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3. METODOLOGIA

3.1. O Método Delphi

Para este trabalho de pesquisa será utilizada a metodologia Delphi. Essa técnica passou a ser disseminada no começo dos anos 1960, com base em trabalhos desenvolvidos por Olaf Helmer e Norman Dalker, pesquisadores da Rand

Corporation (Estes e Kuespert, 1976). O objetivo era desenvolver uma técnica para

aprimorar a opinião de especialistas na previsão tecnológica, a partir de três condições básicas: anonimato dos respondentes, representação estatística da distribuição dos resultados e feedback (retorno) das respostas do grupo para reavaliação nas rodadas seguintes.

Segundo Vergara (2009), questionário é uma forma de coletar dados, interagindo com o campo a partir de uma série ordenada de questões a respeito de variáveis e situações onde o pesquisador deseja investigar. Tais questões são apresentadas a um respondente por escrito, para que ele responda também desta forma, não importando se for em papel ou em meio magnético. Os questionários são úteis quando: se quer ouvir um grande número de respondentes; os respondentes encontram-se em regiões geográficas distintas; o tempo para coleta é mais exíguo do que o necessário para fazer uma entrevista; e a presença do pesquisador não é necessária.

Sendo assim, o método Delphi consiste em consultar um grupo de analistas sobre eventos atuais e futuros via um questionário que é repassado inúmeras vezes até que seja obtido um consenso (convergência) entre as respostas, o que representa a consolidação das ideias (conceitos) do grupo. Segundo Giovinazzo e

Wricht (2000), entende-se que a avaliação e análise coletiva do grupo são mais ricas do que a opinião de um só indivíduo. Como dito, o anonimato dos respondentes, a representação estatística da distribuição dos resultados e o retorno das respostas da equipe para reavaliação das rodadas seguintes são as principais características deste método. Além disso, o método Delphi é altamente recomendado quando não se dispõe de dados quantitativos, ou estes não podem ser projetados para o futuro com segurança, tendo em vista a expectativa de mudanças estruturais e processuais nos fatores que determinam as tendências futuras.

De acordo com Giovinazzo e Fischmann (2001), a utilidade do método parte do pressuposto de que o julgamento coletivo é melhor que uma opinião individual. Uma das principais aplicações do método Delphi é na projeção de cenários futuros, visando subsidiar decisões estratégicas, no âmbito de organizações ou de políticas públicas.

Linstone e Turoff (2002) explicam que o método é bastante simples, pois trata- se de um questionário interativo que circula repetidas vezes por um grupo de peritos, preservando o seu anonimato. Na primeira rodada, os especialistas recebem o questionário, preparado por uma equipe de coordenação, a ser respondido individualmente, usualmente com respostas quantitativas apoiadas por justificativas e informações qualitativas.

Ainda de acordo com Linstone e Turoff (2002), o questionário deve ser bem elaborado, apresentando, para cada questão, um resumo das principais informações conhecidas sobre o assunto e, eventualmente, extrapolações para o futuro, de forma a facilitar o raciocínio orientado para o futuro.

Estes e Kuespert (1976) explicam que as respostas das questões quantitativas são tabuladas, recebendo um tratamento estatístico simples (define-se mediana e quartis), com a devolução dos resultados aos participantes para a rodada seguinte. Quando há dados qualitativos (justificativas e opiniões) relacionados às questões quantitativas, a coordenação busca relacionar os argumentos às projeções quantitativas correspondentes.

Estes e Kuespert (1976) complementam que a cada nova rodada, as perguntas são repetidas e os participantes devem reavaliar suas respostas, tendo em vista as respostas e justificativas dadas pelos demais respondentes na rodada anterior. Assim, são solicitadas novas previsões com justificativas, se estas previsões divergirem das respostas centrais do grupo, repetindo-se esse processo em

sucessivas rodadas do questionário, até que a divergência de opiniões entre especialistas tenha diminuído a um nível satisfatório e a resposta da última rodada seja considerada como a previsão do grupo como um todo.

O retorno realizado a partir das diversas rodadas permite a troca de informações entre os participantes nos questionários subsequentes (não se esquecendo do anonimato) e, em geral, conduz a uma convergência, buscando o consenso (Estes e Kuespert, 1976). O consenso pode ser mensurado pela relação entre a distância entre o primeiro e o terceiro quartis das respostas e o valor da mediana. Algumas vezes, os respondentes se posicionam em torno de duas ou três posições distintas, não havendo um consenso.

