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2. Revisão Literatura

2.2. O papel da ergonomia no desenvolvimento de softwares

2.2.3. Método desenvolvido pelo grupo de Design e Ergonomia

informatizados) até os protótipos (versão preliminar do sistema) e Beta-teste (versão final que é disponibilizada antes de sua efetiva comercialização) (LABIUTIL, 2003).

O paradigma de prototipagem e testes representa ao mesmo tempo um fator de sucesso e de risco para a abordagem ergonômica. Ele permite que as soluções de projeto possam ser implementadas e avaliadas rapidamente, mas é importante que as passagens de maquete para protótipo e desse para a versão Beta do sistema possam ser apoiadas pelo ambiente de desenvolvimento. Se isso não ocorrer, os resultados obtidos através dos trabalhos com os protótipos, consequentemente, a própria qualidade ergonômica do projeto corre sério risco.

As mudanças de ambientes de prototipagens para os de programação representam ter de recomeçar o desenvolvimento desde o início e dependendo do cronograma e do ritmo do projeto elas podem ser inviáveis. São efetivamente pontos críticos do projeto e que não podem ser desconsiderados numa análise de riscos (LABIUTIL, 2003).

A abordagem ideal é aquela proporcionada pelo paradigma de engenharia de software de versões evolutivas, que permite o aproveitamento integral de maquetes e protótipos produzidos. Esses representam então, diferentes versões evolutivas do mesmo sistema (LABIUTIL, 2003).

designer e/ou ergonomista, com base principalmente em seu conhecimento, identifica, estuda um dado problema e recomenda soluções, o método de Análise Macroergonômica do Trabalho (AMT), proposto por Guimarães (1999), tem uma abordagem bottom up, prevendo a participação dos usuários em todas as fases de projeto. O conhecimento gerado no estudo é fruto da interação entre o conhecimento tácito dos usuários do sistema e o conhecimento formal do designer/ergonomista.

O caráter eminentemente participativo da AMT transforma os sujeitos em agentes de inovação e/ou melhoria do produto e/ou sistema, ao qualificá-lo a identificar e resolver problemas (quer sejam nos produtos que manuseia ou nos processos que executa) (GUIMARÃES, 1999). Segundo Nagamachi (1996), a possibilidade de participar do processo decisório dá ao trabalhador um sentimento de responsabilidade que resulta em maior motivação e satisfação no seu trabalho.

2.2.3.1. Fases da AMT

O método de Análise Macroergonômica do Trabalho (AMT), proposto por Guimarães (1999), segue as mesmas fases de estudo ergonômico de diversos autores (HARRIS, 1987, MORAES E MONTAVÃO, 1998) mas difere na forma como são conduzidas as fases. A AMT, composta pelo lançamento do projeto e cinco etapas subseqüentes, prevê a

participação dos usuários em todas as fases de estudo.

Fase 0- lançamento do projeto

Nesta fase são mostrados e discutidos, com os integrantes da empresa, todas as fases de projeto e os métodos e técnicas disponíveis para a realização de cada etapa. Nesta fase, busca-se sanar as dúvidas quanto às possíveis ações a serem tomadas, de forma a conciliá-las com a cultura da empresa. É delineado o cronograma de projeto e definido o dia de início da fase seguinte, ou seja, a Apreciação (GUIMARÃES, 1999).

Fase 1- levantamento inicial da situação ou apreciação

Esta fase contempla um levantamento inicial dos postos sob avaliação e, após análise preliminar dos dados, uma discussão dos problemas junto com os usuários. Com base nesta discussão, os produtos e/ou aspectos mais importantes da situação apresentada são

selecionados para análise mais detalhada que configura o diagnóstico. A fase de apreciação é uma das mais importantes do projeto, pois o seu sucesso depende de um bom

levantamento. A discussão dos itens levantados permite entender melhor a situação e, portanto, viabiliza um diagnóstico mais confiável. Na AMT, a identificação dos problemas, das necessidades ou definição da demanda é feita com a participação direta e indireta dos usuários (GUIMARÃES, 1999).

