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PARTE II – GUERRAS DE MEMÓRIAS DO 50 ANOS DO GOLPE NOS ESPECIAIS DO JORNALISMO DIGITAL

5. UM GOLPE PARA ALÉM DE MILITAR

5.2 MÍDIA COMO ATOR DOS EMBATES

O golpe começou a ser articulado meticulosamente desde 1961, especialmente com a grande mídia apoiando os conservadores golpistas ao preparar um ambiente favorável para isso, ou seja, acusando o presidente de deixar o país em uma crise econômica e política, além de planejar o fim da democracia com um golpe comunista iminente, com exceção do veículo esquerdista Última Hora, de Samuel Wagner. Quando o golpe aconteceu em 1964, os meios de comunicação já haviam desenvolvido um clima no qual era não apenas inevitável, mas necessária para a deposição do presidente (KOSHIYAMA, 1988; DELGADO, 2010; FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014; RIDENTI, 2014). A posição dos veículos jornalísticos contra Jango estava incrustada de determinada maneira que não se modificou após a sua derrubada e exílio, porém, apenas quando faleceu em 1976 na Argentina. O rádio foi o primeiro veículo a trabalhar com discursos políticos articulados contra o presidente e suas reformas através da Rede da Democracia, que reunia Roberto Marinho, da Rádio Globo, Nascimento Brito, da Rádio Jornal de Brasil, e João Calmon, da Rádio Tupi. Das ondas do rádio, essa propagação difamatória foi parar nas páginas dos jornais desses e de outros empresários da mídia (FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014).

Em uma investigação minuciosa dos editoriais e textos opinativos dos grandes jornais no período de 1961 até 1964, Juremir Machado (2014) defende que o golpe de 1964 não pode ser expressado como militar ou civil-militar, senão como midiático-civil-militar, uma vez que sem o trabalho dessa imprensa a deposição do presidente não teria legitimidade. Esse ambiente propício foi construído diariamente ao se falar à população o que pensar sobre Jango e suas propostas, enfatizando tudo que havia de negativo e até inventando o que não existia, com jornalistas chegando ao ponto de chamá-lo de bêbado para desqualificá-lo

(KOSHIYAMA, 1988; DELGADO, 2010; FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014; RIDENTI, 2014).

A mídia, de modo geral, acusa João Goulart e seus aliados de terem exagerado na propaganda e provocado os militares. Machado (2014), em livre analogia, diz que seria o mesmo que culpar uma mulher violentada por vestir-se com uma minissaia, como se ela estivesse provocando o estuprador e isso justificasse o crime, e existia quem defendesse tal absurdo na proporção em que os meios de comunicação sustentaram o golpe. “Os periódicos também nos dão acesso à maneira como determinadas parcelas da população se comportaram diante de um fato dramático, como o ocorrido em 1964” (FERREIRA; GOMES; 2014, p. 10).

Após anos de desqualificação, a única reação dos aliados do presidente veio tardiamente e de modo inadequado no dia primeiro de abril, com fuzileiros janguistas impediram a circulação dos jornais O Globo e Tribuna da Imprensa. A reação dos conservadores foi mais enfática ao depredar o Última Hora, único jornal apoiador de Jango e de seus ideais, tendo em vista que surgiu no período de Getúlio Vargas como reduto da esquerda na imprensa. Machado (2014) acredita que a pouca profissionalização dos jornalistas na época contribuiu para o apoio e a estruturação do golpe. No início da segunda metade do século passado, os jornais eram compostos por literatos, artistas e “pseudofilósofos” que se viam como intelectuais com a função de ensinar algo a população através da perspectiva hegemônica dominante. Portanto, a mídia não podia suportar um presidente que legalizaria o Partido Comunista, permitira que os analfabetos votassem e aumentaria o ingresso de jovens na universidade, além de realizar reformas de base profundas na sociedade. Essas ações comunistas, evidentemente, criariam um caos social.