Linstone e Turoff (2002) explicitam que a equipe coordenadora do método Delphi deve procurar informações sobre o tema, buscando opiniões especializadas e entrevistas com técnicos do setor, até chegar a uma primeira versão do questionário. Estes e Kuespert (1976) complementam que, caso haja um problema de grande abrangência e complexidade, recorre-se às técnicas de auxílio à estruturação do problema, como análise morfológica ou análise de sistemas. Na figura 3.1 pode ser vista a sequencia de atividades envolvidas na execução do método Delphi.

Enquanto é desenvolvido e testado o questionário da primeira rodada, a coordenação faz a seleção dos painelistas (que fazem parte do painel de pesquisa). A heterogeneidade é um fator estimulante, mas a qualidade do resultado depende essencialmente dos participantes do estudo, de acordo com Giovinazzo e Wright (2000) e Listone e Turoff (2002).

Segundo Estes e Kuespert (1976), os respondentes são contatados individualmente pela equipe coordenadora, que lhes explica o que é a técnica Delphi. Aos painelistas que efetivamente concordarem em participar, são enviados os questionários com uma breve explicação e instruções de preenchimento e devolução. A entrega pode ser efetuada em mãos, pelo correio ou via correio eletrônico (e-mail). Normalmente, há uma abstenção de 30% a 50% dos respondentes na primeira rodada, e de 20% a 30% na segunda rodada. Após a análise da primeira rodada, a coordenação decide sobre a necessidade de incorporação de novas questões na segunda rodada. A segunda rodada do questionário apresenta obrigatoriamente os resultados do primeiro questionário, possibilitando que cada respondente reveja sua posição em relação à argumentação do grupo em cada questão. As rodadas ocorrem até que seja atingido um grau

satisfatório de convergência. No mínimo, duas rodadas são necessárias para caracterizar a aplicação do método Delphi, sendo raros os exemplos de estudos com mais de três rodadas de questionários.

Se o Delphi for realizado pela Internet, segundo Giovinazzo e Fischmann (2001), conservam-se as mesmas premissas características de uma pesquisa Delphi tradicional, ou seja, é mantido o anonimato dos respondentes, a representação estatística da distribuição dos resultados e o feedback de respostas do grupo para reavaliação nas rodadas subsequente, sendo que os resultados da primeira rodada são divulgados na Internet, para que possam ser considerados pelo grupo no preenchimento da segunda rodada. O questionário é disponibilizado na Internet, utilizando um formulário cujos dados das respostas são encaminhados para uma planilha eletrônica como Excel, ou outra planilha adequada para a tabulação das informações. Os respondentes são comunicados por e-mail e preenchem o questionário diretamente pela Internet. A sequencia básica de atividades envolvidas na execução de um Delphi eletrônico continua sendo a mesma, podendo ser descrita na figura 3.1.

De acordo com Estes e Kuespert (1976), quanto à elaboração de questões, não há regras rígidas em relação a seu formato. Entretanto, erros podem fazer com que os painelistas percam tempo desnecessário para transmitir as informações desejadas, deixem de responder a alguma questão por falta de entendimento ou, no pior dos casos, apresentem uma resposta com a qual os próprios não concordariam, por falta de entendimento. Por isso, seguem abaixo as principais recomendações para uma pesquisa Delphi eficaz e eficiente, segundo Estes e Kuespert (1976):

• Evitar eventos compostos: se o evento tiver uma parte com a qual o painelista concorda e outra com a qual discorda, é difícil para ele saber o que responder;

• Evitar colocações ambíguas: a primeira ambiguidade deriva da utilização de jargão técnico, considerado como sendo de domínio público. Também o uso de termos como “comum”, “normal”, “uso geral”, “segmento significante de” e “será uma realidade“ pode gerar dúvidas, pois as pessoas podem possuir conceitos diferentes sobre o significado de uma mesma palavra;

• Tornar o questionário simples de ser respondido: o questionário deve ser projetado para a conveniência do painelista e não para a do coordenador;

• Estar atento ao número de questões: há um limite máximo para o número de questões para as quais o painelista pode dispensar tratamento adequado. Esse limite depende do tipo de questão e do perfil do respondente, mas um valor próximo de vinte e cinco seria o ideal;

• Esclarecer previsões contraditórias: se houver eventos excludentes no questionário, esta situação deve ser deixada clara;

• Evitar ordenamento de proposições: deve-se evitar o pedido de priorização entre uma série grande de proposições como, por exemplo, o ordenamento segundo a importância de cinquenta projetos de pesquisa, pois demandará muito tempo do respondente;

• Permitir complementações dos painelistas: principalmente na primeira rodada da pesquisa, deve ser possível permitir ao painelista acrescentar algum comentário que considere relevante, contribuindo para o enriquecimento da pesquisa.