Levantamento com a participação indireta dos usuários

O levantamento com a participação indireta dos usuários é feito pela equipe de especialistas para ter um primeiro entendimento do problema. Este levantamento pode se calcar em observações diretas, sistemáticas ou assistemáticas, e em observações indiretas quando se utilizam equipamentos tais como filmadoras, etc. (GUIMARÃES, 1999).

levantamento com a participação direta dos usuários

O levantamento com a participação direta dos usuários do sistema segue as três primeiras etapas da ferramenta Design Macroergonômico (DM) proposta por Fogliatto e Guimarães (1999): Identificação do usuário e coleta organizada de informações; Priorização dos Itens de Demanda Ergonômica (IDEs) identificados pelo usuário; e Incorporação da opinião de especialistas. Uma vez identificado o usuário, as informações são coletadas ouvindo-se a voz do usuário por meio de entrevistas não induzidas e questionários. Com base na

observação do desempenho do usuário, o ergonomista pode agregar mais itens de demanda que porventura não tenham sido expressos pelo usuário mas que também devem ser

considerados em um projeto (GUIMARÃES, 1999).

Fase 2. Diagnóstico

O diagnóstico congrega o levantamento detalhado e a análise da situação. No diagnóstico:

analisam-se os problemas em maior profundidade; propõe-se um plano de ação para solução dos problemas (GUIMARÃES, 1999).

Na fase de diagnóstico, a participação do usuário é direta, de acordo com a demanda das ferramentas de análise ergonômica que serão utilizadas. No entanto, a participação dos usuários nesta fase é menor do que na fase anterior de apreciação. Nesta fase da AMT, a maior participação é do especialista já que dele depende a aplicação dos protocolos, o levantamento da literatura e a análise dos dados colhidos (GUIMARÃES, 1999).

Fase 3 Proposição de soluções ou projetação ergonômica (inclui os estudos de modificação e a proposição de soluções)

Com base no diagnóstico, procede-se à proposição de soluções, os estudos de modificação, execução de mock-ups, protótipos etc dos produtos a serem criados ou modificados. Esta fase é responsável por traduzir em projeto, as necessidades dos usuários ou Itens de Demanda Ergonômica (IDE) levantados na apreciação e analisados no diagnóstico. Para tanto, a equipe de projeto deve elencar os itens projetuais, ou elementos de projeto (denominados Itens de Design (IDs) no método DM), que podem atender aos IDEs. Em função de sua complexidade, um IDE pode exigir mais ou menos Ids (GUIMARÃES, 1999).

A AMT propõe que a projetação siga as etapas 4 a 6 do método DM (FOGLIATTO e GUIMARÃES, 1999): listagem dos itens de design (IDs) a serem considerados no projeto ergonômico do posto de trabalho; determinação da força de relação entre os itens de demanda ergonômica (IDEs) e os itens de design (IDs); tratamento ergonômico dos IDs (para estabelecer propostas de modificações) (GUIMARÃES, 1999).

Na fase de projetação, geralmente a participação dos usuários diretos é reduzida, e

aumentada a participação dos integrantes da empresa que atuam indiretamente no sistema

em foco. Por exemplo, é comum, nesta fase, o envolvimento do pessoal de engenharia de produção, logística e manutenção (GUIMARÃES, 1999).

As alternativas de projeto são discutidas na empresa, junto com os usuários diretos (que vão usar o sistema) e indiretos (que atuam no sistema indiretamente e que participaram da elaboração das alternativas). Com base na decisão do grupo quanto às alternativas mais viáveis e que deverão ser testadas, os projetos são, então, materializados em mock ups e protótipos para teste (GUIMARÃES, 1999).

Fase 4 Validação

Na fase de validação, são analisadas as modificações propostas, efetuadas as modificações finais a nível ambiental, de posto, de organização, ou seja, aquelas que se fizerem

necessárias.Os protótipos devem, então, ser usados, experimentados pelos usuários diretos (o tempo de uso depende da complexidade das propostas) que, junto com os ergonomistas e os usuários indiretos, são responsáveis por validar as propostas. Esta fase de validação precede a última fase de intervenção denominada detalhamento ergonômico

(GUIMARÃES, 1999).

Esta última fase de intervenção se dá após a validação dos mock-ups e/ou protótipos. É a fase de detalhamento ergonômico e otimização do sistema, que são baseados na análise das atividades da tarefa real. É quando são analisadas as modificações propostas, efetuadas as modificações finais a nível ambiental, de posto, de organização, ou seja, aquelas que se fizerem necessárias (GUIMARÃES, 1999).

Fase 5 Detalhamento ergonômico e otimização do sistema são baseados na análise das atividades da tarefa real.