Mesmo que seja inegável que a imprensa colaborou ativamente com a deposição do presidente em 1964, no período de repressão da ditadura militar, muitos se mantiveram na oposição desde os primeiros momentos, com praticamente todos se voltando contra os militares após a censura e a violência impostas pelo AI-5. Desta forma, a obra de Thereza Alvim, “O golpe de 1964: a imprensa disse não”, tenta apagar um passado que se tornou doloroso para os jornalistas atualmente renomados, que se tornaram baluartes da profissão justamente por terem criticado ferrenhamente o regime autoritário durante sua execução, como Alberto Dines, diretor do Jornal do Brasil, Antonio Callado, Carlos Castello Branco, diretor da sucursal do Jornal do Brasil em Brasília, e Carlos Heitor Cony, do Correio da Manhã. Juntam-se a eles escritores renomados como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e Rubem Fonseca, que participou até do IPES.

Em poucos momentos da história, jornalistas e intelectuais comprometidos com a democracia e “campões da resistência” elogiariam nessa medida a derrubada de um presidente legítimo, tornando-se “serviçais do golpe militar” (MACHADO, 2014). Enquanto Alberto Dines exaltava os primeiros dias heróicos do seu novo presidente, Antonio Callado errava em toda sua previsão ao defender que as Forças Armadas respeitariam os mandatos dos atuais políticos, a soberania do Congresso Nacional e as exigências do poder civil, que estavam ameaçados, na verdade, por João Goulart, o legítimo presidente que foi deposto. Callado errou rudemente em tudo. Os militares fecharam o congresso, cassaram direitos políticos não só dos então parlamentares, acabaram com a eleição direta e prenderam, exilaram, torturaram e assassinaram diversos civis, cerceando, inclusive, liberdades diversas.

Mesmo durante a ditadura, quando se tornaram críticos e opositores, os veículos jornalísticos justificavam o injustificável, ou seja, suas atitudes anteriores ao desmerecer Jango e seu governo, por vezes, retornando à ideia de que o presidente poderia dar um golpe, que estava tornando o país semelhante demais a Cuba, enfim, que o comunismo batia à nossa porta pelas mãos do presidente (KOSHIYAMA, 1988; DELGADO, 2010; FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014; RIDENTI, 2014). Carlos Heitor Cony, que considerava o primeiro presidente ditador “simpático” e a esquerda “um aglomerado de imbecis”, tinha de admitir que aquele recente governo fracassava, pois condenavam todos sem direito à defesa, algo que não acontecia nem em Cuba – embora enfatize que não defende o regime imposto por Fidel Castro. Ainda em 1964, Cony pede que os militares voltem aos quartéis para que o povo possa ir às urnas. Contudo, por causa dele e dos seus colegas de profissão, que se eximem da culpa até hoje, precisaríamos de 25 anos para isso. Machado (2014, p. 100) ironizou também em referência aos nossos literatos: “com uma resistência assim não há ditadura que se preocupe”.

Alguns jornais e jornalistas se tornaram oposição logo após perceberem que o golpe apoiado por eles estava se tornando uma inevitável ditadura militar, um regime autoritário e não democrático, com: a posse do primeiro presidente militar Humberto Castello Branco; o AI-2 que promovia, entre outras decisões, a eleição indireta para presidente da república que passava a ter poderes totais e a extinção dos partidos políticos ao inaugurar o bipartidarismo; as denúncias de torturas, assassinatos e outros crimes pelos agentes do estado. Porém, é com o AI-5, que oficializou, entre muitas outras ações, a censura nas redações jornalísticas, que a maioria das empresas jornalísticas e seus profissionais se opõem totalmente aos militares e começam a construir uma nova narrativa sobre suas ações nesse período (FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014; RIDENTI, 2014).

