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Método de pesquisa, coleta e análise dos dados

3. METODOLOGIA DE PESQUISA

3.7. Método de pesquisa, coleta e análise dos dados

O método de pesquisa, partindo da análise de histórias de vida, mostrou-se eficaz diante da possibilidade de identificar o processo de formação do empreendedor social, pois se trata de um procedimento científico de analise em profundidade da realidade vivida pelos empreendedores sociais.

Na literatura especializada sobre o método, encontram-se os primeiros indícios da utilização da História de Vida como meio de reflexão de um determinado contexto histórico as Confissões de Santo Agostinho (354-430), com a apresentação de sua trajetória pessoal de dúvidas e convicções, que marcam um momento histórico do Cristianismo e sua relação com Deus. Posteriormente, Pedro Abelardo (1079-1142) escreveu A história de minhas calamidades; no século XVIII, Jean-Jacques Rousseau escreveu Eu narrador. E há, ainda, W. O.Thomas e F. Zananiecki, que incorporaram as histórias de vida na Escola de Sociologia de Chicago como documento de estudos acadêmicos (MEIHY; HOLANDA, 2007).

Meihy e Holanda (2007, p. 37-38) reiteram:

A captação acadêmica das histórias de vida serve como pesquisa sobre o funcionamento das sociedades (Peneff) e, segundo outros, como funções terapêuticas (Legrand). Por uma ou outra via, contudo, tem-se um leque de aceitação enorme, que tanto permite aos leitores de literatura como aos estudiosos da área de humanidades e mesmo ciências clínicas se aproximarem das histórias de vida.

Portanto, a História de Vida permite ao pesquisador e à pesquisa (ALBERTI, 2004): extrair informações e conhecimentos que o indivíduo detém; reconstruir fatos que não estão registrados em outros tipos de fontes; identificar elementos de como as pessoas efetuam e elaboram suas experiências; relacionar situações de aprendizagem e decisões; entender como pessoas e grupos experimentam o passado e interpretam suas ações cotidianas; e delinear a trajetória de vida com vista a um objeto de estudo, no caso o Empreendedor Social.

Assim como a produção de conhecimento oriundo da interação entre ciência e técnica tornou-se possível nas ciências sociais aplicadas, observa-se que a metodologia de História de Vida, ao ser estruturada no campo da Administração, em categorias de análises, permitirá identificar o processo de formação do Empreendedor Social.

Josso (1999, p. 3) afirma:

Os procedimentos de história de vida, tal como foram desenvolvidos e dados a conhecer [...], parecem articular-se a dois tipos de objetivos teóricos. De uma parte, um projeto de deslocamento do posicionamento do pesquisador, mediante um refinamento de metodologias de pesquisa-formação articuladas à construção de uma história de vida. Esse refinamento visa diferenciar melhor as modalidades e os papéis desempenhados no processo, às etapas e os projetos de conhecimento de delimitação de um novo território de reflexão que abarca a formação, a autoformação e suas características, assim como os processos de formação específicos com públicos particulares.

Em complemento, Nóvoa e Finger (1988, p. 26) reiteram:

Uma vida é uma práxis que se apropria das relações sociais (as estruturas sociais), interiorizando-as e voltando a traduzi-las em estruturas psicológicas, por meio da sua atividade desestruturante-reestruturante. Toda a vida humana se revela, até nos seus aspectos menos generalizáveis, como a síntese de uma história social. Todo o comportamento ou acto individual nos parece, até nas formas mais únicas, a síntese horizontal de uma estrutura social. Quantas biografias são precisas para uma “verdade” sociológica? Que material biográfico será mais representativo e nos proporcionará mais verdades gerais? Muitas perguntas que não tem talvez nenhum sentido. Pois – e frisamos lucidamente a afirmação – nosso sistema social encontra-se integralmente em casa um dos nossos sonhos, delírios, obras, comportamentos. E a história deste sistema está contida por inteiro na história da nossa vida individual.

Portanto, somente pela reconstrução da história de vida é possível identificar conhecimentos e informações particulares, em decorrência da condição de existência e experiência de vida, que remetem ao processo de construção do indivíduo, mas que podem ser resgatadas se observadas à luz da ciência e experiência de vida.

Vale destacar que as histórias de vida analisadas na pesquisa foram estruturadas em “narrativas”, nas quais os participantes contam suas experiências profissionais e de vida, sendo assim, as narrativas analisadas nos itens de 4.1.1 a 4.1.10 podem ser consideradas materiais autobiográficos, portanto, devem ser vistas como material precioso, uma vez que,

[...] as histórias revelam conhecimento tácito, importante para ser compreendido; têm lugar num contexto significativo, apelam à tradição de contar histórias, o que dá uma estrutura à expressão; geralmente está envolvida uma lição de moral a ser aprendida, podem dar voz ao criticismo de um modo

social aceitável; refletem a não separação entre pensamento e ação [...] (GALVÃO, 2005, p. 331).

Tendo em vista os parâmetros acima mencionados, Adam (2008) divide em dois tipos os fatos a serem expostos em narrativas: eventos e ações. As ações caracterizam-se pela presença de um agente, o qual provoca ou tenta evitar uma mudança no estado de coisas; os eventos ocorrem sob o efeito de causas, sem a intervenção intencional de um agente. O mesmo autor também destaca que toda narrativa desenvolve uma trama que possui cinco momentos bem característicos: 1) Situação inicial (o ponto de partida da narração); 2) Nó desencadeador (algo que ocorre e que é responsável pelo desenvolvimento da narrativa); 3) Reação ou avaliação (a atitude do agente da narrativa frente ao nó desencadeador); 4) Desenlace (a resolução) e 5) Situação final. Esses momentos da narrativa possibilitam a compreensão do sentido do que é narrado.

Com base nos elementos da narrativa descritos por Adam (2008), buscou-se analisar as fases e eventos marcantes das histórias de vida dos empreendedores sociais, bem como levantar as expressões e atitudes determinantes à atuação social. Para tal, adotou-se análise de conteúdo, uma vez que permite o aprofundamento no mundo dos significados das ações e relações humanas, além disso, permite ir além do que se tem como resultado claro e manifesto, pode-se obter por inferência, até mesmo aquilo que o autor deixou subentendido (FREITAS; JANISSEK, 2000). Olabuenaga e Ispizua (1989) reforçam que a técnica de análise de conteúdo pode perfeitamente ser empregada, pois se trata de uma oportunidade para ler e interpretar o conteúdo de documentos, garantindo o aspecto qualitativo de uma análise.

Cabe ressaltar também que a organização das fases e eventos das histórias de vida dos empreendedores sociais foi operacionalizada pelo comando de geração de Network do ATLAS.ti. A aplicação dos comandos da análise cruzada do ATLAS.ti “code cooccurrence table” e “cluster quotations before calculating co-occurrence” viabilizaram a interpretação e classificação das expressões e atitudes relevantes à formação dos empreendedores sociais, levando-se em consideração a sequência temporal das fases e eventos das trajetórias de vida.