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MANUSCRITO 2: QUEDA DE IDOSOS: DESVELANDO SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE

MATERIAIS E MÉTODOS

5.2 MANUSCRITO 2: QUEDA DE IDOSOS: DESVELANDO SITUAÇÕES DE VULNERABILIDADE

RESUMO

O envelhecimento populacional tem impactado nas situações de vulnerabilidade da população idosa, dando espaço a eventos adversos que acarretam prejuízos à saúde e à vida das pessoas. Nesse cenário está presente a queda como um agravo multifatorial de relevância epidemiológica e social indiscutível para saúde pública. Este estudo teve como objetivo desvelar as situações de vulnerabilidade, relatadas por idosos e cuidadores, em um hospital público de Florianópolis, no período de outubro a dezembro de 2014. Realizou-se uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa em que 16 participantes responderam a um roteiro de perguntas semiestruturadas. Os dados foram analisados pela Análise de Conteúdo de Bardin, a partir da qual surgiu o eixo temático Queda, que congregou quatro categorias: Como foi a Queda, Primeiro Atendimento e Hospitalização, Causalidade da Queda, Significados e Sentimentos Provocados pela Queda. Os resultados trouxeram a percepção da vulnerabilidade individual em relação às comorbidades do idoso, como demência e Diabetes Mellitus. A vulnerabilidade institucional foi desvelada nos riscos da hospitalização e nos significados atribuídos a queda pelos atores envolvidos, alertando para o medo de cair novamente, o sentimento de culpa, a incapacidade, a perda de autonomia, a sensação de dor e desconforto. Acredita-se no ideário dos programas de prevenção, com estratégias voltadas para realidade local. Observa-se a importância de estratégias preventivas quanto às dimensões da vulnerabilidade, pelas possibilidades de atuação com olhar ampliado na atenção à saúde do idoso. Tais estratégias podem contemplar um mapeamento do itinerário da queda de cada idoso hospitalizado, reconhecendo os pontos de vulnerabilidade, nas causas da queda, no primeiro atendimento, na hospitalização e nos sentimentos e significados atribuídos ao evento. Palavras-chave: Acidentes por Quedas. Saúde do Idoso. Risco. Vulnerabilidade em Saúde.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional tem impactado nas situações de vulnerabilidade a que os idosos estão expostos. As circunstâncias

adjacentes ao envelhecimento pressupõem fragilidades que potencialmente podem se efetivar pela presença de suscetibilidades presentes no contexto de vida das pessoas.

No âmbito dos agravos encontra-se a queda como fenômeno acidental. Esse é um evento multifatorial e que ocorre pelo contato não intencional com a superfície em que há deslocamento do corpo de um nível a outro, inferior àquele da posição inicial (AMERICAN GERIATRICS SOCIETY, 2010).

A queda surge como tema de relevante preocupação para a área da saúde e para a sociedade, pois com o aumento da população idosa multiplicam-se as situações oriundas de um cenário de vulnerabilidade.

A vulnerabilidade no universo da pessoa idosa tem sido associada, muitas vezes, ao conceito de fragilidade, uma vez que a fragilidade constitui-se como uma síndrome multidimensional que resulta de uma complexa interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais (MALMANN; HAMMERSCHMIDT; SANTOS, 2012).

Os pontos de fragilidade aproximam-se dos fatores de risco a que o idoso está submetido. Assim, entende-se a importância de que é preciso determinar fatores de risco e delimitar grupos mais vulneráveis dentro da população, além de quantificar e criar indicadores para medir morbidade (CASTIEL; GUILAM; FERREIRA, 2010).

A ocorrência de queda em pessoas idosas está diretamente ligada a fatores de risco. Os fatores de risco podem dividir-se em intrínsecos (relacionados ao idoso) e extrínsecos (relacionados ao ambiente). Os fatores intrínsecos englobam alterações fisiológicas, presença de doenças, fatores psicológicos e reações a medicamentos. Os fatores de risco extrínsecos referem-se aos riscos comportamentais e ambientais no domicílio e fora dele (SANTOS et al., 2013; OLIVEIRA; MENEZES, 2011; BRASIL, 2010).

A identificação de fatores de risco de quedas e recomendações de ações em saúde para prevenção do agravo tem sido foco de várias produções científicas, que buscam meios de controlar e minimizar o impacto epidemiológico deste agravo, quanto à morbimortalidade, ao custo social e financeiro (OLIVEIRA et al., 2015; LIMA; CEZARIO, 2014; SANTOS et al., 2013; LOPES et al., 2007).

Acredita-se que considerar os fatores de risco para as quedas, sob a perspectiva das dimensões de vulnerabilidade, permite ampliar o olhar e a compreensão sobre o evento. Dessa forma, medidas de gerenciamento e controle de situações de fragilização e vulnerabilidade são estratégias fundamentais na atenção ao idoso, mesmo que, muitas

vezes, estejam mais centradas em intervenções de caráter individualizado.

