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A presente secção do Capítulo II pretende dar a conhecer o que tem vindo a ser desenvolvido um pouco por todo mundo ao nível da avaliação da sustentabilidade da construção. Apresentam-se várias metodologias desenvolvidas para vários contextos, embora com base comum: indicadores de sustentabilidade.

Segundo (Direcção Geral do Ambiente 2000) após a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável ao nível das instituições, foi surgindo a necessidade de se realizarem avaliações de desempenho face ao novo conceito. Para tal, desenvolveram-se as metodologias de análise e, em particular, os indicadores de sustentabilidade das políticas ou opções de desenvolvimento. O desenvolvimento de indicadores para a avaliação de sustentabilidade foi proposto pela Agenda 21, como uma forma de construir uma base sólida para a tomada de decisão aos mais diversos níveis. A (Direcção Geral do Ambiente 2000) define-os como um conjunto de parâmetros seleccionados, individualmente ou combinamos entre si, que revelam especial pertinência nas condições dos sistemas em análise. É ainda referido pelas Nações Unidas no (United Nations 2007) que os indicadores conduzem a uma tomada de decisão mais acertada, graças ao seu poder de simplificar, clarificar e agregar a informação necessária à tomada de decisão. Referem também, que estes auxiliam a incorporação do conhecimento de várias áreas de estudo na tomada de decisão, instituindo-lhes, por isso, o carácter de ferramenta indispensável à comunicação entre as partes intervenientes no processo decisional. Os parâmetros, por sua vez, correspondem a uma grandeza que pode ser estimada com previsões ou avaliada qualitativa ou quantitativamente, e que se consideram relevantes para a avaliação dos sistemas ambientais, sociais e económicos.

Dada a urgente necessidade de melhorar todo o processo construtivo, o desenvolvimento de ferramentas e metodologias tem sido prática corrente entre os diversos países, organizações e grupos de investigação, conduzindo à discussão internacional. O Green Building Challange é um exemplo disso mesmo, tendo organizado várias conferências internacionais que foram fundamentais para o desenvolvimento do assunto. Também a Organização Internacional de Standardização (ISO) tem vindo a desenvolver requisitos padronizados que possam ser internacionalmente aplicados na avaliação de sustentabilidade de construções. O Comité Técnico CD 59 “Building Construction” e o Subcomité CS 17 “Sustainability in Building Construction” publicaram dois relatórios técnicos a respeito.

ISO/TC 21929-1:2006 – Sustainability in Building Construction — Sustainability Indicators — Part 1: Framework for development of indicators for buildings;

ISO/TS 21931-1:2006 Sustainability in Building Construction — Framework for Methods of Assessment for Environmental Performance of Construction Works — Part 1: Buildings. A nível europeu também o Comité Técnico - TC 350 - do Comité Europeu de Standardização (CEN) “Sustainability of Construction Work”, tem vindo a desenvolver normas e relatórios técnicos que permitem a avaliação voluntária de aspectos padronizados em edifícios novos e já existentes além de estabelecerem modelos para a Declaração Ambiental do Produto. O Relatório do Encontro do CEN/TC 350 em Outubro de 2008, (Schlesinger 2008), relata que o este tinha em vista a finalização dos seguintes projectos de Norma:

pr EN 15643-1 “Sustainability of construction works - Sustainability assessment of buildings - Part 1: General framework”

pr EN 15643-2 “Sustainability of construction works - Sustainability assessment of buildings - Part 1: Framework for the assessment of environmental performance”

Pela descrição feita nas secções anteriores do presente Capítulo, verifica-se que existe toda uma vasta gama de parâmetros susceptíveis de integrarem uma avaliação de sustentabilidade, no entanto a inserção de todos levaria a um processo extremamente moroso e complicado que certamente conduziria à desistência na aplicação. (Mateus and Bragança 2006) afirmam, com esta explicação, que as metodologias devem ter uma abordagem holística, sendo para isso a avaliação baseada em apenas alguns parâmetros e indicadores que se considerem representativos para o objectivo da avaliação. Desta forma, tal como já referido, as várias metodologias existentes possuem diferentes campos de acção, diferentes enquadramentos, diferentes escalas, enquanto, por exemplo, umas têm aplicação regional, outras já conseguem ter nível global, se umas consideram todo o ciclo de vida do edifício outras podem só considerar a fase de utilização ou só a de construção. (Erlandsson and Borg 2003) referem que a maioria das metodologias desenvolvidas é baseada numa abordagem bottom up, i.e., a combinação e soma dos desempenhos individuais dos materiais e produtos do edifício resulta, na sua maioria, no desempenho global do edifício. Em oposição, (Allecker and DeTroyer 2006) mencionam não ser correcto considerar um edifício igual à soma dos seus componentes, devido à influência da arquitectura no impacte global.

Consequentemente, consegue-se catalogar as diversas metodologias por tipos, embora existam diversas opiniões sobre como faze-lo. (Mateus and Bragança 2006) apoiam a divisão realizada pela ATHENA Institute (Trusty 2000) colocando as metodologias em três tipologias:

 Ferramentas de suporte à concepção de edifícios sustentáveis;

 Sistema de análise de ciclo de vida dos produtos e materiais de construção;  Sistemas e ferramentas de avaliação e reconhecimento da construção sustentável.

