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CAPÍTULO IV - MODELO DE JOGO, TREINO E OBSERVAÇÃO

4.3 Modelo de Observação

4.3.3 Observação e Análise do Adversário

A observação e análise de equipas adversárias tem como objetivo a caracterização do adversário, procurando a identificação de padrões coletivos, de modo a auxiliar o treinador a preparar o jogo da melhor forma possível (Ventura, 2013). Para o mesmo autor, pode concluir-se que este tipo de observação procura identificar e simplificar a organização do jogo através do reconhecimento do modelo de jogo do adversário, cortando com os aspetos aleatórios do jogo e dando significado aos fatores demonstrativos de uma organização complexa e que dão aso aos fundamentos dessa equipa (Ventura, 2013).

Leite et al. (2016) são mais específicos, sobretudo do ponto de vista empírico, visto que para os autores a análise do adversário pretende conhecer o seu modelo de jogo, como se comportam nos diversos momentos do jogo, os seus esquemas táticos, alterações táticas e os seus motivos, substituições, como sofrem e marcam golos, quais as características dos seus jogadores, e finalmente os pontos fortes e fracos da equipa.

Este tipo de análise é essencial sobretudo em contextos de alto rendimento, onde o resultado tem um peso significativo, Pep Guardiola3 explica a sua importância dizendo que

3 Guardiola P. (2016) in Perarnau, M. (2016). Pep Guardiola. La metamorfosis. Barcelona: Roca Editorial de Libros, S.L.

“...jogamos contra outra equipa que tem qualidades concretas e nós devemos conhecer essas qualidades, saber todas as suas forças e debilidades, temos de ter radiografado o rival e temos que nos adaptar a ele... Cada jogador deve conhecer a realidade do opositor e saber o que deverá fazer em cada circunstância.” (Perarnau, 2016, p. 175)

Segundo Ventura (2013), o observador deve ter atenção a alguns parâmetros aquando da observação e análise do adversário como o modelo de jogo do adversário, os quatro momentos do jogo, a bola parada, as substituições padrão e a sua influência na estrutura e dinâmica da equipa. Também deve ter-se atenção ao comportamento em função do resultado, atender aos padrões de rendimento e comportamentais nos jogos casa e fora, e a caracterização dos jogadores referência (Ventura, 2013).

Para além destes parâmetros os treinadores procuram ainda ter alguma informação relativa a dados estatísticos como por exemplo os golos marcados e sofridos, períodos em que mais marcam ou sofrem golos, os cartões que o adversário possa ter ou os perfis antropométricos dos jogadores (Ventura, 2013).

A observação e análise do adversário é muito provavelmente a mais complexa das funções atribuídas ao analista no contexto em questão. Esta análise tem um peso evidente no microciclo semanal e a sua representatividade encontra-se no Plano Estratégico. Cada vez mais entramos na era da estratégia, do conhecer o nosso rival e de como aproveitar os seus pontos fracos e suprimir os seus pontos fortes. De referir a importância que a análise individual do adversário tem para maior pormenorização da análise e antecipação daquilo que são os comportamentos coletivos do adversário.

No alto rendimento é uma tendência evidente e até em contextos de menor exigência, no que diz respeito ao resultado, sendo que já se encontra com alguma regularidade este tipo de análise e preparação para o jogo seguinte. No futebol de formação também esta começa a ser uma realidade.

No escalão de estágio este tipo de análise sempre foi pretendida e valorizada, de uma forma enquadrada, fornecendo maior conteúdo a ser dado aos atletas na procura de criar e habituar a rotinas que muitos iriam encontrar num futuro próximo. Assim permitindo aos jogadores aproximarem-se do sucesso individual e coletivo que consequentemente aproxima também da vitória.

Atualmente assistimos a uma moda que desvaloriza o resultado. Esta é uma moda que pode dizer-se perigosa uma vez que suprime um dos elementos essenciais da formação como a ambição, a competitividade. Com isto não quero defender o resultado nem tão pouco criar uma discussão entre resultado e formação. Contudo parece-me vital que no

futebol de formação o essencial e primordial seja formar, ensinar o jogo, ensinando também aquilo que é a procura da vitória. Dependendo do contexto, mesmo na formação, o peso relativo da vitória poderá aumentar ou diminuir, nunca superando o peso relativo daquilo que são os comportamentos individuais e coletivos que se pretendem como parte do processo evolutivo de ensino-aprendizagem.

Outra discussão muito comum e que se relaciona com a observação e análise do adversário é se devemos dar maior importância à identidade ou à estratégia, ou que importância dar ao plano estratégico. Esta parece-me uma falsa questão, uma vez que todas as equipas deverão possuir uma linguagem comum, um plano conceptual ou modelo de jogo, mas isso não invalida que exista espaço para a estratégia. Aproximando-nos da estratégia é mais provável criar um contexto no qual os jogadores tenham êxito. Esta não descaracteriza, mas sim elege caminhos dentro das nossas possibilidades, fazendo parte do modelo formativo dos atletas.

Passarei agora à descrição do processo de observação e análise do adversário realizado na equipa de sub-17 do Vitoria Sport Clube.

O software utilizado para recolha das amostras foi predominantemente o Wyscout, programa ao qual tínhamos acesso através dos departamentos de scouting e de observação e análise da equipa A, uma vez que estes nos cediam os jogos solicitados.

Através de uma sistematização do jogo criada por mim, tendo por base as minhas vivências e experiências anteriores, passou-se à análise do adversário utilizando o

Longomatch como programa de corte. O meu procedimento foi codificar o jogo ao mesmo tempo que o analisava, garantindo a eficácia na sua análise. Caso fosse necessário editar seria utilizada a edição do Longomatch ou a do Powerpoint. No meu caso, optei pelo

Powerpoint por ser visualmente mais agradável. Após a realização do vídeo realizava o relatório escrito com recurso a imagens.

A realização do vídeo tem como principal objetivo a visualização por parte dos atletas. Já o relatório é uma ferramenta base para auxiliar a discussão e planeamento do treino, bem como a sua operacionalização no treino. No relatório escrito do adversário inclui-se informação individual sobre os atletas e todos os comportamentos coletivos em função das individualidades. Era também enviado de forma separada informação estatística do adversário.

O processo de observação e análise do adversário utilizando este tipo de ferramentas demorou em média quatro dias, ocupando cerca de 12 horas diárias. Um exemplo do relatório de análise do adversário encontra-se em apêndice (apêndice III).

A operacionalização deste tipo de análise resultou mais concretamente na conceção de exercícios que procuraram simular os comportamentos pretendidos para anular as virtudes dos adversários e explorar as suas debilidades, preparando os nossos jogadores para o contexto competitivo que viriam a encontrar.