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Seja qual for a magnitude de exercícios de treinamento que será aplicada ao atleta, deve-se utilizar algum tipo de estimulação orientada para alcançar determinados objetivos. É nessa hora que se apresenta uma das categorias pedagógicas fundamentais: os métodos de treinamento. Estes, quando planificados longitudinalmente, adquirem a categoria de “sistemas metodológicos” (FORTEZA, 2001a). Entende-se por métodos de treinamento as diferentes formas pelas quais o exercício pode ser prescrito e,

consequentemente, realizado (MONTEIRO, 2002). Compreendem os diversos

procedimentos tomados com o intuito de sistematizar os meios de treinamento e, dessa forma, maximizar os resultados objetivados (GOMES, 1999).

Neste contexto, é importante salientar que nenhum método é mais completo do que outro por excelência, pois cada um deles responde a direções específicas da carga de treinamento. Dessa forma, nenhum método substitui ao outro (FORTEZA, 2001b).

Na base da classificação geral dos métodos orientados para o treinamento das capacidades físicas estão alguns indícios externos dos exercícios. Assim, eles podem ser executados de forma contínua ou intervalada. Ambas as possibilidades podem se caracterizar pelos parâmetros constantes ou variáveis do exercício. Além disso, pode existir uma combinação de ambos durante a execução (método de exercício variável) (ZAKHAROV; GOMES, 2003; FORTEZA, 2001a, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

4.3.1 Método de treinamento contínuo

O método contínuo é fundamental para o treinamento de modalidades cíclicas de longa duração, tais como a corrida e o ciclismo, e para desenvolver a resistência cardiorrespiratória de base necessária em outras modalidades esportivas (MONTEIRO, 2002). Trata-se de exercícios de movimentação ininterrupta, em geral de longa duração, e que fundamentalmente visa o desenvolvimento cardiorrespiratório (TUBINO, 1993; WEINECK, 2005; FORTEZA, 2006), com a intensidade ficando entre 75-80% em relação à máxima carga de trabalho estabelecida (FORTEZA, 2001a, 2001b, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

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A vantagem deste método consiste em evocar adaptações fisiológicas naqueles sistemas orgânicos responsáveis pela captação (sistema respiratório), transporte (sistema cardiovascular) e utilização (sistema muscular) do oxigênio (FORTEZA, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007). Os métodos contínuos podem ser invariáveis ou variáveis (FORTEZA, 2001b).

4.3.1.1 Método de treinamento contínuo invariável

Como o próprio nome indica, as cargas são aplicadas sem variação. Utiliza-se, em geral, como ferramenta para o desenvolvimento da resistência aeróbia, tendo como base exercícios cíclicos e acíclicos (o primeiro com maior destaque). É caracterizado por sua execução prolongada e com intensidade moderada (75-85% em relação à máxima carga de trabalho estabelecida). São amplamente utilizados nas primeiras etapas do processo de preparação. Os efeitos alcançados pela sua utilização influenciam significativamente todas as etapas posteriores do processo de treinamento. Apesar de não constituir um método de preparação determinante para o rendimento ótimo durante a prática de modalidades esportivas com características intermitentes (devido a sua característica de longa duração e intensidade moderada), ele cria a base para o atleta destas modalidades se recuperar com maior eficiência de trabalhos que exijam esforços mais intensos e prolongados (FORTEZA, 2001a, 2001b).

4.3.1.2 Método de treinamento contínuo variável

Caracteriza-se pela variação da magnitude externa da carga, mediante o ritmo de execução dos exercícios. A variação da magnitude está entre 75-95% em relação à máxima carga de trabalho estabelecida. Ao se analisar a essência deste método, percebe-se que pode se assemelhar ao método descontínuo com intervalos ativos de recuperação. A ideia é buscar uma recuperação parcial do organismo nos momentos de menor intensidade após ter realizado um trabalho em intensidades maiores, tudo de maneira ininterrupta (FORTEZA, 2001a, 2001b).

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4.3.2 Método de treinamento descontínuo

São caracterizados pela alternância entre períodos de estímulo e recuperação, com intensidade e duração controladas, ao mesmo tempo em que exigem uma orientação das variáveis de treinamento nos objetivos propostos (TUBINO, 1993).

4.3.2.1 Método de treinamento descontínuo de repetição

Consistem na alteração sistemática entre o estímulo e a recuperação. Sua característica básica é o uso de alta intensidade (superior a 95% em relação à máxima carga de trabalho estabelecida) durante estímulos de duração muito curta. O tempo de recuperação tanto nas pausas entre as repetições (micropausas), quanto nas pausas entre as séries (macropausas), deve ser suficiente para restabelecer o sistema energético que foi priorizado na elaboração da atividade. Este método prioriza a via anaeróbia alática (ATP- CP) (FORTEZA, 2001b).

