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Orientação: função inerente ao jornalismo

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CAPÍTULO I – O JORNALISMO E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

1. Conceitos e atributos da prática jornalística

1.3 Orientação: função inerente ao jornalismo

Informar, interpretar, orientar e entreter são as razões da existência do jornalismo. O ato de assegurar a informação, difundir notícias, é o primeiro objetivo. O segundo é a necessidade de explanar, quer dizer interpretar, as notícias em meio à complexidade da vida e diversidade de interesses. Guiar o público em suas dificuldades, assumindo uma forma útil e eficiente de exposição é o terceiro objetivo. E o esforço de entreter corresponde a mais uma função que cabe ao jornalismo (BOND, 1992).

A prática jornalística cumpre alguns papéis ao desempenhar a transmissão de informações para o público. Comunicar ideias por meio da informação e opinião é um dos principais desempenhos da imprensa. Entretanto, é preciso considerar outros papéis também proeminentes: orientação e diversão. Esta pesquisa foca na função orientadora do jornalismo, que tem o objetivo de prestar serviço, oferecer uma informação útil, sendo uma espécie de guia em situações rotineiras do cidadão.

Esta pesquisa reconhece a orientação como uma das funções do jornalismo. “Impresso, escrito, falado ou visual, o seu objetivo é informar, interpretar, orientar e divertir. Associa ainda outras funções como vender através de anúncios e difundir ideias e eventos mais complexos que a simples notícia” (BAHIA, 1990, p.19).

Sabemos que pertence ao jornalismo “elogiar, explicar, ensinar, guiar, dirigir; tocar-lhe, enfim, propor soluções, amadurecê-las, torná-las fáceis, submetê-las à censura, reformá-las; toca-lhe estabelecer e fundamentar ensinamentos” (MARTI apud BELTRÃO, 1980a, p. 12). O espírito conselheiro do jornalismo concretiza-se no ato de guiar e de propor soluções, tornando-as mais fáceis. É exatamente essa a proposta do chamado jornalismo utilitário.

As funções básicas do jornalismo podem ser representadas um triângulo retângulo (figura 1), onde o ângulo reto é a informação, o ângulo superior é a orientação e o ângulo inferior é a diversão. Na base do triângulo está a informação, ou seja, uma sequência objetiva. A linha horizontal representa o “relato puro e simples de fatos, ideias e situações do presente imediato, do passado ou do „vir-a-ser‟ possível/provável, que estejam, no momento, atuando na consciência coletiva” (BELTRÃO, 1980b, p.13).

Figura 1 – Funções do jornalismo

Fonte: Luiz Beltrão (1980b, p.13)

A linha oblíqua é função de entretenimento, “meio de fuga às preocupações do quotidiano ou costumeiro, uma pausa no ramerrão, um preenchimento dos lazeres com algo reparador do dispêndio de energias reclamado pela própria atividade vital de informar-se”. Enquanto a linha perpendicular que se prolonga verticalmente na figura do triângulo representa a orientação, “esforço de interpretar a ocorrência, tirando conclusões e emitindo juízos com o objetivo de provocar a ação por parte daqueles aos quais a mensagem é dirigida" (BELTRÃO, 1980b, p.13).

Diversão Orientação

Ao explicar cada uma das três funções básicas do jornalismo, Beltrão (1980b) vai além da compreensão de informação, orientação e diversão, abrange também elementos como a interpretação e a opinião. Ao traçar o triângulo, o autor coloca que a perpendicular à medida que se prolonga incorpora aspectos subjetivos passíveis de interpretação, e assim no vértice, isto é, no topo do triângulo, tem-se a opinião. Esse sistema nos permite entender que Beltrão situa a tarefa de orientação no mesmo patamar da opinião. Ao justificar que o jornal tem o dever de exercitar a opinião, diz que a mesma tem intenção de orientar o leitor e toda massa à ação9.

As funções do jornalismo também podem ser traçadas de acordo com temáticas: política, econômica, educativa e de entretenimento. Pela função política “entendem-se os meios de informação em sua ação crescente como instrumentos de direção dos negócios públicos e como órgãos de expressão e controle da opinião” (AMARAL, 1986, p.22).

Desde a origem da imprensa brasileira, a política foi assunto de destaque. Amaral (1986, p.22) lembra que “as lutas do Correio Braziliense, de Hipólito José da Costa, contra o absolutismo e em favor das liberdades políticas e das instituições civis”, mencionando acontecimentos históricos como: Revolta dos 1817, Independência, Abdicação e o Sete de Abril, revolta dos negros na Bahia, Guerra do Paraguai, Abolição da Escravatura e Proclamação da República.

