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Métodos de Ensino para Facilitar a Aprendizagem de Alunos com TEA

3 INCLUSÃO ESCOLAR: DA CONCEPÇÃO E NORMATIZAÇÃO

3.3 POSSIBILIDADES EDUCATIVAS DA PESSOA COM TRANSTORNO DO

3.3.2 Métodos de Ensino para Facilitar a Aprendizagem de Alunos com TEA

Considerando o que já foi abordado, para facilitar o processo de aprendizagem e de desenvolvimento de crianças com TEA, foram criados

49 alguns métodos de ensino que com elas podem ser utilizados, que já foram testados cientificamente e apresentaram resultados satisfatórios, tais como os métodos TEACCH, PECS e ABA, sobre os quais discutiremos na sequência. Conforme consta no Guia de Orientação aos Professores, Manejo Comportamental de Crianças com Transtornos do Espectro do Autismo em condição de inclusão escolar (SÃO PAULO, 2014), não é simples que um aluno com TEA consiga aprender através dos métodos tradicionais de ensino.

Assim sendo, é de extrema importância relembrar que cada pessoa, criança ou adulto, que apresenta o TEA possui características diferentes, como nos reforça Brito (2017, p. 19):

É fundamental lembrar sempre, que ao selecionar e utilizar estratégias para crianças com TEA deve-se levar em consideração que: crianças e adultos com TEA apresentam dificuldades e habilidades com graus variáveis em relação ao seu desenvolvimento social, linguístico, cognitivo, motor e emocional. Portanto, o chamado ‘espectro de características do autismo’ também é observado no que se refere às habilidades e dificuldades nesses aspectos, podendo variar bastante.

Portanto, nem sempre o método adotado que funcionar com uma pessoa autista, apresentará o mesmo resultado positivo se utilizado com outra pessoa, também autista.

3.3.3 O Método TEACCH

O método TEACCH, que é a sigla para Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children, que traduzindo significa Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Desvantagens na Comunicação, surgiu por volta da década de sessenta do século XX, nos Estados Unidos, através de um grupo de profissionais de saúde mental que atendiam crianças com TEA e ofereciam terapia a seus pais. Com o passar do tempo, o método TEACCH passou a focar mais no processo educacional das crianças com TEA.

O TEACCH é um modelo de intervenção que, através de uma ‘estrutura externa’, organização de espaço, materiais e atividades, permite que as crianças do espectro autista criem

50 mentalmente ‘estruturas internas’, transformando-as em ‘estratégias’, para que possam crescer e se desenvolver de forma que consigam o máximo de autonomia na idade adulta (SILVA, GAIATO e REVELES, 2012, p. 153-154).

Diante do exposto por esses autores, evidencia-se que esse método pode trazer muitos benefícios para a criança com TEA, visto que possibilita um melhor desenvolvimento da autonomia nessas crianças.

De acordo com Marques e Mello (2005), o método TEACCH sugere que é necessário que ocorram mudanças de organização da sala de aula, além de mudanças na própria rotina diária escolar de um aluno com TEA visando alcançar experiências positivas de aprendizado dessas crianças, buscando que o professor só precise intervir na aprendizagem de novas atividades.

3.3.4 O Método PECS

O método PECS, que é a sigla para Picture Exchange Communication, que traduzido para o português significa Sistema de Comunicação por Troca de Figuras, é mais uma possibilidade para facilitar o processo de aprendizagem das pessoas com TEA, por estimular a comunicação através da troca de imagens. Foi desenvolvido na década de 80, por Andy Bondy e Lori Frost (VIEIRA, 2012).

Esse método utiliza a troca de figuras como uma forma de tentar facilitar a comunicação entre a criança com autismo, ou outro transtorno do desenvolvimento, e, no caso da sala de aula, o professor ou colegas. Sobre esse método, Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 154) nos deixam evidente que:

O procedimento com o PECS não tem por objetivo substituir a fala, mas sim estimular. Quando a criança entrega a figura para uma pessoa (terapeuta, professor, pais), esta deve dizer o que é e incentivar a criança a repetir o nome. Futuramente, este método pode fazer com que a criança consiga falar o que deseja sem o auxílio da imagem. Além disso, ela, aos poucos, vai ampliando o seu repertório verbal.

