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Contexto Modelo de

GC DESCRIÇÃO DA PRÁTICA DE GC

6.1 UM CASE DE REORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE

6.1.6 Método heurístico de priorização

Outro ponto importante do processo de reorganização do planejamento na Celesc foi aperfeiçoar a maneira como seus recursos

estavam sendo priorizados. Para explicar o método e facilitar a compreensão, serão abordados de forma sucinta os passos necessários para realizar a tarefa de priorização.

Terminando-se o período em que os especialistas das agências regionais realizam o cadastramento de obras no CONPLAN e após definido o orçamento para o próximo ano, os especialistas em planejamento da agência central iniciam a atividade de priorização das obras cadastradas, a fim de se compor o programa de obras do ano seguinte e um plano de obras quinquenal.

É importante destacar que o método proposto pressupõe que, para cada problema técnico identificado por especialistas das agências regionais, sejam sugeridas três alternativas para solucioná-los. A alternativa técnica de menor custo global que solucionará o problema técnico é a que será considerada no processo de priorização.

Outro aspecto importante é que, conforme regulamenta o PRODIST, o cadastramento de obras envolve o horizonte de cinco anos, com maior detalhamento nos dois primeiros anos. As obras cadastradas para o ano seguinte, ou seja, para o ano 1, passam pelo processo de priorização. As obras aprovadas – aquelas selecionadas pelo método de priorização – irão compor o plano de obras da distribuição do ano seguinte, ou seja, ano 1. As obras que não foram selecionadas na priorização vão se juntar às demais para compor os anos seguintes do plano quinquenal de obras, isto é, do ano 2 ao ano 5.

Algumas obras cadastradas para priorização possuem peculiaridades que as tornam imprescindíveis para o programa de obras, seja por exigência regulatória ou devido à sua importância para a organização. Essas obras são denominadas “obrigatórias”, e elas já passam a compor o programa de obras sem passar pelos critérios de priorização. São consideradas obras obrigatórias: alteração do SDMT devido à entrada em operação de novas subestações de distribuição, obras do SDMT para alívio de transformadores de subestação com situação de carregamento crítico, atendimento a clientes exclusivos cuja requisição de demanda solicitada requeira investimentos, novo alimentador para entradas de linhas construídas, situações excepcionais de carregamento e/ou queda de tensão (limiar da estabilidade), condição que envolve risco de acidente e exceções avaliadas pelos especialistas a uma obra de extrema necessidade e que foge às regras do modelo proposto.

As demais obras solicitadas, que não são obrigatórias, são denominadas “obras urgentes”, pois são consideradas relevantes para o atendimento da expansão, melhoria e renovação do sistema elétrico. Por

definição, essas obras devem estar associadas a um alimentador âncora, cujos critérios e características são utilizados para determinar a severidade do problema técnico.

No alimentador âncora, há o problema técnico. Toda solicitação de investimento deve estar relacionada a um problema técnico, e este, por sua vez, associado a um alimentador do SDMT, aqui denominado de “alimentador âncora”, cujos critérios de carregamento elétrico e queda de tensão, obtidos na situação de carga máxima ocorrida nos últimos 12 meses, são utilizados para cálculo da prioridade.

No primeiro modelo de priorização de investimentos proposto na reorganização do processo de planejamento em 2011, a metodologia baseou-se em dois conceitos básicos: severidade e relevância. Enquanto a severidade considera a amplitude do problema técnico, a relevância define a importância relativa do alimentador âncora no âmbito da Celesc, avaliando o mercado atendido. Em 2013, com o advento do MR, a equipe aperfeiçoou a metodologia, atendendo aos anseios do planejamento estratégico da empresa, que clamava pela necessidade de avaliar economicamente os benefícios dos seus investimentos. Foi introduzido no modelo de priorização o conceito da atratividade, que faz uma análise dos benefícios econômicos e financeiros após a execução do investimento proposto. O produto entre a relevância e a soma entre a severidade e a atratividade fornecem a prioridade do alimentador para receber investimento. Matematicamente:

 

[(

 

()] Re ()

PrioridadeiSeveridadeiAtratividadeilevância i onde i é o número do alimentador.

A seguir, será abordado distintamente cada um desses conceitos para o cálculo da prioridade.

6.1.6.1 Severidade

A severidade representa a intensidade do problema técnico e está simultaneamente relacionada aos critérios de carregamento elétrico (DC) e queda de tensão (DV) do alimentador âncora. Em outras palavras, pode-se citar que quanto piores os valores desses critérios, maior será a severidade do problema técnico do alimentador âncora e mais apto a ser priorizado esse alimentador estará. A Figura 18 exemplifica a valoração da severidade para o carregamento. Observa-se

que quanto maior o valor do carregamento elétrico do alimentador, maior será a severidade do problema e maior será a pertinência (pontuação). Destaca-se ainda que apenas condições de carregamento superiores a 60% possuem uma pertinência de severidade (ponto- problema da Figura 18), e que à medida que o carregamento aumenta, a severidade aumenta exponencialmente até o ponto crítico de 90%, cujo valor impõe uma pertinência acentuada. Ressalta-se também que o máximo valor de pertinência para valores extremos de carregamento é 120. Outra questão importante são as exceções à regra, pois valores de carregamento extremo impõem uma condição de investimento obrigatório.

