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Macrociclo do Período Pré-Competitivo vs. Período-Competitivo

CAPÍTULO V - PROCESSO DE TREINO

5.2 Volume dos Conteúdos de Treino

5.2.3 Macrociclo do Período Pré-Competitivo vs. Período-Competitivo

A relevância deste estudo prende-se com a determinação das variáveis semelhantes e distintas quando comparados dois períodos da época desportiva com propósitos diferentes, visto que no PPC se procura alcançar a forma desportiva dependente do Modelo de Jogo, e que, por outro lado, no PC almeja-se a manutenção ou um aumento qualitativo progressivo.

Gráfico 3 – Comparação entre o volumo de conteúdo de treino no Período Pré-Competitivo (PPC) e Período Competitivo (PC)

Desta comparação de resultados é observável que a equipa técnica diminui o volume de exercícios isolados de resistência e de força de um macrociclo para o outro. Passando para o período competitivo a equipa técnica muito raramente adotou exercícios isolados para trabalhar os regimes de força e resistência reduzindo a participação das mesmas no processo de treino nesses moldes. A intenção de periodizar sempre com especificidade fez com que a expressão das capacidades condicionais atrás mencionadas, assim como a velocidade, fossem sempre de menor volume, apesar de estarem sempre a ser trabalhadas em exercícios de forma integrada. A velocidade foi a única das capacidades condicionais que aumentou a sua expressividade, contribuindo para tal os exercícios específicos realizados no treino de sexta-feira. A frequência dos exercícios de flexibilidade manteve-se, espelhando a preocupação com a inclusão dos mesmos no retorno à calma.

Os exercícios descontextualizados mantiveram um volume de 2% em ambos os períodos. Este tipo de exercício não foi muito frequente no processo da equipa, todavia quando adotados encaixavam-se sobretudo no momento inicial do treino como exercícios isolados de passe ou drible com o intuito de preparar para o treino.

Os exercícios em circuito não foram utilizados em nenhum dos macrociclos, expressando mais uma vez, a ideia metodológica da equipa técnica.

Os exercícios de MPB foram sempre os mais utilizados, apesar de ter baixado o seu volume em 4% no período competitivo deixando-se igualar pelos exercícios competitivos, 26% em cada período. Este tipo de exercício é muito rico e maleável em

número, espaço, tempo, alvos, entre outros. Ao jogar com estas variáveis conseguimos objetivos diferentes.

Os jogos de posição e meínhos, com e sem ligação, são o exemplo perfeito do exercício padrão utilizado pela equipa técnica para moldar princípios e subprincípios do “nosso jogar” e para potenciar o jogo de posição ofensivo e o jogo de circulação e posse. No entanto, muito provavelmente o processo de treino usou e abusou deste tipo de exercício, principalmente no período pré-competitivo, onde deveria ter sido dado mais tempo a exercícios sectoriais e competitivos. Estes últimos suportariam os comportamentos coletivos mais próximos do plano conceptual.

Se encararmos o treino com uma lógica progressiva do fácil para o difícil, do simples para o complexo e da parte para o todo, podemos concluir enquanto equipa técnica que muitas vezes não foi estimulada a lógica evolutiva, o que poderia ter impedido a predisposição dos atletas para a prática desportiva. Isto teria consequências nefastas no seu processo ensino-aprendizagem.

Os exercícios lúdico-recreativos foram operacionalizados quase de forma exclusiva em treinos pós-jogo ou no dia seguinte ao jogo, pelo que os baixos valores bem como o aumento de volume do PPC para o PC não surpreendem. Apenas os atletas que tivessem jogado mais de 60 é que participavam neste tipo de exercício.

Já os exercícios de finalização praticamente mantiveram a sua expressividade nos dois períodos. A diferença reside no tipo de exercícios de finalização que foram executados, pois no PPC estes eram trabalhados muitas vezes de forma isolada e no PC os exercícios de finalização recaíam maioritariamente sob a forma de ataque às zonas de finalização, vagas para definição em criação dentro e fora nos momentos de organização ofensiva ou de transição ofensiva. Deste forma eram simulados os cenários específicos que se pretendiam ver recriados. No período competitivo a operacionalização deste tipo de exercícios acontecia sobretudo à sexta-feira, procurando trabalhar o micro, depois do macro já trabalhado nas sessões anteriores do microciclo.

Os exercícios metaespecializados com 2% nos dois períodos exemplificam que, apesar da preocupação individual, a incidência foi maioritariamente nos princípios coletivos e só depois no pormenor a nível individual. O potenciar da individualidade aconteceu sobretudo de duas maneiras. No treino em exercícios com foco intrassectorial, sectorial, intersectorial e coletivo, mas com feedback para determinados comportamentos individuais e fora do treino com sessões vídeo individuais.

