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O processo de ocupação da bacia hidrográfica segue a mesma tendência de urbanização do município de Bauru. Primeiro instalam-se os conjuntos habitacionais distantes do centro, como o Geisel e o Jardim Redentor, visando ao abrigo dos trabalhadores que sediariam o distrito industrial7 (CAMARGO, 2005, p. 117, LOSNAK, 2004, p. 203). Os vazios urbanos ficam resguardados para maior especulação a espera de infra-estrutura e avenidas. Com o passar do tempo, a cidade se aproxima, e as áreas vazias valorizam-se. Em seguida, os conjuntos privados são lançados para a população de maior poder aquisitivo em áreas melhores para obter a ampliação dos coeficientes de aproveitamento e taxas de ocupação. São exemplos dessa fase os condomínios verticais Vila Verde, Vila Grená, Campo Belo e Campo Limpo. Por último se dá a implantação dos loteamentos horizontais e verticais de “alto padrão” para a classe econômica mais beneficiada, como o Jardim Colonial (ALVES, 2001, p. 118).

(...) os próprios loteadores estimulavam a organização popular para que os seus moradores pressionassem o poder municipal para a realização de infra- estruturas”, mesmo os destinados às classes de maior poder aquisitivo. Isso aconteceu no caso particular no caso da Bacia hidrográfica do córrego da Água Comprida nos loteamentos Vila. Engler e Vila.Carolina (ALVES, 2001, p. 108).

Note-se pela Tabela 8.1 e Figura 8.1 que as primeiras ocupações da bacia hidrográfica são os loteamentos abertos surgidos em fins da década de 40 até metade da década de 60, quando se dá a maior produção de loteamentos do município, devido ao incremento das atividades no setor terciário, de comunicação e do setor de transportes em meio a euforia desenvolvimentista canalizada pelas ações do Prefeito Nicolinha. Nesse período expansionista da cidade denominado “Cidade Sem Limites”, com início em meados de 1940 e que se estende até hoje, o parcelamento ocorreu de forma generalizada, como é o caso da Vila Engler, Jd. Carolina e Santos Dumont (ALVES, 2001, p. 118 et. seq.).

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Uma das estratégias do governo da ditadura militar (1965 a 1988 ) para desenvolver o capitalismo foi investir na industrialização. Os operários deveriam sediar os novos núcleos habitacionais com financiamento do governo, tal como o BNH, COHABs, INOCOPs e CECAPs. O movimento migratório em busca desses novos centros industriais intensifica-se, sobremaneira. Parte dessa população se estrutura e tem condição de financiar um imóvel, outra parte, atingida pelos efeitos negativos das mudanças governamentais, principalmente no campo, com a modernização agrícola e projetos como o PróAllcool, em 1973, encontra nas periferias e áreas abandonadas da cidade o refúgio para sobreviver, agravando o processo de favelamento.

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Quando a COHAB chega, em fins de 1960 e ao longo de 1970, percebe-se o declínio da produção de loteamentos abertos e o aumento da construção dos conjuntos habitacionais, momento em que há atração de migrantes buscando colocação no mercado de trabalho. Nesse quadro de construção de quase uma dezena de conjuntos habitacionais, se tem origem a formação da única ocupação irregular desta bacia hidrográfica em meia à Zona Sul, ainda distante do centro, o Jardim Nicéia.