O método PECS tem o principal intuito de levar a percepção da criança de que através da comunicação esta terá acesso mais rapidamente ao que deseja. Segundo Melo (2007, p. 39), sobre o método PECS:

51 [...] tem sido bem aceito em vários lugares do mundo, pois não demanda materiais complexos ou caros, é relativamente fácil de aprender, pode ser aplicado em qualquer lugar e quando bem aplicado apresenta resultados inquestionáveis na comunicação através de cartões em crianças que não falam, e na organização da linguagem verbal em crianças que falam, mas que precisam organizar esta linguagem.

As figuras utilizadas trazem questões do dia das crianças, por exemplo, alguns cartões podem apresentar um copo de água, que seria utilizado pela criança quando a mesma estivesse com sede, ou uma placa contendo uma imagem do banheiro, que seria utilizada quando a criança necessitasse ir ao banheiro.

Nesse sentido, o método PECS é indicado para ser utilizado com aquelas crianças com TEA que não apresentam fala, ou a apresentam de forma muito reduzida ou ainda para aquelas que falam, mas não conseguem organizar seus pensamentos de forma que a fala se torne compreensível para aqueles que estão ao seu redor e precisam estar cientes das necessidades que a criança apresenta.

3.3.5 O Método ABA

ABA é a sigla para Applied Behavior Analysis, que em português significa Análise Aplicada de Comportamento, sendo um método embasado por pesquisas científicas e que tem eficácia comprovada. Segundo Mello (2007) tem o objetivo principal de ensinar a criança com TEA, bem como com outros transtornos do desenvolvimento, a adquirir as habilidades básicas, que são fundamentais para o seu desenvolvimento, visando substituir os comportamentos inadequados da criança por outros que sejam funcionais, buscando acabar com as crises de birra e melhorar o comportamento social e verbal, segundo Silva, Gaiato e Reveles (2012).

No Guia de Orientação aos Professores já mencionado diversas vezes neste trabalho (SÃO PAULO, 2014, p. 26-27) são apresentados dois princípios básicos da Análise Aplicada do Comportamento:

52 - Entender comportamentos como uma relação entre eventos: o comportamento propriamente dito e os eventos ambientais denominados de estímulos antecedentes (que antecedem o comportamento) e eventos consequentes (que seguem o comportamento e que mantêm uma relação funcional com o comportamento);

- Para que ocorra a modificação de comportamento é necessário que haja intervenção e alteração no ambiente em que o indivíduo está inserido (os estímulos antecedentes e consequentes).

A aprendizagem por esse método ocorre através da repetição e recompensa, visando tornar a aprendizagem algo prazeroso para a criança com TEA. Ainda segundo Mello (2007) os comportamentos negativos das crianças não são reforçados e busca-se identificar o motivo da criança estar agindo daquela forma negativa, como por exemplo, agredindo as pessoas ou fazendo birra, para, a partir dessa identificação, buscar formas de evitar o aparecimento desses comportamentos, substituindo-os por comportamentos positivos.

Ou seja, quando a criança apresenta um bom comportamento, a mesma recebe uma recompensa imediata, que pode ser um elogio ou ter alguns minutos para realizar alguma atividade de que goste. É de extrema importância, também, explicar bem para a criança o motivo de ela estar ganhando aquela recompensa, para que a mesma saiba qual comportamento deve manter se quiser continuar ganhando as recompensas, que devem ser escolhidas através de interesses da própria criança.

Quando ocorre um comportamento negativo, ensina-se para a criança que o que ela fez é errado e deve-se mostrar o que ela deveria ter feito para agir corretamente e receber sua recompensa. Esse processo deve ser repetido todas as vezes que for necessário e também cabe ao professor organizar o ambiente de modo que o mesmo não seja o responsável pelo aparecimento desses comportamentos inadequados, que seria o caso de uma sala de aula muito barulhenta, por exemplo.

Assim, após a pesquisa bibliográfica realizada e os apontamentos organizados neste capítulo, consideramos que os nossos objetivos foram atingidos, pois conseguimos compreender melhor sobre a inclusão escolar de

53 alunos com TEA, bem como estruturar possibilidades pedagógicas para o seu processo de aprendizagem e de desenvolvimento na escola e na vida.

54 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa contribuiu para que compreendêssemos melhor o TEA e as possibilidades educativas de pessoas que apresentam essa condição na perspectiva educacional inclusiva. Conforme foi pontuado na introdução, nossa pesquisa foi norteada por um objetivo geral e três objetivos específicos, que serão retomados na presente sessão com o intuito de melhor estruturarmos as considerações finais em torno do que objetivamos analisar.