Figura 18 - Severidade: pertinência de carregamento

Da mesma forma que o carregamento, a severidade dos problemas de queda de tensão é valorada exponencialmente. O ponto- problema e o ponto crítico foram normalizados de acordo com o julgamento de especialistas. A função de pertinência foi estruturada para cada um dos pontos de vista de forma equivalente, tomando como referência valores similares para impactar no ponto-problema e no ponto crítico. O ponto-problema foi definido com o objetivo de identificar um ponto na curva da Figura 18 em que, a partir dele, os problemas técnicos tornam-se indesejáveis, e o ponto crítico arbitra uma região cujo problema representa a violação de metas ANEEL e/ou risco iminente. A pertinência de queda de tensão começa a ser valorada quando o alimentador possuir uma queda superior a 6%, acentuando-se significativamente quando o valor aproxima-se de 12%. O máximo valor de pertinência para valores extremos de queda de tensão é 120.

O modelo proposto apresenta como vantagem os seguintes itens: análise contínua dos critérios técnicos; tradução do julgamento dos decisores expresso através de funções de pertinência; e facilidade de ajuste das funções de pertinência de acordo com o julgamento dos decisores.

Matematicamente, expressa-se a severidade na seguinte equação:

 

i

a P

  

DC i b P

  

DV i

Severidade  ( *  *

Outro aspecto importante da metodologia é o peso de importância relativa dos critérios utilizados. Partindo-se da premissa que a diretoria técnica estabeleceu, isto é, que o carregamento elétrico é mais relevante que os problemas de queda de tensão, através de julgamentos dos especialistas foram identificados os seguintes valores para a e b da equação de priorização:

a = 1,15 b = 1,00

Assim, retomando a equação da severidade, tem-se:

 

i

P

  

DC i P

  

DV i

6.1.6.2 Atratividade

A atratividade é um conceito para avaliar a viabilidade econômico-financeira relacionada ao investimento proposto sob duas óticas: a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Prazo para Retorno dos Investimentos (Payback). O conceito de atratividade foi introduzido no processo visando ao alinhamento do modelo de priorização com as diretrizes estabelecidas pelo planejamento estratégico, conforme prevê o MR.

É notório que cada investimento realizado no SDMT pode resultar em uma série de benefícios, e o conceito de atratividade proposto verifica o retorno financeiro de cada investimento do SDMT diante dos benefícios resultantes da conclusão da obra. O período de avaliação no modelo é de 10 anos. Muitos investimentos beneficiam não só o alimentador âncora, mas também outros alimentadores, e o modelo de priorização calcula a atratividade, avaliando o benefício obtido em todos os alimentadores. Os benefícios considerados são as melhorias relacionadas à queda de tensão, ao carregamento, à energia não distribuída (END), às perdas técnicas, às indenizações judiciais, às compensações financeiras provenientes de continuidade e conformidade e, por fim, à economia referente aos custeios das turmas de manutenção de emergência (TME).

Para possibilitar o cálculo dos benefícios depois da conclusão das obras, é necessário que os especialistas, após simulação, façam um diagnóstico dos cenários atual e futuro. Para o cálculo do benefício em R$ da queda de tensão e carregamento, utiliza-se o conceito do custo da demanda não atendida se a obra não for realizada, conforme a capacidade de atendimento dessa demanda se a obra proposta fosse concluída. Para energia não distribuída, foi empregado o custo social, ou seja, o custo do MWh interrompido para a sociedade. Já para se determinar o benefício em R$ das perdas, utilizou-se o valor do MWh para a energia em perdas evitadas se a obra fosse realizada. Por fim, a valoração do benefício financeiro proveniente de indenizações, compensações e custeios das turmas de manutenção de emergência (TME) evitadas é realizada com as estimativas feitas pelos especialistas a partir do histórico e do benefício avaliado nas simulações.

Para o cálculo de valor presente, é considerada a taxa WACC (Custo Médio Ponderado de Capital) do setor elétrico, que em 2012 foi de 7,63% ao ano. A Tabela 1 apresenta como exemplo o cenário atual e futuro para um alimentador, e a Tabela 2 relaciona os benefícios em R$ anual para esse mesmo alimentador.

Tabela 1 - Cenário atual e futuro do alimentador beneficiado

Fonte: do autor

Tabela 2 - Benefícios anuais para cálculo de TIR e Payback

Fonte: do autor

Finalmente, a atratividade é avaliada sob dois pontos de vista: pela TIR e pelo Payback, sendo que cada um desses critérios é valorado exponencialmente, similar ao que ocorre na severidade. O ponto- problema e o ponto crítico foram normalizados de acordo com o julgamento dos especialistas. A função de pertinência foi estruturada para cada um dos pontos de vistas de forma equivalente, tomando-se como referência valores similares para impactar no ponto-problema e no ponto crítico. O primeiro foi definido tendo em vista identificar na equação um ponto na curva (analogamente ao que acontece na figura 18, no cálculo da severidade) em que, a partir dele, o investimento torna-se desejável. Já o ponto crítico arbitra uma região cujo retorno dos investimentos torna-se muito atraente. Destaca-se, ainda, que o máximo valor de pertinência para valores extremos de benefício é 120.

