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2.6 Periódico científico eletrônico: antecedentes

2.6.1 Mais um pouco de história

Para conhecer um pouco mais dessa história, recorremos a Márdero Arellano, Ferreira e Caregnato (2005). Baseados em outros estudos, os autores supracitados indicam que pesquisadores norte-americanos publicam em periódicos eletrônicos e compartilham informações na rede desde 1978. Como os recursos da época ainda apresentavam muitas limitações, estudos continuaram buscando o aperfeiçoamento dessas técnicas. Para ilustrar esse desenvolvimento, os autores descrevem a evolução dos periódicos científicos em publicações eletrônicas em três fases:

• 1ª fase: considerada a fase inicial − de 1990 a 1993 −, com as primeiras experiências em CD-ROM e on-line. É marcada pela cautela com relação à qualidade e à sustentabilidade das iniciativas. Por outro vértice, observavam-se as bibliotecas em luta contra o aumento das assinaturas e a falta de espaço para as coleções, o que acenou para a possibilidade do meio eletrônico resolver esses impasses. Com relação aos editores, cautela também era a palavra de ordem, mas estes já começaram a absorver algumas alternativas como os preprints.

• 2ª fase: é a fase de desenvolvimento − de 1993 a meados da década de 90. É marcada pelas réplicas das tradicionais revistas impressas para o suporte eletrônico. É o auge do momento híbrido, embora já existissem títulos somente eletrônicos. Durante esse período, as bibliotecas passam a contar com periódicos eletrônicos, em paralelo à coleção on-line ou em substituição ao impresso. O desenvolvimento das grandes bases de dados

on-line também é destaque nessa fase.

• 3ª fase: etapa avançada da expansão do acesso, iniciada em meados da década de 90 e que chega até os dias atuais. Tem como marco o surgimento do NASA Astrophysics Data System, desenvolvido, a partir da

metade da década de 90, pela NASA, Sociedade Americana de astronomia e Editora da Universidade de Chicago. Essa solução permitia a busca em metadados, resumos e textos completos. Além de oferecer acesso ao texto integral de toda a coleção, a links, emitir relatórios estatísticos, de citação, também permitia a referência cruzada entre as citações de todos os artigos.

Sob o ponto de vista de Fachin e Hillesheim (2006), destacam-se, no início da década de 1990, os periódicos disponibilizados em arquivos American Standard Code

for Information Interchange − ASCII, acessados via listas de assinaturas, correio eletrônico e, principalmente, como uso da rede BITNET e do navegador Mosaic. Com essas necessidades e o alto custo, o acesso era centrado nas instituições acadêmicas. Com o tempo e a divulgação de protocolos mais evoluídos, como o Gopher e File

Transfer Protocol (FTP), as transferências de arquivos foram facilitadas, o que permitiu

a expansão do acesso aos periódicos científicos eletrônicos. O desenvolvimento não parou aí. A disponibilização de equipamentos e softwares de maneira mais igualitária, autoexplicativa e rápida permitiu maior autonomia aos usuários no acesso aos periódicos.

A partir de 1993, com a World Wide Web (WWW), os editores e

responsáveis pela editoração dos periódicos científicos eletrônicos passam a fazer uso, cada vez mais, das tecnologias de informação, transformando seus

arquivos eletrônicos em arquivos totalmente on-line. Os avanços

tecnológicos em hardware e software e a espantosa inserção das redes no

mundo todo permitem aos editores disponibilizarem seus periódicos utilizando novas linguagens de programação, como o Hypertext Markup

Language (HTML), como a possibilidade do uso de outros protocolos além

do Gopher e do FTP, como o Hyper Text Transfer Protocol (HTTP). Deste modo, ocorreu o aperfeiçoamento e inovações nos navegadores como o

Netscape e a Internet Explorer, possibilidade do uso do hipertexto, da

inserção de hiperlinks, gráficos, tabelas, figuras, fotos, som e vídeo, além da criação específica de sítios, os quais estão disponíveis internacionalmente. Neste cenário de aperfeiçoamentos e inovações, os periódicos científicos assumem, de forma ampla e definitiva, um novo formato: o periódico científico on-line. (FACHIN; HILLESHEIM, 2006, p.34).

No Brasil, Souza (2002) apresenta brevemente o histórico dos projetos brasileiros. A autora retoma o projeto do periódico científico Journal of Venomous

Animals and Toxins including Tropical Diseases (JVAT) do ano de 1994. Este pode ser

considerado o primeiro periódico científico eletrônico brasileiro; foi e é editado pelo Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da UNESP, campus de Botucatu, São Paulo, e seu primeiro fascículo, distribuído em março de 1995 em disquete para os sócios. Nesse mesmo ano, iniciou o projeto do Núcleo de Informática

Biomédica (NIB) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O resultado dessa união foi o surgimento do Grupo de Publicações Eletrônicas em Medicina e Biologia (e*pub), que foi responsável por publicações como: Arquivos Brasileiros de

Cardiologia, Online Journal of Plastic and Reconstructive Surgery e Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. O outro ponto de destaque para os

projetos brasileiros deve ser dado à biblioteca eletrônica que contempla títulos de periódicos de inúmeras áreas do conhecimento. A Scientific Electronic Library Online (SciELO) foi desenvolvida a partir de um projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), em parceria com o Centro Latino- Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), e implantada entre fevereiro de 1997 e março de 1998. Utiliza a Metodologia SciELO para preparação, armazenamento, disseminação e avaliação de publicações científicas em formato eletrônico e, atualmente, já se expandiu para outros países da América Latina.

De modo geral, no Brasil, o desenvolvimento tecnológico e os problemas elencados na seção anterior incentivaram a produção de periódicos científicos eletrônicos. Alguns mantêm as características da publicação original impressa, outros mantêm os dois formatos, e muitos, atualmente, já surgem apenas em sua versão eletrônica. Souza (2002, p.43) confirma ainda:

Nessa transição do periódico impresso em papel para o periódico eletrônico, é importante destacar as novas exigências apontadas nos diferentes projetos de desenvolvimento deste tipo de periódico, relacionadas diretamente com a rápida evolução da tecnologia. Com seus avanços, ao mesmo tempo em que permitiu o aperfeiçoamento dos suportes físicos de armazenamento, dos processos de descrição e indexação utilizados nos sistemas de gerenciamento de informação, bem como das formas de recuperação e disseminação da informação científica, a tecnologia possibilitou a produção de novas formas de edição de periódicos científicos. Na atualidade, observa-se a coexistência da mídia impressa e da eletrônica, ao lado de um número crescente de publicações eletrônicas. Tomando como referência o trabalho de Lancaster (1985), pode-se afirmar que os periódicos eletrônicos encontram-se numa fase de transição do terceiro para o quarto estágio de evolução tecnológica, isto é, começam a ser desenvolvidos e distribuídos periódicos somente em mídia eletrônica e com incorporações de recursos de multimídia. No entanto, em geral, apresentam características estruturais do periódico tradicional. Por outro lado, também é preciso destacar, nessa evolução, a necessidade da permanência dos indicadores de qualidade exigidos para o periódico impresso, na revista eletrônica.

Para entender um pouco mais essas características, pontuaremos estes detalhes, bem como algumas definições na seção seguinte.

2.6.2 Definições, características, vantagens e desvantagens dos periódicos científicos