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Manifestações utilitárias na mídia

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CAPÍTULO II – PARA ENTENDER O JORNALISMO UTILITÁRIO

2.3 Manifestações utilitárias na mídia

2.3.1 Quanto ao interesse do público

Responsável por ajudar, orientar e aconselhar o receptor, o jornalismo utilitário atende aos interesses mais gerais da coletividade, como as questões particulares de indivíduos com especificidades. Empiricamente, podemos afirmar que essa espécie de jornalismo produz mensagens de utilidade pública e de utilidade particular.

É de utilidade pública quando o interesse é generalizado, quer dizer, a matéria jornalística desperta interesse da coletividade, que deve abranger uma considerável parte das pessoas que tem acesso ao veículo em questão (jornal, revista, rádio, televisão ou internet), independente das particularidades de cada indivíduo.

As mensagens dessa natureza, por vezes, estão relacionadas a elementos norteadores da comunicação pública, entre eles, o compromisso em privilegiar o interesse público em relação ao interesse individual ou corporativo; adaptação dos

instrumentos às necessidades, possibilidades e interesses dos públicos; e centralização o processo no cidadão (DUARTE, 2009, p. 59).

O conceito de comunicação pública está relacionado ao de comunicação governamental, próximo aos discursos e às ações dos governos para atrair a opinião pública sobre ideias e ações promovidas pelo poder público. Entretanto, alguns dos conteúdos são aproveitados e transformados em mensagens jornalísticas, exatamente por tangenciar o interesse público. Parte desse conteúdo, produzido por veículos jornalísticos, resulta no que chamamos de jornalismo utilitário, geralmente os de temas relacionados a serviços e orientações, como: pagamento de impostos, campanhas de vacinação, mudanças relacionadas ao trânsito, horários e endereços de determinados serviços públicos e etc.

Podemos exemplificar como sendo de utilidade pública uma matéria que trata sobre as consequências da greve dos Correios para a população e traz informações do tipo: como ter acesso à segunda via de contas, o que fazer para não pagar multa por atraso, como proceder para receber encomendas, quais números de telefones e endereços para tirar dúvidas, entre outras informações úteis. Nem sempre, mensagens dessa natureza estão relacionadas a temas governamentais, cabem também como exemplificação previsão do tempo, indicadores de trânsito, avisos sobre o que abre e fecha em um feriado, e telefones e endereços úteis (polícia, bombeiros, hospitais).

É preciso considerar que o interesse geral não compreende a totalidade, pois, não temos como afirmar que todos os receptores vão valorizar e aplicar as orientações prestadas pela mídia sobre o determinado assunto. A informação utilitária é veiculada com o intuito de que o cidadão a utilize no momento imediato ou quando necessite no futuro próximo. Quando o jornalismo utilitário produz mensagens de utilidade pública aproxima-se dos deveres e direitos do cidadão em estar informado sobre algo com a finalidade de que ele possa tomar uma atitude em seguida, diferenciando-se das mensagens de utilidade particular, que estão relacionadas a interesses privados, muitas vezes referentes a consumo.

As mensagens de utilidade particular são voltadas para um público específico, de determinada faixa etária, sexo, forma física e interesses profissionais. A preocupação é acolher os interesses particulares do indivíduo. Importante observar que esse atendimento individualizado é disfarçado, pois toda produção jornalística é voltada para uma coletividade e não para uma única pessoa. Acontece que a forma e

conteúdo dessas mensagens simulam compreender necessidades individuais, por isso, aparecem com mais frequência em veículos de caráter especializado.

Para ilustrar a mensagem de utilidade particular, basta pensar em uma matéria sobre cortes de cabelo que apresenta variados tipos de acordo com formatos de rosto. Algumas pessoas, em contato com esse conteúdo, identificam-se, podendo inclusive usar o modelo como inspiração. Nesse caso, se a ação for concretizada, o anseio individual foi atendido. Também se encaixam nesse modelo, as cartas-consulta. O indivíduo envia uma questão, um problema ou uma situação particular para o veículo jornalístico e tem uma resposta direcionada aos seus interesses, embora outras pessoas que têm acesso àquela mensagem, podem também ter suas inquietações resolvidas.

Nesses tipos de mensagem circundam apreciações que exigem um olhar mais apurado dos profissionais da área, devido principalmente a dois fatores: 1. O jornalista deve estar atento ao conteúdo produzido, pois nem todos os conselhos e dicas servem para todo o público. Há uma relação de responsabilidade social com a informação produzida, pois ela afeta diretamente em atitudes que têm consequências diretas na vida do indivíduo. Portanto, há necessidade de buscar um caminho mais correto de produzir a orientação, especialmente em temas da área da saúde: tratamentos devem ser feitos com profissionais, medicamentos exigem prescrição médica, não cabendo ao jornalista exercer essa função.

2. O material de serviço relacionado ao consumo - indicação de produtos, orientação quanto ao custo benefício, dicas de compras e usos – merecem uma abordagem cautelosa, exigindo ética do profissional e do veículo para que os departamentos jornalísticos e publicitários não se misturem. Em situações que isso aconteça, é preciso que fique claro para o público que se trata de estratégia de

marketing, não sendo informação jornalística. Se por um lado, é de interesse do

público informações dessa natureza, pois é útil na hora das escolhas e das compras, por outro, há risco de embutir interesses comerciais na mensagem, produzindo uma espécie de “jornalismo cor de rosa” (MARSHALL, 2000), que busca agradar, por meio de favorecimento das necessidades do mercado e dos negócios, e a nosso ver, não se importando com o interesse do público.

2.3.2 Quanto à finalidade das mensagens

Podemos apontar duas espécies de jornalismo utilitário quanto à finalidade das mensagens: as informações práticas e as informações conselheiras. A primeira espécie são aquelas que se repetem, são atuais, mas não são necessariamente novas. Geralmente se apresentam em seções ou quadros fixos nos veículos: meteorologia, necrologia, previsão do tempo, indicadores de trânsito, resultados de jogos, listas de livros mais vendidos, telefones e endereços úteis, cotações, roteiros culturais, programação de televisão, entre outros. São basicamente os serviços que os meios oferecem ao seu público.

A segunda espécie corresponde às informações conselheiras. Com sentido de provocar uma ação por parte do receptor, aconselha, orienta e dá dicas. Essas mensagens objetivam ajudar o cidadão em situações do cotidiano. As informações neste caso aparecem em forma de notas informativas, notícias, reportagens ou entrevistas, a fim de embutir as considerações de caráter útil. A informação utilitária pode ser também um complemento do fato puramente informativo.

Nos meios impressos e online, é mais fácil identificar quando acontece essa complementação, devido ao uso de recursos como: boxes, olho, intertítulos e infográficos. Enquanto no noticiário televisivo e radiofônico, as informações úteis e os fatos genuinamente informativos podem se misturar mais facilmente que os meios impressos, devido à falta de quebra textual.

A distinção entre a informação prática e a informação conselheira é que no primeiro caso não depende de uma novidade para que o conteúdo seja propagado pelo veículo jornalístico. São formas que se repetem com conteúdo atualizado. Geralmente o indivíduo já acostumado com determinado veículo já sabe onde encontrar esse tipo de informação. Enquanto as informações conselheiras costumam surgir de um fato noticioso, algum assunto que se torna público e desperta interesse. Os temas tratados são os mais diversos possíveis: saúde, moda, lazer, gastronomia, educação, decoração, turismo, automóveis, tecnologia, etc..

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