4.3.2.2 Método de treinamento descontínuo intervalado

Embora o método de exercício contínuo constitua o fundamento do treino de resistência aeróbia, o treino desta capacidade não deve se limitar a ele. Deve ser levado em conta o método intervalado constituído com base nos exercícios de regime misto (aeróbio/anaeróbio). O treinamento intervalado exige com que o atleta execute o exercício em uma intensidade muito maior àquela observada no treinamento de natureza contínua. Esta maior intensidade do treinamento intervalado potencializa as adaptações fisiológicas dos sistemas orgânicos relacionados ao VO2max e, consequentemente, o aprimoramento do desempenho de natureza aeróbia (FORTEZA, 2006, 2007). Atletas bem treinados não são capazes de manter a intensidade de 90-95 % do VO2max por mais de 20-30 minutos e que a intensidade de 100% do VO2maxé sustentada por 6-10 minutos. Dessa forma, o método de treinamento intervalado oferece possibilidades mais favoráveis à criação das influências de treino que visam o aumento das possibilidades do atleta de desempenhar

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Para Bompa (2005), o treinamento intervalado pode ser pensado mediante a duração do estímulo. Dessa forma, ele pode ser elaborado da seguinte maneira:

 TI de curta duração: estímulos de 15 segundos a 2 minutos, que teria a resistência anaeróbia láctica como prioridade;

 TI de média duração: estímulos entre 2 e 8 minutos, que desenvolveria tanto a resistência anaeróbia quanto a aeróbia (com predominância desta última a medida que o tempo aumenta);

 TI de longa duração: estímulos entre 8 a 15 minutos, com um efeito de treinamento incidindo prioritariamente na resistência aeróbia.

Os intervalos de estímulo e recuperação apresentam relação entre si, ficando estabelecida uma relação estímulo-recuperação que, em geral, é expressa da seguinte maneira: 1:1/2, 1:1, 1:2, 1:3 etc. Uma razão 1:1/2 implica que o tempo de recuperação é a metade do tempo destinado ao estímulo. Já quando esta razão se apresenta 1:1, entende-se que o tempo de recuperação e de estímulo são iguais e assim se segue a forma de interpretar a relação estímulo-recuperação (FORTEZA, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

Esta relação não deve ser vista apenas sob o ponto de vista matemático. É necessário considerar o momento de aplicação da recuperação, podendo ocorrer uma derivação maior ou menor da proporção estabelecida (FORTEZA, 2006; FORTEZA; RAMIREZ, 2007).

Tabela 1 – Indicações para prescrição de treinamento intervalado de acordo com as diversas direções bioenergéticas do treinamento

Via metabólica de ressíntese do

ATP

Tempo de

estímulo Série Repetições

Total de repetições Relação estímulo/recuperação ATP-CP 10 – 25 s 5 10 50 1:3 – 1:2 Glicolítica 30 s – 3 min 5 5 25 1:2 – 1:1 Aeróbia 3 – 5 min 1 3 3 1:1/2 – 1:1

Legenda: ATP – adenosina trifosfato. Fonte: Adaptado de Forteza (2006).

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O treinamento intervalado orientado para a evolução da via metabólica glicolítica (treinamento intervalado glicolítico) mostrou-se eficiente em induzir rápidas alterações na capacidade de realizar exercícios intensos e no metabolismo energético do músculo esquelético. A eficiência notável deste tipo de treinamento é provavelmente um resultado do estresse simultâneo e elevado tanto do sistema energético aeróbio quanto anaeróbio (GIBALA; MCGEE, 2008). Em um curto período de tempo, o treinamento intervalado com intensidades elevadas mostrou promover adaptações neurais e aumento dos níveis de Cr (creatina) e CK (creatina cinase), com melhora simultânea na capacidade oxidativa muscular, conteúdo intramuscular de glicogênio, bem como melhora da capacidade de tamponamento muscular, os quais são fatores que beneficiariam a manutenção de exercícios de alta intensidade (GIBALA et al., 2006; BURGOMASTER et al., 2008; GIBALA; McGEE, 2008; KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012) .

Estímulos de alta intensidade e curta duração (com breves períodos de recuperação entre eles) são comuns em esportes coletivos como futebol e basquetebol. Como seria de se esperar, a percentagem de ATP necessária varia de acordo com a duração do sprint e do período de recuperação entre os sprints sucessivos. Durante dois sprints de 30 segundos realizados num cicloergômetro e separados por quatro minutos de recuperação, há aproximadamente uma redução de 41% do primeiro para o segundo sprint da quantidade de ATP gerada anaerobiamente (BOGDANIS et al., 1996). A diminuição da quantidade de ATP gerado anaerobiamente é parcialmente compensada por um aumento de 15% no consumo de oxigênio durante o segundo sprint, resultando em uma redução aproximada de 18% da potência durante o segundo sprint. Isto indica que a maior porcentagem da necessidade de ATP foi gerada aerobiamente no segundo sprint comparada com o primeiro. Portanto, a interação entre as fontes metabólicas de ATP se modificam a medida que se realizam mais sprints (KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012).

Um porém quanto ao treinamento intervalado glicolítico está exatamente no grande estresse que este impõe ao metabolismo anaeróbico glicolítico. A utilização exagerada e desregrada do método (juntamente com as demais cargas associadas ao treinamento e à competição) pode impactar negativa e sem muita demora junto ao organismo do atleta (WEINEK, 2005).

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Balabinis et al. (2003) demonstraram que o treinamento intervalado aeróbio tradicional foi eficiente em aumentar o V 2O pico (variável fisiológica que reflete o

max 2 O

V em situações onde não se pode garantir que o VO2max tenha sido atingido – KRAEMER; FLECK; DESCHENES, 2012) em jogadores de basquetebol universitário que treinaram simultaneamente tanto a força muscular, quanto o condicionamento aeróbio. Neste estudo, os sujeitos foram divididos em um grupo de treinamento aeróbio e outro de treinamento concorrente (força e aeróbio). O grupo treinamento aeróbio melhorou o

pico O

V 2 em 7 %, ao passo que o grupo de treinamento concorrente apresentou um aumento de 13 %.

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