Tabela 8.1: Tipos de ocupação do Córrego por nome e data de aprovação

Conjuntos Habitacionais data de aprovação

JARDIM REDENTOR I 1968

JARDIM REDENTOR II E III 1973

JARDIM REDENTOR III, NUCLEO RESIDENCIAL VI 1978

NUC. RES. PRES GEISEL 1979

NUC. RES. PRES GEISEL 1982

NUC. RES. PRES GEISEL 1981

NUC. RES. PRES GEISEL 1989

NUCLEO HABITACIONAL LUIZ EDMUNDO COUBE 1983

NUCLEO HABITACIONAL LUIZ EDMUNDO COUBE (J. DAS

ORQUIDEAS) - MUTIRÃO 1983

Loteamentos Abertos

VILA ENGLER 1948

VILA JD. CRUZEIRO DO SUL 1950

JARDIM CAROLINA 1951

JARDIM SANTOS DUMONT 1957

JARDIM SAMBURA 1961

JARDIM NICÉIA 1965

RESIDENCIAL JARDIM CARVALHO 1978

JARDIM ROSAS DO SUL 1986 - 1988

Ocupação Irregular

JARDIM NICÉIA 1967

Loteamentos Fechados

JARDIM COLONIAL 1995

RESIDENCIAL ODETE / TAVANO 2002

RESIDENCIAL SAUIPE 2004

Prédios

RESIDENCIAL PARQUE CAMÉLIAS I 1988

RESID. PARQUE CAMÉLIAS II – VER FLAMBOYANT 1990

CAMPO LIMPO / CAMPO BELO 1998

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Figura 8.1: Loteamentos com data de aprovação na bacia hidrográfica do córrego da Água Comprida (KLEIN et. al., 2005)

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O que de fato vai diferenciar a ocupação e o desenvolvimento desigual desses bairros é que, desde o início da formação urbana de Bauru, a classe econômica mais alta, apoiada pela maioria absoluta dos representantes do poder político de Bauru, prefeitos e vereadores, vai colaborar para a afirmação e regulação por leis urbanísticas, como a lei de zoneamento e os planos diretores, para que ela ocupasse as regiões sul, sudoeste e sudeste, preferencialmente. Assim é nessas áreas que de forma aleatória e sem qualquer contrapartida social e pública maior, que vão ser concedidos os maiores índices de coeficientes de aproveitamentos e taxas de ocupações (ALVES, 2001, p. 122-3).

8.1 Características geomorfológicas da bacia

Pela associação do mapa de altimetria e de declividade, Mapa 8.3 e Mapa 8.4, e baseando-se nos estudos de Kertzman; Diniz (1995) e Salomão (1994 b) analisa-se as formas de relevo como potencializadoras dos processos erosivos, mesmo sendo o desnível altimétrico relativamente baixo. O desnível entre o horto florestal e o Jardim Nicéia é de cerca de 140 metros. Nele ocorrem rampas inclinadas com declives que favorecem a concentração de fluxo de água em linhas de drenagens preferenciais. Este fato associado aos substratos areníticos do solo e ao clima tropical, com alternância de períodos de chuva e seca, potencializa o surgimento de processos erosivos,

Segundo os mesmos autores, os solos podem variar bastante de acordo com a morfologia e as mudanças de declividade do terreno. No topo plano onde é comum ocorrerem os latossolos de textura média, a infiltração é mais rápida e as condições são de estabilidade, por isso a média e a alta vertente apresentam-se mais favoráveis a ocupação, o que se confirma pela carta geotécnica fornecida pelo IPT (1991). Os latossolos têm por característica a tendência a lixiviação em clima tropical como o de Bauru. No trabalho de campo observa-se a presença de processos de sulcos e ravinamento nas mediações do topo das vertentes.

Os solos podzólicos de textura arenosa/média presentes na baixa e média vertente apresentam predominância de ocorrência de processos erosivos. Já na baixada, no fundo de vale, ocorrem os solos hidromórficos, onde ocorrem os alagamentos e surgências d'água verificadas em trabalhos de campo (Figura 8.2) (KERTZMAN; DINIZ, 1995; SALOMÃO, 1994 b), e maior susceptibilidade a inundações sobretudo quando de inclinação inferior a 2%, segundo a proposta metodológica de De Biasi (1992). Tal com verificado no Jardim Nicéia (Figura 8.3).

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Mapa 8.3: Mapa de compartimentos altimétricos do Córrego da Água Comprida com