Os exercícios sectoriais foram dos mais utilizados no processo de treino ao longo da época, subindo 3% no PC. A inexistência de uma flutuação ao longo da época demonstra a importância deste tipo de exercícios no processo de treino. No PPC estes foram realizados com o intuito de moldar comportamentos fechando um pouco a forma, do macro para o meso. Foram assim aumentados o número de repetições e das ações pretendidas, controlando melhor os comportamentos coletivos e individuais por redução da forma. Por este motivo deveriam ter sido executados mais vezes.

No PC os exercícios sectoriais para além da manutenção ou aumento qualitativo progressivo do nosso modelo, foram uma ferramenta comum na operacionalização do plano estratégico. Como o processo de treino também se apoia na dimensão estratégica é natural que o volume deste tipo de exercícios tenha aumentado 3%. As limitações espaciais, treinando regularmente em espaços de dimensões mais reduzidos que o espaço efetivo de jogo, levaram a que os sectoriais se tornassem o método favorito na aplicação do plano estratégico. Estes comportamentos deverão ser trabalhados de forma macro, mas perante as dificuldades ou constrangimentos a solução adotada parece-me ajustada.

Os exercícios padronizados tiveram uma representação muito reduzida ao longo da época, cerca de 1%. Este tipo de exercícios são frequentes quando se procura mecanização de comportamentos mais fechados como por exemplo o ataque às zonas predominantes de finalização.

As circulações táticas são muitas vezes utilizadas na procura de trabalhar o jogo de posição ofensivo e defensivo sem “ruído de fundo”, individual e coletivo, bem como o plano estratégico. Embora se utilize mais este tipo de exercícios com esta finalidade no alto rendimento, no futebol de formação também existe essa prática, mas numa escala bastante menor. A reduzida representatividade revela a filosofia de formação do clube e sobretudo as crenças da equipa técnica. Acredito que este tipo de exercícios deveriam ter tido uma expressividade superior, uma vez que conduz ao detalhe de forma mais célere e a partir daí podemos ir complexificando o exercício para que exista um maior transfer.

As situações fixas de jogo, ou esquemas táticos, duplicaram a sua importância no PC passando de 2% no PPC para 4%. A equipa técnica nunca deu muito relevo aos esquemas táticos ofensivos e defensivos, apesar de ser nas bolas paradas e na transição ofensiva que a maioria dos golos são obtidos no futebol. Este é um dado curioso e provavelmente se tivessem sido apresentados estudos relativamente ao trabalho dos esquemas táticos e ao sucesso alcançado em jogo, a equipa técnica poderia ter abordado o volume e a qualidade da operacionalização de forma mais pormenorizada.

Este tipo de trabalho pode ser efetuado de forma integrada, em jogos competitivos, em situações em que a bola saia do espaço efetivo de jogo podendo ser assinalado livre lateral, canto, livre direto ou livre frontal para além do lançamento de linha lateral. Ainda assim, a duplicação da aplicação deste tipo de exercícios, de um macrociclo para o outro, deveu-se à adaptação perante o contexto competitivo seguinte. Podemos, deste modo, compreender que em situação competitiva existe uma maior preocupação em trabalhar os esquemas táticos ofensivos e defensivos por parte da equipa técnica, sendo a variável adversário e a adaptação ao mesmo o fator que despoleta tudo isso.

Por último, os exercícios competitivos mantiveram um volume no processo de treino de 26%. Estes valores mostram a importância deste tipo de exercícios ao longo de todo o processo. A par dos exercícios de MPB são os mais significativos, tendo contribuído para isso a ideia de que através destes exercícios existiria maior representatividade e aproximação ao cenário do jogo. Portanto, estes são essenciais para trabalhar os planos conceptual e estratégico. Foram realizados exercícios competitivos de diversas dimensões, de macro a micro.

De forma resumida, verifica-se que em ambos os períodos, existe um predomínio dos métodos de carácter específico sobre os de carácter geral e dentro destes os mais operacionalizados são os específicos de preparação. O princípio da especificidade, segundo a periodização tática, no qual nos baseámos é uma das respostas para estes resultados bastante afirmativos. Segundo este princípio o treino deve ser específico procurando modelar comportamentos que levam à identidade da equipa, sendo que se treina como se joga e joga-se como se treina (Carvalhal, Oliveira, & Lage, 2015).

Concluindo que mesmo em macrociclos diferentes e com objetivos ligeiramente distintos, se existir uma metodologia de treino adequada, a variação no volume dos métodos de treino não será especialmente alterada. No futebol profissional esta variação será certamente mais notória do que no futebol de formação.