Os jornalistas, portanto, aliaram-se aos militares, aos políticos, aos empresários, aos latifundiários, aos católicos e aos setores conservadores da sociedade brasileira para desqualificar o presidente, especialmente através das suas propostas de reformas de base, consideradas como: antimodernas, inexequíveis, demagógicas, populistas e, sobretudo, comunistas. Se esse fantasma rondava a Europa no início do século XIX, isso não se alterou duzentos anos depois, espalhando-se pelo mundo ocidental. Os veículos jornalísticos da época, sobretudo os jornais impressos e as emissoras de rádio, criaram um ambiente favorável aos golpistas e contrário ao presidente e aos seus aliados, com a propagação do perigo iminente de um golpe comunista liderado por Jango e suportado por Arres e, sobretudo, Brizola. Até hoje escutamos os ecos de que “nossa bandeira não será vermelha”.

Um dos jornais mais ferrenhos apoiadores dos golpistas, o Correio da Manhã publicou os famosos editoriais “Basta!” e “Fora!”, mesmo que, logo após a deposição do presidente e o início da ditadura, o jornalista Márcio Moreira Alves tenha iniciado uma série de denúncias contra as ações repressoras e opressoras dos militares, com o veículo divulgando diariamente listas e reportagens sobre presos e torturados. Segundo Koshiyama (1988), a imprensa não realizou ampla cobertura sobre a repressão e totalitarismo contra todos os que se opunham, ainda que minimamente, à ditadura militar, com exceção do Correio da Manhã, que perderia publicidade e fecharia ainda durante o governo militar. Contudo, o jornal foi seguido, no apoio ao golpe, pelos outros grandes veículos: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo, O Dia, Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa estão entre os jornais que perderam os “escrúpulos” ao usar suas páginas para insultar cotidianamente o presidente e a esquerda, valia tudo, como mentir, caluniar, difamar, deturpar, manipular e até brigar com os fatos; e a mídia sempre acredita nas mentiras que ela mesmo cria e dissemina (MACHADO, 2014).

Mesmo que o Correio da Manhã tenha produzido os textos mais repercutidos nos últimos dias pré-golpe, em apoio aos militares e aos conservadores que desejavam a deposição de Jango, os demais jornais não podem se eximir da culpa que possuem, pois foi uma orquestração midiática em níveis nacionais, todos atacando o presidente e suas reformas. De maneira mais espúria, até cobraram dos militares uma intervenção dita como necessária para salvar o país ou colocar ordem nele. O jornal Tribuna da Imprensa era do político e jornalista Carlos Lacerda, fundador da UDN e principal opositor de Jango desde a época em que criou o veículo para combater o getulismo, e Vargas era o padrinho político de Goulart. Em seu jornal, Lacerda chegou até a mentir, como quando disse que o presidente era o maior latifundiário do país, embora defendesse a reforma agrária, e que havia comprado mais de 500 mil hectares de terras, equivalente a praticamente cinco vezes o estado da Guanabara, hoje

cidade do Rio de Janeiro, capital do estado do Rio de Janeiro (FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014).

Durante a ditadura militar, a Folha de S. Paulo ainda ficou marcada pelas suas caminhonetes incendiadas em 1971, por terem sido emprestadas aos militares para carregarem civis e militantes para prisão, onde eram interrogados, torturados e assassinados. O proprietário do jornal, Otávio Frias de Oliveira, em 22 de setembro de 1971, defende a ditadura que já tinha sete anos e nega não apenas a existência de torturas e assassinatos no país, mas também de presos políticos. Ainda em 1956, o jornal apoiou os militares desejosos por impedir a candidatura e posse de Juscelino Kubitscheck. Se o veículo não se ajudava anteriormente, hoje, não está tudo diferente.

Em editorial de 17 de fevereiro de 2009, ao atacar o governo de Hugo Chávez na Venezuela, disse que o Brasil passou por uma “ditabranda” por termos vivenciado só disputas políticas com acesso à justiça de 1964 até 1985. A reação de intelectuais e militantes fez com que o jornal admitisse o erro 20 dias depois, em 8 de março, ainda que reiterasse algumas críticas. Considerando apenas o viés político e somente em 1964 e não os atos contra os direitos humanos durante as duas décadas de truculência e violência militar, o saldo do golpe apoiado pela Folha traz: mais de 400 mandatos cassados, os três últimos presidentes exilados e sem direitos políticos, seis governadores e mais de 50 deputados federais despojados do cargo, além da posse ilegítima de um presidente. Mais de 4400 pessoas aposentadas, quase 1500 demitidas do serviço público e 3 mil punidas com alguma sanção são números de somente um ano de “ditabranda”.