As primeiras aplicam-se nas fases de ante-projecto e projecto dos edifícios, permitindo aos decisores (dono- de-obra) explicitarem as suas prioridades e dá-las a conhecer à equipa de projecto. Exemplos destas ferramentas são a EcoProp (Finlândia), ATHENATM (Canadá), BEAT 2000 (Dinamarca) e Eco-Quantum (Holanda), (Haapio and Viitaniemi 2008).

Os sistemas de análise de Ciclo de Vida (LCA), têm aplicação nas fases de ante-projecto e projecto e actualmente avaliam quer o impacte ambiental dos materiais e produtos desde a extracção até à devolução ao ambiente, quer o desempenho económico, fundamental ao conceito de sustentabilidade. São exemplo a BEES (Estados Unidos da América), LISA (Reino Unido) e TEAMTM (França).

Os sistemas e ferramentas de avaliação e reconhecimento da construção sustentável aplicam-se a todas as fases pelas quais os edifícios passam: projecto, construção, utilização, manutenção e demolição/desmantelamento. Assim consegue-se uma melhor integração entre as três vertentes do desenvolvimento sustentável (ambiente, sociedade e economia). Embora existindo várias metodologias todas analisam as mesmas categorias:

 Selecção do local e planeamento;

 Consumo de Energia e respectivas fontes;

 Carga ambiental (qualidade ar exterior, resíduos, água…);  Qualidade ar interior;

 Funcionalidade (iluminação, ruído, conforto);  Custos.

Pelo tipo de categorias descritas é possível verificar que as metodologias necessitam de uma base legal e de dar resposta a determinados aspectos convencionais do local, pelo que as escalas de aplicação são maioritariamente restritas à região ou país para as quais foram desenvolvidas. De entre as várias metodologias incluídas nesta tipologia destacam-se a BREEAM (Reino Unido), a LEED® (Estados Unidos da América) e a SBTool1 (desenvolvida por 20 países).

Quer a BREEAM quer a LEED® baseiam-se na verificação de uma checklist que a cada ponto verificado são atribuídos créditos que no final todos somados representam o desempenho global do edifício em estudo. A SBTool tendo sido desenvolvida com a participação de diversos países, num processo internacional iniciado em 1996, promovido pela Internacional Initiative for a Sustainable built Environment (IISBE) (Pinheiro 2006) que compõe um sistema que permite avaliar o desempenho ambiental, social e económico de edifícios a nível internacional. Desta forma, distingue-se das demais, uma vez que foi concebida para permitir aos seus utilizadores a realização de alterações nos parâmetros de acordo com o tipo (residencial, comercial, escritórios, etc.) e estado (projecto, construção, renovação, por exemplo) do edifício e respectiva região de implementação, (Pinheiro 2006). Assim um dos principais requisitos da SBTool é ter uma estrutura global, ajustável a cada país ou região. O processo de aplicação da metodologia baseia-se na avaliação do desempenho de uma serie de parâmetros no edifício em estudo que é comparado com o desempenho de soluções de referência (convencionais na região/país) – benchmarks, (Cole and Larsson 2002).

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CAPÍTULO 3

3. M

ETODOLOGIA ADOPTADA

SBT

OOLPT

3.1. I

NTRODUÇÃO

Na sequência de toda a informação apresentada nos capítulos anteriores e devido às metodologias existentes não adaptarem totalmente à avaliação de soluções construtivas, esta dissertação apresenta uma metodologia, desenvolvida pelo Laboratório de Física e Tecnologia das Construções da Universidade do Minho, que permite avaliar a sustentabilidade de soluções construtivas relativamente à solução construtiva mas aplicada na região – solução de referência. Tendo sido denominada como Metodologia de Avaliação Relativa da Sustentabilidade de Soluções Construtivas (MARS-SC), o facto de derivar da metodologia internacional, já citada, SBTool, permite também denomina-la por SBTool PT.

Segundo (Bragança et al. 2007) as tecnologias construtivas portuguesas e os padrões de qualidade do ar interior são bastante diferentes da maioria dos países europeus. A motivar as diferenças tem-se o facto de Portugal não ter estado envolvido na Segunda Guerra Mundial e ser detentor de um clima ameno. Esta realidade, segundo os mesmos autores, dificulta o uso de metodologias desenvolvidas no estrangeiro sem uma prévia adaptação dos parâmetros que, em muitos casos não se encontram padronizados para Portugal, além do que, existe a necessidade de ajustar os factores de ponderação utilizados e adoptar benchmarks diferentes.

Pretende-se assim aplicar uma metodologia desenvolvida e moldada à realidade portuguesa, tendo em consideração o seu contexto cultural e climático.

As secções seguintes apontam as diferentes fases de aplicação da metodologia, sendo que, primeiramente esta é exposta concisamente e numa segunda fase é apresentada mais pormenorizadamente. Numa primeira secção apresenta-se a definição das fronteiras do sistema, seguindo-se as etapas da metodologia propriamente ditas:

(1) Definição das fronteiras do sistema; (2) Definição dos parâmetros;

(3) Quantificação dos parâmetros;

(4) Normalização e agregação dos parâmetros; (5) Determinação e avaliação da nota sustentável;

Na segunda, a metodologia é descrita parâmetro a parâmetro, contextualizando a sua aplicação aos edifícios de serviços em geral e ao caso de estudo.