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Manejo da alimentação

No documento Carcinicultura (páginas 114-118)

Vamos Refletir

Aula 19 Manejo das unidades de engorda (continuação)

19.1 Manejo da alimentação

A alimentação é o item que mais pesa nos custos de produção, comumen- te representando bem mais que 50% quando a densidade é em torno de 30 camarões/m², sendo que esta porcentagem aumenta exponencialmente com a maior densidade, e reduz com um sistema menos intensivo de produ- ção. Sua utilização deve ser sempre bem coerente e usada de forma ótima, a fim de reduzir desperdícios.

Ao contrário de nós, os camarões têm a mesma temperatura do meio em que habitam, o que significa que o comportamento e metabolismo deles são facilmente influenciáveis. Quanto maior a temperatura, também maior é o consumo. Mas nem sempre isto quer dizer um maior crescimento. Às tem- peraturas muito altas, acima de 32°C para o L. vannamei, o camarão cresce pouco embora o consumo seja alto, pois muito da energia é gasta para manter o equilíbrio iônico e o animal se movimenta em excesso. Abaixo de 26°C para o L. vannamei, o consumo é reduzido, sendo que a 18°C passa a não crescer mais nada, e todo o consumo é utilizado apenas na manutenção dos processos biológicos. Desta forma pode-se constatar que temperatura é de extrema importância para o desenvolvimento animal. O ideal é manter na faixa de 26-32°C para o L. vannamei, sendo que entre 28 e 30°C o cres- cimento é ótimo.

A qualidade da ração é de grande importância num cultivo, apesar de os animais não crescerem satisfatoriamente se não houver produtividade na- tural. A ração ideal è aquela que proporciona uma conversão alimentar de 1,1-1, 3: 1, possui todos os requerimentos nutricionais do camarão; tem que ter atratividade para que o camarão se interesse, tem que afundar (é um animal bentônico) e deve durar de 3 a 4 horas imersa na água. Outro ponto importante a ressaltar é a idade da ração. O melhor é que as propriedades recebam ração todas as semanas. Com o passar do tempo os óleos essen- ciais (ômega 3, 6 e 9) e proteínas se degradam e perdem qualidade. A ração deve ser estocada em local fresco, arejado, e em cima de pallets (longe da umidade do solo). Algumas propriedades (principalmente no Nordeste, onde as fazendas são imensas e a locomoção não é muito fácil) possuem peque- nos silos expostos ao tempo, ao lado dos viveiros. Este manejo deve ser feito com muita cautela, pois a ração perde toda a qualidade. Tal fato pode ser

observado ao abrir a tampa e constatar que a coloração muda de fora para dentro, ou seja, sofre com o sol e oxida.

A biomassa pode ser estimada através do quanto é consumido diariamente pelos camarões, uma vez que existem padrões. Por exemplo, acima de 26°C, cada tonelada de camarão de 7-8g come cerca de 30 kg de ração/dia. Se a temperatura baixar para 24°C, o consumo baixa para 20 kg/dia. O peso médio é obtido através das biometrias periódicas, onde é feita pesagem de certo número de indivíduos ao longo de pelo menos 5 pontos diferentes do viveiro, e a média de peso. Sabendo a biomassa, conhecendo o peso médio dos animais e o número de PLs povoadas obtém-se facilmente a sobrevivên- cia.

Os camarões têm hábitos mais noturnos, então a melhor alimentação de- verá ser à tardinha, podendo ser arraçoado também durante a noite. Não é conselhável durante a madrugada, pois é quando os níveis de oxigênio são menores, e a adição de ração concorre para uma redução ainda maior. A frequência dos arraçoamentos varia de local para local, mas normalmente giram em torno de 3 a 4 vezes ao dia.

Assim que o viveiro é povoado com pós-larvas (direto do laboratório) a ali- mentação é feita a lanço, onde o arraçoador pega um caiaque e vai jogando a ração de forma a espalhar o melhor possível no fundo, ao longo de todo o viveiro (usa-se um caiaque). Desta forma acontece até aproximadamente o 5º dia, quando começa (-se) a introduzir gradativamente as bandejas, até que depois de aproximadamente em 1 semana toda a alimentação seja feita através delas.