Alguns estudos têm apontado a relação das dimensões de vulnerabilidade com o contexto de vida das pessoas idosas (RODRIGUES; NERI, 2012; SILVA et al., 2010; ROCHA et al., 2010). No estudo de Silva et al. (2010), aproximou-se os conceitos de envelhecimento ativo e as três dimensões de vulnerabilidade, concluindo que propostas a serem utilizadas nas práticas em saúde poderão surgir dos próprios idosos, além dos esforços sociais para minimizar as situações de vulnerabilidade da própria população idosa.

Rodrigues e Neri (2012) conduziram estudo exploratório descritivo com 688 idosos, em Campinas/SP, o estudo FIBRA (Rede FIBRA - Rede de Estudos sobre Fragilidade em Idosos Brasileiros). As autoras investigaram as relações entre vulnerabilidade social (gênero, idade e renda); individual (comorbidades, sinais e sintomas, incapacidade funcional, suporte social percebido e saúde percebida) e programática (índices de SUS dependência e de vulnerabilidade social e acesso aos serviços de saúde). As autoras confirmaram que as condições sociais estavam relacionadas à renda familiar do idoso e à vulnerabilidade individual.

Rocha et al. (2010) conduziram pesquisa qualitativa com treze cuidadores que identificaram fatores de vulnerabilidade dos idosos às quedas seguidas de fratura de quadril em um hospital universitário, evidenciando elevada vulnerabilidade em todas as dimensões na população estudada.

O conceito de vulnerabilidade, observado por meio dessas dimensões, é abrangente e envolve aspectos comportamentais, culturais, econômicos e políticos. As três dimensões de vulnerabilidade expressam-se pela dimensão biológica/individual, que traduzem os comportamentos pessoais de autocuidado; social, que são as situações sociais vividas que interferem nas condições de saúde); e, institucional/programática, que representa o compromisso e ações das instituições que afetam a saúde das pessoas (AYRES et al., 2006).

Entende-se como relevante evidenciar a dimensão subjetiva da vulnerabilidade, uma vez que existem espaços de investigação a serem preenchidos quanto à análise dos aspectos do envelhecimento com as situações de vulnerabilidade da pessoa idosa, de um ponto de vista que ultrapasse os aspectos clínicos.

Assim, o objetivo deste estudo foi desvelar as situações de vulnerabilidade, relatadas por idosos e cuidadores, em um hospital público de Florianópolis, no período de outubro a dezembro de 2014. METODOLOGIA

Realizou-se um estudo descritivo com abordagem qualitativa, que respeitou as diferentes formas de pensar que emergiram dos conteúdos manifestados, tendo como cenário de coleta dos dados o Hospital Governador Celso Ramos, em Florianópolis/SC, no período de outubro a dezembro de 2014.

Idosos e cuidadores foram convidados a fazer parte da pesquisa e foram informados quanto aos objetivos, riscos e benefícios da pesquisa, respondendo a um roteiro de entrevista semiestruturada. As entrevistas foram gravadas e tiveram duração de 40 a 60 minutos, sendo transcritas na íntegra para preservar o sentido das falas.

Os critérios de inclusão envolveram pessoas com 60 anos e mais internadas por motivo de queda e que aceitaram participar assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como cuidadores que fossem melhor respondentes diante de alguma impossibilidade da pessoa idosa, a exemplo de confusão mental, déficit cognitivo, coma e internação em área de isolamento.

No sentido de preservar o anonimato dos participantes foram utilizados códigos constituídos de letras e números, identificando idosos pela letra “I” e números de 1 a 8 (I1, I2, I3...I8), como da mesma forma se utilizou “C” para cuidador, seguindo a mesma numeração (C1, C2, C3...C8).

A análise dos dados seguiu o processo de Análise de Conteúdo, de acordo com Bardin (2011), por meio de três etapas: 1) a pré-análise; 2) a exploração do material; e 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

A pré-análise foi a etapa de organização do material, operacionalização e sistematização das ideias iniciais. Correspondeu à fase em que os conteúdos transcritos foram organizados em registros eletrônicos e submetidos a leitura flutuante, tornando o conteúdo das mensagens mais claro. Nesta etapa foram realizadas as marcações nos textos transcritos, identificando categorias nativas e núcleos de sentido.

A exploração do material foi a fase em que as decisões tomadas na pré-análise efetivaram-se. As informações em comum oriundas das entrevistas lançaram as bases para a posterior categorização. Seguiu-se

com a extração dos núcleos de sentido e categorias nativas para um segundo documento eletrônico.

A terceira etapa efetivou-se pelo tratamento dos resultados obtidos e a interpretação das unidades de significado dos conteúdos manifestados.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH/UFSC), sob número de protocolo 748.950, e pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Governador Celso Ramos (CEP/HGCR), por meio do protocolo 2014/00017, os quais seguiram às normas da Resolução 466/ 2012 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa com seres humanos (CNS, 2012).