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Métodos de Análise dos Dados Coletados

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3. METODOLOGIA

3.4. Métodos de Análise dos Dados Coletados

Para analisar o corpus de dados colhidos foi utilizada a análise de conteúdo. Um método de análise de dados originalmente desenvolvido por Laurence Bardin, e que posteriormente foi estudado por diversos autores. Segundo Mozzato e Grzybovski (2011, p. 732) “a importância da análise de conteúdo para os estudos organizacionais é cada vez maior e tem evoluído em virtude da preocupação com o rigor científico e a profundidade das pesquisas”. Bauer e Gaskell (2002) afirmam que a análise de conteúdo é um método analítico de texto desenvolvido no contorno das ciências sociais empíricas, é uma técnica criada para produzir inferências de texto específico para o seu contexto social de maneira objetiva.

Esse método de análise de dados vem aumentando sua legitimidade no campo de pesquisas em administração. Dessa forma Mozzato e Grzybovski (2011) apontam que a análise de conteúdo “é uma técnica refinada, que exige muita dedicação, paciência e tempo do pesquisador, o qual tem de se valer da intuição, imaginação e criatividade, principalmente na definição de categorias de análise” (MOZZATO e GRZYBOVSKI, 2011, p. 732).

Apesar das características peculiares da análise de conteúdo, as autoras argumentam que toda técnica utilizada para analisar o corpus de dados coletados, é antes de qualquer coisa, “uma metodologia de interpretação”. Por isso, mesmo optando por trabalhar com a análise de conteúdo, “os dados em si constituem apenas dados brutos, que só terão sentido ao serem trabalhados de acordo com uma técnica de análise apropriada” (MOZZATO e GRZYBOVSKI, 2011, p. 733).

Sendo assim, a análise de conteúdo se caracteriza pelo “conjunto de técnicas de análise de comunicações, que tem como objetivo ultrapassar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados” (MOZZATO e GRZYBOVSKI, 2011, p. 734). Essa escolha para analisar os dados significa em se apropriar de um “conjunto de técnicas de análise das comunicações”, que não pode ser percebida somente como um instrumento, mas sim como um composto de instrumentos, caracterizados por diferentes formatos e flexível a diversos ambientes de aplicação na comunicação (BARDIN, 1977, p. 31).

62 Portanto, a análise de conteúdo trata os dados contidos nas falas, nos livros, em todo o corpus que sustenta a pesquisa (BARDIN, 1977). A autora define a análise de conteúdo como: “um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (BARDIN, 1977, p. 38).

Segundo Bardin (1977, p.95) essa análise é organizada em três polos cronológicos:

1) A pré-análise;

2) A exploração do material;

3) E tratamento dos resultados, inferência e a interpretação.

De acordo com a autora supracitada a pré-análise é a fase de organização dos dados, e tem por objetivo operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais, com a intenção de acarretar em um esquema do desenvolvimento das ações sucessivas no plano de análise. Nessa fase é necessário que se escolha os dados a serem analisados, e após uma profunda leitura dos mesmos, é preciso formular hipóteses, e elaborar indicadores que sustentem a interpretação final (BARDIN,1977). Para a autora se a fase de pré-análise for conduzida com qualidade, a fase de análise, de fato, ocorrerá apenas como um gerenciamento sistemático dos resultados dessa fase inicial.

Sendo assim, na fase de pré-análise realizou-se a compilação de todo o material levantado, principalmente as entrevistas, que foram sistematizadas com o intuito de prepará-las para análise. Dessa forma, as entrevistas foram transcritas e salvas em um arquivo RTF (Rich Text Format) para que pudessem ser inseridas no software utilizado para auxiliar a análise.

Segundo Duarte (2002, p. 151) o material coletado “precisa ser organizado e categorizado segundo critérios relativamente flexíveis e previamente definidos, de acordo com os objetivos da pesquisa”, é “um trabalho árduo e, numa primeira etapa, mais “braçal” do que propriamente analítico”.