As propostas implementadas são aprovadas pelos usuários, o projeto é detalhado e é emitido um relatório final. O trabalho pode ser, então, considerado finalizado (GUIMARÃES, 1999).

Ferramentas participativas são mais flexíveis e geralmente mais sensíveis às demandas dos usuários. A estratégia participativa estimula os usuários a manifestarem suas preferências e a participarem ativamente do projeto, aumentando sensivelmente as chances de sucesso na implementação de modificações sugeridas (FOGLIATTO e GUIMARÃES, 1999).

Fogliatto e Guimarães (1999) desenvolveram o método Design Macroergonômico – DM, que é uma ferramenta para design de produtos e postos de trabalho, de caráter participativo, baseada em preceitos macroergonômicos. O método DM utiliza-se de ferramentas para seleção de amostras e coleta de dados, como questionários e entrevistas estruturadas, assim como estratégias para organização das informações obtidas. As opiniões e os desejos manifestados pelos usuários são processados com base em um conjunto de técnicas estatísticas e de tomada de decisão, gerando dados confiáveis para elaboração de

parâmetros ergonômicos de projeto. Esses dados são consolidados como características ou itens desejados pelo usuário diante das necessidades de sua tarefa ou de uso do produto em estudo. No método DM, essas características são denominadas itens de demanda

ergonômica - IDEs (FOGLIATTO e GUIMARÃES, 1999; ENDLER, 2000).

O método DM contempla os seguintes passos, os quais são descritos, em detalhe, em Fogliatto e Guimarães (1999):

i) identificação do usuário e coleta organizada de informações acerca de sua demanda ergonômica;

ii) priorização dos itens de demanda ergonômica (IDEs) identificados pelo usuário: A priorização utiliza a própria informação coletada na etapa (i), baseando-se, por exemplo, em características do conjunto de dados amostrais (freqüências, ordem de menção de itens, etc.). O objetivo nesta etapa é criar um ranking de itens

demandados;

iii) incorporação da opinião de especialistas (ergonomistas, designers, engenheiros, etc.) com vistas à correção de distorções apresentadas no ranking obtido na etapa (ii), bem como, incorporação de itens pertinentes de demanda ergonômica não identificados pelo usuário. Determina-se, assim, um ranking corrigido de itens de demanda ergonômica a ser utilizado nas etapas seguintes da metodologia;

iv) listagens dos itens de design (IDs) a serem considerados no projeto ergonômico do posto de trabalho. Uma lista inicial de itens de design pode ser obtida através de inspeção na lista de IDEs. Esta etapa é desenvolvida essencialmente pelo

ergonomista;

v) determinação da força de relação entre IDEs e os IDs determinados na etapa (iv): O objetivo é identificar grupos de IDs a serem priorizados nas etapas seguintes da metodologia;

vi) tratamento ergonômico do IDs. Nesta etapa, estabelecem-se metas ergonômicas para os IDs baseadas em fatores como conforto e segurança do ambiente físico, além de questões antropométricas e de organização do trabalho. Metas ergonômicas compreendem características dos IDs tais como valores-alvo dimensionais,

especificação de materiais, dispositivos acessórios, etc;

vii) implementação do novo design e acompanhamento. Esta última etapa consiste no acompanhamento do projeto e na avaliação de protótipos. Esta etapa dependerá das características de cada projeto, tendo grande importância na medida em que é o momento em que se fazem os ajustes necessários à efetiva implementação. Também neste momento é feita a “negociação” entre os diversos aspectos subjacentes ao projeto do produto ou posto de trabalho. Itens de pouca importância, por exemplo, podem ser menos considerados por força de aspectos simbólicos ou financeiros.

Entre a proposta do método AMT e a proposta do LabIUtil existe similaridades, segue comparativo entre as duas prospostas.

2.2.4. Comparativo entre a proposta LabIUtil e a proposta grupo de Design e Ergonomia LOPP/PPGEP/UFRGS

Tanto a abordagem ergonômica proposta pelo LabIUtil quanto a abordagem ergonômica proposta pelo grupo de Design e Ergonomia LOPP/PPGEP/UFRGS são métodos que podem ser utilizados para a proposição de soluções ergonômicas envolvendo os usuários. A Tabela 3 apresenta as técnicas utilizadas por cada uma destas metodologias e aponta as principais diferenças entre as duas propostas.

