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A manutenção da qualidade da água para conservação socioambiental das bacias hidrográficas

Capítulo 4 discorre sobre os aspectos geoambientais e o levantamento socioeconômico dos

E, no Capítulo 7 são elencadas as considerações finais sobre a situação em termos de vulnerabilidade da BH, além de ressaltar a importância de ações com vistas ao

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Qualidade ambiental e os efeitos das formas de uso e cobertura em bacias hidrográficas.

2.2.1 A manutenção da qualidade da água para conservação socioambiental das bacias hidrográficas

A água em si é o motor que move a vida no planeta. O ser humano, assim como os outros seres vivos, está essencialmente ligado à necessidade de água em quantidade e qualidade desejada, conforme a sua utilização.

Entretanto, em todas as partes povoadas da Terra, a qualidade da água doce natural está sendo alterada. Os problemas são ainda maiores em países tropicais, onde os recursos para os custos do tratamento de águas poluídas ainda são escassos e não detém prioridade nos investimentos. Entre as atividades emergenciais constantes em países tropicais, apontam-se as doenças provocadas pela água não tratada, que gera um ciclo de causa e efeito de complexa solução (MORAES; JORDÃO, 2002).

A grande epidemia de cólera que afetou a região do vale do Ruhr, na Alemanha em 1910, segundo Veyret (2007), permitiu estabelecer as implicações do lançamento das águas não tratadas do meio urbano direto nos cursos de água de pequeno deflúvio originando a constituição do sindicato de saneamento dos rios dessa região.

Conforme Moraes e Jordão (2002), a água como bem solvente é frequentemente usado, por exemplo, para transportar produtos residuais para longe do local de produção e descarga. E, infelizmente, os produtos residuais transportados são tóxicos que podem degradar fortemente o ambiente dos rios, lagos ou riachos que venham receber essa água diretamente.

Certamente, ações como essas surtem efeitos negativos em todas as escalas da natureza podendo chegar ao ponto de, sua recuperação demandar bastante tempo ou mesmo se tornar inviável. Os efeitos de uma água poluída chega a ser em muitos casos, devastador tanto para o meio natural, quanto para a sociedade, em geral.

No Piauí, em 2013, a Secretária Estadual de Saúde (SESAPI) registrou oito surtos de diarreia, metade só em Teresina. Ao todo, foram mais de 60 mil pessoas contaminadas com a doença que é causada principalmente pela contaminação de água, dos alimentos e falta de saneamento básico no estado do Piauí. Isso porque na capital apenas 17% da população tem acesso a saneamento básico (PORTAL G1, 2013). Já nos municípios, especialmente da região semiárida, saneamento básico é algo longe de ser efetivo, em algumas regiões, sequer existe o mínimo recomendado.

Segundo o IBGE (2013), exatos 92,3% dos domicílios do estado do Piauí não possuem saneamento básico adequado. Para ser considerado um local com saneamento básico adequado, o domicílio precisa ter, simultaneamente, acesso ao serviço de abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral e coleta direta dos resíduos sólidos. No Piauí, segundo a mesma pesquisa, apenas 7,7% das moradias possuem acesso a esses componentes. No ano de 2011, cerca de 69,4% dos domicílios urbanos brasileiros declararam não ter acesso simultâneo aos serviços de saneamento. Ou seja, ou não havia abastecimento de água por meio de rede geral, e/ou o esgotamento sanitário não se dava via rede geral ou fossa séptica ligada à rede coletora, e/ou o lixo não era coletado. E, cerca de 48,5% das crianças com até 14 anos de idade residiam em domicílios em que pelo menos um serviço de saneamento (Água, esgoto ou lixo) não era adequado.

Com isso, segundo os dados divulgados, cerca de 10,2% das crianças na mesma faixa etária estavam seriamente expostas a riscos de doenças, pois moravam em domicílios onde os três serviços eram inadequados. Destas, 17,2% se concentravam na região Nordeste e 3,5% na região Sudeste do país (IBGE, 2013).

Um indicador, segundo o IBGE (2013), que reflete as condições sanitárias da população é a proporção de óbitos por doença diarreica aguda nas crianças menores de 5 anos de idade. Pelos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM, do Ministério da

Saúde, em 10 anos este indicador diminuiu pela metade, passando de 4,5% dos óbitos de crianças com menos de 5 anos, em 2000, para 2,1% em 2010. E, na região Nordeste houve queda mais acentuada, passando de 6,7% dos óbitos para 2,9% no mesmo período.

As primeiras ameaças antropogênicas aos recursos aquáticos, segundo Moraes e Jordão (2002), foram associadas a doenças humanas, sobretudo aquelas causadas por organismos e resíduos com demanda de oxigênio. As primeiras áreas de riscos advêm de regiões com grande densidade populacional, mas, águas de áreas isoladas também sofrem degradação.

Dentre as doenças mais comuns causadas pela ingestão de água contaminada, os sintomas além da diarreia são geralmente: náusea, vômitos, cólicas abdominais, febre em alguns casos. A doença pode durar de um dia a uma semana. Entre as que se manifestam com diarreia aguda destaca-se a enteroviroses causadas mais frequentemente pelo rotavírus e norovírus. As parasitoses por Cryptosporidium e Giardia. E, as causadas por bactérias como Campylobacter, Escherichia coli, Shigella e Vibrio cholerae -cólera (DDTHA/CVE, 2016).

