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Apresenta-se a seguir, no quadro 2, a caracterização dos oito idosos e oito cuidadores que participaram das entrevistas semiestruturadas utilizadas no processo de coleta de dados da abordagem qualitativa.

Quadro 2 – Dados sociodemográficos: idosos e cuidadores.

Fonte: Dados referentes aos participantes entrevistados na etapa qualitativa do estudo, Luzardo; Santos, 2015.

Os idosos entrevistados tiveram idade variando entre 60 e 84 anos, sendo a maioria do sexo feminino.

Participantes Idade Sexo Estado

conjugal Ocupação

Idoso 1 79 F Casada Aposentada

Idoso 2 60 M Casado Aposentado (invalidez)

Idoso 3 84 F Viúva Aposentada

Idoso 4 72 F Viúva Aposentada

Idoso 5 68 F Viúva Aposentada

Idoso 6 83 F Viúva Marceneira

Idoso 7 83 F Casada Do lar

Idoso 8 75 M Casado Aposentado (invalidez)

Cuidador 1 52 F Casada Do lar

Cuidador 2 65 F Casada Do lar

Cuidador 3 52 F Casada Aposentada (invalidez)

Cuidador 4 28 F Solteira Enfermeira

Cuidador 5 46 F Casada Do lar

Cuidador 6 53 F Casada Psicóloga

Cuidador 7 59 F Casada Auditora

Metade dos idosos era casada, destacando-se que das mulheres duas permaneciam com companheiro. Seis dos idosos eram aposentados, dois por invalidez, sendo um deles cadeirante. Uma das idosas era do lar e a outra trabalhava em casa como marceneira.

O grupo de cuidadores era todo constituído por mulheres e somente uma era solteira. A idade mínima foi de 32 anos e a máxima de 65. As ocupações mencionadas nas entrevistas concentraram-se entre atividades do lar, artesanato (realizado em casa) e aposentadoria, inclusive por invalidez. Algumas dessas cuidadoras mencionaram ter deixado ou mudado de ocupação devido às necessidades de cuidado com o idoso. Duas cuidadoras mantinham atividades fora de casa com vínculo empregatício, uma auditora e a outra era cuidadora profissional de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI).

Dos conteúdos manifestados pelos participantes submetidos à análise de conteúdo de Bardin (2011) emergiram três eixos temáticos e 11 categorias. Para cada eixo temático foi elaborado um manuscrito, com vistas a explorar o universo concernente às categorias.

Assim, o Eixo Temático Queda agregou quatro categorias: Como foi a Queda, Primeiro Atendimento e Hospitalização, Causalidade da Queda, Significados e Sentimentos Provocados pela Queda; correspondendo ao Manuscrito 2, intitulado: Queda de idosos: desvelando situações de vulnerabilidade.

A partir do Eixo Temático Idoso Caidor formaram-se quatro categorias: Mudanças Provocadas pela Queda, Eu sou Caideira, Eu me Cuido e Prevenção da Queda; dando origem ao Manuscrito 3: Queda: repercussões para o idoso e sua saúde.

No Eixo Temático Suporte para enfrentamento da queda elencaram-se três categorias: Suporte da Informação, Suporte Familiar e Suporte da Espiritualidade; resultando no Manuscrito 4: Redes de suporte evidenciadas no cuidado ao idoso caidor: reflexões para promoção da saúde.

Os resultados obtidos pela análise dos dados quantitativos foram reunidos e apresentados no formato de artigo, identificado como Manuscrito 1, intitulado: Fatores preditores e desfechos da queda de idosos em um Hospital Público de Florianópolis, que é apresentado a seguir.

5.1 MANUSCRITO: FATORES PREDITORES E DESFECHOS DA QUEDA DE IDOSOS EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE

FLORIANÓPOLIS RESUMO

As quedas representam importante agravo de saúde do idoso tendo em vista a magnitude do evento para a saúde pública. Trata-se de um estudo transversal com os objetivos de identificar e estabelecer associações entre fatores preditores e desfechos de queda registrada em prontuários de idosos atendidos em um hospital público de Florianópolis, no período de 2009 a 2013. Foram analisados 304 registros em prontuários de pessoas com idade a partir de 60 anos internadas por motivo de queda. Utilizou-se estatística descritiva por meio de frequência, percentual, média, mediana e desvio-padrão. Realizou-se análise bivariada entre as variáveis: tempo e ano de internação; idade e característica da queda; ano de internação, idade e sexo; além das variáveis medicamentos de uso contínuo, comorbidades e óbito. Foi realizada análise multivariada pelo método de Análise Fatorial de Correspondência Múltipla (ACM), que avaliou o conjunto das variáveis estudadas. Destacaram-se no modelo estatístico, como fatores preditores, a faixa etária, o sexo, os medicamentos de uso contínuo e as comorbidades; bem como os desfechos: fratura, trauma, cirurgia e óbito. Os registros indicaram que a maior parte das internações foi de idosos residentes em Florianópolis (70,4%) e de idosos na faixa etária de 80 anos e mais (41,6%). Houve associação significativa na análise multivariada em que o grupo de pessoas do sexo feminino (76,6%) foi maior em comparação ao grupo do sexo masculino (23,4%). Quanto aos desfechos das quedas, o trauma de membros inferiores apresentou a maior ocorrência entre as mulheres, com destaque para as fraturas de fêmur. Entre os homens, destacaram-se os traumas de crânio, de vértebra e de membros superiores. Na comparação entre os sexos, observou-se que a maior parte dos idosos que não utilizava medicamentos continuamente e que não teve trauma eram homens. A partir dos resultados encontrados e diante das características manifestadas por idosos internados por queda, recomenda-se a adoção de estratégias de prevenção do agravo e promoção da saúde, especialmente em atenção primária, , com vistas à qualidade de vida.