A bandeja normalmente é feita com 1 aro pesado que vai para o fundo, 1 tela no meio, 3 cordas amarradas no aro, que se juntam em um único cabo. No meio do viveiro são colocadas estacas verticais, normalmente de 25-40 bandejas por hectar (1 bandeja/10 mil camarões), onde o chicote do cabo dos comedouros é preso na estaca de forma que cheguem até o chão, mas que não possam se enterrar. Na parte superior das estacas também costu- meiramente coloca-se um sistema para controlar a quantidade de alimento ofertado por estaca. Desta forma pode-se comprovar que os animais não se alimentam por igual em todo o viveiro, mas possuem locais preferidos de acordo com vários fatores.

Figura 19.1 – Arraçoador Fonte: autora

Figura 19.2 – Viveiro com Estacas para Segurar Arraçoadores Fonte: autora

O alimento é colocado nas bandejas através do uso de caiaques, que são utilizados para se chegar até os comedouros. Se ainda tiver restos da refei- ção anterior é retirado e novo alimento é colocado em menor quantidade, evitando assim desperdício. Depois de muito tempo na água, a ração perde grande parte de seu valor nutricional. A nova quantidade é marcada no sistema de controle no topo da estaca. Da mesma forma, se o consumo for total é acrescentado um pouco mais. A utilização deste sistema otimizou o uso da ração, melhorou a taxa de conversão e melhorou muito o regime de oxigênio. Em consequência, reduziu a renovação de água, o uso de aerado- res (diminui custos), melhorou o crescimento e reduziu o tempo de cultivo, levando a uma maior sustentabilidade ambiental. Outro ponto importante é que quando os arraçoadores levantam diariamente as bandejas, é possível observar o camarão, verificando se há necrose, se está na muda presença de cascas na bandeja), etc. Caso seja detectado que os animais se encontram em ecdise, a quantidade ofertada deve ser reduzida em 50%, pois passa em

média 4 dias sem alimentar-se (motivos já falados anteriormente).

Figura 19.3 – Viveiro com Caiaque

para Alimentação - Estacas e Arraçoadores Fonte: autora

Figura 19.4 – Esquema de Ábaco para Controle do Arraçoamento por Bandeja Fonte: autora

Existem vários sistemas de controle, sendo que os mais comuns são um ába- co e as argolas. O primeiro tem 2 linhas, onde 1 representa 0,5 Kg e a outra 50 ou 100g. Inicia-se com todas as bolinhas agrupadas de um lado, e vai-se passando para o outro gradativamente, de acordo com a quantidade a ser ofertada naquele local. As argolas, praticamente há 2 ganchos, sendo um mais alto que outro. De acordo com o consumo, passa-se de um gancho para outro. As argolas também podem ser coloridas, cada uma indicando uma quantidade diferente.

É muito importante que os arraçoadores sejam bem treinados, para que possam realmente colocar quantidade correta de alimento, que desçam a bandeja vagarosamente a fim de que o alimento realmente permaneça nela, que observem o estado dos animais que por ventura vierem juntos, etc. Es- tes cuidados são de extrema importância para que não haja desperdício de alimento, e os custos produtivos não aumentem demasiadamente.

Taxa de conversão alimentar é a relação entre a quantidade de ração for- necida e o peso total obtido no final do cultivo. O crescimento não é line- armente proporcional ao consumo. Quanto maior o tamanho do camarão a ser despescado, maior será a conversão alimentar, pois maior o gasto de energia com a mantença. Além do tamanho final, colaboram para aumen- tar a conversão alimentar, dentre outros fatores: a temperaturas muito altas ou muito baixas, problemas que ocasionam mortalidade, frequentes e/ou longos períodos com baixos níveis de oxigênio dissolvido, bons arraçoado- res, sistema de bandejas e controle de alimento consumido por comedouro, baixa qualidade da água, pouca disponibilidade de alimento vivo, ração de má qualidade, mau manejo alimentar.

No documento Carcinicultura (páginas 114-118)