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4 AS EXPERIÊNCIAS DO PROGRAMA DE APOIO PEDAGÓGICO DO CMF

4.5 O DIA A DIA DO PROGRAMA DE APOIO PEDAGÓGICO

4.5.8 Mais um concorrente do Apoio Pedagógico: as atividades extraclasses

O CMF oferece gratuitamente aos alunos várias atividades extraclasses no turno da tarde. Logo após o início do ano, os alunos começam a pedir para participar das escolinhas esportivas, grêmios, atividades artísticas, clubes, equitação, etc. que funcionam nos mesmos horários que o apoio pedagógico.

O Coordenador entendia que qualquer atividade extraclasse era importante na formação integral dos alunos e sempre que possível tentava liberá-los. Algumas das atividades contribuíam diretamente para superação de algumas dificuldades, como o aluno B. V. que passou a participar do clube de leitura e a aluna E. F. que precisava melhorar a sua oralidade e foi autorizada a participar do teatro.

A participação nestas atividades extraclasses era também uma excelente forma de motivá-los. Certa vez a mãe do aluno L. solicitou a participação dele nos jogos escolares. O aluno estava muito empolgado, mas ela demonstrou estar receosa com a ausência parcial dele no apoio. O Coordenador prontamente disse que ele seria liberado para participar dos jogos e dos treinamentos, pois isso seria muito importante para sua autoestima. O aluno ficou muito feliz e apresentou uma melhora visível no seu comportamento.

Ao longo do ano, no entanto, as solicitações para participação em atividades extraclasses durante o apoio pedagógico aumentaram consideravelmente. As solicitações algumas vezes partiam inclusive dos pais, por isso o assunto era levado para discussão na equipe pedagógica que ficava dividida em relação à liberação principalmente dos alunos que ainda não apresentavam um rendimento escolar satisfatório e careciam de um tempo maior no apoio pedagógico.

Era consenso na equipe que essas atividades contribuíam com a formação integral do aluno e, por isso, deviam ser incentivadas, mas também reduziam o tempo com os professores no acompanhamento e na superação das dificuldades nos conteúdos curriculares. Por conta disso, as discussões ocorreram em relação a como essas atividades complementares oferecidas pela escola deviam ser equacionadas com as atividades do apoio pedagógico.

Alguns professores defendiam prioridade absoluta para o apoio pedagógico dentro do programa estabelecido, que já contemplava outras atividades complementares como informática, esporte e dinâmicas motivacionais. Neste caso, os alunos não deveriam ser autorizados a participar de outras atividades, sob o risco de comprometer o seu desempenho escolar ao longo do ano.

Outra ideia foi não adotar uma regra única, mas tratar cada caso individualmente, avaliando tanto a atividade, quanto o aluno.

Alguns sugeriram que esta decisão não deveria ser da escola e sim dos pais. Os pais assinariam um termo autorizando a participação do seu dependente em determinada atividade, e o aluno então seria liberado do apoio naqueles horários.

Após ouvir as diferentes sugestões dos professores, o Coordenador decidiu que primeiramente os alunos deveriam ser orientados sobre as suas prioridades na escola. Segundo o Coordenador, as muitas atividades extraclasses oferecidas pelo Colégio eram sempre interessantes e convidativas, ao mesmo tempo em que as demandas escolares eram muitas vezes intensas, requerendo tempo e dedicação.

A maioria dos alunos do apoio ainda não conseguia se organizar para equacionar o seu tempo na participação dessas atividades e na realização das suas obrigações escolares. Se dependesse apenas deles, ocupavam todas as tardes apenas com as atividades extraclasses, sendo assim o Colégio, na pessoa de seus agentes educacionais, não poderia abrir mão da responsabilidade de orientar e, se necessário, intervir para o bem do aluno.

Certa vez, alguns alunos do apoio, no afã de participarem de todas as atividades “possíveis e imagináveis” da escola, manifestaram o desejo de participar das aulas e das provas das olimpíadas de Matemática.

O professor de Matemática era de parecer que os alunos fossem liberados sim, pois as olimpíadas eram para todos. O Orientador do 8º ano concordou que os alunos tivessem esta experiência, mesmo que as suas chances de sucesso fossem mínimas. O Coordenador, no entanto, dentro da visão já apresentada aos professores discordou e disse que cabia à escola orientar os alunos, já que muitos deles ainda eram imaturos para tomar algumas decisões como estas.

As questões de uma prova da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), por exemplo, estavam bem acima da capacidade de compreensão da maioria dos alunos do apoio pedagógico. Os professores de olimpíadas partiam do princípio de que os alunos que ali estavam já possuíam um bom nível de conhecimento, o que não era o caso dos alunos do apoio. Se a equipe tinha a certeza de que determinado aluno tinha muita dificuldade de acompanhar as aulas e consequentemente fazer as provas, não valia a pena permitir que ele “perdesse tempo” e corresse o risco de ter a sua autoestima diminuída. Alguns casos até poderiam ser analisados separadamente. Mas permitir que todos que desejassem, participassem desta atividade sem serem orientados, não parecia um bom caminho. Obviamente que esta orientação deveria ser

feita com muito cuidado. O objetivo era fazer o aluno entender que, se ele não pulasse etapas, em breve ele poderia sim estar participando daquelas aulas.

Foi decidido, então, que em um primeiro momento os alunos poderiam participar de apenas uma atividade extraclasse, sendo que as que ocorressem duas vezes por semana, poderiam ser autorizadas apenas uma vez por semana, dependendo de cada situação. Os alunos não estariam liberados durante toda tarde, mas apenas no horário previsto para a atividade, devendo estar no apoio antes ou retornar depois do seu encerramento. Todas essas decisões forma reavaliadas periodicamente e eram compartilhadas com a família. Os casos particulares foram avaliados pela equipe pedagógica, sempre pensando no melhor para cada aluno. O Coordenador também deixou claro para os alunos que a intenção da equipe pedagógica era permitir que eles participassem das oportunidades que a escola oferecia, sem, no entanto, comprometer a sua aprendizagem e seu desempenho escolar.