Palavras-chave: Acidentes por Quedas. Saúde do Idoso. Risco. Prevenção de Acidentes. Saúde Pública.

INTRODUÇÃO

O envelhecimento da população brasileira tem impactado em mudanças no perfil de morbimortalidade. Com isso, a manutenção da autonomia de pessoas idosas configura-se um desafio contemporâneo, diante do caráter multidimensional das demandas cotidianas (VERAS, 2009).

Limitações de ordem biopsicossocial podem surgir com o avançar da idade, tendo, muitas vezes, um curso desfavorável, de forma a caracterizar fragilidade nas pessoas idosas (NASCIMENTO et al., 2012). Essa condição provoca debates em torno do processo de fragilização e dos comprometimentos para a saúde do idoso, especialmente percebidos em face das síndromes geriátricas, entre as quais se observa a queda (FHON et al., 2013).

A queda em pessoas idosas representa atualmente um sério problema de saúde pública, visto que resulta em alto custo social e financeiro, além das consequências físicas e psicológicas que podem estar presentes. Segundo Brasil (2010), as consequências de uma ou mais quedas podem comprometer o grau de independência e as dimensões da qualidade de vida, sendo potencialmente geradoras de incapacidades, institucionalização e morte.

As quedas podem ser evitadas ao passo que as situações de risco sejam gerenciadas, minimizando as forças produtoras do agravo. Entende-se que tais afirmações remetem à necessidade de conhecer os fatores que compõem o cenário da queda, sobretudo, observando a interação entre múltiplos fatores, uma vez que a ocorrência da queda parece aumentar com o número de variáveis associadas ao evento. Dessa forma, acredita-se que os fatores de risco para uma ou mais quedas, sejam eles fatores extrínsecos ou intrínsecos, podem caracterizar-se como fatores preditores, identificando o contexto em que a queda ocorreu (GAMA, 2008).

Os fatores extrínsecos caracterizam-se pelo comportamento da pessoa idosa, o qual é traduzido pelas atividades realizadas no ambiente e pela forma como o idoso as realiza e lida com as mesmas. Percebe-se que barreiras arquitetônicas são eficientes em produzir quedas, situações verificadas, em muitos casos, na iluminação insuficiente, na moradia em locais mal planejados, mal construídos e inseguros. Os fatores intrínsecos relacionam-se às alterações fisiológicas como, por exemplo, a idade avançada, a presença de comorbidades, as reações adversas a alguns medicamentos e também a presença de fatores psicológicos (BRASIL, 2010).

Sabe-se que as consequências de uma ou mais quedas podem ser devastadoras e interferirem sobremaneira na condição de saúde do idoso. Maia et al. (2011) analisaram as consequências da queda, apontadas em um estudo de revisão, concluindo que as mais frequentes eram: fraturas, lesões, contusões, surgimento de comorbidades, dor, declínio funcional, hospitalização, medo de cair, perda de autonomia, rearranjo familiar e morte, entre outros desfechos do evento.

Faz-se relevante buscar o conhecimento produzido acerca do fenômeno queda em idosos, a fim de se pensar estratégias possíveis de implementação. As investigações sobre quedas, em âmbito nacional, têm seguido uma tendência por estudos quantitativos, os quais buscaram caracterizar a queda (LIRA et. al., 2011), determinar a prevalência do evento (LOPES et al., 2010; REZENDE et al., 2010; CRUZ et al., 2012), identificar os fatores de risco (CHRISTOFOLETTI et al,2006), os fatores associados ao evento (RICCI et. al., 2010), identificando seus desfechos (RIBEIRO et al., 2008). Ao mesmo tempo, vários estudos de revisão têm sido produzidos, em sua maioria estudos qualitativos, sejam revisão de literatura, revisão sistemática ou revisão integrativa, delimitando o estado da arte das produções atuais sobre o tema (MAIA et al., 2011; PEREIRA, CEOLIM, 2011; MACIEL, 2010). De forma geral, os estudos nacionais apontaram as medidas preventivas como forma de controlar o agravo, especialmente por meio da criação de programas de prevenção.

As investigações internacionais mobilizaram-se, igualmente, a determinar causas, fatores de risco e consequências da queda. No entanto, tais produções trouxeram um avanço diante da atenção à saúde do idoso, pela avaliação dos programas de prevenção implantados, contemplando uma abordagem multidimensional do evento e sinalizando novas possibilidades de atuação (VRIES et al., 2010; MAHONEY, 2010; PEETERS et al., 2011).

É fundamental entender a dinâmica da queda, explorando domínios do conhecimento sobre os fatores de risco e consequências do evento, buscando formas de prevenir e enfraquecer seus efeitos desfavoráveis. Por outro lado, mesmo diante do vasto número de estudos publicizados, existem lacunas de pesquisas que demonstrem realidades locais.

Acredita-se que há necessidade de investigar o evento em âmbito local, como um marco na atenção à saúde, para estabelecimento de medidas adaptáveis às características e à cultura da população idosa que necessita de atendimento em serviço de alta complexidade.

Assim, o objetivo desta investigação foi identificar e estabelecer associações entre os fatores preditores e os desfechos de queda, registrada em prontuários de idosos atendidos em um hospital público de Florianópolis, no período de 2009 a 2013.