O jornal O Globo foi um dos mais entusiastas do golpe de 1964, pois levaria o país para uma verdadeira democracia, um retorno à legalidade que estava sendo perdida devido às ameaças comunistas do presidente e seus apoiadores. A retratação, no entanto, veio apenas quase 50 anos depois, em 30 de agosto de 2013, mesmo que em alguns momentos tentem justificar a posição que escolheram, como a invasão à redação pelos fuzileiros janguistas e a instabilidade política proporcionada pelos apoiadores de João Goulart. A revolução, nomenclatura que usavam à época, passa a se chamar golpe, e o novo editorial enfatiza isso como um avanço que demorou cinco décadas. Ainda que exponham Roberto Marinho, proprietário do Grupo Globo no período, ao revelar seu editorial em 1984 que reforçava ainda naquele ano o apoio ao golpe e à ditadura militar, enfatizando que a “revolução” não deveria chegar ao fim porque precisavam expurgar alguns subversores. O editorial, por outro lado, tenta contextualizar a posição do eterno patrão, que apostava nas benfeitorias do regime autoritário, especialmente na economia, que foi defensor dos jornalistas de esquerda

oprimidos no período e que atuou historicamente a favor da legalidade, como contra Getúlio Vargas em 1930 e a favor da candidatura e da posse de Juscelino Kubitschek em 1955.

A participação de O Estado de S. Paulo, segundo Machado (2014), estaria em qualquer antologia universal produzida pelo jornalismo com caráter de infâmia, ridículo ou patético, pois cotidianamente evidenciava como o país só poderia melhorar com João Goulart afastado e como eles fariam de tudo para isso, ajudariam da melhor maneira possível para evitar que se consumasse toda a ameaça que o presidente encarnava. O golpe, por conseguinte, só podia representar o otimismo e a confiança no futuro para o mundo inteiro, uma vez que 1964 representava de fato o fim de uma ditadura e não 1945, em referência ao Estado Novo proclamado por Getúlio Vargas, padrinho político de João Goulart. Contudo, as páginas em branco, as receitas e os poemas publicados revelariam que erraram em excesso. Os veículos estadunidenses The New York Times e Washington Post, pressionados pela cúpula do governo do seu país, criticam João Goulart e seus planos de governo, contudo, não deixaram de apontar os excessos, os erros e os crimes da ditadura militar recém-instaurada.

Entre os motivos para a deposição de Jango disseminado na imprensa, estariam: caos e inflação crescente, quebra de hierarquia dos militares, avanço comunista e ampliação exagerada dos benefícios populares, além de seu exacerbado populismo – getulismo ou janguismo. Mesmo assim, havia uma diferença entre o que os jornais pregavam e o que o público entendia (DIAS, 2013, 2014), como nos casos da reforma da Constituição Federal para eleição de sargentos; da iminente ameaça e golpe comunista; da quebra de hierarquia nas Forças Armadas; do apoio às greves sindicais e às reformas de base, especialmente a agrária; da reeleição de João Goulart; da exigência de uma intervenção por parte dos militares contra o governo de Jango. Porém, a imprensa foi fundamental para difundir, alicerçar e legitimar o golpe ao reforçar o pensamento dos grupos golpistas conversadores (KOSHIYAMA, 1988; DELGADO, 2010; FERREIRA; GOMES, 2014; MACHADO, 2014; RIDENTI, 2014).