A fim de elaborar os cenários da pesquisa, Giovinazzo e Wright (2000) explicam que a técnicas podem ser divididas em extrapolativas, exploratórias e normativas. As técnicas extrapolativas permitem a previsão, pela extrapolação para o futuro, de eventos verificados no passado. As técnicas exploratórias concentram a análise no processo de mudança e nos caminhos alternativos para o futuro (identificam os eventos e as ações que são capazes de alterar os caminhos que serão percorridos). As técnicas normativas visam orientar as ações que determinarão o futuro, por meio da análise dos valores e necessidades do ambiente relacionados com o objeto da previsão, sendo complementar às demais abordagens.

Wright (1986) infere que, seguindo os cenários acima, a técnica Delphi poderá ser muito útil quando se quiser realizar uma análise qualitativa do mercado, permitindo que se avaliem tendências futuras em face de descontinuidades tecnológicas e mudanças sócio-econômicas.

FIGURA 3.1A: SEQUÊNCIA DE EXECUÇÃO DE UMA PESQUISA DELPHI – ESTES E KUESPERT (1976)

Em uma abordagem mais sistematizada, Skulmoski, Hartman e Khran (2007) definiram um modelo conceitual do que seria o passo a passo para a aplicação do método Delphi em pesquisa acadêmica, como pode ser observado na Figura 3.2. Nesse modelo, a aplicação do Delphi inicia-se considerando três pontos principais: a

experiência (do pesquisador ou da empresa pesquisada), a revisão da literatura realizada pelo pesquisador e estudos-piloto. Esses três pontos reunidos dão origem à questão da pesquisa, a qual fornecerá elementos para o desenho da pesquisa. Posteriormente, com o estudo delineado, é o momento de escolher a amostra a ser investigada, selecionando os indivíduos que irão fazer parte da pesquisa.

FIGURA 3.1B: SEQUÊNCIA DE EXECUÇÃO DE UMA PESQUISA DELPHI – SKULMOSKI, HARTMAN E KHRAN (2007)

3.1.1. Vantagens do Método Delphi

Após a explanação acima acerca da definição do método Delphi, de acordo com Estes e Kuespert (1976), seguem abaixo as vantagens de sua utilização:

• Realiza previsões em situações de carência de dados históricos;

• Apresenta um volume maior de informação e traz a análise do problema a um nível de informação do especialista melhor informado;

• O uso de questionários e respostas escritas leva a uma maior reflexão nas respostas, além de facilitar seu registro, em relação a uma discussão em grupo;

• O anonimato nas respostas elimina a influência de fatores como a situação acadêmica ou profissional do respondente;

• Fatores restritivos da dinâmica de grupo são reduzidos, como eliminação de participantes, adesão às posições majoritárias, manipulação política, entre outros;

• Não há custos de deslocamento de pessoal, com o envio de questionários por correio, e-mail ou outros meios;

• Apesar do custo de preparação ser maior, o custo total é provavelmente menor do que valores relacionados à reunião física de um grande grupo de peritos;

• Uma adesão efetiva de um grande número de participantes, vantagem que decorre da criatividade e confere credibilidade ao estudo.

3.1.2. Desvantagens do Método Delphi

O método Delphi oferece desvantagens, segundo Estes e Kuespert (1976) e Wright (1986). As mais frequentemente apontadas são:

• Seleção de respondentes e tratamento de resultados estatisticamente não aceitáveis;

• Dependência dos resultados em relação à escolha dos especialistas, o que possibilita a introdução de viés pela escolha dos respondentes;

• Permite um consenso forçado;

• Dificulta a elaboração de um questionário sem ambiguidades e não tendencioso sobre projeções futuras;

• A realização do processo completo é demorada, principalmente ao enviar o questionário pelo correio;

• O custo de elaboração é elevado.

No caso da pesquisa Delphi ser realizada pela Internet, segundo Giovinazzo e Fischmann (2001), é muito importante que haja uma equipe de suporte à informática, hábil e disponível, para auxiliar no caso de problemas que possam ocorrer pela necessidade de uso do computador, conectado à rede, para responder às questões.

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