Essas bactérias podem causar quadros graves e até levar a óbito, principalmente em crianças, gestantes, idosos e pessoas imunocomprometidas, com danos e complicações em outros órgãos. Conforme DDTHA/CVE (2016), outra doença, a hepatite A, é causada por um vírus que pode ser veiculado pela água ou alimentos contaminados com esgoto/dejetos humanos e também por meio de alimentos preparados por indivíduos com a doença (com ou sem sintomas), devido à má higienização das mãos. Afeta o fígado, causando mal‐estar, prostração, náusea, vômito e icterícia, e mais raramente, o óbito.

No Piauí um grande surto de hepatite A foi registrado no município de Nossa Senhora dos Remédios, a 169 km de Teresina, no ano de 2010, em decorrência da contaminação no sistema de abastecimento d’água da cidade. A falta de manutenção do reservatório, cuja construção data de 1976, foi uma das causas do surto. Na ocasião, a população foi acometida por uma série de doenças, dentre elas a hepatite (PORTAL O DIA, 2010).

Alcântara, Strauch e Ajara (2013), asseguram que as construções humanas sobre os espaços outrora instituídos por elementos naturais, interferem diretamente nas relações e dinâmicas anteriormente estabelecidas no ambiente. O modo como a sociedade pós-moderna se apropria dessa natureza, compromete as funções ecológicas do ambiente natural, consequentemente, causa sua degradação. Com isso, a degradação ambiental aumenta a probabilidade de perigos naturais ao passo que intensifica os impactos dos desastres. Então,

para cada arranjo espacial de uso e ocupação de uma determinada área existe certo grau de vulnerabilidade ambiental associado.

Diante dos exemplos supracitados de uso e ocupação e das consequências trazidas tanto para o meio natural, em especial o recurso água, quanto para a sociedade em geral, é importante lembrar que qualquer atividade realizada em um determinado ponto de uma bacia hidrográfica tende a afetar todo o sistema nela relacionado. Além disso, ressalta-se que esta apresenta sistema aberto, portanto, os problemas chegarão a diversas outras regiões conforme seja a força gerada e o desequilíbrio acometido no local de origem.

O desastre ambiental ocorrido em Mariana- MG passou a ser mais um exemplo das implicações no meio ambiente derivadas das formas de uso e ocupação, sem o controle e gestão eficaz.

No caso específico, a área de extração de minerais pertencente ao complexo minerário de Germano, no município de Mariana/MG. Produzia milhões de metros cúbicosde lama, rejeitos provenientes da mineração que ficavam retidos na barragem de Fundão. O excesso de rejeitos associado a outros problemas culminaram com o rompimento da mesma em 2015 (IBAMA, 2015).

A barragem continha cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração de ferro. Trinta e quatro milhões de metros cúbicos desses rejeitos foram lançados no meio ambiente, sendo que dezesseis milhões restantes continuam sendo carreados, aos poucos, para jusante da barragem chegando ao mar (IBAMA, 2015).

Por toda a extensão do rio Doce nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, observou-se a mudança no aspecto de todo o rio, demonstrando os altos níveis de turbidez gerados pela onda de lama de rejeitos (IBAMA, 2015). Sem dúvida, este foi um dos maiores desastres ambientais em uma bacia hidrográfica no Brasil, onde as consequências já se espalharam por toda extensão a jusante da barragem, com graves prejuízos a fauna, a flora e toda uma população que residia naquele sistema e que direta ou indiretamente dependia dos recursos hídricos, agora bastante degradados.

Seja qual for o tipo de uso e ocupação em bacias, o seu funcionamento tende a ser alterado. A intensidade é que vai influir se eles são intervenções negativas ao meio ambiente ou se são toleráveis.

A bacia hidrográfica apresenta funcionamento diferente a depender de seu tipo. Em ambientes florestados, ou mesmo, que detenha atividades agrícolas predominantes, há uma taxa de infiltração considerável de água no solo se comparado a áreas em que há grandes processos de urbanização atuando (BOTELHO; SILVA, 2004).

O ciclo hidrológico em regiões florestadas e rurais apresenta-se quase sem nenhuma alteração em seu processo natural. Porém em áreas urbana, ou seja, que detém maior concentração e alterações antrópicas, características é a expressiva superfície impermeabilizada, ocorre o aparecimento de importantes fluxos superficiais e quase zero de infiltração no solo (BOTELHO; SILVA, 2004). Nessas áreas, quando ocorre precipitação de forma intensa, o solo não consegue absorver toda a água e o volume em excesso vai para o sistema de drenagem urbana (TUCCI, 2008).

Entretanto, em muitos casos, o que ocorre são as inundações, sobretudo em grandes centros urbanos, as quais geram prejuízos econômicos, e sociais e até perdas humanas. Londe et al., (2014), afirma que diante desses fatores é necessário haver sistemas robustos de monitoramento de modo a evitar ou minimizar os impactos.

Agora, se trabalha com mecanismos de defesa contra a dinâmica da própria natureza que, devido as grandes alterações do ambiente, busca constantemente restabelecer seu equilíbrio.