A proposta do LabIUtil é focada, principalmente, na interação entre usuário e o software e utiliza-se do método AET para que o processo de desenvolvimento de software possa considerar os conhecimentos disponíveis sobre habilidades e capacidades cognitivas humanas e dos aspectos ligados ao trabalho como ele é, efetivamente, realizado

(LABIUTIL, 2003). A proposta do grupo de Design e Ergonomia LOPP/PPGEP/UFRGS é focada, principalmente, na priorização das necessidades, atividades e preocupações do usuário, além da observação do especialista, quanto ao trabalho realizado e utiliza-se do método AMT (GUIMARÃES, 1999).

Tabela 3 - Quadro comparativo entre a proposta do grupo de Design e Ergonomia LOOP/PPGEP/UFRGS e a proposta do LabIUtil.

Abordagem ergonômica segundo o LabIUtil Abordagem ergonômica segundo grupo de Design e Ergonomia LOPP/PPGEP/UFRGS Métodos de

levantamento e análise

AET: Emprega um método top down de projeto em que o designer e/ou ergonomista,

com base principalmente em seu conhecimento, identifica, estuda um dado

problema e recomenda soluções

AMT: Tem uma abordagem bottom up, prevendo a participação dos usuários em todas as fases de projeto. O conhecimento gerado no estudo é fruto

da interação entre o conhecimento tácito dos usuários do sistema e o conhecimento formal, em

ergonomia, dos pesquisadores envolvidos.

Foco do levantamento

Foca nas tarefas executadas pelos usuários. Foca nas necessidades observadas pelo trabalhador sobre seu trabalho.

Pergunta básica

Exemplo de pergunta feita aos usuários:

“Descreva sua tarefa”

Exemplo de pergunta feita aos usuários: “Me fale do seu trabalho”

Definição do escopo de

projeto

A partir de informações colhidas sobre o usuário e sobre suas tarefas, considerando os conhecimentos disponíveis sobre habilidades

e capacidades cognitivas humanas e dos aspectos ligados ao trabalho como ele é,

efetivamente, realizado

Baseada na priorização das necesidades, atividades e preocupações do usuário, além da

observação do especialista.

Proposição de soluções

Utiliza-se do detalhamento das tarefas para a projeção ou prototipação das interfaces.

Grupo focado p/ Brainstorming sobre Protótipo de Interface com base na tarefa Discussão da prototipagem feita em função

da tarefa.

A AMT transforma os sujeitos em agentes de melhoria do produto e/ou sistema, qualificá-lo a identificar e resolver problemas. Desta forma, se o desenvolvimento do software realmente for a

solução proposta para resolver o problema identificado, então um protótipo de interface

poderá ser projetado.

As diferenças apontadas pela Tabela 3 mostram que, sob o foco de desenvolvimento de software, estas metodologias podem ser complementares. Assim a AMT é mais fortemente adaptada à fase de concepção de Projetos de software (onde a identificação do escopo do software é o alvo principal). O fato da AMT não ser específica para o desenvolvimento de software permite que ela viabilize questões como: É realmente necessário o

desenvolvimento de um software no contexto em que a empresa se encontra?; O software que deveria ser desenvolvido primeiro não deveria ser outro?; A inserção de um software no contexto atual da empresa sem a realização de algumas alterações organizacionais não irá prejudicar os usuários e, consequentemente, fazer com que a produtividade da empresa diminua?; O escopo do software a ser desenvolvido não deveria ser outro?

A partir do momento em que questões como as descritas acima são respondidas e já se tem a definição de que um determinado software deverá ser desenvolvido, então, a proposta do LabIUtil pode estar sendo utilizada na continuidade do processo de desenvolvimento de software. No processo de desenvolvimento de software utilizado pela MSA, conforme descrito no item 2.1 deste capítulo, a proposta grupo de Design e Ergonomia

LOPP/PPGEP/UFRGS, adequa-se mais à fase de concepção de projetos de software, onde a definição do escopo é o foco principal, e a metodologia do LabIUtil adequa-se mais à fase de elaboração, onde o detalhamento do escopo, e de interface junto com as preocupações arquiteturais, são os principais focos.

Já que o foco da presente dissertação é a fase de concepção de projetos de software, a AMT, e consequentemente, o método DM, foi utilizado com o intuito de identificar problemas gerados pela inserção de projetos de software nas organizações de forma antecipada e ainda enquanto o projeto se encontra na fase de concepção. A adaptação do método DM sob este foco, assim como outros métodos necessários a sua aplicação no estudo de caso escolhido, são descritos no capítulo seguinte.