Em relação ao primeiro objetivo específico, que foi “apresentar as características das pessoas acometidas pelo TEA”, constatamos que estas não são uniformes e que existem pelo menos três níveis que podem ser apresentados pelas pessoas com esse transtorno, que incide numa maior proporção em meninos que meninas. Também identificamos que os traços mais significativos e comuns entre as pessoas com TEA dizem respeito às dificuldades de comunicação e de socialização, podendo haver relação com síndromes diversas. O TEA também é caracterizado por comportamentos repetitivos e estereotipados, bem como pela necessidade de uma rotina mais fixa e com nenhuma ou com poucas alterações.

Foi possível constatar que o transtorno foi identificado no início do século XX e já passou por diferentes definições ao longo do tempo, conforme o aprofundamento dos estudos realizados sobre o tema. Na atualidade, a forma adotada para classificar esse transtorno é Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, conforme nominamos ao longo do trabalho. Ressaltamos que é muito crescente o número de diagnósticos feitos nos dias modernos, mas esse crescimento não quer dizer que esteja ocorrendo uma epidemia do TEA, mas que estão se expandido informações a respeito, levando à compreensão e identificação de modo mais ampliado.

No que concerne ao segundo objetivo específico, que foi “identificar aspectos conceituais e orientações normativas relacionadas à inclusão escolar de alunos com TEA”, compreendemos que a inclusão escolar é um paradigma educacional que vem sendo construído desde a década de 1990 e que consiste na reestruturação da escola e de toda a sociedade para poder incluir todos os alunos de modo que possam aprender e se desenvolver, mesmo que

55 apresentem condições e necessidades específicas, como é o caso daqueles que tem TEA.

A inclusão escolar, contudo, não tem se efetivado, pois apesar de todo o aparato legal que orienta essa perspectiva educacional, como a LDB 9394/96, a Política Nacional de Educação especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão das Pessoas com deficiência, dentre outros, as ações concretas desenvolvidas nas escolas ainda são muito tímidas.

Em relação ao terceiro objetivo por nós elaborado, que foi “identificar aspectos pedagógicos que podem favorecer a inclusão de estudantes com TEA”, constatamos que existem alguns métodos que vem sendo adotados no trabalho pedagógico envolvendo alunos com TEA que podem favorecer a sua aprendizagem. São eles: os métodos TEACCH, PECS e ABA. Além desses, considera-se que o papel do professor como mediador do processo de ensino e aprendizagem tem uma grande importância na escolarização desses alunos. É importante ressaltar que a inclusão dos alunos com TEA na escola regular, sem o devido acompanhamento especializado pode se constituir como um processo excludente, pois, na maioria dos casos, o aluno com TEA requer uma atenção muito particular para que possa aprender e se desenvolver.

Diante de tudo que foi exposto, consideramos que nossos objetivos foram atingidos com sucesso, pois conseguimos apresentar características pertencentes às pessoas que apresentam TEA e evidenciar que estas devem estar matriculadas em uma escola regular, sendo que o professor precisa utilizar métodos de ensino adequados para o ensino destes e, além disso, deve receber o Atendimento Educacional Especializado, conforme garantido por lei.

Foi constatado, também, que existem muitas leis e normas regulamentadoras da inclusão em nosso país e que os avanços nessa área foram muitos grandes e precedidos de muitas lutas nos últimos anos.

O presente trabalho tenta contribuir para as reflexões, presentes e futuras, sobre a inclusão escolar, em escolas de aulas regulares, das crianças que apresentam o TEA, buscando levar à reflexão acerca da importância de os educadores conhecerem mais sobre esse transtorno e adotarem medidas educacionais que viabilizem uma maior aprendizagem e um maior conforto

56 para as crianças com TEA, de modo a influenciar o desenvolvimento, também, da socialização destas com seus pares.

Salientamos, porém, que não existem fórmulas mágicas para que as crianças, acometidas por esse transtorno, aprendam, pois cada uma apresenta suas particularidades de personalidade e de aprendizagem. Existem apenas algumas práticas educacionais que podem contribuir para a inclusão dessas crianças, que são explicitadas ao longo de todo o presente trabalho, como por exemplo sentar a criança na primeira fila para evitar distrações, respeitar as particularidades da criança e desenvolver ações viabilizadoras da inclusão dessa criança, buscando que a mesma possa desenvolver a socialização com os demais colegas e a equipe escolar como um todo.

57 REFERÊNCIAS

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