Matematicamente, expressa-se a Atratividade na seguinte equação:Atratividade

 

i

(c*P

  

TIR id*P

Payback

 

i

Para o peso da importância relativa dos critérios utilizados para calcular a atratividade, similarmente ao que acontece com a severidade, definiram-se os seguintes valores para c e d da equação de priorização:

c = 1,15 d = 1,00

INDENIZAÇÕES JUDICIAS EVITADAS/ANO R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 R$ 3.760 COMPENSAÇÕES FINANC. - CONFORMIDADE/ANO R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 R$ 1.234 COMPENSAÇÕES FINANC. - CONTINUIDADE/ANO R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700 R$ 700

TME/ANO R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 R$ 2.500 ENERGIA NÃO DISTRIBUIDA (END)/ANOR$ 2.848 R$ 2.948R$ 3.051 R$ 3.158R$ 3.268 R$ 3.383R$ 3.501 R$ 3.624R$ 3.750 R$ 3.882

PERDAS TÉCNICAS EVITADAS/ANOR$ 1.235 R$ 1.323R$ 1.417 R$ 1.518R$ 1.626 R$ 1.742R$ 1.866 R$ 1.999R$ 2.141 R$ 2.294 DELTA TENSÃO/ANO R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 R$ 132 DELTA CARREGAMENTO/ANO R$ 2.016 R$ 2.580 R$ 3.163 R$ 3.767 R$ 4.392 R$ 5.039 R$ 5.039 R$ 5.039 R$ 5.039 R$ 5.039

TOTAL GERAL / ANOR$ 14.425 R$ 15.176 R$ 15.957 R$ 16.768 R$ 17.612 R$ 18.489 R$ 18.731 R$ 18.987 R$ 19.256 R$ 19.540

Ano 9 Ano 10 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8

Assim, retomando-se a equação da atratividade, temos:

 

i

P

  

TIR i P

Payback

 

i

de

Atrativida  (1,15* 1,00*

6.1.6.3 Relevância

A relevância denota a importância relativa do alimentador âncora em relação a todos os alimentadores da Celesc quanto ao mercado e ao número de clientes atendidos. Quanto maior forem, respectivamente, os valores de MWh/ano A4, MWh/ano B, MWh médio residencial, quantidade de clientes B, maior a relevância desse alimentador.

Todos os alimentadores da Celesc são categorizados e recebem um grau de relevância de 1 a 10, sendo o grau 1 associado ao grupo de alimentadores com maior relevância e o grau 10 associado ao grupo menos relevante. A determinação da pertinência é feita de modo discreto: para o grupo mais relevante, é atribuída a pertinência 1, para o segundo grupo mais relevante (relevância 2) é atribuída a pertinência 0,95, e assim sucessivamente, decrescendo em passos de 0,05 até o grupo de alimentadores menos relevantes (relevância 10), para os quais é atribuída a pertinência 0,55, conforme é ilustrado na Figura 19.

Figura 19 - Categorização da pertinência atribuída a cada

relevância do alimentador

6.1.6.4 Considerações Finais do Modelo de Priorização

Conforme foi visto, a proposta principal do modelo é avaliar de forma conjunta os conceitos de severidade, atratividade e relevância pela seguinte relação matemática:

 

i [severidade

 

i atratividade(i)] relevância(i)

prioridade   

Mais especificamente:

 i

a P  DC i b P  DV i

 

c PTIR i d PPayback i

levância i

ioridade * * * ( )() * ( )() *Re

Pr    

Onde, para o alimentador i, temos:

P(DC)(i) - pertinência da severidade do problema de carregamento do alimentador i;

P(DV)(i) - pertinência da severidade do problema de queda de tensão do alimentador i;

P(TIR)(i) - pertinência da atratividade da TIR do alimentador i;

P(payback)(i) - pertinência da atratividade do payback do alimentador i; Relevância – relevância do alimentador i quanto ao mercado atendido e n° de clientes.

Considerando ainda o cálculo efetuado de acordo com o software MACBETH, metodologia de apoio à tomada de decisão, foram identificados os seguintes valores para a, b, c e d da equação de priorização:

a = 1,15 b = 1,0 c = 1,15 d = 1,0

Obtemos a equação final para priorização das obras cadastradas:

 i

P     DC i PDV i

PTIR i PPayback i

levância 

ioridade 1,15* 1,15* ( )() ( )() *Re

Pr    

Observa-se que, no modelo de priorização, a qualquer momento pode-se facilmente reajustar o peso da importância relativa dos critérios, seja pela mudança do planejamento estratégico da empresa, seja por novas exigências regulatórias ou refinamento dos critérios de planejamento.