou todas.

c) Critérios de demarcação do campo empírico – Qual o critério da definição necessariamente arbitrária do nível empírico?

O nível empírico no pensamento complexo está relacionado com a realidade observada que é objetivada a partir de constructos ontológicos, epistemológicos, metodológicos e teóricos no campo das relações de produção. No campo dos estudos de domínio epistemológico, os elementos constitutivos que compõem as diferentes áreas são semelhantes, mas guardam elementos particulares na forma de conhecer o objeto de pesquisa. Alguns elementos constitutivos possuem mais abrangência, mais impacto, maior importância que outros.

Para que uma teoria do conhecimento seja acessível ou reconhecida, é necessário que se mostre em todas essas dimensões das categorias epistemológicas, pois estas são capazes de orientar o pensamento do pesquisador em suas ações respectivas e com objetividade.

Considerando que é possível caracterizar a complexidade em todas as categorias epistemológicas, é justo afirmar que as categorias apresentadas como modelo ou matriz para a sistematização do pensamento epistemológico, composta por dimensões que indicam as formas diferentes de como o pensamento científico ou a ciência do conhecimento se produzem reconhecem a proposta teórica da complexidade como um pensamento sistematizado porque atende todas as características necessárias para uma epistemologia.

Notadamente a argumentação que aqui se apresenta é fruto de reflexões pertinentes que não se findam, mas que se constituem num momento de percepção própria de uma realidade de conhecimento ou de sustentação de um aprendizado em constante construção.

Não foi objeto desta pesquisa nenhuma reflexão sobre a possibilidade de um nome para a epistemologia do pensamento complexo, pois tão somente dedicou-se ao exercício da episteme necessária para compor o objetivo desta tese em construir as categorias de uma teoria da complexidade. Contudo, o nome de epistemologia transdisciplinar foi sugerido por Jean Piaget num congresso sobre interdisciplinaridade na Suíça, em 1997, com o título Que universidade para o amanhã? quando, na oportunidade, O método já estava concluído e publicado.

Para completar e concluir a demonstração de que o pensamento complexo é uma teoria, serão apresentadas, no Capítulo 6, as categorias epistemológicas que são

aplicadas para interpretar qualquer conhecimento empregando os pressupostos da teoria da complexidade.

O Quadro 2 mostra a constituição das categorias epistemológicas na produção do conhecimento.

Quadro 2 – A constituição de categorias epistemológicas na produção do conhecimento

CATEGORIAS EPISTEMOLÓGICAS PENSAMENTO COMPLEXO

Concepção do conhecimento – O que é e como se constrói o conhecimento científico ou filosófico?

No pensamento complexo, o conhecimento é construído numa relação do sujeito com o objeto, sem primazia do sujeito e nem do objeto, mas mediada pelo pensamento do sujeito na qualidade do nível da consciência.

Percepção imediata da realidade – Como a realidade aparece imediatamente à consciência, ou seja, qual a impressão inicial que o pesquisador tem do objetivo de pesquisa?

É a parcialidade do fenômeno que se apresenta primeiro e, em seguida, a sua totalidade misturada como a coisa em si e suas relações possíveis. O que se busca é a estrutura da coisa, sua essência, seu movimento, contradições e complexidade. Concepção da realidade social – Como a

realidade social condiciona ou não a construção do conhecimento?

É a síntese de múltiplas determinações, é a unidade da multiplicidade. A realidade que se constata é concebida a partir das relações causais e condicionantes entre a estrutura objetiva e a estrutura subjetiva. Cognoscibilidade do mundo – Se, e de

que forma o mundo exterior pode ser conhecido pelo sujeito (perfeitamente, relativamente, topicamente) por sua condição cognitiva?

Cognitivamente, o ser humano é considerado a partir da história, das relações e do modo de produção material da respectiva existência e da espécie.

Fonte: DA SILVA e PORTILHO, 2019.

O Quadro 3 apresenta o método de investigação na construção do conhecimento.

Quadro 3 – Método de investigação na construção do conhecimento

CATEGORIAS EPISTEMOLÓGICAS PENSAMENTO COMPLEXO

Método de produção e análise – Qual o processo utilizado para produzir conhecimento sobre algo ou sobre o objeto em análise?

No pensamento complexo se forma pela dialógica entre o sujeito e objeto num único contexto e se evidencia pelo pensamento reflexivo.

Objetivo do método – Se voltar para o tema com interesse, investigar a experiência, refletir, escrever, ser fiel ao sujeito e considerar o todo observado.

O sujeito parte de uma ideia ou é forçado pela circunstância para elaborar abstrações cada vez mais sutis até chegar às características mais simples, elaborando as complexas relações. Relação entre pensamento e realidade –

Como se estabelecem as relações entre a realidade e o pensamento; quem deve ser privilegiado na relação entre sujeito e objeto?

Na relação entre o objetivo e o subjetivo, o pensamento é o ponto inicial que pensa sobre o objeto, mas depois se volta para si com o que pensou sobre o objeto observado constituindo a realidade.

Relação entre essência e aparência dos fenômenos – Como o conjunto de atributos que caracteriza um fenômeno se defronta com suas condições ou circunstâncias?

O conteúdo aparente corresponde à essência, a forma corresponde à aparência, e ambos pertencem ao complexo; um não existe sem o outro, mas possuem diferenças na essência. Relação entre sujeito e objeto – Deve

suprimir a diferença e manter a identidade de ambos como garantia da imparcialidade, ou como manter a imparcialidade para a formação de uma unidade como garantia da validade orgânica e natural do conhecimento?

O sujeito e o objeto observado se diferenciam, mas possuem uma relação intrínseca entre ambos que é condicionada pela consciência que oferece e medeia o nível de reflexões.

Relação entre objetividade e subjetividade no trato do fenômeno – Como a realidade exterior capturada pela consciência se relaciona com a realidade psíquica sem comprometer a relação e nem privilegiar um ou outro?

A realidade observada é apropriada pela subjetividade do pensamento para ser criticada ou confrontada com os dados do nível da consciência de realidade em análise.

Fonte: DA SILVA e PORTILHO, 2019.

O Quadro 4 identifica as técnicas de pesquisa.

Quadro 4 – Como se constituem as técnicas de pesquisa

CATEGORIAS EPISTEMOLÓGICAS PENSAMENTO COMPLEXO

Principais tipos de estudo – Quais os principais tipos de estudo a que se recorre para a apreensão do objeto (histórico, comparativo, estudo de caso, outros)?

Pode ser histórico; sócio-histórico; estudos críticos; estudos que incorporam ciência, filosofia, prática política; estudo etnográfico, fenomenológico, sociológico, arqueológico, genealógico, hermenêutico.

Principais técnicas de coleta, tratamento e análise de dados – Quais as principais técnicas qualitativas (análise documental, entrevistas, grupo focal, história de vida, outras) ou quantitativas (estatística, frequência, análise de conteúdo, outras)?

As principais técnicas de coleta e tratamento de dados na complexidade podem ser: documental, depoimentos e observação. A análise de dados pode ser interpretativa, qualitativa, quantitativa ou todas.

Critérios de demarcação do campo empírico – Qual o critério da definição necessariamente arbitrária do nível empírico?

O nível empírico está relacionado com a realidade observada que é objetivada a partir de constructos ontológicos, epistemológicos, metodológicos e teóricos, no campo das relações de produção.

Fonte: DA SILVA e PORTILHO, 2019.

Na construção das categorias da teoria da complexidade, foi utilizada a interpretação hermenêutica, conforme Ricoeur (2013), em cada livro que compõe O