A fase de exploração de material é composta fundamentalmente pelas operações de codificação, desconto ou enumeração, a cargo de regras antecipadamente formuladas (BARDIN, 1977). Após a fase de organização do material (pré-análise) colhido no campo, é momento de se analisar:

63 “Vencida a etapa de organização/classificação do material coletado, cabe proceder a um mergulho analítico profundo em textos densos e complexos, de modo a produzir interpretações e explicações que procurem dar conta, em alguma medida, do problema e das questões que motivaram a investigação. As muitas leituras do material de que se dispõe, cruzando informações aparentemente desconexas, interpretando respostas, notas e textos integrais que são codificados em “caixas simbólicas”, categorias teóricas ou “nativas” ajudam a classificar, com um certo grau de objetividade, o que se depreende da leitura/interpretação daqueles diferentes textos” (DUARTE, 2002, p. 152). Ou seja, nessa fase são criadas as categorias que darão sustento a análise, tais categorias podem ser criadas a priori e/ou a posteriori.

Dessa maneira, após a etapa de pré-análise, foi realizada a fase de exploração do material, onde as falas contidas nas entrevistas foram codificadas, identificando o que representava cada categoria a priori.

Segundo Franco (2005, p.58) as categorias a priori são “predeterminadas em função da busca a uma resposta específica do investigador”. Geralmente são baseadas em estudos que compõem o arcabouço teórico da pesquisa. Mozzato e Grzybovski (2011, p. 739) apontam que anterior ao trabalho de campo, deve haver um aprofundamento por parte do pesquisador no arcabouço teórico que irá orientar a pesquisa, pois a partir de então será possível a criação de categorias a priori, “por mais que não sejam estabelecidas hipóteses nas pesquisas qualitativas, certas categorias precisam ser criadas, ainda que não sejam definitivas e únicas”.

Dessa forma, este estudo teve como categorias a priori: capital, habitus, campo de pós-graduação em administração e produtividade. Capital, habitus e campo são categorias pautadas no principal autor utilizado na pesquisa: Pierre Bourdieu, que utilizava tais categorias em suas análises. A categoria produtivismo foi selecionada para compor as categorias a priori, pois existem diversos estudos que indicam a presença de tal elemento na academia, esses estudos também embasam a pesquisa.

Não existiram categorias a posteriori, que são aquelas que “emergem da fala, do discurso, do conteúdo das respostas, e implicam constante ida e volta do material de análise à teoria” (FRANCO, 2005, p.59). No entanto, como o objetivo do presente trabalho foi compreender como a lógica produtivista influenciou as disputas de poder entre as organizações que compõem o campo de pós-graduação em administração no estado do Rio de Janeiro, utilizando a perspectiva teórica de Bourdieu que é composta por campo, habitus e capital, não foi possível detectar durante o desenvolvimento da

64 pesquisa categorias a posteriori, pois a base teórica por si só sustentou firmemente o alcance do objetivo. A coleta de dados através da entrevista permite ao pesquisador conhecer diferentes pontos de vistas. Todos eles enriquecem o trabalho e foram ser utilizados no decorrer dos objetivos específicos, considerou-se todas as entrevistas de extrema importância para a pesquisa.

Sendo assim, este estudo buscou analisar seus dados através de categorias a priori. Na fase de tratamento dos resultados obtidos e interpretação dos mesmos, os dados são tornados significativos e válidos, ou seja, devem representar algo, segundo Bardin (1977, p.101) devem se tornar “falantes”. O pesquisador deve ter posse de resultados significativos e fidedignos, para somente assim, propor inferências e desenvolver interpretações relativas ao objetivo proposto.

Mozzato e Grzybovski (2011) apontam para uma questão muito importante na análise de conteúdo: apesar de tal análise conter procedimentos e especificações que devem ser levadas em consideração, isso não pode engessar e enrijecer o trabalho. A análise deve se adequar a interpretação e inferência de cada pesquisa, não existindo um modelo único que deve ser fielmente seguido.

Franco (2005) é enfática ao apontar a importância da inferência na análise de conteúdo, sem esta a pesquisa não passa de uma descrição e perde a importância, para inferir é preciso que os conhecimentos e contribuições do pesquisador extrapolem o conteúdo manifesto nas mensagens e que é possível que estejam associados a outros elementos. Por isso, inferir “confere a esse procedimento, de análise de conteúdo, relevância teórica, urna vez que implica, pelo menos, uma comparação, já que a informação puramente descritiva, sobre conteúdo, é de pequeno valor”. (FRANCO, 2005, p.26).