Em determinada medida, não são só os militares que buscam virar a página para esquecer e apagar, muitos jornalistas não gostam de recordar seu apoio e contribuição direta na derrubada de um presidente legítimo. Segundo Dias (2013, 2014), os grandes veículos jornalísticos apoiadores do golpe aproveitam os momentos de rememoração para se apresentarem como defensores da democracia. A mídia hoje, portanto, não apenas busca reconstituir os acontecimentos que não estão mais presentes, na verdade, ela procura reescrever a sua história no que já passou, editando aquilo que não deseja conhecimento ou disseminação. “A mídia não narra a história, tenta escrevê-la antes, durante e, principalmente,

depois dos acontecimentos (…) não canta os resistentes e suas tragédias, mas os donos de poder e suas glórias interessadas” (MACHADO, 2014, p. 149).

Os primeiros dias após o golpe tiveram alguns acontecimentos relevantes. Em 2 de abril, como vimos, o presidente do senado, Auro de Moura Andrade, decreta vaga a presidência da república e empossa o presidente da câmara, Ranieri Mazzilli, como interino. Dois dias depois, João Goulart se exila e se refugia no Uruguai, não retornando mais ao país em vida. Em 9 de abril, dez dias após a deposição do presidente legítimo, o primeiro Ato Institucional é promulgado e, seis dias depois, Humberto Castello Branco é empossado como o primeiro dos cinco presidentes militares durante a ditadura de pouco mais de duas décadas. Muitos consideram que o golpe militar foi deflagrado apenas em 1968, com a promulgação do AI-5, com o fechamento do Congresso Nacional, totais poderes ao presidente e censura aos meios de comunicação e aos produtos culturais, além da propagação das torturas, desaparecimentos e assassinatos.

A maioria dos agentes que apoiou a ditadura militar defende que aquele era para ser um período transitório, que acabou se estendendo por causa dos militantes de esquerda (armada), muitas vezes identificados como terroristas e guerrilheiros. Esses defensores chegam a dizer que o período dentro da ditadura de maior violência ocorreu como uma resposta às ações das esquerdas que cresciam no país, embora essa assertiva não possa ser considerada completamente, pois havia violações de direitos humanos desde 1964, logo, os galpões do regime autoritário não se restringiram a um curto período mais violento. O próprio Carlos Lacerda, antes apoiador e fomentador do golpe, criticaria o modo como a ditadura seria administrada, não sendo mais temporária, frustrando suas pretensões de ascender à presidência da república.

Essa perspectiva, todavia, ameniza o ato da deposição de João Goulart e a própria ação dos militares, que só endureceriam o seu regime autoritário por causa, por exemplo, da guerrilha e da luta armada, desconsiderando que anteriormente pessoas já eram agredidas e mortas. Entretanto, em 1964, já existiam cassações, prisões, exílios, torturas, desaparecimentos, assassinatos e toda forma de violações contra os direitos humanos que ficaram marcadas como representativas das mais de duas décadas da ditadura militar. Machado (2014) revela que no Rio Grande do Sul, em Itaqui, até um campo de concentração foi construído para colocar os comunistas brasileiros por eles julgados.

Isso ocorreu, por conseguinte, antes do AI-5 promulgado somente quatro anos depois. Tudo aconteceu antes também da luta armada, das guerrilhas e de todas as formas de resistência e reação ao terrorismo imposto pelos militares, em outras palavras, elas surgiram

por causa das ações repressivas dos militares e não o inverso, isto é, que a ditadura se tornou mais autoritária por causa da (re)ações da esquerda e dos militantes, mito amplamente divulgado pela imprensa. Carlos Fico (2004) explica que, longe de ser um “golpe dentro do golpe” por causa da crescente esquerda, o AI-5 representou o amadurecimento natural do processo, que vinha desde a deposição do presidente. O presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli comandou o país por 13 dias, de 2 a 15 de abril, quando Humberto Castello Branco foi eleito pelo Congresso Nacional de maneira indireta, permanecendo até 14 de março de 1967. Depois, sucederam-se no comando Arthur da Costa e Silva, que fica no governo por dois anos, de 1967 até 1969; Emílio Garrastazu Médici, de 1969 até 1974; Ernesto Geisel, de 1974 até 1979; e João Figueiredo, de 1979 até o fim da ditadura militar, em 14 de março de 1985.