Mesmo nos dias atuais, a política mantém certa preeminência entre os temas abordados no jornalismo brasileiro. Um exemplo é a página de política dos jornais geralmente estar localizada no primeiro caderno. No caso das revistas semanais, o tema também tem evidência, muitas vezes na capa e em entrevistas, além das costumeiras reportagens. O mesmo se repete nas páginas de portais de notícia na internet. Nos noticiários da televisão e rádio, reportagens, notícias e debates as abordagens políticas compõem diariamente a pauta desses veículos.

A segunda função é econômica e social, que aborda notícias e conhecimentos sobre o desenvolvimento econômico e social. Ela tem a proposta de difundir “conhecimento e notícias neste domínio, aceitando a publicidade para o desenvolvimento da indústria e do comércio e, ainda, contribuindo para melhorar as relações sociais” (AMARAL, 1986, pp.22-23).

Já a função educativa, é cumprida de diversas maneiras, seja com a publicação do noticiário internacional, debates na Câmara e no Senado, como também com reportagens com expressões mundiais das múltiplas atividades humanas, páginas especializadas, comentários e editoriais. Na visão de Amaral (1986, p.23), técnicas audiovisuais e a imprensa escrita devem ser utilizadas como instrumentos necessários para uma educação permanente de jovens e adultos. “A informação tornou-se um setor, um aspecto essencial da educação, a tal ponto que se preconiza, pelo menos para os países em formação, um sistema integrado educação-informação”.

Diferentemente das duas primeiras funções, o caráter educativo não se refere a um tema abordado na imprensa. É claro que o jornalismo trata de assuntos específicos sobre a educação. Existem revistas e sites na internet especializados no assunto, editorias e cadernos em jornais, e mesmo programas de rádio e televisão. Acontece que o jornalismo, de maneira geral, pode ser uma ferramenta no processo educativo. A informação, mesmo sem o propósito de educar ou instruir, pode ser utilizada para essa finalidade se acrescentada outra ferramenta, como um caso de debate em sala de aula, usando um telejornal como mote discussão.

O entretenimento, reconhecido também como função do jornalismo por outros autores como Bahia e Beltrão, é para Amaral (1986, p.24) “a segunda função psicossocial da imprensa. Grande parte do público considera um prazer a leitura do jornal, o programa de rádio e de televisão”.

Na verdade, as funções da comunicação já haviam sido sistematizadas em 1948 por Harold Lasweel (1987). Em uma perspectiva funcionalista dos mass media, observou as três funções: 1) vigilância sobre o meio ambiente, que corresponde à função informativa, 2) correlação das partes da sociedade em resposta ao meio, função persuasiva, 3) transmissão de herança social de uma geração para outra, função educativa. Em 1959, Charles Wright (1968) acrescenta a quarta função, que seria a de entretenimento.

Ao analisar a comunicação como processo de interação humana que se realiza mediante signos organizados em mensagens, Bodernave (1987, p.26) observa algumas funções. A de ser elemento formador da personalidade é a mais básica, pois “sem a comunicação, de fato, o homem não pode existir como pessoa humana”. Menciona ainda a função expressiva, que corresponde ao desejo das pessoas em expressar emoções, ideias, temores e expectativas, e a função informativa, referindo- se ao conhecimento do mundo objetivo.

Bodernave (1987, p. 29) ainda cita outras funções da comunicação como: vigilância e educação; articulação política de interesses e tomada de decisões; atribuição ou legitimação de status; imposição e manutenção de normas sociais; facilitação da troca de bens e serviços na atividade econômica; divertimento ou função lúdica e participação ou acesso ao diálogo e cooperação.

Lasweel, Wright e Bodernave elencam funções numa perspectiva mais geral da comunicação. Mesmo sem o foco específico no jornalismo, essas funções podem ser aplicáveis. Uma informação jornalística, por exemplo, pode servir de guia ao público em situações em que o cidadão necessita tomar uma decisão.

É preciso considerar ainda que as funções da comunicação ou do jornalismo mudam de acordo com circunstâncias temporais e transformações da sociedade. São determinantes para o processo jornalístico as condições culturais, políticas e econômicas. Dessa forma, características funcionais identificadas anteriormente são passíveis de desaparecer no futuro e novos papéis podem surgir, variando conforme o contexto em que vive a coletividade.

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