O estudo pretendeu desenvolver inferências sobre os dados que foram coletados no campo, buscando atingir o objetivo de compreender como a lógica produtivista influenciou as disputas de poder por parte das organizações que compõem o campo de pós-graduação em administração no estado do Rio de Janeiro.

Além disso, a análise dos dados teve o auxílio do software Atlas.ti 6, que contribuiu para a organização dos dados e categorias de análise. O Atlas.ti 6 é um software utilizado em pesquisas qualitativas que funciona como um sistema de apoio. No entanto, vale ressaltar que o Atlas.ti 6 não gera resultados e muito menos realiza análises, ou categorizações automaticamente. Todas as atividades são desenvolvidas

65 pelo pesquisador, que apenas utiliza o software como auxílio para organizar os dados e categorias, compilando todo o material da melhor maneira possível. Essa questão também foi abordada por Mozzato e Grzybovski (2011, p. 743) que percebem a utilizam de softwares apenas para facilitar a organização, “não eximindo a atuação ativa do pesquisador na adoção de um método de análise coerente e pertinente ao tema e à orientação epistemológica”.

Sendo assim, a análise de conteúdo com a contribuição do Atlas.ti 6 ocorreu da seguinte forma: as entrevistas foram transcritas através dos áudios que foram gravados das mesmas, as transcrições foram inseridas em arquivo RTF (Rich Text Format) no Atlas.ti 6 sendo lidas a relidas quantas vezes foram necessárias, visando organizar e sistematizar os dados colhidos. Esse primeiro momento se caracterizou pela pré-análise que pertence ao processo de análise de dados, utilizando o método análise de conteúdo. A segunda etapa que se denomina exploração do material ocorreu após a leitura minuciosa dos dados inseridos no Atlas.ti 6 destacando falas e escritos que pudessem se caracterizar como as categorias definidas a priori, que se fundamentaram no arcabouço teórico que embasa a dissertação. Nessa etapa foram criados manualmente os “codes” que correspondem as categorias a priori. Os trechos que se encaixarem em categorias foram destacados e assim criados os “codes”.

A terceira e última etapa foi caracterizada pelo tratamento dos resultados, inferência e a interpretação. Nessa fase o auxílio do Atlas.ti 6 foi fundamental, pois a partir do software foi possível identificar as categorias que possuíram mais densidade, ou seja aquelas que foram mais utilizadas e que mais emergiram das entrevistas. Além disso, também foi possível criar manualmente associações entre os “codes”, que são as chamadas “networks views” que contribuíram para o entendimento da representação de todas as categorias, possibilitando a visualização das relações de cada uma. Essas opções permitiram tratar de maneira holística todos os dados coletados, facilitando assim a inferência e interpretação dos mesmos.

Foi criada uma “network view” com o intuito de auxiliar na visualização dos “codes” criados, que representaram o desenvolvimento do sistema de avaliação e seu impacto no campo. Esses “codes” emergiram das falas dos entrevistados, mas sem maior fôlego para se tornarem categorias a posteriori, sendo criados apenas para ilustrar os eventos críticos no desenvolvimento do sistema de avaliação. A “network view” é

66 construída por meio de links, denominados “nodes”, que evidenciam a relação entre os “codes”. Cada link possui um significado, de acordo com sua representação gráfica. Vale ressaltar que a construção dessa ilustração não foi feita de forma automática pelo software. Essa composição gráfica foi desenvolvida pela pesquisadora que determinou quais “codes” iriam compor a “network view” e de que maneira seriam linkados. Dessa forma, a “network” foi desenvolvida de uma maneira complementar, com a pretensão de elucidar em uma composição gráfica os dados coletados.

Com todos os dados coletados e compilados em um único documento, a interpretação e inferência aconteceram a partir da verificação da relação do objetivo da pesquisa com os resultados encontrados nos dados, ou seja, o que o campo deixou emergir sobre como a lógica produtivista influenciou as disputas de poder no mesmo.

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